Nesse estágio da minha vida, não é possível ler Fazes-me falta, da Inês Pedrosa. Não é uma leitura essencial, não é uma estória e/ou um estilo que eu queira agora, não é um livro de que eu precise, não é uma literatura indispensável. E eu só posso ler coisas imprescindíveis agora, porque sou uma aged woman, sem paciência para quem ainda procura sua forma. Mas não apenas por isso.
É também porque essa literatura confessional, dos amores obsessivos e extenuantes, das paixões avassaladoras, dos desejos que parecem não ter começo nem fim, numa espécie de béance incapturável, esse tipo de paixão pertence a um certo estágio da vida, requer o mínimo de pertencimento a seu universo, e o interesse por ela (tal literatura) também.
Depois de uma conversa com rob, uma amostra do estilo da moça:
Não era a morte que te incomodava, dizias, mas o vagar dela, a tortura da doença. A História. Creio que nunca te vi doente -- a não ser de amor. Cultivavas o vício da paixão com um método implacável. Corrias em contra-relógio. Procuravas a imobilidade de um tempo-pedra que já era o teu. O nosso - mas como podíamos dizê-lo, se tínhamos de continuar vivos? Nos breves dias em que vivias desapaixonada, tornavas-te impossível. Nada te entusiasmava. Depois iniciaste uma carreira de Poder e perdeste esse gosto profundo pelo romance extático. (Fazes-me falta, São Paulo: Planeta, 2003, p.12-3).