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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Mundo português


A Cosac Naify bateu o recorde na entrega de livros: comprei ontem e hoje já chegaram os quatro títulos, dos quais já li o conto ótimo do Eça de Queiroz, Um dia de chuva. Os outros são: História abreviada da literatura portátil, Enrique Vila-Matas; Vermelho amargo, Bartolomeu Campos de Queirós; A máquina da fazer espanhóis, de valter hugo mãe, todos folheados em livraria, todos lindos e, ao primeiro contato e alguns comentários lidos, muito bons. E o melhor: preços para professor na Cosac é sempre em torno de vinte. 
 O conto do Eça é um achado, mesmo com alguns problemas de pontuação, que não sei se foram mantidos por obediência à edição original, ou se a revisão cochilou, mas o texto é tão bom que a gente passa batida pelas vírgulas mal colocadas*.

Não parei de ler até terminar, de uma assentada, até porque é um conto, o livro é lindo, as ilustrações são bonitas, diferentes, e o estilo é inconfundível, assim como o filme bem interessante que está passando, Singularidades de uma rapariga loura, baseado também num conto de Eça: ambos têm não apenas a dicção portuguesa, um certo timbre de lentidão, de humor, um ritmo particular que advém da cultura portuguesa e do estilo de Eça. Me peguei várias vezes rindo ao longo da leitura, e também me dizendo: como escreve bem esse sujeito.


Antonio Candido faz um comentário corretíssimo na quarta capa: “O enredo é simples, tecido tchekhovianamente com quase nada, fino e leve como teia de aranha. [...] Narrativa de atmosfera, cujo princípio estrutural é a surda competição entre a chuva que fecha o mundo e a imagem solar da moça que rompe as brumas.”


E é nesse modo de fazer avançar o pensamento do protagonista José Ernesto em direção a essa moça, totalmente ausente do horizonte real ou imaginário, que a graça do conto se faz, num trabalho de mestre de construção narrativa, estilo e técnica.
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*No site da Cosac, a nota de Candido esclarece a respeito do estabelecimento de texto: “Embora mais irregular, o texto estabelecido por Beatriz Berrini continua encantando pela graça e originalidade, a ponto de podermos dizer que, se é inacabado como redação, é completo como composição, sendo uma pequena obra-prima sem polimento final”.


Em: http://editora.cosacnaify.com.br/ObraApresentacao/11429/Um-dia-de-chuva.aspx
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Eça de Queiroz. Um dia de chuva. Texto estabelecido e notas por Beatriz Berrini. Ilustrações: Guazzelli. São Paulo: Cosac Naify, 2011.