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quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Editora Seduc republica obras de Maria Thétis Nunes


Publicação compartilhada do site do GOVERNO DE SERGIPE, de 10 de Janeiro de 2023

Editora Seduc republica obras de Maria Thétis Nunes

No centenário de nascimento da educadora sergipana, Governo de Sergipe reedita obras e disponibiliza em formato impresso

No centenário de nascimento de Maria Thétis Nunes, completo na sexta-feira, 6, o Governo de Sergipe, por meio da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura, celebra a data disponibilizando à população a reedição de cinco obras da educadora sergipana. O livro estará disponível a partir de março no formato impresso nas principais bibliotecas do estado, além de universidades, faculdades e instituições públicas, e faz parte do projeto Editora Seduc, que já imprimiu 147 títulos. Estão disponíveis para o público as obras ‘Sergipe Província I’, ‘Sergipe Província II’, ‘Sergipe Colonial I’, ‘Sergipe Colonial II’ e ‘História da Educação em Sergipe’.

O secretário de Estado da Educação e Cultura, Zezinho Sobral, destaca que Sergipe sempre lembrará com muito orgulho tudo que a professora Maria Thétis Nunes representa para o magistério, a história e a cultura do povo sergipano. “Ela dedicou mais de seis décadas para levar a luz do conhecimento aos sergipanos e ao mundo. Sua história é motivo de orgulho e gratidão para todos nós. Ela vive e faz parte da nossa sergipanidade. É um verdadeiro ícone que sempre será reverenciado por todas as gerações, e, agora, com seus livros republicados”, afirma.

Maria Thétis Nunes se faz eterna por seu legado transformador, tanto na educação quanto por seu perfil de vida sempre à frente do seu tempo. Sergipana, nascida em Itabaiana, professora homenageada em 2022 com o nome da primeira edição do Prêmio Escola Destaque da Seduc, Maria Thétis Nunes é oriunda do Colégio Atheneu Pedro II, graduada em História e Geografia pela Faculdade de Filosofia da Bahia; fez parte do quadro de professora catedrática para lecionar a disciplina História da Civilização, no colégio em que estudou, o Atheneu Pedro II.

Maria Thétis Nunes lecionou por mais de 60 anos para os sergipanos e para o mundo. Foi a primeira mulher diretora do Atheneu Sergipense e se tornou diretora do Centro de Estudos Brasileiros em Rosário, na Argentina. Sua vasta experiência e contribuição na educação brasileira a levaram à vice-reitoria da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Cem anos de Thétis Nunes é um marco para a educação brasileira.

Detentora de inúmeros méritos e reconhecimentos, a professora Thétis Nunes, segundo o presidente do Conselho Estadual de Educação, professor Renir Silva Damasceno, será sempre lembrada por seu mérito junto ao magistério, para a história e a cultura do nosso povo. “Ela dedicou mais de seis décadas para levar o conhecimento aos sergipanos e ao mundo. Deixou um legado de contribuições, desde a formação de várias gerações de historiadores e professores, ao longo dos seus muitos anos como catedrática do Atheneu e da Universidade Federal de Sergipe, à importante produção da historiografia sergipana", diz. Ele lembra, também, que a pesquisadora contribuiu ativamente para o Conselho Estadual de Educação, na condição de conselheira do colegiado entre os anos de 1970 e 1981, chegando a ocupar, inclusive, a sua presidência, em 1976.

Texto e imagens do site: se.gov.br

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Homenagem à professora Thetis


Publicado originalmente no site da Faculdade Pio Décimo, em 31/10/2009.

Crônica - Homenagem à professora Thetis.

Amanhecendo no domingo de 25 de outubro, um dia depois da grande data da Sergipanidade...

Por Francisco Diemerson*

Amanhecendo no domingo de 25 de outubro, um dia depois da grande data da Sergipanidade, recebi a notícia do falecimento da Professora Maria Thetis Nunes. A tristeza veio por sentir pela Professora Thetis o carinho do estudante e do aprendiz, resultado de alguns anos de convivência nas instituições pela qual passei profissionalmente.

