Publicado originalmente no blog Antônio Saracura sobre
livros lidos,
em 1 de junho de 2016.
JAPARATUBA DA ORIGEM AO SÉCULO XIX, Eduardo Carvalho Cabral,
464 pág., tamanho: 20 cm, Triunfo,2007, sem IBSN.
É por isso que me esforço tanto a divulgar meus livros.
Estou em todo lugar, com minha mochila, mostrando as capas, oferecendo
marcadores de página. Vou à televisão, aos jornais, à rádios. Peço para ser
entrevistado. Imploro até! E dou livros à pessoas que me parecem ser fazedoras
de opinião: “ler, comentar, divulgar e recomendar (se achar que devem!)”.
E quanto aos lançamentos?
Faço vários!
Onde houver um espaço e gente passando, negocio a exposição
dos livros, se possível organizo uma festinha desde que eu possa servir o
tira-gosto, meus livros.
Muitas vezes, fico uma tarde inteira e ninguém se dispõe a
parar, olhar o produto, negociar. Sim, porque também negocio. Já vendi livros
pela metade do preço ou dei de graça, porque o comprador relutante me disse que
não podia pagar e estava morrendo de vontade de ler. Ou apenas olhava de olhos
vidrados, pidões. Há quem resista?
Mesmo agindo assim, divulgando ferozmente, assusto-me quando
chego a um ajuntamento, e ninguém, ali, ouviu falar de “Os Tabaréus do Sítio
Saracura”, de “Meninos que Não queriam ser Padres”, de “Minha Querida Aracaju
Aflita, de “Tambores da Terra Vermelha”, de “Os Ferreiros”.
É por isso (pegando o fio da meada), pelo que senti ao ler
“JAPARATUBA – da origem ao século XIX”, de autoria de Eduardo Carvalho Cabral,
que me esforço ainda mais. Como pode um livro desse (publicado em 2007) não ter
chegado antes a meus ouvidos, sempre atentos à tudo que se produz na terra?
Japaratuba caiu em minhas mãos por um acaso.
Corujava a biblioteca de Euclides Oliveira e vi o lombo. Uma
mão empurrou minha mão e puxaram o livro. Euclides tinha ido lá dentro,
acompanhar um leite que ferveria a qualquer momento. Abri o livro e li uns
pedaços aqui e acolá. Sentei-me, esqueci o mundo. Ainda bem que o leite não
estava na minha conta! Mais tarde, trouxe Japaratuba para casa.
E pensei, retomando a questão inicial dessa resenha maluca:
Por melhor que seja o livro, de que servirá se nunca for lido por alguém? E
como poderá ser lido, se os leitores não souberem dele? Bibliotecas como essa
de Euclides são raras. Momentos como o que vivi, mais ainda.
Por isso saio por aí, como Antônio Conselheiro, pregando a
doutrina da boa literatura. Aproveito e louvo os meus santos dos quais citei os
nomes (em vão espero que não) acima. Narro milagres... Quem sabe consiga
devotos. Leitores. Para ter valido a pena escrevê-los.
xxx
Sempre achei árvores genealógicas complicadas, mas as que
Eduardo Carvalho Cabral mostra são amenas. O autor mescle história (casos
acontecidos) e famílias (biografias), numa combinação agradável.
Mesmo os não iniciados em história (como eu) vão se deliciar
viajando ao passado, seja filho de Japaratuba ou de qualquer lugar do mundo,
como é o meu caso, filho de Itabaiana. (...)
(Escrito em algum dia de 2009)
Eu havia rabiscado alguns garatujas aí acima; resolvi deletá-los,
em vista do que escreveu agorinha, 01 de junho de 2016, no face “Academia
Itabaianense de Letras”, o historiador José de Almeida Bispo, imortal da tal
Academia, cadeira 27, sobre o livro de Eduardo Cabral.
Diz muito mais do que consegui.
Peço sua permissão a José de Almeida Bispo para apendar sua
resenha aqui:
“Encantado.
