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sexta-feira, 9 de março de 2018

Funcaju - Homenageia Dia da Mulher com documentário ‘Zefa da Guia..."

"Estou muito feliz em representar várias mulheres 
guerreiras como eu neste dia”, diz Zefa da Guia.

Sala de Exibição Walmir Almeida, no Centro Cultural lotada 
de pesquisadores e interessados para conhecer 
a história da vida de Zefa da Guia

Essa parceria deu certo com a Funcaju,
diz o cineasta Dida Araújo 

"É bacana você sempre pesquisar cada vez 
mais sobre sua história”, fala a universitária Adele Vieira

Diretor de arte e cultura, Nino Karvan, apoia ações que 
disseminem a cultura popular.
Fotos: Edinah Mary

Publicado originalmente do site da PMA, em 08/03/18

Funcaju homenageia Dia da Mulher com documentário ‘Zefa da Guia: parteira do Sertão’

A Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) comemorou o Dia Internacional da Mulher, na tarde desta quinta-feira, 8, com a exibição do documentário ‘Zefa da Guia: parteira do Sertão’, no Centro Cultural de Aracaju. Com direção de Dida Araújo e Jaqueline Moura, o documentário mostra a força da parteira que fez fama no sertão sergipano.

Para a cineasta Jaqueline Moura, a exibição do documentário não poderia ser em outra data. “O documentário faz homenagem a todas as mulheres iguais a Zefa, que batalham que cuidam de uma família e que buscam seus objetivos e nunca deixam de sonhar. Exibir o documentário hoje reforça a valorização das mulheres guerreiras iguais a essa líder comunitária. Além de ser um momento único para a gente que produziu o documentário como para quem está conhecendo a história dessa sábia pela primeira vez que com certeza irá ficar encantado com a força dessa mulher”, justifica.

De acordo com o diretor de Arte e Cultura, Nino Karvan, foi uma forma que a Funcaju encontrou de homenagear as mulheres. “A beleza dessa profissão de parteira, que é responsável pela vida, deve ser sempre homenageada. A Zefa da Guia é uma mulher especial e tem esse dom de ajudar a nascer vidas e para a Funcaju é extremamente importante homenagear nesse dia não só ela, com a exibição do documentário aqui, no Centro Cultural de Aracaju, como a todas as mulheres do mundo. É nosso papel apoiar iniciativas como esta que o Dida e a Jaqueline tiveram em eternizar essa profissão através de tantas histórias originadas dos partos e da sabedoria de Zefa da Guia”, ressalta.

“A parceria com a Funcaju é extremamente importante, pois aqui é um local de disseminação da cultura e o documentário traz a história de um ícone da cultura popular direto do município sergipano Poço Redondo”, comenta o cineasta, Dida Araújo.

A sala de exibição Walmir Almeida, no Centro Cultural de Aracaju estava lotada de admiradores e pesquisadores da cultura. “Soube através de minha amiga que recomendou o documentário e amei conhecer nossa história através do audiovisual. Uma profissão comum no interior do país, e saber que ela é sergipana e que tem várias histórias para contar e que bom que pessoas que tiveram a ideia de documentar isso e exibir nesse dia tão especial”, diz Adele Vieira, universitária.

“Eu estou muito feliz. Cheguei até aqui, através do amor de amigos e familiares. Agradeço a Deus e a todos que sempre me ajudaram e eu me sinto maravilhosa com esse amor e esse brilho. Quero fazer sempre esse trabalho, que desde os meus 11 anos faço sem saber ler e escrever. É um dom e que só irá acabar quando eu partir desse mundo. Estou bastante emocionada e feliz com essa homenagem. Muito obrigada a todos”, finaliza Zefa da Guia.

O documentário tem duração de 25 minutos e a ideia surgiu em 1999. ““Eu trabalhei em uma TV e fizemos uma matéria com dona Zefa, registramos um parto na comunidade Serra da Guia, em Poço Redondo. Desde aquele dia, achei que uma reportagem não contemplaria a força daquela mulher, que me deixou muito comovido e conseguimos contar um pouco da história dessa mulher que merece todas as homenagens do mundo”, explica.