Quando iniciei minhas visitas semanais à Academia Sergipana de Letras, em março de 2001, uma das pessoas que mais me marcava era a Professora Maria Thetis Nunes. Ficava encantado em ver aquela senhora cujo nome estava colocado em várias placas no Atheneu Sergipense, onde eu estudava e pela leitura que de seus artigos publicados na imprensa sergipana.

Meu gosto pela História teve início em ouvir a Professora Thetis, o Prof. Luiz Fernando Soutelo e o Prof. Anderson Nascimento. Mas o que mais me encantava, era ouvir a Professora Thetis falando de suas viagens, de sua participação na vida política do Rio de Janeiro, da década de 50 e de sua interação nos movimentos intelectuais e educacionais de Sergipe.

Por estes caminhos do destino, acabei indo trabalhar, meu primeiro emprego, no Conselho Estadual de Cultura, junto com o Prof. Soutelo e, justamente, tive a oportunidade de, durante todas as tardes, ouvir a Professora Thetis, suas impressões sobre a História de Sergipe, suas idéias sobre as políticas culturais do Estado e a extrema vontade, dela, em sempre estar presente e ativa no movimento cultural sergipano.

Guardo também uma lembrança especial, de quando, por vezes, ao sair do Conselho em direção ao Atheneu, fui de carona com a Professora Thetis, dirigindo seu carro azul, descendo a Vila Cristina. Nestas idas, a Professora Thetis implicava comigo por que eu insistia em tentar o Vestibular para Direito, quando ela afirmava que eu tinha alma de quem deve fazer História. Eu argumentei que não, mas ao final, ela estava certa.

Durante outros três anos, quando trabalhei junto ao Presidente da Academia Sergipana de Letras, Prof. Anderson Nascimento, tive a convivência da Professora Thetis em todas as tardes de segunda-feira, ela sempre sendo a primeira a chegar às sessões, trazendo suas crônicas, suas idéias e suas palavras fortes.

Junto a Manuel Cabral Machado, Professora Thetis era uma das principais oradoras da Academia, sempre participando dos debates, contribuindo nas discussões do sodalício sergipano.

Uma das crônicas de sua autoria que mais me marcou relata uma viagem à Caxemira, quando ela afirma que ao ver as montanhas altas e solenes, voltava no tempo e se sentia a menina que admirava por horas a Serra de Itabaiana.

Lembro também que foi ela quem me apresentou à Literatura Francesa, me trazendo livros de grandes escritores, falando sobre os principais nomes da atualidade e as obras que ela recomendava para leitura.

Em 2006, quando tomei posse como Presidente da Arcádia Literária do Atheneu, a Professora Thetis compareceu e fez um depoimento emocionante, destacando sua passagem por aquela escola, sua admiração pelos professores e a importância de valorizar e estudar o desenvolvimento do Atheneu Sergipense na História de Sergipe.

Primeira mulher a ingressar no Atheneu Sergipense na condição de Professora Catedrática e sua primeira Diretora, fundadora da Universidade Federal de Sergipe e membro da Academia Sergipana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, o qual presidiu por mais de 30 anos, a Professora Thetis Nunes foi uma mulher à frente do seu tempo, que soube projetar uma vida de dedicação ao magistério e à pesquisa histórica.

A morte da Professora Maria Thetis Nunes é uma inestimável perda para a História Sergipana, por toda sua produção intelectual e, mais ainda, por sua participação ativa no cenário cultural nacional, traduzida pela participação em Instituições como o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe ou o Instituto Superior de Estudos Brasileiros.

A cultura sergipana perde um grande nome e uma de suas maiores defensoras, um exemplo para todas as gerações.

*Francisco Diemerson de Sousa Pereira.
Acadêmico do Curso de História (UNIT) e membro da Arcádia Literária.


Texto e imagem reproduzidos do site: piodecimo.com.br

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A Historiografia de Maria Thétis Nunes.


