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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Only lovers left alive

Jim Jarmusch volta aqui com  força de mestre, nesse filme magnífico, estrelado por esses dois excelentes Tom Hiddelston e Tilda Swinton, com ainda Mia Wasikowska, John Hurt, Anton Yelchin. Nunca vampiros foram tão charmosos, cultos, sensuais, blasés, além de low profile, como nesse universo criado pelo talvez ex-enfant terrible Jarmusch.

O filme emana leveza, bom humor, sofisticação, inteligência, tudo isso vindo de uma dupla que fica o tempo todo com a mesma roupa, meio sujinha e antiga, mas cheia de estilo. Estilo também é o que não falta ao modo de encenar o tédio em que estão imersos esses dois, Eve e Adam, mais a irmã dela, Ava, em aparição não muito longa, uma jovem impaciente e estabanada, que acaba sugando o único vivente amigo do talentosíssimo músico Adam, flagrado no tempo em que o filme se passa em uma crise existencial aguda, entediado com a incompetência dos humanos, que ele chama de zumbies, quanto à gerência do espaço-tempo, esse, numa Detroit detonada, abandonada, meio cemitério de mortos-vivos, por onde os dois amam passear quando a noite cai.

Há também um clima noir, ultra romântico e meio dark, quando mais não seja porque Adam sente saudades de Byron, dos amigos músicos que ao longo dos séculos foram seus parceiros de vida, de artes, de sons, e cujas fotos ele traz em sua parede, como os zumbies fazem, ou faziam, com as fotos de parentes amados espalhados pela casa. E há, quase no final, uma cantora extremamente talentosa, Jasmine seu nome lá (não a conheço), que ele ouve em Tânger, meio bêbado de sede e sono, meio à deriva enquanto a amada vai buscar-lhe um presente - ele a ouve e a câmera vai caminhando junto com ele até a porta do bar onde ela canta - mas o que é aquela voz, quem é essa que canta expelindo a alma numa interpretação soberba, em dor e excelência? Lembra Amy, e o comentário dele a respeito de fama me pareceu muito adequado - a Amy, e aos tempos nossos, sobretudo. Belíssimo filme, bem vinda volta, a meus olhos, essa do Jarmusch.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Mais quatro: Obsessão; Ça brûle; Nebraska; Gravidade

Obsessão : Lee Daniels, 2013. Um dos melhores filmes vistos até agora, muito, muito bom, com uma Nicole Kidman perfeita no papel de uma mulher qualquer, desmazelada, além de todos os outros, ótimos - Zac Effron, sensual e belo, faz um personagem seduzido, ou melhor, abduzido pela beleza da femme fatale vivida por Nicole; John Kusac, num papel inovador para sua carreira, um matador que ela faz muitíssimo bem, e assustador em suas nuances; Matthew McConaughey, cujo personagem força a direção da história para outro caminho, perturbador e rico em suas consequências, além de trágico; David Oyelowo, cuja cor negra tem importância para aquele mundo histórico, e sobretudo social. Todos muito bons, encaminhamentos inesperados, final forte, atos extremos.

O filme tem aquele clima de desolação das pequenas cidades do interior estadunidense, além de seres à deriva, perdidos em vidas meio sem sentido, a violência à espreita e se esparramando em águas paradas, em enormes bocas de crocodilos exterminados, famintos e eviscerados - metáfora do clima geral de espreita e bote. Famintos todos de contato íntimo, de sexo - Kidman, a sensual-ingênua amante de um presidiário diz muito sobre as ânsias sexuais e a temperatura dos corpos. Mais que bom - excelente.

Ça brûle : Claire Simon, 2008. Com Camille Varenne, Gilbert Melk, Marion Maintenay. Outro filme que captura com maestria o clima de uma cidadezinha de província, no interior da França, cujos moradores vivem suas emoções mais intensas em época de verão, quando turistas a invadem à procura de - sossego. Mas para os jovens e adolescentes, sedentos por emoções, fortes ou não, a cidade tem poucos atrativos, daí ser necessário criar situações para testar não apenas se os sentimentos confusos que habitam seus corpos poderiam ser o tão esperado amor, ou apenas uma inquietação inerente ao nascimento dos afetos - todos.

E uma das jovens cisma, se entedia, perambula, sofre um certo abandono dos pais e, sobretudo, de seu cavalo, que lhe é praticamente tomado, e sofre mais. Tanto que comete um daqueles atos gratuitos, oriundos do puro não-ter-o-que-fazer, com consequências devastadoras, como sugere literalmente o título.

