Atheism: A Brief History of Disbelief
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06 November 2019
15 October 2019
HUMANO, DEMASIADO HUMANO
Façamos o esforço de acreditar que tudo se passou realmente assim, tudo foi espontâneo, nada foi encenado nem planeado: a 23 de Setembro, no blog “The Red Hand Files” – criado por Nick Cave há um ano para, sob o lema “You can ask me anything. This will be between you and me. Let’s see what happens”, estabelecer uma relação mais íntima e directa com os seus seguidores –, o Joe, de Bexhill-on-Sea (a uma hora de comboio de Brighton, onde Cave habita), casualmente, perguntou-lhe quando poderíamos esperar um novo álbum. E a resposta veio rápida e precisa, como um “press release”: “Caro Joe, pode contar com ele na próxima semana. Chama-se Ghosteen. É um álbum duplo. A primeira parte inclui oito canções. A segunda consiste de duas canções longas articuladas por uma peça de spoken word. As canções do primeiro álbum são os filhos. As do segundo são os pais. Ghosteen é um espírito migrante”. O Joe terá sufocado de felicidade mas ainda não suspeitava que, para além desse anúncio surpresa, contra todas as regras, não haveria singles prévios nem cópias enviadas antecipadamente para os media: o álbum iria ter uma estreia global, em directo, via YouTube, na noite de quinta-feira, 3 de Setembro.
Durante todo esse dia, até às 22 horas, apenas a imagem muda da capa: uma representação "kitsch" do Jardim do Éden, do “gospel artist”, Tom DuBois (“O artista visual não tem desculpa para não ser um crente convicto. (...) É simplesmente impossível não estar apaixonadamente inspirado na criação de obras que exaltem a glória de Deus em nome de Jesus Cristo”, escreve ele no seu site). Horas antes, a caixa de comentários/chat começava a fervilhar de actividade. Expectativa, ansiedade, veneração, e os inevitáveis "trolls", num "scroll" ininterrupto, que iria acelerar vertiginosamente a partir do instante em que os sintetizadores de Warren Ellis levantam voo e, pouco depois, abrem espaço para a voz de Nick Cave – muito mais "sprechgesang" do que verdadeiro canto – nos narrar uma parábola, algures entre o Génesis e Graceland (“Once there was a song, the song yearned to be sung, it was a spinning song about the king of rock’n’roll, the king was first a young prince, the prince was the best, with his black jelly hair he crashed onto a stage in Vegas, the king had a queen, the queen's hair was a stairway, she tended the castle garden, and in the garden planted a tree”), que se conclui com um lancinante apelo: “Peace will come, a peace will come, a peace will come in time, a time will come, a time will come, a time will come for us”.
Não poderíamos, então, ainda adivinhar mas tivera início uma longuíssima canção de 68 minutos em que cada um dos 11 pontos de paragem não chegariam a ser sequer diferentes andamentos – o tom, a atmosfera, a dinâmica, permaneceriam praticamente inalteradas até ao fim – mas apenas pausas de respiração, mudanças de página, numa espécie de sonho febril, que, qual monumental sequela de Skeleton Tree (2016), vive assombrada pela devastadora morte do filho adolescente (“ghost teen”), Arthur, em 2015, cuja imagem e memória reaparecem a todo o momento, mesmo quando, aparentemente, ausentes. Já há três anos, com esse álbum mas também com One More Time With Feeling, o documentário de Andrew Dominik que o acompanhava, tínhamos reparado: o Nick Cave que, por altura de Nocturama (2003) declarava “Os sentimentos estão muito sobrevalorizados e preocupamo-nos demais com a forma como nos sentimos. Os sentimentos são um conceito do final do século XX. E suspeito que, à medida que o século XXI for avançando, os sentimentos irão ter muito pouco a ver com tudo. Os sentimentos são um luxo dos ociosos”, já não existe. Aquele que sobreviveu à arrasadora tempestade emocional é o que confessa que “aprendeu a ver as pessoas de uma forma diferente e a ter uma total e absoluta compreensão acerca do que sentem”,
Aqui, como em Ghosteen, cresce, no entanto, um feixe de contradições ainda mais evidentes na “troca de correspondência” de “The Red Hand Files”: se, em Outubro de 2018, à Cynthia, de Shelburne Falls, na Virginia, que lhe perguntava se ele não sentia o mesmo tipo de comunicação com Arthur que ela acreditava ter com os familiares que perdera, responde que “No interior dessa vertigem, nasce todo o tipo de loucuras, fantasmas, espíritos e visitações em sonhos, tudo o que, na nossa angústia, tornamos realidade. (...) São dádivas preciosas, tão válidas e autênticas quanto precisamos que sejam. São os espíritos guia que nos conduzem para fora das trevas”, em Agosto passado, à Aylyn, de Bruxelas (que lhe dirigia interrogação idêntica) – embora admitindo que “o desejo de acreditar em algo para além de nós é uma função humana básica” –, citando Richard Dawkins, Sam Harris e Bertrand Russell, sublinhava que “crer em espíritos” é “delirante”,“intelectualmente desonesto”, “irracional”, “cobarde” e “estúpido”.
