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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Sobre os pactos

Sobre os pactos propostos por Dilma, que achei muito bem vindos e muito pertinentes, comentados por essa leiga em quase tudo, apenas para deixar registrados alguns momentos importantes do nosso efervescente cotidiano.

1) O da responsabilidade fiscal: parece correto, se tiver a ver com o controle da inflação e com manter os gastos públicos sob rédea curta. Mas o que percebo é que essa tarefa tem de começar (e terminar) com a própria instância federativa, lá onde ela reina os gastos são desmedidos e pra não virar letra morta tem de ser, talvez, demonstrado na prática por quem propõe - ela, no caso.

2) O da reforma política: concordo inteiramente com o plebiscito para uma constituinte específica, até porque parece óbvio que esse Congresso, infestado de corruptos, não moverá um dedo na direção de uma uma reforma política, imprescindível pelo fato óbvio de que o status quo permite a roubalheira, dentre outras coisas. En passant, tive enjoo ao ver o (des)governador do Rio naquela mesona, fingindo que representa alguma coisa, enquanto os jovens estão acampados há dias próximo a sua casa pedindo algumas explicações, das inúmeras que deve ao povo da cidade, de quem ele foge como o diabo da cruz. Oh, nojo.

Quanto a tipificar a corrupção como 'dolosa', não sei se teria alcance maior, porque os sujeitos teriam que antes ser condenados pela dita corrupção, e já temos instrumentos legais para fazê-lo, mas as mesmas leis permitem o adiamento ad infinitum da punição final - seja ela culposa ou dolosa. O que entendi nessa proposta é que os crimes teriam uma punição maior, que impediria os réus de sair da prisão ou mesmo nem entrar nela. Nesses termos, concordo, claro.

3) A melhoria do sistema de saúde e da educação é um atoleiro sem fim nesse país. São serviços que o Estado tem de oferecer ao cidadão, e eles deveriam ser de qualidade, claro. Mas tenho a impressão que aí as mãos dos ladrões agem mais livremente, porque tudo, absolutamente tudo, pode ser "negociado, superfaturado" - desde um banco de escola, à merenda, às obras de melhorias, ao esparadrapo, aos instrumentos clínicos: tudo pode ser roubado, vilipendiado, e vem sendo.

Não há administração capaz de frear os malfeitos nessas áreas, em todas as instâncias. Logo, não posso concordar com a proposta de trazer médicos do estrangeiro, porque não resolve, é uma saída pela tangente: a questão é pagar salários decentes e oferecer condições minimamente dignas para que nossos profissionais possam trabalhar, nos grandes centros e nos rincões do interior. Tem que desvincular a gestão pública do apadrinhamento político, colocar um gerentão incorruptível para administrar hospitais, escolas etc. Roubou? Rua! Mas é claro que enquanto a res pública for um feudo das indicações de políticos (quaisquer políticos, os corruptos e os não) nada mudará, continuaremos sendo roubados porque é pra isso que eles indicam seus prepostos - para roubar por e para eles.

4) O pacto de mobilidade urbana parece ótimo, mas anunciar um investimento de 50 bilhões para obras de mobilidade urbana, tipo metrô e corredores de ônibus, sem mudar a forma de gerir essa montanha de recursos será, de novo, dar dinheiro aos ladrões de plantão - tudo ficará, como agora, superfaturado e vai enriquecer os mesmos de sempre. O Conselho Nacional do Transporte Público, com participação de usuários e sociedade, está me parecendo mais um órgão para os participantes receberem mais um prolabore e chegar a lugar nenhum. Não precisamos de mais conselhos, de mais colegiados, de mais isso e mais aquilo, já os temos até demais. Precisamos de que os Ministérios e seus ministros e subordinados trabalhem, façam jus aos altíssimos salários que ganham, sentem a sua "imperial bundinha" (Mario de Andrade) e ponham o cérebro para trabalhar, e não apenas a mão no fim do mês para pegar salário no banco, ou propina de todo lado. Enfim, usar a mão de obra regiamente paga por nós e fazê-la trabalhar para todos, como deveria ser sua função primordial. Utopia, claro.

5) A proposta de destinar cem por cento dos royalties do petróleo para a educação parece ótima, mas, de novo, esse dinheiro não chegará a seu destino se os caminhos que ele tiver de percorrer não mudarem, e se os sujeitos responsáveis por administrá-lo também forem os mesmos. Se apenas destinar verbas fosse suficiente, as cidades pequenas (Campos, Macaé) que produzem petróleo já teriam uma educação de primeiríssimo mundo, o que não ocorre, claro. Então, de novo, ou mudam os administradores, ou a continuar o apadrinhamento político todo investimento vai parar no bolso dos vorazes ladrões de sempre.