A partir desse ato impensado, o inesperado acontece, e não há como não achar necessário ter dado maiores limites àquela jovem, não ter sido utilizada com ela mais energia, mais conversa, mais afeto, mais presença, mais pais de verdade. Mas não houve, não foi, não deu. E ela fica malíssima na fita, nós ficamos irados com tanta irresponsabilidade, e o final do filme se resolve de um modo meio irritante também. Acho que ela deveria ter sofrido, aprendido mais, ao invés do que aconteceu. Creio que não perdoei o final, de certo modo 'fácil', do filme.

Nebraska: Alexander Payne, 2013. Com Bruce Dern, Will Forte, Bob Odenkrirk. Trata-se de um filme sobre o re-encontro de pai e filho, no momento final da vida do primeiro, quando ele sente necessidade de revisitar um pedaço de si que ficou lá atrás, em algum lugar que, no filme, será representado por um falso bilhete premiado de um milhão. O homem cisma que ganhou aquele prêmio, mas na verdade o que ele precisa é resgatar a si mesmo, sua história, os lugares por onde viveu, antes de seu fim.

Tudo se passa basicamente entre homens, e as mulheres à volta deles ou são bruxas completas, como a do protagonista, ou são coadjuvantes na vida dos outros, como as dos irmãos, tios e amigos antigos. Como pertenço a uma família basicamente matriarcal, em que as mulheres é que fincaram bandeiras no mundo do trabalho (e eventualmente do afeto), achei o filme distante de mim, embora reconheça sua força, sua grandeza, ao tratar o universo da velhice sem condescendência. Trata-se, enfim, de um filme denso e um tanto árido sobre o que se perde ao longo do caminho, sobre o que um filho herda, e estende para além o legado do bem, sobre como um gesto apenas, bem simples, pode ser como um filete de água no mundo seco, sedento e triste do desamparo.

Gravidade : Alfonso Cuarón, 2013, com Sandra Bullock e George Clooney. Achei um dos piores filmes sobre espaço já feitos - e não me refiro a tecnicalidades, porque acho que elas só servem ao filme se houver uma boa história, um bom roteiro, bons intérpretes, e o que vi foi uma excelente atriz pagando mico ao fazer um personagem perdido no espaço que geme o tempo todo, emite sons ininteligíveis, sussurra ais por quase todo o sempre, enquanto a nave é atingida por estilhaços de meteoros - cenas de patetice explícita, achei, tanto maior quanto seu parceiro de voo, o belo Clooney, é capaz durante todo o evento de dizer coisas engraçadas, formar frases com sentido, ter humor e charme - isso tudo sob o furor dessa mesma tempestade. Pena que ele morre, e ela sobrevive dizendo as mesmas poucas sílabas, até o final. Um desastre completo, nenhum dos dois precisava ter feito esse trabalho, e suas carreiras passariam perfeitamente bem sem ele.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Tatuagem

Irandhir Santos - já tenho o grande ator digno de qualquer estatueta, em qualquer parte do globo: Irandhir Santos, vivendo magistralmente o chefe da trupe de tresloucados artistas do cabaré Chão de estrelas nesse filme, Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda, absolutamente delirante, pulsante, alegre, visceral, anárquico, sem concessões, que dialoga com outros delirantes do cinema nacional e além - Glauber Rocha, com certeza; o espírito de Federico Fellini, idem, assim como se respira ali o clima das grandes festas populares e carnavalizantes nordestinas, dos pastoris e cordões encarnados pagãos e devassos, movendo-se contra a censura e a opressão a qualquer custo.

Este é um filme que exsuda liberdade, em todas as suas formas, tema muito bem vindo num momento em que o país está ferido, triste, sem muita perspectiva de grandeza. Aqui, nesse espaço inventado, todos são grandiosos, inteiros, viscerais, e a.c.r.e.d.i.t.a.m - acreditam nos sonhos, no amor, no tesão, na vida sem peias nem meias coisas, tudo é radical, tudo é inteiro, e Irandhir Santos brilha com uma luz acachapante. A impressão que se tem é que o diretor (que criou para ele o personagem) disse ao ator: você vai atuar como se não houvesse no mundo qualquer outro ser que possa viver o Clécio Wanderley - só você. Ele não apenas aceitou o desafio, mas o incorporou visceralmente - difícil ver uma entrega tão absoluta de um ator a um personagem, e essa entrega render uma interpretação tão absurdamente comovente e íntegra. A cena em que ele canta Esse cara, de Caetano, e vê o homem a quem amará pela primeira vez a sua frente, é comovente, poderosa, sua voz aparece afinadíssima e sexy, e tudo ali funciona num nível alto de excelência. As cenas de sexo quase explícito são absolutamente convincentes, e eróticas pra valer. Gosto muito desse espírito inconvencional e libertário - minha alma anarquista o reconhece, e o saúda.