Ontem, finalmente consegui terminar de ler o livro
“Japaratuba, da origem ao século XIX”, do amigo Eduardo Carvalho Sobral,
(Gráfica Triunfo, Aracaju, 2007). Um grande passeio! Como encimei, encantado.
O autor discorre sobre sua cidade com grande maestria,
exibindo uma pesquisa, substancialmente em fontes primárias, de excelente
nível. Prefaciado pelo saudoso Luiz Antônio Barreto, que também colabora no
corpo do livro, traz informações valiosíssimas sobre a História de Sergipe,
além, pois, da velha Missão de São João da Japaratuba, montada pelos
capuchinhos ainda no início do século XVII, como uma excelente observação de
grande lucidez do Ariosvaldo Figueiredo (p.116), ao comentar sobre a República:
“O 15 de novembro de 1889 apenas transferiu, sem data marcada, a solução da
crise estrutural da sociedade brasileira, que o Império não soube e a República
não quis resolver.” A narrativa é recheada desse nível de questionamentos, e mais
se agiganta quando Eduardo Cabral toca num tema que, como bem entende dez em
cada dez pensadores sérios do Brasil, é o calcanhar de Aquiles de todos os
nossos problemas: a escravidão.
Notário em sua cidade, Japaratuba, Eduardo não somente é o
escrivão tabelião; é um pesquisador arguto que, além de examinar o dia a dia
vai fundo no passado mais longínquo possível que o seu Ofício lhe permite,
arrancando das folhas amareladas dos velhos livros da segunda metade do século
XIX um raio X fidelíssimo daquela desgraça humana nominada escravidão. Os
processos de compra, venda e administração de gente como se bois ou cavalos
fosse. Crianças arrancadas de suas mães; pais separados de seus filhos, a troca
de gente pra lá e pra cá... terrivelmente fantástico! Repito: uma radiografia
profunda da desgraça nacional, resumido ao distrito, a seguir município de
Japaratuba, mas que é um fiel retrato de tudo aquilo que amalgamou o país, e
contra o que tanto temos nos debatido nos últimos 80 anos.
Aí, ao também abordar as querelas políticas dos coronéis do
açúcar, contexto em que Japaratuba esteve no ápice como um dos maiores
produtores de açúcar da segunda metade do século XIX, uma demonstração da
pequenez de alguns ante, por exemplo, a luta titânica de um Antônio da Silva Travassos,
espécime raro por estas plagas de tantos sinecuras e agiotas porque um homem de
visão, um empreendedor. Bebe magnificamente na fonte da professora Terezinha
Oliva ao abordar os ecos da luta desesperada de Fausto Cardoso em tentar o
impossível: dar forma civilizada a um grupo de coronéis interesseiros e
egoístas... até mesmo supostos prosaicos assuntos, como o ventilado na sessão
da Câmara Municipal de Japaratuba, de 3 de fevereiro de 1869, acerca da
construção de uma cacimba, é um claro rastro a ser seguido quando se analisa a
terrível seca que se abateu sobre todo o Nordeste naquele momento, desarrumando
toda a sua economia, como foi o caso de Sergipe; um nefasto complemento à maré
de má sorte daquelas duas décadas que começou com a terrível epidemia de cólera
de 1855, repetida em 1863.
Os costumes do Império, herdados dos tempos coloniais de,
por exemplo, não se empossar coletores de impostos que não tivessem bens
disponíveis para cobrir eventuais prejuízos pelos cobrador, trazido pelo
Eduardo na página 95 nos leva direto a um drama vivido por Itabaiana em 1672,
com a nomeação de Luiz Pereira, segundo capitão de Infantaria da Ordenança
nomeado para Itabaiana, que foi demitido do cargo por não ter bens.
Enfim, um grande livro. Meu muito obrigado ao amigo Eduardo
Cabral pela cortesia e pelo privilégio a mim dado de ser presenteado com uma
obra desse quilate.”
Texto e imagem reproduzidos do blog:
antoniosaracurasobrelivroslidos.blogspot.com.br
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