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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Woody chez moi

Da coleção de Woody Allen que recentemente abracei, vi até agora dois filmes ótimos: Melinda e Melinda (2004) e Broadway Danny Rose (1984). Do primeiro, gostei da personagem em si, vivida por uma atriz excelente, Radha Mitchell, que já conhecia de um outro filme em que ela fazia uma mulher doidinha de pedra, que se apaixona por outro idem - não lembro o nome agora. De todo modo, ela também aqui não é das mulheres mais sãs do mundo: é depressiva, cheia de problemas, confusa (e eu geralmente não tenho a menor paciência para mulheres assim, quero logo que ela vaze), mas sua atuação é tão boa, ela é tão convincente em suas carências, suas confusões, além de ter aquela beleza rara que o filme se move na tela, com suas peripécias, de um modo vibrante - queremos que ela, afinal, ache alguém para repousar daquela inquietação infindável, até, que - finalmente, que bom.

Já o Broadway Danny Rose tem um personagem (o tal Danny) impagável, com um Woody igualmente impagável, vivendo um agente de artistas um tanto improváveis, com exceção de um cantor, a quem ele se dedica completamente e que talvez faça uma carreira de sucesso. A história é contada por um grupo de homens, acho que agentes de artistas também, que estão numa mesa relembrando as histórias do Danny sob perspectivas ora cômicas, ora dramáticas - e ambas as perspectivas delineiam, com acerto, a natureza de sua existência. Ele é atabalhoado, confuso, fiel a seu 'povo das artes', quer fazer tudo-ao-mesmo-tempo-agora, enfim, é um caos em direção a algum lugar, sempre. E continua assim quando encontra, acompanha e busca levar a amante de seu cantor a um show importante que ele fará em breve, vivido por uma belíssima (e acho que usando roupas que a deixam mais, digamos, 'robusta' em algumas áreas) Mia Farrow (belos tempos aqueles ainda para os dois). Ela é uma despachada mulher, muito atraente (na verdade, Mia está lindíssima) e as coisas não acontecem  bem como previsto ao longo do caminho dos dois, até quase o final - o bom final.

O filme é narrado por um dos homens do grupo, um recurso muito bem utilizado, aliás.  E tanto ele, quanto ela, estão excelentes. Gostei muito, acho que o preto e branco nos aproxima daquele universo de paixões excessivas dos filmes italianos, talvez haja alguma homenagem aos clássicos de Fellini, uma certa atmosfera dos grandes dramas de amor ali ressoam.

Ainda a ver ou rever:

Para Roma com amor
Você vai conhecer o homem dos seus sonhos
Manhattan
A última noite de Boris Grushenko
Bananas
A rosa púrpura do Cairo
Crimes e pecados
Dorminhoco
Nannah e suas irmãs
Simplesmente Alice
Neblina e sombras
Setembro
A era do rádio
Memórias
Zelig
Sonhos eróticos de uma noite de verão
Interiores
A outra
Noivo neurótico, noiva nervosa
Tudo que você queria saber sexo mas tinha vergonha de perguntar

terça-feira, 5 de julho de 2011

Midnight in Paris

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São muitas as razões para amar Midnigth in Paris, para rever o filme com o mesmo encantamento da primeira vez. Acho que todo mundo assiste às cenas iniciais – takes breves em vários cantinhos ou monumentos da cidade – já com o olhar embevecido de reconhecimento de algum bom momento que passou por ali; ou de quem reconhece de fotos, mas nunca foi naquele lugar, e o filme pontua essa lacuna, faz nascer o desejo de preenchê-la, faz sonhar com o dia em que se conferirá a estampa, o desenho, o cheiro, a cor, enfim. E isso pode ocorrer com qualquer lugar em Paris, literalmente, não apenas os marcados pelo olhar de Allen.

Outa boa sacada foi torná-lo leve, mas cheio de glamour, irônico, divertido, sarcástico, tudo isso ao juntar atores em personagens feitos para eles – ou assim parece. Todos estão perfeitos, até a primeira dama escorregando na rigidez da interpretação está perfeita – afinal, ninguém esquece que ela está ali brincando de vender os atributos de uma cidade que – pasmem! – prescinde dela para existir em toda sua majestade. De todo modo, Carla Bruni é mais um plus que o mago Allen trouxe para o universo mágico do filme.

