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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Aracaju

Foto reproduzida do site: sergipetradetour.com.br
Postada por Isto é SERGIPE, para ilustrar a presente crônica.

Aracaju.
Por Cleomar Brandi.

Quando te lembro, quando te olho, é como se sentisse pulsar em minhas veias o ritmo forte do Cacumbi, do canto e da dança do teu povo, como se minhas narinas fossem docemente invadidas pelo cheiro provocativo das moquecas domingueiras, como se o vento oceânico das tuas praias repousasse em minha pele os dentes amigos do salitre que me tempera nos finais de semana. Quem te espreita de longe, da quietude do morro que te vigia, percebe teu jeito sinuoso com as mansas águas dos rios que te banham, desenhando contornos na beleza da tua geografia. Navegando no regaço morno de velhas canoas, cheias de história de lua e de água, deslizo no teu dorso e percebo a riqueza dos teus manguezais, onde fervilha o equilíbrio orgânico da natureza, uma festa para os olhos.

Em finais de tarde, a mansidão das tuas águas acolhe a labuta do pescador, longínquas gaivotas e o brilho dos frutos do mar, ofertados pela gratidão do teu ventre. Ali, se mistura o trabalho e a poesia do momento de intimidade com a natureza…

Tuas ruas simétricas passeiam por praças arborizadas onde o aracajuano vai buscar a tranquilidade do entardecer à sombra de antigas árvores que guardam em seus galhos e raízes a sabedoria do tempo. Teu povo passa por essas ruas, vendedores, estudantes, o homem do povo e o casal de namorados. Todos eles são acolhidos pela beleza e tranquilidade do teu jeito de ser, Aracaju.

Como guardião da beleza das tuas praias, a imponência do farol parece clarear na noite a brisa oceânica que vem de longe afagar os cabelos da cidade-morena, guardada pelo breve murmúrio das palhas dos coqueirais. Quem te conhece, quem te visita, Aracaju, guarda nos olhos as imagens do teu novo rosto, das tuas novas formas, do teu novo jeito de ser. Quem te conhece, menina, sabe guardar com jeito cúmplice de parceiro as belezas que tu nos oferece.

Estalo nos dentes os teus coloridos frutos de safras amigas e acolho oferendas de frutos do mar que provocam meu paladar. Passeando pelos teus caminhos, viajando nas tuas curvas, banhando-me em tuas águas, é como se resgatasse de ti a beleza dos gestos dos homens simples do teu ventre.
A geometria boêmia dos teus mercados parece fortaleza de resgate do teu passado, como se afrontasse, atrevidamente, novos prédios do teu crescimento ordenado.

Guardo em mim, pelo tempo da minha vida, teus folguedos e tradições, tua história e tua gente. Atiças minha alma, na cadência de sanfonas e quadrilhas guardadas no tempo da minha memória e acendes, como fogueiras juninas, xotes e baiões nas esquinas do meu coração que te ama.

É assim que te guardo, Aracaju, compartilhando de cada momento vivido, de cada amanhecer que te visita, como se marcasses no coração da gente uma cumplicidade definitiva dos que te amam.

Texto reproduzido do site: institutomarcelodeda.com.br

terça-feira, 18 de abril de 2017

Aracaju: o passado e o presente é o futuro, por Cleomar Brandi

Exposição fotográfica itinerante, 
em homenagem ao aniversário de Aracaju (ano de 2010). 

Fotos: Allan de Carvalho.

Publicado no blog da PMA, em 2 de junho de 2010.

Aracaju: o passado e o presente é o futuro.
Por Cleomar Brandi.

A mansidão de um rio guarda segredos imemoriais. Ele é história, é vida, meio de transporte, paisagem, referência geográfica, manancial de riquezas infinitas. Os rios têm seus berçários, escolhem suas rotas, costumam ser sinuosos, delgados, largos, imponentes ou tímidos. Eles saem por aí distribuindo fartura, guardando histórias do seu tempo, alimentando crendices ribeirinhas, umedecendo pernas cansadas de lavadeiras e, um dia, elegem o ponto exato do seu desaguar.

Aracaju foi eleita pelas águas dos rios como destino final. Um dia, brotado do segredo imemorial das suas águas, o traçado foi determinado e elas vieram rasgando a mata, cruzando chapadões, varando sertões, como se sentissem o cheiro do salitre oceânico guardado no litoral sergipano. E Aracaju se tornou a cidade eleita pelas águas dos rios. Aqui, eles delineiam contornos geográficos, ajudam a embelezar mais ainda a mãe de todos os aracajuanos, deixando em seu desaguar um quê de poesia urbana.

Esse é apenas um dos mistérios que fazem de Aracaju uma cidade única, atraente, bonita e vigorosa. Aqui, o movimento ritmado do pescador que joga a sua tarrafa coexiste perfeitamente com o novo jeito da modernidade de uma cidade que guarda, com zelo, seu passado, sua história, seu povo. Aqui, os mais antigos ainda guardam num canto da memória o ruído dos bondes sobre os trilhos, o burburinho dos finais de tarde da Sorveteria Iara, os maiôs Catalina que cobriam pudicamente a beleza das jovens em flor nas areias da Atalaia.

Num canto dessa memória dos mais antigos ainda desfilam imagens de elegantes senhores vestidos de terno nas ruas João Pessoa e José do Prado Franco. Sobre a cabeça, o indefectível chapéu Panamá ou Ramenzzoni. Tempos passados que se instalaram na memória dos mais antigos e fizeram moradia. As lagoas e charcos em volta do Batistão, a velha e perigosa curva do Iate Clube, a Praia Formosa, o mercado Thales Ferraz e a Ponte do Imperador, guardando sua aparente imponência.

O tempo passou. A cidade cresceu, deixou de ser menina, amorenou-se, ficou mais ágil, mais dinâmica, mais moderna, mais bela. Hoje, a imagem dos motorneiros conduzindo os bondes foi substituída por modernas e bem sinalizadas ciclovias, avenidas bem cuidadas, canteiros arborizados. O crescimento urbano conquistou o espaço vertical e o maior IDH do Nordeste chegou à varanda do tempo para dar as boas-vindas às novas gerações.

Os novos tempos chegaram. Mas Aracaju conseguiu guardar, com zelo de artesão, a delicada ponte que une o passado ao presente e ao futuro. Os aracajuanos, por sua vez, também conseguiram conjugar, com muita maestria, o verbo “Aracajuar”. Em suas conjugações, “Aracajuar” significa olhar com amor a sua cidade, guardar no fundo do peito a silenciosa cumplicidade que deve existir entre o homem e a sua cidade.

“Aracajuar” é sentar num final de tarde num banquinho da praça, é sair por aí, andando sob as mangueiras e cajueiros do Parque da Sementeira sentindo o cheiro das manhãs da minha terra. “Aracajuar” é sair de bicicleta pelas ciclovias da cidade, de norte a sul, de leste a oeste, sem medo de ser atropelado. “Aracajuar” é sentir o cangote molhado de suor no ritmo do Forró Caju, é banhar-se no mar dessa cidade, guardar na memória o provocante tempero das moquecas aracajuanas nos finais de semana, sair por aí, “aracajuando”.

E assim, num final de tarde, guardado no colo dessa bela cidade, saber-se também ungido pelas águas e não esquecer que, agora, o passado e o presente é o futuro.

Texto e imagens reproduzidos do blog: aracajuqualidadevida.blogspot.com.br