
A gente percebe que Joaquim Ferreira dos Santos foi fã de carteirinha de Leila Diniz pela maneira afetuosa e altamente cúmplice com que retrata sua personagem, esmiuçando os detalhes da vida e da carreira dela com olhar de contemporâneo.
(Eu sempre quis saber o que faziam meus colegas de curso secundário - Joaquim foi meu colega de turma no antigo Clássico, embora não fôssemos da mesma tchurma -, e vejo agora que ele estava fazendo faculdade de Jornalismo e entrevistando meio gauchemente sua musa).
É interessante esse painel de uma época de que nós também fizemos parte. Leila foi importantíssima para minha geração de mulheres, sobretudo, e sua entrevista no Pasquim foi mesmo um acontecimento, não apenas jornalístico, mas libertário (no sentido sexual e político) para todos/as nós. Joaquim desenha não apenas os bastidores dessa entrevista, as consequências funestas para a carreira de Leila, como traz o que a censura não deixou sair na época, bem como todos os tititis amorosos, as festas, os filmes, os imbroglios (e foram muitos), as encrencas, as tiradas, os amores, os amigos, os acontecimentos políticos que cercaram a figura de Leila Diniz e deram-lhe a aura que até hoje se mantém em torno de seu nome, e de seu mito (morrer aos 27 anos, no auge de uma vida de entrega e desmesura, e ainda num voo que ela antecipou por saudades da filha, certamente ajudaram a manter essa vida em estado de mito).
Um livro que se lê de uma assentada e, para a minha geração, com certo espírito de pertencimento, como se ele estivesse falando de um passado em comum, uma conversa esclarecedora sobre aspectos que não abarcávamos na ocasião - pessoas, situações, acontecimentos. Joaquim esclarece os fatos (e os feitos) e repõe a figura de Leila em sua dimensão transgressora, alegre, verdadeira, corajosa e vital. Muito bom.