Showing posts with label Kate and Anna McGarrigle. Show all posts
Showing posts with label Kate and Anna McGarrigle. Show all posts

04 August 2024

The Unthanks - "Three Shaky Ships"
 
(sequência daqui) Não porque isso tivesse algo a ver com o seu passado: "Não, na altura, não ouvia os Roxy Music. Provavelmente, escutava música folk búlgara. Líamos Blavatsky e Gurdjieff, todos esses velhos charlatâes, e acreditávamos em tudo. E, ui!... o Livro Tibetano dos Mortos... Levavamo-nos muito a sério e, agora, não sou sequer capaz de perder um segundo com aquilo", confessou Linda ao "Guardian". Na verdade, o que aqui importa é a fantástica legião de músicos, vozes e instrumentos que, para Proxy Music convergiram: os filhos Teddy e Kami, o neto Zak, Richard Thompson, as Unthanks, The Proclaimers, The Rails, Martha e Rufus Wainwright, Eliza Carthy, John Grant, o veterano violinista Aly Bain, e as óptimas revelações Ren Harvieu e Dori Freeman, entregues a belíssimas e saborosas confissões auto-irónicas ("I’m alone now, you’d think I’d be sad, no voice, no son, no man to be had, you’re wrong as can be boys, I’m solvent and free boys, all my troubles are gone”), abrindo espaços por ocupar na riquíssima linhagem das dinastias folk - os Wainwrights, Roches, McGarrigles, Watersons, Carthys, Coppers e Thompsons - que, por entre afinetadas avulsas (“And if it’s true, that only the good die young, lucky old you, ’cause you’ll be around until kingdom come”), em "Those Damn Roches", celebram, identificando com precisão a delicada relojoaria familiar que tudo move: “Faraway Thompsons tug at my heart, can’t get along ’cept when we’re apart, Is it life, or is it art? One and the same”.

28 August 2011

A ETIQUETA


















Kate & Anna McGarrigle - Tell My Sister

Paira sobre a folk uma espécie de aura de santidade que, desde sempre, tem muito a ver com um rosário de “bons valores” partilhados – com óptimas e péssimas razões – por um considerável número de almas no mundo inteiro: o regresso à “essencialidade” e à “pureza” mais ou menos rurais que, supostamente, as gigantescas metrópoles esqueceram e aniquilaram; a expressão verdadeiramente “autêntica” do espírito de povos e grupos sociais, esmagada pelos demónios do cosmopolitismo; e, em particular na música anglo-americana, a intervenção político-social que, desde o "folk-revival" dos anos 50/60 do século passado, na oposição à guerra do Vietname e através da participação nos movimentos dos direitos cívicos, lhe ofereceu a medalha de respeitabilidade que se conquista na luta pelas causas justas.

Significa isto que, independentemente da muita e excelente música (acústica e eléctrica) que, das diversas vagas folk, emergiu, foi sempre muito mais fácil dispor, à partida, de pontos-extra de credibilidade se a etiqueta folk viesse associada (de que o "hype" ainda recente do "free-folk" é esclarecedor exemplo). O que, como o caso das irmãs canadianas, Kate e Anna McGarrigle, demonstra, não é, necessariamente, sinónimo de sucesso comercial nem de relevância artística. Pequeno culto de alguns (posteriormente, algo reavivado pelo facto de Kate – falecida no ano passado – ser mãe de Rufus e Martha Wainwright) e com venerandos padrinhos e fãs da estirpe de Joe Boyd, Judy Collins, Nick Cave ou Lou Reed, a verdade é que a música das manas McGarrigle (de que, agora, se reeditam os dois primeiros álbuns - Kate & Anna McGarrigle, 1975, e Dancer With Bruised Knees, 1977 - acompanhados dos proverbiais bónus) raramente foi mais do que uma amável destilação pop/folk/country em registo de harmonias vocais de catequese, límpidas, cristalinas e, na maioria das vezes, sumamente banais e repetitivas.

(2011)

10 January 2010

ADÃO, EVA, CAIM E ABEL (E MARTHA)



Martha Wainwright - Sans Fusils, Ni Souliers, À Paris

Dizer “família disfuncional” é, como se sabe, uma redundância. Mas ainda que, desde Adão, Eva, Caim e Abel, nesse imaginário pilar da sociedade, as coisas nunca tenham, realmente, corrido bem, há casos em que, francamente – não há como dizê-lo de outra forma –, se abusa. O casal Loudon Wainwright III (aliás, um retinto "freak-folker" bastante "avant la lettre") e Kate McGarrigle, antes de violar os sagrados votos do matrimónio, divorciando-se, reproduziu-se por duas vezes. Da primeira, nasceu Rufus Wainwright, um moço que se imagina dotado de um gigantesco talento de compositor e intérprete operático mas que, lá no fundo, gostava era de ser Judy Garland (e foi-o, em Rufus! Rufus! Rufus! Does Judy! Judy! Judy!: Live From The London Palladium). A mana mais nova, Martha, pelo seu lado, folk-rockou sofrivelmente em dois álbuns, até ter descoberto a sua verdadeira vocação: montar um gigantesco “chuva de estrelas” a solo, macaqueando Edith Piaf. Na produção do espectáculo (apresentado no Dixon Place, de Nova Iorque, em Junho passado), Hal Willner fez o que foi capaz para segurar as pontas, houve imitações mais conseguidas do que outras, mas, essencialmente, o que se deve perguntar é: não seria mais do que oportuno um referendo sobre a ilegalização do casamento heterossexual?

(2010)