Legenda da foto: Os presos da "Operação Cajueiro" eram torturados no quartel do 28º Batalhão de Caçadores, em Aracaju
Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTIÍCIAS, de 5 de dezembro de 2024
A ditadura militar em Sergipe virou livro
O livro “Borracha na cabeça: o golpe e a ditadura militar em Sergipe”, será lançado, nessa sexta-feira (6), no Campus da Universidade Federal de Sergipe, em São Cristóvão. A tarde de autógrafos acontecerá às 14 horas, no auditório da Associação dos Docentes da UFS (Adufs). O lançamento é parte das atividades do XIV Encontro de Grupos de Estudos e Pesquisas Marxistas (EPMARX) que estará ocorrendo na universidade e que tem como tema “1964, 60 anos do Golpe Empresarial Militar”. Junto com o lançamento do livro ocorrerá o debate “Memórias e Resistências na ditadura: lições”.
Em abril de 1964, o Brasil foi tomado por um golpe de Estado. Militares das forças armadas, empresários, o clero reacionário, políticos e mídias tradicionais e o Governo dos Estados Unidos depuseram o presidente João Goulart, fecharam o Congresso Nacional e implantaram um regime de terror que durou 21 anos. Milhares de pessoas foram presas, torturadas e muitas assassinadas.
Em 2024, esse golpe empresarial-militar completou 60 anos e, infelizmente, muitos de seus crimes não foram julgados, histórias ficaram silenciadas e criminosos impunes. Em Sergipe, por exemplo, criou-se uma falsa narrativa de que no menor estado brasileiro não houve ditadura militar, nem gente perseguida, presa, torturada e morta, um apagamento para proteger figuras e organizações da elite local.
Na esteira das lembranças desses 60 anos, do filme “Ainda estou aqui” e agora das comprovações da tentativa de golpe em 2022, a Mangue Jornalismo lança no dia 6 de dezembro o livro Borracha na cabeça: o golpe e a ditadura militar em Sergipe, um documento histórico, com quase 300 páginas de acontecimentos e personagens quase invisíveis. Trata-se de um conjunto de provas que põe por terra a ideia de que não existiu ditadura em Sergipe. Existiu, foi violenta e continua impune.
Grande parte do material do livro, organizado pelos repórteres Cristian Góes, Ana Paula Rocha e Paulo Marques, é um conjunto de reportagens publicadas quase semanalmente no site da Mangue, a partir do relatório final da Comissão Estadual da Verdade (CEV). A comissão que trabalhou essa temática teve muitas dificuldades de funcionar em Sergipe, produziu um documento com quase 500 páginas sobre o golpe e a ditadura militar no estado, mas esse material jamais foi impresso pelo governo.
Movimento estudantil
Além de parte do relatório final da CEV, o livro Borracha na cabeça conta com textos inéditos, a exemplo do que conta as prisões do prefeito Pascoal Nabuco, de Estância, do professor Rubens Marques (Dudu); do que trata do movimento estudantil, de autoria do professor José Vieira da Cruz; da história partidária do poeta Mário Jorge, escrito pela professora Maria Vitória; e um que conta a história da história sobre o período, do professor Fernando Sá. O livro ainda tem a apresentação dos professores Andréa Depieri e Gilson Reis, que organizaram o relatório final da CEV.
“Importante destacar que optamos em começar a contar as histórias do golpe e da ditadura em Sergipe a partir do assassinato pela polícia do operário negro Anísio Dário, em 1947. Também revelamos que o Governo de Sergipe perseguiu, censurou e torturou jornalistas, operários e estudantes nos anos 1950. Ou seja, é um material que ajuda a perceber os antecedentes de 1964”, informa Cristian Góes.
Envolvimento da Igreja
O livro Borracha na cabeça traz as histórias e documentos de como o Consulado dos Estados Unidos em Salvador foi decisivo para implantar ditadura em Sergipe; o envolvimento da Igreja Católica com a ditadura, sendo parte perseguida e outra apoiando; a violenta Operação Cajueiro, que sequestrou e torturou várias pessoas no Quartel do Exército em Aracaju. “São muitas histórias e fases, inclusive mostramos como militares e empresários agiram juntos numa camaradagem público-privada na destruição de manguezais em Aracaju, um outro material que não está no relatório da CEV”, disse a repórter Ana Paula Rocha.
Para que este livro virasse realidade, foram fundamentais o apoio de mais de 150 pessoas que contribuíram com a vaquinha coletiva organizada pela Mangue. “Mesmo com essa contribuição fundamental de leitores, o projeto do livro não iria se concretizar. Foi aí que tivemos um apoio vital do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese), da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe (Adufs) e do Sindicato do Fisco do Estado de Sergipe (Sindifisco). Aí sim, conseguimos fechar as contas para pagar a edição, diagramação e impressão do livro”, informa Paulo Marques.
A Mangue Jornalismo é uma organização sergipana de mídia profissional, sem fins lucrativos, formada por comunicadores e que realiza um jornalismo local independente e de qualidade. Não recebe, conforme seu estatuto, verbas de publicidade de governos e nem de empresas privadas.
Fonte: Mangue Jornalismo (Foto: Facebook do 28º BC)
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