Enfim, um filme sem pudores, e com homens se amando sem pudores. Irandhir faísca na tela, e toda a trupe de atores está fazendo o melhor: Rodrigo Garcia (Paulete), Jesuíta Barbosa (soldado Fininha), Sylvia Prado (Deusa) são alguns dos que fazem daquele pequeno cabaret nos confins do mundo um lugar onde se pode ser quem se é, a arte reina, e se tecem os laços de um trabalho originalíssimo, de que resulta um filme contundente, forte, especial.

Blue Jasmine

Blue Jasmine (Woody Allen,  2013) realiza o encontro desse autor de tantas obras primas com a brilhante Cate Blanchet de forma magistral. Um grande filme e uma grande personagem, não apenas uma magistral interpretação de atriz, mas uma criação de personagem com tudo para ficar no panteão dos clássicos da cinematografia, ou da literatura.

Sua grandeza reside em exprimir até a última gota ou traço ou gesto uma existência que cada vez mais inapelavelmente vai-se corroendo de uma 'não existência', por assim dizer, na medida em que tudo a sua volta vai-se esborralhando sem que ela tenha controle, ou melhor, quando ela percebe que as coisas não têm volta, ou quando quer enxergar o que já se insinuava há muito, mas ela fingia não ver, a represa já está fazendo muita água, e inunda toda sua vida. Vida ex-cêntrica, sem centro próprio, já que respira em função da boa vida e dos mimos que o marido e seu dinheiro proporcionam, cuja origem são as negociatas fraudulentas - sim, ainda a débacle da economia - até que num rompante emocional, ocasionado por uma traição dele, ela o delata ao FBI. A partir daí, essa vida que não tinha a menor idéia de que não existia por si mesma, começa sua descida rumo ao non sense completo.

É muito forte o modo como o diretor e roteirista, ou seja, o gênio de Allen, conseguem expressar a falência do sistema financeiro de forma ainda nova e pari passu à derrocada moral e psíquica dessa personagem, prenhe de uma tragédia tão agônica que chega a ser hilária. Ambos os sistemas - o financeiro, e o psíquico - estão em compasso de espera para seus momentos finais. Ambos estão em ruínas. Ambos estão apodrecendo, e é esse processo de apodrecimento que o filme flagra.

Blanchet consegue expressar todas -  t.o.d.a.s - as nuances de uma mente num certo momento confiante, meio arrogante, sofisticada, blasé - quando na fase 'pseudo' rica; e depois confusa, traída, perdida, aparvalhada, louca - quando perde tudo, isso com detalhes de expressão. É um prêmio e um prazer vê-la atuar aqui. Todos os outros - Alec Baldwin, Silly Hawkins, Peter Sarsgaard, Bobby Cannavale - são rigorosamente seus coadjuvantes, muito bons, mas o filme é dela, sem dúvida. Um grande filme.

O verão da minha vida; A garota de lugar nenhum

O verão da minha vida (The way back, Nat Faxon, 2013), com Steve Carrell, Toni Colette, Allison Janney, Amanda Peet, Anna Sophia Robb, Sam Rockwell é um filme que todo mundo tem de ver. Não apenas adolescentes, ou pré adolescentes, ou adultos que gostam de coisas leves, ou pesadas, todo mundo.

Por quê? Porque é lindo, é bom, é divertido, é um filme de formação, de passagem entre fases na vida de um jovem, de um possível ferrado garoto que vai-se transformando por seus méritos e um tanto por acaso numa coisa bonita, num homenzinho interessante e mais seguro, tudo isso a despeito do descaso pontual da mãe, uma sempre boa Toni Colette, do desprezo do namorado dela, vivido por um Steve Carell em papel de bad boy, e da indiferença da irmã, em sua fase aborrecente. Tudo funciona bem, mesmo e sobretudo, as trapalhadas da personagem bebum vivida pela hilariante Allison Janney, além do super boa praça e engraçado Sam Rockwell, o responsável pela 'graduação' do personagem de Liam James.

A garota de lugar nenhum (La fille de nulle part, Jean-Claude Brisseau, 2012), com o diretor vivendo o protagonista, mais Virginie Legeay, Claude Moret, Lise Bellynck, trabalha numa clave meio surreal, em que uma moça aparece na casa de um escritor e professor aposentado, depois de ser flagrada na escada levando uma surra de um jovem.

A partir daí eles começam uma relação de amizade permeada por situações estranhas, com fantasmas aparecendo em razão da garota ter um dom para vê-los e premonições a respeito da presença da morte dos que ela ama.