Publicação originária do blog Historia Contemporânea UFS, 26/10/2009.

A Historiografia de Maria Thétis Nunes. 
Por Jorge Carvalho do Nascimento (DHI/UFS).

Maria Thétis Nunes trabalhou como professora e pesquisadora ininterruptamente durante os últimos 63 anos. Nesse período publicou mais de 10 livros, além de artigos e ensaios em revistas científicas. Nascida no município de Itabaiana, região do agreste do Estado de Sergipe, concluiu o seu curso de graduação na Bahia aos 22 anos de idade. Na sua estréia como intelectual concorreu à cátedra de Geografia e História do Atheneu Sergipense com a tese Os árabes: sua contribuição à civilização ocidental, acerca da civilização árabe, na qual discutiu o Islamismo, a literatura árabe, a arte muçulmana, a Filosofia e a ciência árabes, além da influência muçulmana no Brasil. A partir daí trabalhou dando aulas e dirigindo o Atheneu Sergipense até a sua mudança para o Rio de Janeiro como estagiária do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – o ISEB. Depois do Rio de Janeiro trabalhou na Argentina como Adida Cultural do Brasil, na cidade de Rosário. Ao retornar a Aracaju voltou para o Atheneu e passou a atuar também na Faculdade Católica de Filosofia até a fundação da Universidade Federal de Sergipe, onde ingressou em 1968. O seu primeiro texto foi publicado em 1945. Depois, em 1962, pela primeira vez ela se mostrou como historiadora da Educação. O seu livro sobre o ensino secundário no Brasil foi recolhido pela ditadura militar e teve a sua circulação proibida, em 1964. Em 1973 produziu o primeiro trabalho sobre a História de Sergipe. Em 1976 fez a sua primeira reflexão sobre os intelectuais, ao estudar Sílvio Romero e Manoel Bonfim. Em 1981 inventariou os documentos relativos ao Brasil existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, em Portugal. Em 1984 publicou a sua História da Educação em Sergipe. Em 1984 colocou em circulação o primeiro volume da História de Sergipe Colonial. Em 2008, foi homenageada pela Sociedade Brasileira de História da Educação, durante o V Congresso Brasileiro de História da Educação, realizado em Aracaju.
A intérprete da História

Maria Thétis Nunes é fundamentalmente uma intérprete da História de Sergipe, debruçada sobre a análise da Economia, da vida social, das atividades lúdicas, das atividades intelectuais, dos estudos biográficos. Ao tomar posse na Academia Sergipana de Letras, em abril de 1983, ela manifestou toda a sua consciência diante da História, explicitando a sua posição ideológica:
Creio na marcha da História, no devenir, no advento de um mundo mais justo e mais humano. Apesar de ter vivido parte da minha vida sob dois regimes ditatoriais, cultuo a liberdade. (...) Também estou com os que lutam defendendo acultura ancestral, dilacerada em nome da civilização crista ocidental, como fazem os povos da África negra ou da Ásia tropical. (...) Assim tenho caminhado impulsionada pela uta e pela esperança[1].

Sua historiografia está assentada sobre a contribuição teórica do Marxismo, valorizando principalmente o diálogo com Plekhanov, a partir de quem entende estar “a organização social em equilíbrio instável, onde as forças produtivas sociais estão em crescimento”[2]. Para ela, “Labriola assinala com razão que exatamente esta instabilidade, bem como os movimentos sociais e as lutas de classes sociais por ela [a Historia] engendradas, preservam os homens da paralização intelectual”[3].

Esse modo de ler a História foi aperfeiçoado por Maria Thétis durante o período em que atuou como bolsista-estagiária do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – o ISEB. O Instituto agrupava as mais diversas tendências ideológicas, buscando interpretar a realidade nacional, de modo a arrancar o Brasil do subdesenvolvimento para levá-lo ao que os seus teóricos consideravam o desenvolvimento.

