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sábado, 29 de junho de 2013

Tabu

Tabu (Miguel Gomes) é um filme difícil, intenso, profundamente perturbador, que deixa um rastro de tristeza grande à medida que ele vai "assentando" no espírito da gente.

Quando vi Melancolia, de Lars von Trier, um sentimento de perdição me assolou ao longo do filme todo, fui sendo tomada por aquele feitiço que a iminência do colapso trazia, como se estivesse eu também em transe, sendo abduzida pelo calor da coisa-que-vinha-do-céu, e tão em sintonia com o mistério da morte quanto a personagem de Kirsten Dunst.

Aqui, nesse Tabu, é como se fosse uma corrosão que vai minando aos poucos, vai solapando as certezas, a sensação de que a vida nos pertence para sempre e podemos 'gastá-la' por um tempo indefinido. O filme faz uma espécie de panorâmica na existência de uma certa mulher, cruzando os acontecimentos desde sua juventude à decrepitude, e na montagem desse arco nos dá uma rasteira sem qualquer intenção expressa, apenas contando a história, com músicas lindíssimas que não são bem uma trilha sonora, são músicas que se ouvem como num rádio, que nos embalam, enquanto se contam as histórias, enquanto as imagens de momentos distintos dessa vida se desenrolam a nossa frente - uma vida que poderia ser a minha, a nossa, qualquer vida - é de mim que se trata ali, é de minha mãe, é de qualquer vivente que observa na tela a projeção de sua trajetória com uma lógica irreversível, uma clareza diamantina. Então é isso? É assim que acontece? É, todos nós sabemos que é, mas ver como é e o que é de forma tão plena, tão absoluta, tão inapelável causa um buraco na alma, um buraco que vai-se abrindo aos poucos, e depois alargando-se e será mister chorar, talvez. Ou ver mais além da janela, respirar, buscar - o sol, o instante, o que faz o efêmero brilhar, não sei.

A vida arde nesse grande filme. E em seus atores: Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Carloto Cotta.

(Merci, Egídio).