29 June 2024
20 September 2023
"Messenger Birds" (álbum integral aqui)
29 August 2022
10 August 2021
29 July 2021
26 March 2021
09 November 2020
BEAUTIFUL LOSERS
Judy Dyble, a antecessora de Sandy Denny nos Fairport Convention, durante as canções nas quais, em concerto, não intervinha, sentava-se à boca de cena, a tricotar. Celia Humphris, cantora dos Trees, aconselhada a não se movimentar de modo demasiado exuberante no decurso das longas passagens instrumentais, optava por se deitar no palco. Uma vez, adormeceu. As peculiaridades das suas divas não são o único ponto comum entre as duas bandas. De facto, não disparatando demasiado, quase poderia dizer-se que uma foi a continuação da outra que ainda não desaparecera (nem, com as mais diversas formações, até hoje, desapareceria). Em 1969, enquanto os Fairports publicavam a trilogia de ouro What We Did In Our Holidays, Unhalfbricking e Liege & Lief e, de caminho, inventavam o folk.rock britânico, os guitarristas David Costa e Barry Clarke convidavam o baixista Bias Boshell ("housemate" de Clark), o baterista Unwin Brown (amigo de escola de Boshell) e Celia Humphris (irmã de um colega de trabalho de Costa), para formarem uma banda. Uma coisa assim bastante caseirinha.
Meio século depois, Boshell define-os, á “Uncut”, como “o grupo de pessoas menos ambicioso que alguma vez existiu”. Sonhavam com os Byrds, Jefferson Airplane, Buffalo Springfield e Quicksilver Messenger Service mas, porque Costa fora iniciado na tradição folk através da amizade com Martin Carthy, e "Meet On The Ledge", dos Fairports, era matéria de estudo obrigatória, os dois únicos álbuns dos Trees – The Garden Of Jane Delawney (1970) e On The Shore (1971), agora republicados em "boxset" de 4 CD – acabariam integralmente contagiados pelas marcas do género emergente. Clark era um Richard Thompson em embrião que urdia belíssimos contrapontos eléctricos com a guitarra de Costa – ainda algo imperfeitamente em "Glasgerion" e "The Great Silkie", do primeiro, e nas extensas e magníficas "Streets Of Derry", "Polly On The Shore" e "Sally Free And Easy", de On The Shore, conduziam o psicadelismo folk-rock a focos de incêndio nunca antes ateados – e Celia era uma candidata pronta a ocupar, em qualquer momento, o lugar de Sandy Denny. Havia aproximações aos (então nascentes) Steeleye Span ("Soldiers Three"), evocações medievais ("Adam’s Toon") e hinos luditas ("While The Iron Is Hot"). Durariam, sem qualquer sucesso, até 1973. Celia, após, durante anos, ter sido a voz que, nas estações do metro de Londres nos alertava “Mind the gap!”, em 2009, participaria como convidada no álbum Talking With Strangers. De Judy Dyble. (ver também aqui)
05 November 2020
31 July 2020
A bordo de The Green Door – um minúsculo estúdio analógico de Glasgow com lotação máxima para 4 pessoas de cada vez –, às ordens dos produtores e músicos Alasdair Roberts e Peter Broderick (ex-Efterklang e Mr. Power), esteve, durante três dias, uma tripulação de executantes de guitarra, piano, violino, bouzouki, flauta, contrabaixo, mellotron, pedal steel guitar, harmonium indiano e percussão, a dar espessura e densidade a dez canções localizadas entre a raiz tradicional de "The Blacksmith" e aquelas que se manifestam através do encontro imprevisível de textos esquecidos rabiscados em blocos de notas e novas melodias (ou vice-versa): ”Na verdade, não penso demasiado sobre como escrever ou acerca do que escrever. Trabalho sem pensar demasiado nisso, de uma forma muito pouco consciente, não sou pessoa para partir de ideias concretas”, disse â “Fractured Air”. É uma atitude recomendável. Afinal, a miúda que sonhava com Aretha Franklin, Etta James e Tim Buckley e se imaginava pianista de blues, escutada hoje, tanto faz pensar em Sandy Denny e Shirley Collins ("Wearing Red That Eve", "On A City Night", "Head Above The Water"), como em Liz Frazer ("We Weren’t Sure") e Hope Sandoval ("Wedding Of A Friend"). Ou em nenhuma delas, apenas nesta particular decantação de inquieta folk sideral e assombrado psicadelismo de câmara.