O roteiro, propriamente dito, é magistral, pela singeleza e pela perspicácia. Ele mexe e brinca com vários mitemas que configuram a cidade, segundo o imaginário de seus admiradores, lendo-os através dos olhos de seus “rivais culturais” estadunidenses, de onde as tiradas irônicas, o sarcasmo, as piadas meio cruéis. Não falta o rico reacionário de direita, versus o artista movido pela imaginação, alimentada em altíssima voltagem por todos os apelos da cidade, representados pelo pai da noiva (interpretada por Rachel McAdams), e pelo protagonista, Gui, vivido com perfeição por Owen Wilson – aliás, ele é a cara de um certo modo de ser norte-americano, meio apatetado, meio perdido, que caiu como uma luva para o personagem, é o mais convincente artista-escritor às voltas com o bloqueio criativo, absolutamente encantador.

Mas todos estão ótimos: Rachel McAdams como uma noiva seduzida pelo “pedante” marido da amiga, conferencista em Sorbonne; Kathy Bates, impagável como Gertrude Stein; e todos os artistas que perambulam pelas eras por onde o filme passeia, marcados por seus temperamentos e pelos traços do legado artístico que deixaram: Hemingway, Picasso, Scott e Zelda Fitzgerald, Braque, Matisse, Miró, isso tudo até eles voltarem no tempo mais um pouco e chegarem onde queria a amante de Picasso, Adriana, vivida por Marion Cotillard, cuja era de eleição foi a Belle Époque.

Por obra e graça da magia do filme, estamos agora num salão dessa época, onde os dois personagens veem solitário em sua mesa ninguém menos que Toulouse-Lautrec. Aproximam-se para cumprimentá-lo e surge Gauguin, já seduzindo a bela Adriana, para tristeza de Gui, que parte dali deixando sua musa no tempo que ela escolheu como ideal para viver e ser mais feliz.

Dentre todos os jogos de humor e inteligência que o filme oferece, esse se qualifica entre os melhores: não há quem já não tenha pensado em algum momento, mesmo que de relance, que outro seria o tempo melhor para se viver – há (e haverá sempre, para alguns) um momento histórico em que a vida haveria de fluir mais fácil, mais bela, mais assim ou assado – sempre melhor, lá.

Quando, quase no final, Gauguin (se não me engano) advoga que os bons tempos teriam ficado na Renascença a gente ri. Mas pensa também como é difícil ser o que se é, no tempo que se tem – para viver, inclusive.

Como se tudo isso não bastasse, a trilha sonora é maravilhosa, o tema que embala as "viagens" de Gui é muito perfeito, a gente 'toca' a música e a imaginação ao mesmo tempo. Grande filme, delícia de ver e rever.

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Uma resenha impecável, inclusive pela errata*, feita pelo comentarista do New York Times:
http://www.nytimes.com/2011/05/28/movies/midnight-in-paris-a-historical-view.html

* Eu também tinha ‘errado’ o filme do Buñuel, achava o mesmo que ele.
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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

back slowly



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Para dar uma espairecida, fui rever Vicky Cristina aqui no Museu, também para ficar em um ambiente mais fresco, longe desse calor de deserto que tem feito. Gostei demais do filme, mais do que da primeira vez. Talvez porque minha vida está um caos, mas também muito sem perspectiva, totalmente sem graça, eu achei tudo que via na tela tão luminoso, tão novo - vidas cheias de entusiasmo, de desejos e vontades de encontrar o inusitado, os momentos em que as coisas brilham e fazem um sentido forte.

Como é estimulante a vida vivida quando aberta a novas experiências, novas sensações e descobertas. Há frescor naquelas pessoas, há vitalidade, há beleza e há uma música inebriante acompanhando os momentos, e o conjunto todo faz enorme bem a uma alma desencantada como esta minha no momento.

