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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Em águas profundas


Antes de citar alguns trechos do livro do Lynch, observo o seguinte: o interesse daquilo que a obra diz, para mim, está ligado ao fato de que ele não é um escritor de livros de auto-ajuda. Trata-se de um cineasta de talento, que narra sua própria experiência pessoal não apenas com o trabalho (os filmes que fez, a pintura, a disponibilidade para a arte), mas também com essa técnica de auto-conhecimento, que serve para a vida dele, que ele acha enriquecedora, e eu acho que serviria também para a minha vida.

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"Na realidade, a vida artística implica liberdade. Eu também acho que isso parece um pouco egoísta, mas não é assim. Isso só significa que se precisa de tempo.
Bushnell Keeler, o pai do meu amigo Toby, sempre dizia "Se você quer uma hora de boa pintura, terá de dispor de quatro horas só para si".
Isso é basicamente verdadeiro. Ninguém começa a pintar de cara. Antes você tem de se sentar por algum tempo e elabora uma idéia, para só depois colocá-la em prática da melhor forma possível. [...] O negócio é então se sentar e estudar e estudar e estudar; de repente se dá um salto da cadeira e se passa a fazer a próxima coisa." [p.11-12].

"Os pequenos peixes nadam na superfície, mas os grandes peixes nadam em águas profundas. Se você conseguir expandir o cesto de pesca - sua consciência-, poderá pegar peixes maiores.

Veja como isso funciona: dentro de cada ser humano existe um oceano de consciência pura e vibrante. Quando 'transcendemos' através da Meditação Transcendental, mergulhamos nesse oceano de pura consciência. Você se joga nele. E ele se sente feliz com isso. E o faz vibrar com essa alegria. Quando experimentamos a consciêcia pura, animamos e expandimos esse oceano. Ele começa a se desprender e a crescer.

Se sua consciência tem o tamanho de uma bola de golfe, seu entendimento terá o mesmo tamanho quando você ler um livro; e assim será quando olhar por uma janela, quando se levantar de manhã, quando perceber as coisas e durante o transcorrer do seu dia." [p.27-28].

"Muitas pessoas experimentam a transcendência, mas sem se dar conta disso. Você pode ter a experiência da transcendência antes de cair no sono. Muitas vezes você ainda está acordado, sente uma espécie de queda, vê uma luz branca e estremece de felicidade. E diz "Deus do céu!". Quando saímos de um estado de consciência para o outro - da vigília para o sono, por exemplo - passamos por uma espécie de vazio. É nesse vazio que você pode transcender." [p.53].

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"O artista precisa entender o conflito e o estresse. Essas coisas lhe instigam idéias. Mas garanto que estresse demais imobiliza a criatividade. E se há muito conflito, isso se interpõe à criatividade. Podemos entender o conflito, sem necessariamente viver dentro dele.
Nas histórias, nos mundos para onde nos transportamos, existe sofrimento, confusão, sombras, tensão e raiva. Contudo, o cineasta não tem que sofrer para mostrar o sofrimento. Você pode mostrar o sofrimento, apresentar a condição humana, sem internalizar essas coisas. Você é quem orquestra tudo isso, mas de fora. Deixe o sofrimento para os seus personagens." [p. 101].

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Em águas profundas. Criatividade e meditação. David Lynch. Tradução Márcia Frazão. Rio de Janeiro: Gryphus, 2008.