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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Coisas que deixamos pelo caminho

Há um momento de Beleza americana em que Sam Mendes filma um vento forte levando suavemente papéis e coisas pelo ar. É uma espécie de dança levíssima e delicada, em que tudo se move sem direção, semelhante a um bailado, e parece ter havido um jogo com o acaso ali - houve a cena ou ela foi criada em estúdio? - que não podia deixar de ser flagrada e incorporada ao filme. O que se vê é quase um parêntese nos acontecimentos narrados, mas incorporou-se à história de forma magistral, porque o breve encanto será paradigmático do que a vida pode ser em alguns momentos: matéria rara e rala, palha volátil, mas de uma beleza absurdamente pungente.

Por duas vezes passou no telecine Coisas que perdemos pelo caminho, que não havia visto no cinema, e fiquei completamente tomada pelo filme nas duas vezes - pela história, pelas atuações de Halle Berry e Benício del Toro, comoventes ambos, mais ele do que ela, talvez, que dá conta de expressar o tormento de um viciado em heroína tentando ficar limpo, isso tudo sem perder um certo ar de desdém no olhar que o faz passar pela tragédia de modo denso, mas leve, se isso é possível. Halle convence quase todo o tempo, salvo na cena do choro catártico, talvez, mas está ótima a maior parte do tempo. Um filme sobre perdas irreparáveis, sobre como superar-se e às mais violentas tragédias mas, sobretudo, um filme sobre a compaixão - o que faz alguém tomar a mão de outra pessoa e caminhar com ela um tempo, mostrar os pés para alguém que esqueceu como andar. Bonito e tocante.

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Há algum tempo estou envolvida com a leitura de Sábado, do Ian McEwan, e de A louca da casa, de Rosa Montero, ambos quase no fim, mas leituras feitas em meio a crises, nem sempre muito concentrada. De todo modo, o segundo tem momentos muito bons em que se discute com competência questões importantes a respeito de literatura e autores, e a linguagem aparentemente simples da jornalista não deixa de revelar uma leitora voraz e sofisticada, além de ótima contadora de casos e histórias em torno de livros e autores.

Já o livro do McEwan não consigo abandonar, mas tampouco leio com paixão. Parecem excessivas as minúcias com que aborda cada acontecimento na vida daquele cirurgião, além de soarem meio artificiais os termos médicos pesquisados e utilizados sem muita parcimônia ao longo da obra, ou os voleios e exasperações durante as partidas de tênis. Pode ser meu estado de espírito, mas em alguns momentos achei cansativos. Ainda não terminei.