“Já tinha ouvido falar sobre dona Zefa. Quando soube que iriam exibir um documentário sobre sua vida, quis logo que esse dia chegasse para prestigiar essa referência de cultura popular. Todos estão de parabéns pela iniciativa e apoio”, finaliza o agente cultural Carlos Santos.

Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br

quarta-feira, 7 de março de 2018

Documentário ‘Zefa da Guia: parteira do Sertão' dia 8

O cineasta Dida Araújo ressalta que a ideia do documentário 
nasceu em 1999 e busca valorizar a arte de ser parteira 
Foto: Bruna Muniz

Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 05/03/2018

Documentário ‘Zefa da Guia: parteira do Sertão' dia 8

Exibição acontece dia 8 às 16h no Centro Cultural

O Dia Internacional da Mulher, comemorado em março, será lembrado pela Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) na próxima quinta-feira, 8, às 16h, com a exibição do documentário ‘Zefa da Guia parteira do Sertão’, no Centro Cultural de Aracaju. Produção dirigida por Dida Araújo e Jaqueline Moura, o documentário mostra a força da parteira que fez fama no sertão sergipano.

O cineasta Dida Araújo ressalta que a ideia do documentário nasceu em 1999 e busca valorizar a arte de ser parteira, por meio do registro de vida da sergipana, nascida no município de Poço Redondo, a 139,9 km da capital. “Eu trabalhei em uma TV e fizemos uma matéria com dona Zefa, registramos um parto na comunidade Serra da Guia, em Poço Redondo. Desde aquele dia, achei que uma reportagem não contemplaria a força daquela mulher, que me deixou muito comovido”, explica.

Dida afirma que Zefa da Guia é uma mulher firme, analfabeta, mas com uma sabedoria que o impressionou. “Pensei: um dia irei fazer algo para essa senhora. O tempo foi passando, e entrei na universidade para fazer Cinema e Audiovisual, e no primeiro dia de aula, o professor perguntou se a gente tinha noção do que queria apresentar no final do curso. Contei essa ideia de falar da valorização da parteira Zefa da Guia, a mulher parteira e sua importância naquela região”, diz.

A pesquisa começou em 2015 e resultou no documentário de 25 minutos de duração. “Eu já tinha alguns arquivos sobre a vida de dona Zefa e, a partir do ano de 2016, o documentário começou a ganhar forma. No terceiro período do curso, Jaqueline Moura ficou interessada e decidimos fazer juntos. Tivemos quase um ano para pesquisar, produzir e editar o documentário, e, agora na semana da mulher promovida pela Funcaju, iremos apresentar o trabalho de conclusão de curso que conta a vida dessa mulher batalhadora, dona Zefa”, explica o cineasta.

Segundo ele, o dia do lançamento será especial. “A personagem tem um carisma singular e a história de vida dela, como líder comunitária, como mulher, como desbravadora, guerreira, exemplar e forte. Essa mulher participa de congressos nacionais e internacionais, mesmo sem saber ler e escrever. A sabedoria popular dela é muito forte e interessante. A Zefa da Guia que busca seu espaço e representa várias outras mulheres e isso faz com que as pessoas queiram conhecer mais sobre sua vida”, conclui Dida Araújo.

Exibição do Documentário: Zefa da Guia: parteira do Sertão
Data: 08/03/2018
Local: Centro Cultural de Aracaju
Horário: 16h
Entrada franca

Fonte: assessoria de imprensa

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Zefa da Guia




Publicado originalmente no blog Contexto Repórter A, em 09/06/2011.

Zefa da Guia.

Teve oito filhos, criou 18 e possui 2.800 afilhados. Por suas mãos nasceram sergipanos, alagoanos, baianos e até pernambucanos.

