Gran cabaret demenzial, de Veronica Stigger dá a sensação de engodo. O livro é graficamente bonito, sofisticado, com páginas coloridas, muitos desenhos, editado pela Cosacnaify, orelha elogiosa escrita pelo João Adolfo Hansen, você acaba tendo grandes expectativas em relação a ele, que não as cumpre. Mais que isso, o livro é muito fraco, e coloca em evidência as fontes de onde retira sua possível energia: Mario de Andrade, Oswald e, de modo muito explícito, Hilda Hilst, no drama em ato único "Tristeza e Isidora". O problema é que o estilo de Hilda, como o de alguns autores da literatura brasileira (Guimarães Rosa e Clarice, por exemplo) é inconfundível e não permite aproximações muito estreitas sem que se caia no terreno da quase paródia.
Assim, o que podia aproximar os dois universos acaba ficando, na obra de Stigger, apenas na superfície dos palavrões, numa certa fixação anal e seus vocábulos derivados (bunda, ânus, merda, enfim). O humor grotesco e coprológico parece muitas vezes ingênuo e imaturo, tal como sugere o formato do livro, que parodia as agendas-diários das jovens, ou como a atitude adolescente que fala palavrão por birra, pra chocar os adultos. Falta densidade às estórias contadas, e o tom farsesco não alcança os níveis de sátira que projeta, nem sublima o vazio de conteúdo de seu universo, a mil anos luz do universo hilstiano. A despeito de todo "auxílio luxuoso" da editora Cosacnaify, o livro não parece à altura de seu projeto editorial, e a autora tem muito ainda a caminhar para fazer obra de adulto com o material de que dispõe.
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Veronica Stigger. Gran cabaret demenzial. São Paulo: Cosacnaify, 2007.