Alguns livros lidos ao longo do ano, com os quais dividi meu tempo, entre (poucas) viagens, palavras cruzadas e Angry Birds.
Nada a dizer, Elvira Vigna, nos oferece um verbo solto e uma frase precisa no acerto de contas de uma personagem com o companheiro de longa data, que a trai com uma amiga do casal. Autora de uma geração muito próxima a minha, os valores ensaiados no livro ecoam de modo natural em minha sensibilidade, de modo que reconheço facilmente os termos da longa DR que perpassam esse universo ficcional.
A ressaltar a frase seca, contundente, sem concessão ao melodrama em que se poderia resvalar, dada a natureza do projeto. Ao contrário, é possível falar em precisão cirúrgica no corte da frase, na escolha dos vocábulos, de modo a não deixar margem a qualquer ideia de sentimentalismo fácil, como se lê em :
Nessa segunda viagem ao Rio, já não havia muito mais coisas, além do iPod, que Paulo precisava por na lista de situações novas sobre as quais seria preciso inventar mentiras. A viagem era uma repetição da primeira, as mentiras da primeira serviam . A viagem, acho, foi uma consolidação do que, da primeira vez, havia sido um ir em frente para o desconhecido. E, na cabeça dele, já estabelecida, estava a ideia de que o que havia entre ele e N. era o exercício de um direito que ele tinha, o de gerir a vida dele e o pau dele do jeito que lhe aprouvesse. (p. 44-5).
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Elvira Vigna. Nada a dizer. São Paulo: Cia das Letras, 2010.