Por: Egicyane Lisboa Farias

Em volta à vegetação da caatinga, mora Josefa Maria da Silva Santos, aposentada, analfabeta e parteira, uma espécie de matriarca da região. Conhecida como Zefa da Guia, por causa do nome da serra onde mora com mais 72 famílias fica a comunidade quilombola.

Para se chegar à comunidade é preciso percorrer 180 quilômetros, distância de Aracaju até a cidade de Poço Redondo, e mais 45 minutos de estrada de terra batida, passando por um povoado, um assentamento, fazendas e pequenos ranchos. Ao longe se avista uma casinha amarela no pé da Serra da Guia, localizada no Complexo da Serra Negra, que se estende por Canindé de São Francisco, Poço Redondo e Pedro Alexandre (Bahia).

Josefa nasceu em 15 de setembro de 1944, em um povoado de Poço Redondo chamado Risada. É a caçula de sete irmãos, filha de agricultores. A mãe trabalhava também como louceira e costureira para aumentar a renda familiar e ainda exercia a função de parteira. Sua simplicidade deixar transparecer a intensidade de sua trajetória como parteira e os seus anos de estrada.

Descoberta de um dom.

Ainda adolescente, aprende a prática no improviso da necessidade. Os partos que realiza ajudam diversas mulheres que não podem chegar ao atendimento hospitalar. Sua primeira percepção da atividade que queria exercer foi aos 11 anos de idade, quando uma parteira responsável pelo parto da esposa de seu tio se embriagou, ficando impossibilitada de realizar o parto. Josefa assumiu a tarefa. Como sempre foi muito observadora e cuidadosa não encontrou dificuldades na realização do parto. Desde então, sentiu que deveria ajudar mulheres a dar à luz, e vem realizando partos, tanto na própria comunidade quanto nas cidades vizinhas. Esse dom de parteira não teve nenhum aprendizado formal, institucionalizado, o que não diminui a importância do seu trabalho.

Quando Dona Zefa iniciou como parteira morava em barraco de taipa coberto de palha de licuri. As parturientes geralmente tinham os filhos em cama feita com vara, da mesma forma em que ela também teve os seus. E embaixo da cama colocava uma cuia para aparar os “restos de partos” e se utilizava de uma tesoura para finalizar. Além de auxiliar o nascimento, Zefa abastece a casa da parturiente de tudo que é necessário e, se falta alimento, tira do seu próprio sustento. Ajudando no cuidado com a criança, assiste à mãe após o parto, observando sintomas e orientando sobre registro de nascimento e vacinações.

Várias crianças vieram ao mundo por suas mãos, sem alardes e sem problemas.Só em uma mulher realizou 24 partos, todos bem sucedidos. Até hoje contabiliza cinco mil partos. Em algumas regiões, para atender o chamado costumava ir a pé, a cavalo, em pequenas embarcações, por estradas, por rios ou no meio da mata. Mas Dona Zefa também é uma mãe de cinco filhos criados, oito gerados, sendo que trê já falecido, 18 adotivos, 36 netos, seis bisnetos e 2.800 afilhados batizados na igreja. Sem grandes pretensões econômicas, doa seu tempo à mulher na hora do parto. Está ali cumprindo sua missão e a mãe é o centro das atenções. Seu tempo livremente dedicado ao parto e com sua sabedoria inata, não tem pressa, pois sabe que é prudente observar a natureza e deixá agir. É confidente, humilde, corajosa, paciente, compreensiva e amorosa.

Fé e devoção.

Além de parteira acumula também a função de rezadeira, recebendo diariamente pessoas de várias idades e regiões que vão em busca de suas rezas. Benzedeira de mão cheia, tem remédio pra tudo, domina ervas e orações. Com um espaço próprio para este fim, agregado à casa, Dona Zefa aplica aos enfermos palavras de conforto. Compenetrada, geralmente soma as palavras aos movimentos com as mãos, fazendo sinal da cruz sobre o paciente. Algumas rezas são ditas em voz alta, outras, apenas balbuciar dos lábios. Em alguns casos as rezas são acompanhadas de um receituário no qual são aconselhados chás, banhos, garrafadas, defumadores, pagamentos de promessas e advertência sobre o que pode ou não fazer no período de tratamento.