Humano, demasiado humano, é com este novelo de fragilidades que tem de lidar em Ghosteen. Excessivamente próximo e vivido para – como
era o caso de Murder Ballads (1996) – não ser levado totalmente a sério (mas aquela capa de Tom DuBois...), não é tarefa fácil digerir este denso concentrado de alusões bíblicas (“I can hear the whistle blowing, I can hear the mighty roar, I can hear the horses prancing in the pastures of the Lord”; “It isn’t any fun to be standing here alone with nowhere to be, with a man mad with grief and on each side a thief, and everybody hanging from a tree”; “Jesus lying in his mother’s arms is a photon released from a dying star”; “A man called Jesus promised he would leave us with a word that would light up the night”), aqui e ali, pontuado por platitudes embaraçosas (“Everything is distant as the stars, and I am here, and you are where you are”; “I love my baby and my baby loves me”; “This world is beautiful, the stars are your eyes, I loved them right from the start”; “You were a runaway flake of snow, you were skinny and white as a wafer, yeah, I know“) onde nem sequer faltam os três ursinhos da Goldilocks (“Mama bear holds the remote, papa bear, he just floats, and baby bear he has gone to the moon in a boat”), e sempre, sempre, envolvido pelos corais digitais e pela gaze sonora, quase "new age", de Warren Ellis.
Na caixa de comentários do YouTube, os fãs dividiam-se entre tratar-se de uma “ethereal masterpiece”, matéria de transcendência, uma herança tardia de Vangelis, Pink Floyd, Badalamenti ou dos Sigur Rós ou, simplesmente, cansativo, aborrecido e decepcionante. É bem capaz de ser um pouco de tudo isso. Mas Nick Cave merece, pelo menos, que deixemos o pó assentar antes de proferirmos um juízo definitivo.
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24 March 2019
É exactamente por isso que, no espectro de possibilidade teísta - de 1 a 7 -, Richard Dawkins situa-se no 6 (e já conhecemos a Templeton de gingeira)
12 February 2019
DESORDENADAMENTE
“Anarco-punk”. Procure-se onde se procurar pelos Crass (“an English art collective and punk rock band formed in 1977 who promoted anarchism as a political ideology”, informa a Wikipedia) é impossível encontrá-los descritos de outra forma que não essa. E, no entanto, hoje, Penny Rimbaud (motor estético e político da banda), a pretexto da reedição iminente da totalidade da discografia dos Crass, não hesita em declarar à “Uncut”: “Usar símbolos anarquistas foi apenas uma forma de dizermos ‘Fuck off!’ à esquerda e à direita. Nenhum de nós tinha qualquer ligação ao pensamento anarquista. Desconhecíamos e continuamos a desconhecer a teoria anarquista, nunca nos interessámos por isso. A última coisa que teríamos desejado era ser vistos como líderes do movimento anarco-punk”. Em 1976, "Anarchy In The UK" poderá ter lançado fogo ao rastilho mas o que Rimbaud e Steve Ignorant (logo depois, também Eve Libertine, Gee Vaucher, Joy De Vivre e vários outros), na comuna Dial House, no Essex, construiam era uma ponte entre a contracultura dos anos 60 e o emergente punk sobre a qual se cruzavam desordenadamente, o situacionismo, os "beats", o dadaísmo, o zen, a "performance art", Baudelaire, os "angry young men", e o existencialismo, com banda sonora a condizer – um caldeirão das bruxas onde ferviam Benjamin Britten, free jazz, Beatles, John Cage, Bowie, Stockhausen, e os Clash.
Durante 7 anos, até 1984 (quando a banda se extinguiu), da Dial House, saíram também panfletos, filmes, expedições de grafitagem dos túneis do metro com mensagens pacifistas (ou nem tanto), feministas, anti-religiosas, de apoio a "squats" ou à duríssima greve dos mineiros. A coroa de glória dos Crass seria, no entanto, a operação Thatchergate Tape: uma tosca montagem doméstica das vozes de Margaret Thatcher e Ronald Reagan (enviada para a imprensa durante a campanha eleitoral de 1983), na qual, em conversa telefónica fictícia, discutiam a guerra das Falklands e a possibilidade de a Europa ser um alvo para as armas nucleares num conflito entre os EUA e a União Soviética. O Departamento de Estado americano e o governo britânico morderam o isco, atribuiram a divulgação da cassete ao KGB e documentos classificados chegariam aos jornais até o logro ser, enfim, descoberto. “Se fosse hoje, seríamos presos”, diz Penny Rimbaud que, 30 e tal anos mais tarde, coloca toda a esperança e optimismo no poder de higienização mental que a ciência pode trazer: “É a nova poesia. Estou muitos passos atrás de Richard Dawkins”.