Certamente, para as reflexões acerca da História feitas por Thétis Nunes em tal período, foram muito importantes as contribuições oferecidas por Nelson Werneck Sodré, mas não é possível desconsiderar o peso dos estudos realizados no mesmo ISEB por Alberto Guerreiro Ramos, Álvaro Vieira Pinto e Ignácio Rangel. Não sem propósito, é a estes que ela dedica o seu livro Ensino secundário e sociedade brasileira, publicado em 1962, resultante dos estudos que realizou no Rio de Janeiro. Alberto Guerreiro Ramos foi homenageado novamente em 1984, quando a autora colocou em circulação o livro História da Educação em Sergipe.

Os padrões de interpretação da História que Thétis Nunes incorporou no ISEB chegaram ao Brasil em face da interlocução de muitos intelectuais com o pensamento circulante na Comissão Econômica Para a América Latina – CEPAL, que funcionava no Chile desde 1948. Um desses brasileiros era Alberto Guerreiro Ramos, ao qual Thétis homenageia por tê-la ensinado a compreender e operar a lógica dialética. A historiadora sergipana assumiu dele a concepção faseológica” de História, “a noção de que a história tem fases que se sucedem e que a adequação dos instrumentos de análise às peculiaridades da fase em que se encontra o analista corresponde a um gesto revestido de rigor científico e, acima de tudo, de compromisso político com a superação das agruras daquele momento[1].

Isso levava Guerreiro Ramos a propor a chamada redução sociológica que entusiasmou Maria Thétis Nunes. Assim, as teorias formuladas pelos teóricos das ciências humanas na Europa e nos Estados Unidos da América deveriam passar pelo crivo empírico da realidade local e somente teriam validade quando interpretadas vis-a-vis com as condições produzidas pelo capitalismo no Brasil. Foi esse entusiasmo de Maria Thétis que levou Nelson Werneck Sodré a elogiar o seu trabalho:
O condicionamento histórico fica perfeitamente claro: a cada etapa do desenvolvimento brasileiro corresponderam, necessariamente, um sistema educacional e as transformações que lhes foram próprias. (...) A professora Maria Thétis Nunes coloca esse desenvolvimento de forma clara e objetiva, situando cada uma das fases e as transformações que lhes foram próprias[2].

A historiografia de Maria Thétis Nunes tem ainda duas outras características: a primeira diz respeito à luz que lança sobre Manoel Bonfim, a quem designou “pioneiro de uma ideologia nacional”[3]; a segunda concerne a isenção com que a pesquisador a observa as relações entre o regional e o nacional, sem qualquer tensão.

Texto e imagem reproduzidos do blog: historiacontemporaneaufs.blogspot.com.br

[1] Cf. BARRETO, Luiz Antônio. “Maria Thétis Nunes: perfil historiográfico de uma mestra”. In: Rev ista do Mestrado em Educação, UFS, v. 9, p. 9-16, jul./dez. 2004. p. 14.
[2] Cf. BARRETO, Luiz Antônio. “Maria Thétis Nunes: perfil historiográfico de uma mestra”. In: Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 9, p. 9-16, jul./dez. 2004. p. 11.
[3] Cf. BARRETO, Luiz Antônio. “Maria Thétis Nunes: perfil historiográfico de uma mestra”. In: Rev ista do Mestrado em Educação, UFS, v. 9, p. 9-16, jul./dez. 2004. p. 11.
[4] Cf. FREITAS, Marcos Cezar de. “A historiografia de Maria Thétis Nunes e o ISEB”. In: Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 9, p. 17-24, jul./dez. 2004. p. 18.
[5] Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. “Prefácio à 1ª edição”. In: NUNES, Maria Thétis. Ensino secundário e sociedade brasileira. Aracaju: Editora UFS, 1999. p. 13.
[6] Cf. NUNES, Maria Thétis. “Manoel Bonfim: pioneiro de uma ideologia nacional”. In: BOMFIM, Manoel. O Brasil na América. Rio de Janeiro: Editora Topbooks, 1997. 2ª edição. p. 13.