Enfim, um filme sobre estranhos, paralelos mundos, e de concretas solidões, que se encontram emcerto momento de sua trajetória, e na linha final da vida. Pode-se ver com atenção, mas conserva um ar de inusitado.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Night moves

Achei o ritmo do filme um problema, me deu sono em vários momentos, mas é interessante a proposta desse Night moves (Kelly Reichardt, 2013), com a boa Dakota Fanning, Peter Sarsgaard e a mesma expressão no rosto de Jesse Eisenberg, rigorosamente a mesma de outros trabalhos - esse rapaz precisa se reinventar, acho.

De todo modo, o filme tem um timing que não condiz com meu temperamento, é leeento, a ida pelo rio leva um século, e gera um clima que deveria ser de tensão, mas se transforma em exasperação. Depois, tudo continua em slow motion, talvez de acordo com o ritmo de vida na pequena comunidade a que pertencem os dois personagens - o que mais me interessou, na verdade, foi esse olhar sobre a pequena agricultura familiar, os trabalhos diários com verduras, legumes (lindos e pujantes), o dia a dia numa pequena fazenda de produtos talvez orgânicos - fiquei com vontade de estar lá.

Há uma idéia interessante movendo o filme, claro, há jovens idealistas que cometem atos cujas consequências inesperadas mudam suas vidas para sempre, e isso é o cerne da história - como foi que tudo deu tão errado? E como, às vezes, não há mesmo volta nos caminhos e atalhos escolhidos, eles os vão levando a cada vez mais estreitos becos sem saída. Só acho que a visada dramática inerente às situações vividas e expostas dilui-se num ritmo excessivamente lento, mas pode ser apenas a visão subjetiva de uma espectadora inquieta.

domingo, 29 de setembro de 2013

Les salauds; balés e corpos que dançam

Há coisas que deixam uma pessoa amarga pro resto do dia. Fui ver esse Os bastardos (Les salauds, Claire Denis, 2013) e fiquei mal o resto do dia. Tanto que o balé Momix, visto em seguida ao filme no teatro Municipal, ficou ruim também, não gostei daquele balé, mais imagem do que dança, mais malabarismo visual e cenográfico do que balé, queria ver os corpos agindo no espaço, retesando o ar com seus volteios e rodopios, e o que vi foram cenas de um cinemascope atualizado com photoshop dos bons. Nesse sentido, o grupo Corpo, visto também no Municipal numa outra dessas maravilhosas matinês de domingo, me pareceu muito, muito mais intenso, emocionante, vibrante, viril.

Isso tudo para dizer que Os bastardos é um filme muito bom, e talvez por isso deixe esse gosto amargo na boca. Porque não há mulher que não se indigne com o que a história deixa ver, e muito mais entrever, a respeito daquela jovem, já que não há linearidade nem cronologia claras no desenrolar dos acontecimentos, embora compreendamos perfeitamente o que está ocorrendo, em suas linhas gerais e mais importantes, mas acho que as lacunas são propositais, como a explicitar o caos em que aquelas vidas se encontram.  Para mim, o núcleo duro do filme, o que acontece nele realmente, o que importa aos olhos dessa espectadora será a situação devastadora, relacionada a essa menina, a essa filha, essa sobrinha, essa conhecida de todos nós. E fica tudo muito triste, doloroso e cruel à medida que avançamos na compreensão daquele quebra cabeça.

Nem mesmo o encontro da bela Chiara Mastroianni com um fantástico Vincent Lindon, vivendo cenas de paixão explícita, amenizam a tragédia. E no final, ela também precisa ser uma salaude, porque tem de escolher entre o filho e o amante (e o dinheiro, claro, com tudo que ele representa) - nesse caso não há dúvidas, escolherá o filho. Para isso, terá de sacrificar o amante, numa cena que se explica sozinha. Salaude. Todos os personagens, de certo modo, têm o pé no lodo, na lama, na abjeção. É um filme que flagra meio de relance, meio aos pedaços, e por isso mesmo com mais força, a crise de valores (morais, éticos) dos que, diante da iminência de perder qualquer coisa - bens, pessoas, coisas, não hesitam em lançar mão do que seja necessário para manter seu status, e o exercício do poder.