Me pergunto quando foi que desisti de mergulhar na vida com essa curiosidade, como foi que me acomodei dessa maneira e deixei a vida ficar esse cinza, essa coisa sem intensidade e sem brilho. Não acho que a doença apenas explique, embora tenha tido um peso preponderante.
Chegar aos sessenta (o que acontece na próxima semana, com a ressalva de que talvez sejam 59, se se levar em conta que a mãe não sabe bem o ano em que nasci, pois que os documentos foram lavrados depois e não se tem certeza do evento...). Mas enfim, fazer sessenta, tendo passado por esse acontecimento no meio da minha vida, que me levou a sair fora da atividade acadêmica (embora eu pudesse ter optado por ficar, mas não optei) ou de qualquer outra atividade laboral obrigatória, como soeu (acreditam que existe essa forma verbal?) acontecer all my life, está sendo ainda um prato indigesto de engolir e uma realidade difícil de encarar.

De todo modo, não me sinto com essa idade, mas também não sei qual seria. Sei que tenho talvez mais uns 10 anos, se tiver sorte, para procurar algum encanto, em algum canto desse mundo velho. Há de haver um lugar, dentro ou fora, em que pequenas mas consistentes alegrias sejam possíveis. Abrir os olhos. O coração também, o mais difícil.


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(E foi ontem mesmo que comemorei meio século, estava bem felizinha e achando um marco e essas bobagens. O que houve? Onde foram parar esses dez anos? Não são dez dias, ou dez meses. São dez anos que não sei o que fiz deles (se eu bebesse, diria que fiquei dez anos de porre). Caracas, se os próximos dez forem assim - vapt vupt - estou ferrada... )

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(Pensando melhor, eu sei o que fiz deles (eu sei o que você fez na noite passada... argh), mas se mesmo esse post nem deveria ter sido publicado, imagina esses dez anos de minha vida).

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domingo, 9 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona


Um filme em que se ri bastante com os imbroglios criados pelo trio, improvável, que se une para amar e viver em Barcelona. Do que eu gostei: parece clichê, mas o Javier Bardem está bom demais, e lindo, claro, assim como a Penelope. Não sei se porque o cenário é a lindíssima Barcelona, mas os dois espanhóis dão show de bola, e as duas moças americanas ficam meio de coadjuvantes dos dois. Aliás, a Cristina da Scarlett Johansson vai murchando quando entra em cena a histérica personagem da Penelope.

Gostei da música, tanto a da trilha, cantada em espanhol sussurante, quanto a do violonista que toca um trecho de uma peça, lindíssima; gostei também de ver a cidade por onde passeiam os visitantes, de modo que eu também me fiz um pouco turista ali, acho que todos nós saímos querendo estar em Barcelona e vendo as maravilhas de Gaudí, mas eu esperava mais do filme, acho que se criou muita expectativa em torno dele e acho que ficou aquém da fama.
Por exemplo, achei meio intempestiva a saída da Scarlett do jogo, assim como ficou meio descosida a paixão da Vicky pelo pintor interpretado por Bardem. No final, como afirma Pedro Butcher na crítica ótima, por sinal, da Folha Online, a mais coerente mesmo é a personagem de Penelope, louca do começo ao fim. E também não fiquei convencida das dúvidas existenciais da Cristina (aliás, estou achando que a Scarlett tem interpretado bastante ela mesma no cinema), creio que no final ela sentiu falta mesmo foi de um bom hambúrger do Macdonald.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O sonho de Cassandra

Woody Allen fez uma tragédia grega com ares contemporâneos, ao colocar no personagem do Colin Farrell, que o vive brilhantemente, em dobradinha com Ewan McGregor, o dilema clássico da consciência moral face ao ato ignominioso, cujo resultado é uma espécie de trabalho quase 'camerístico', ao mesmo tempo cinema de ação policial e cinema introspectivo, de questionamentos sobre o certo e o errado, o pecado, a culpa, a responsabilidade moral sobre as próprias ações. Acho que poderia dar uma enxugada de uns dez minutos, às vezes me parece que o filme perde a força, escorrega um pouco a atenção naquele vai-não-vai do irmão culpado. Mas a música do Phillip Glass está boa demais, encanta durante todo o filme.