No ultimo sábado do mês de novembro, todos os anos é realizada a novena para Padre Cícero Romão, “meu Padim Pade Ciço”, como assim o chama. Instalou um santuário especialmente para a realização das novenas na sua casa. A sua devoção é tão grande que há 33 anos viaja para Juazeiro do Norte-(CE) para a romaria que é realizada no mês de janeiro. A organização das festas religiosas da Serra da Guia fica por conta dela, contando com o apoio de alguns moradores antigos da comunidade.

Mas Dona Zefa também tem sua própria novena, que ocorre à 30 anos, dia 3 de maio, no topo da serra. A festa da promessa, que assim é denominada por ser resultado de uma graça alcançada pela própria, irradiada para os demais moradores da comunidade Serra da Guia, atraindo também diversas pessoas, que gravam esse acontecimento e levam para as suas cidades. Após nove dias de novena ocorre a procissão até o topo da Serra às 3 horas da tarde. O acesso não é nada fácil, pois o trajeto é cheio de cactos e o terreno é íngreme. Mesmo assim as pessoas sobem levando pedras em sinal de sacrifício. Religiosa, a parteira prefere não revelar o motivo da sua promessa.

Líder comunitária.

Dona Zefa como se fosse pouco, ainda atua como líder comunitária, orientando seu povo na labuta do dia-a-dia, ela se faz ouvida e luta para que as reivindicações da sua comunidade sejam colocadas em prática e não fiquem apenas no discurso.

Sempre com seu jeito humilde, diz que todos querem saúde, paz e amor. Pede sempre que se ajudem, para que a sociedade seja sem violência e com felicidade. Por realizar tanto por sua gente, é chamada por “Madrinha Zefa”, “Dona Zefa”, “Mãe Zefa” “Vó Zefa” e outros nomes carinhosos. Já conseguiu que chegasse energia elétrica na comunidade quilombola e está lutando por água encanada. Realiza leilões para arrecadar fundos e ajudar os mais necessitados e busca implantar projetos para que os moradores do quilombo tenha condições de ter sua própria renda e não ficar dependente de benefícios do governo.

Mantém também a preservação da vegetação nativa da Serra da Guia, está lutando para que se torne reserva ambiental. Dois de seus afilhados, João Batista de Jesus e Gildo Alves dos Santos, que moram na comunidade, são responsáveis pela fiscalização e guias turísticos para os que querem conhecer a Serra da Guia.

Transmissão de conhecimento.

Zefa da Guia viaja por todo Brasil realizando palestras para médicos conceituados, enfermeiras e obstretas. E esse trabalho se dá por uma iniciativa do atual Prefeito Frei Enoque, que a apresentou para as unidades de saúde do Estado. Em uma dessas viagens conheceu um casal que viaja de bicicleta pelo Brasil. Eles saíram de Goiana até Poço Redondo para visitá e estavam hospedados em sua casa no momento da entrevista.

Até hoje seu conhecimento não foi passado para ninguém. Nenhum dos seus filhos ou afilhados se interessaram pelo oficio e isso a entristece, pois, acredita que através do saber transmitido se manteria viva. Esse saber é importante porque mesmo em meio à grande tecnologia seu conhecimento pode salvar vidas em casos complicados ou em ocasiões em que não dê tempo de chegar até o hospital. Através do oficio de aparar criancas, Dona Zefa segurou em suas mãos cerca de duas gerações. A história da vida desse personagem, associada com a de sua família e amigos, representa um quadro sobre a formação da Serra da Guia e de Poço Redondo de maneira geral.

Texto e imagens reproduzidos do blog:contextoreportera.blogspot.com.br