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13 December 2018
"Padre pedófilo" tende a ser uma redundância e, quanto mais altamente colocado na hierarquia da Vaticano S.A,, maior é a probabilidade de isso acontecer; verdadeiramente interessante é o julgamento do biltre estar "envolto em secretismo e os jornais australianos estarem proibidos de publicar notícias sobre os seus desenvolvimentos"
Maravilhoso momento de "comic relief" no debate Dawkins vs biltre (na íntegra, aqui)
04 September 2018
"I've been a science educator all my adult life, and most of the essays collected here stem from the years when I was the inaugural Charles Simonyi Professor of the Public Understanding of Science. When promoting science, I've long been an advocate of what I call the Carl Sagan school of thought: the visionary, poetic side of science, science to stir the imagination as opposed to the 'non-stick frying pan' school of thought. By the latter I mean the tendency to justify the expense of, for example, space exploration by reference to spin-offs such as the non-stick frying pan - a tendency I have compared to an attempt to justify music as good exercise for the violinist's right arm" (Richard Dawkins - Science in the Soul)
21 June 2018
23 August 2017
"I am philosophically committed to 'mechanistic naturalism', from which follows the conclusion that anything humans can do, machines can in principle do, too. In many cases we already know they can do it better. Whether they can do it better in all cases remains to be seen, but I wouldn’t bet against it. The precautionary principle should lead us to behave as though there is a real danger — a danger we should take immediate steps to forestall. Unless, that is, we think robots could to a better job of running the world than we can. And a better job of being happy and increasing the sum of sentient happiness" (Richard Dawkins)
10 January 2017
COWBOYS E AGRICULTORES
Há cerca de um ano e picos, Brian Eno e o ex-ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis, encontraram-se para uma conversa nas páginas do “Guardian”. Muito apropriadamente, o título era “Two Bald Heads Collide” e os possuidores de dois dos mais activos cérebros europeus contemporâneos dialogaram prolongadamente sobre darwinismo e os cães vadios da Crimeia que aprendem a utilizar elevadores, política e arte, CD vs vinil, Star Trek vs The Matrix (enquanto metáforas da relação entre humanos e inteligência artificial), a extinção do trabalho, Octavio Paz e o comunismo, Richard Dawkins e o gospel, o terrorismo e a fé. Não surpreendeu muito, por isso, que, em Fevereiro do ano passado, Eno – juntamente com Noam Chomsky, Julian Assange, Ken Loach, Slavoj Žižek, Toni Negri e vários outros – aparecesse como um dos fundadores do movimento DiEM25 (Democracy in Europe Movement 2025), de Varoufakis.
Também não será, então, surpresa que, no formato mais convencional da recentíssima entrevista (à “Loud And Quiet”) a propósito do álbum Reflection – publicado no dia de ano novo –, os tópicos abordados não fossem muito diferentes: a desnecessidade de postular a existência de deus para explicar a criação de um universo complexo, a importância das artes no currículo escolar face a um futuro no qual a criatividade será uma das poucas armas de sobrevivência para o sapiens laboralmente obsoleto, ou o seu fascínio pela obra de Julia Holter. E tudo isso como irradiação natural de um disco contendo 54 minutos de música “generativa” (isto é, infinitamente auto-gerada a partir de uma série de algoritmos criados em colaboração com Peter Chilvers), algures entre o silêncio e o registo em "slo-mo" do movimento das marés aprisionadas num aquário. Brian Eno situa-se: “Talvez os artistas se dividam em duas categorias: agricultores e cowboys. Os agricultores tomam conta de um pedaço de terra e cultivam-na cuidadosamente, Os cowboys procuram lugares novos, excita-os a descoberta e a liberdade de estar onde poucos antes foram. Costumava supor que era mais cowboy... mas o facto de esta série de 'ambient music' durar já há 40 anos faz-me pensar que devo ter uma boa costela de agricultor”. Obviamente, terá também reparado no quanto esta música maravilhosamente não-humana é, em si mesma, um sinal indisfarçável do mundo que vai emergindo.
03 June 2016
"Dawkins’s Law of Conservation of Obscurity states that obscurantism in a subject expands to fill the vacuum of its intrinsic simplicity. Academics sometimes language up their writing to conceal how little they have to offer. Francophoneyism – postmodern metatwaddle – is a smokescreen designed, possibly not deliberately, to make shallow authors seem profound"
30 May 2016
19 May 2016
Mesmo que o objectivo seja amansar muçulmanos mauzinhos e domesticar islamófobos mauzões, convém não esquecer que os autocarros que fazem realmente falta são outros
16 May 2016
"Nearly all peoples have developed their own creation myth, and the Genesis story is just the one that happened to have been adopted by one particular tribe of Middle Eastern herders. It has no more special status than the belief of a particular West African tribe that the world was created from the excrement of ants. All these myths have in common that they depend upon the deliberate intentions of some kind of supernatural being" (Richard Dawkins, The Blind Watchmaker)
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