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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Dois filmes: Severina; A natureza do tempo

Acho que a melhor definição, dentre outras, para Severina, vem de seu diretor e criador, que li aqui : "Para mim, e não para todos, Severina é um filme sobre os cadáveres que ocupam nossos sofás durante os relacionamentos amorosos, familiares. [...] Sobre como temos que aceitar, tratar, nos livrar e com o tempo nos transformar neles. Primeiro como novios (namorados) depois como padres (pais)".  

Perfeitíssimo! E o filme cumpre ao pé da letra o enunciado: há essa estranha personagem de nome Ana, que rouba livros de várias livrarias, e os lê, e que se faz acompanhar de um homem mais velho, que primeiro ela diz ser o noivo, depois o pai, e que ao final se transforma num estorvo, de que será preciso se livrar, e ela o fará.  

Há muitas qualidades no filme, e uma das mais interessantes é mesmo essa conversa imagética sobre livros - tudo gira em torno de livros: os saraus de poesia, e há um em especial muito criativo, em que um poema vai sendo literalmente desenrolado de uma imensa folha em tiras, que vai passando por todos e todos a leem; também as conversas dos escritores que se reúnem para falar de coisas literárias, e de abobrinhas; e a chegada de Ana à vida dele, que ninguém sabe se é Ana, ou que nome tem - no hotel, ela tem outro nome, e afinal não importa o nome, mas o lugar que ocupa no coração dos livros, e dos homens. Um filme muitíssimo interessante, como as histórias antigas das Mil e uma noites.


Já A natureza do tempo 
é uma história em três atos, que se passa numa Argélia conflitada, em que os personagens vivem situações que em algum momento tocam a dos outros dois grupos. 

Achei interessante a da moça que vai casar, mas está ainda envolvida com o motorista do pai, que leva a família para a cidade onde ocorrerá o casamento, e onde ela encontrará o futuro marido. De todas as histórias, essa me parece a mais legal porque a mulher infringe a  norma que a empurra ao casório e, por uma circunstância inesperada (os pais vão para o hospital com uma infecção intestinal), ela fica num hotel com esse motorista, quando então ocorrem duas lindezas: uma dança belíssima dela e dele num espaço do hotel e, evidentemente, o encontro amoroso dos dois. 

Depois tem a história do médico, que também é interessante, e mostra que ainda há homens que, mesmo um tanto coagidos, retornam para corrigir posturas omissas, num país corrupto e em guerra; e a história de Mourad, um corretor de imóveis que vive uma situação estranha numa madrugada, ao presenciar um
espancamento de um jovem, quando se vê obrigado a fazer um desvio em seu caminho, e vai dar num lugar meio abandonado. Lá, ele presencia tal violência, e se acovarda, esconde-se dos homens que espancam o jovem, deixando em nós esse sentimento amargo - uma covardia foi cometida, e duas vezes: pelos homens, e pelo que vê e não ajuda, ao contrário, foge amedrontado. 

Mas há outras qualidades no filme: cenários belíssimos, trilha sonora ótima, e mesmo uma cena de dança e canto de um grupo que me pareceu um número musical do "rap árabe" - não sei o que era aquele ritmo, mas adorei.