É também um filme doloroso que expressa, em sua crueldade, senão a verdade histórica do comunismo anunciado por Marx em sua frase-síntese, ainda e sempre tão atual, outro espectro que tem rondado a Europa, cujo símbolo perfeito seria a jovem nua vagando pelas ruas, caminhando feito sonâmbula, sem luz no olhar, que abre o filme. Aqui, e agora, as mulheres que vivem nas franjas dos donos do dinheiro (e desse grande Capital) - as belas, as jovens, as que não criaram armas de defesas por conta própria, as que não são donas de suas vidas - essas são as que pagarão os mais altos preços pela desordem financeira. Semelhante à mãe da jovem, se veem de repente completamente perdidas, incapazes de administrar o caos e o pó em que os negócios se dissolveram, e tampouco são capazes de lidar com a situação moral em que agora se encontram. Vender a filha, matar o amante são apenas algumas das formas que os agora cegos no nevoeiro (cenas de Ensaio sobre a cegueira se impõem) encontram para seguir - de qualquer maneira, a qualquer custo, foice pendendo sobre suas cabeças.

sábado, 28 de setembro de 2013

Blackfish; Amazônia

Assisti a dois documentário hoje, ambos ótimos.

O primeiro, Blackfish - fúria animal (Gabriela Cowperthwaite, 2012) discute a questão das orcas e o uso que se faz desses animais de grande porte nos aquários dos grandes centros de turismo norte-americanos. O filme discute a forma insidiosa e hipócrita como são tratados os casos de acidentes graves envolvendo o adestramento desses animais e seus treinadores.

As cenas e os depoimentos são muito esclarecedores, dá pra entender muito melhor como funciona a indústria do entretenimento que privilegia altos lucros em detrimento do bem estar seja dos mamíferos, seja de quem trabalha com eles. Trata-se de uma denúncia contundente dos Sea Worlds da vida, com depoimentos de uma grande cadeia de conhecedores, estudiosos, trabalhadores, cientistas, enfim, pessoas que circulam em torno desses animais, seja para estudá-los, seja para expô-los de modo mercantil, e a finalidade seria denunciar tais práticas abusivas, demonstrando como e por que são nefastas e agressivas com relação à natureza da espécie. Muito bom, fiquei impressionada com tudo que vi e ouvi.

O outro documentário - Amazônia (Thierry Ragobert, 2013) é meio longo, mas muito interessante, e deve ter dado um trabalho de cão fazer a montagem daquele material, porque parece uma coisa bem natural acompanhar a trajetória de um macaco prego desde o momento em que o avião em que ele ia (provavelmente contrabandeado) cai de repente no meio da floresta.

A partir daí temos uma fofura de miquinho parecendo ainda bebê tentando sobreviver naquela i.m.e.n.s.i.d.ã.o da floresta amazônica. O filme, pois, trabalha nessa clave do micro versus o macro, duas forças lutando para sobreviver. É quase épico o destino daquele mínimo animal, e vivemos com ele suas aventuras em busca das saídas possíveis para as suas enrascadas, que são muitas. É bem bonito, acredito que tenha sido um trabalho hercúleo filmar aquilo tudo porque parecia haver um roteiro bem amarrado e, evidentemente, o mico não tinha um script, logo coube ao continuísta, ao editor, ao diretor, sei lá eu a quem mais, fazer com que parecesse haver um roteiro que ele seguia, e interpretava, inclusive. Gostei muito, mesmo. Intenso e engraçado em vários momentos.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Questão de tempo



Se você gostou de Notting Hill vai gostar muito desse filme, Questão de tempo (About time) do mesmo diretor, Richard Curtis. Eu amei a história desses jovens tão a fim de dar certo, tão a fim de amar e ser amados, tão família-do-bem.

É bom olhar essas vidas iniciantes e belas querendo ir pro lugar melhor, pro amor que dá certo, pra alegria, pro afeto compartilhado em profundidade. E ainda por cima ter a ajuda mais que bem vinda de uma viagem no tempo básica, quando se pode melhorar as performances e as experiências para obter excelentes resultados - isso é o paraíso, e resulta engraçado.

Embora apenas os homens da família tenham o tal dom, a cumplicidade com a irmã a faz beneficiária da aventura junto com ele, em momento crucial. Ou seja, família é tudo por essas plagas - talvez seja um tanto piegas, mas é bom de ver, e se embarca fácil nos sonhos e utopias de todos.

Os atores são ótimos, estão à vontade, leves e divertidos, engraçados e tristes. Especialmente os protagonistas Rachel McAdams e Domhnall Gleeson, além do mais que ótimo Bill Nighy (do memorável Hotel Marigold) e também Lindsay Duncan. Enfim, filme pra ver, gostar, rir, se emocionar, e sair da sala com um sorriso no rosto.
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Nota: Hoje, primeiro dia no São Luiz, houve problemas com o projetor da sala 3 - até a hora em que saí, não haveria as sessões programadas. Começou o Fest Rio, sempre algum problema, em algum lugar.