sábado, 30 de outubro de 2010

alma penada 2 e Gullar

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Saí para ver Suprema felicidade, do Jabor, mas ando tão sem paciência que as mais de duas horas do filme me pareceram excessivas e não tive vontade de entrar no cinema. Tomei um café, voltei e vou tentar ler alguma coisa. Já li livros que não tenho tido vontade de comentar - Em alguma parte alguma, do Gullar, por exemplo, de que gostei muito. Não vou comentá-lo, mas copio um poema belo sobre a grande dama:

A morte

A morte não tem avenidas iluminadas
não tem caixas de som atordoantes
tráfego engarrafado
    não tem praias
    não tem bundas
não tem telefonemas que não vêm nunca

    a morte
    não tem culpas
    nem remorsos
    nem perdas
        não tem
lembranças doídas de mortos
nem festas de aniversário

                              a morte
não tem falta de sentido
não tem vontade de morrer
não tem desejos
    aflições
    o vazio vazio da vida

a morte não tem falta de nada
não tem nada
é nada
    a paz do nada     (p. 63)

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Ferreira Gullar, Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2010.

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2 comentários:

até quase perto disse...

grande ferreira, grande pescaria.

vera maria disse...

Gosto muito dele também, mais velho e ficando melhor, mais enxuto, quase sempre na mosca.
abraço,
clara