
Moonrise Kingdom tem um bocado de gente boa, de ótimos atores, vivendo personagens meio apatetados em situações esdrúxulas, pra não dizer bizarras. Só mesmo nos EUA se pode produzir um filme com essa temática, com esse viés e com essa naturalidade para encarar o estranho.
Onde mais, igualmente, se poderia fazer uma 'comédia comedida', se se pode assim chamar esse trabalho de Wes Anderson, em que Edward Norton é um compenetrado chefe de escoteiros, cujo comandante é vivido por Harvey Keitel, e tem ainda no cast Bill Murray, Frances McDormand, Bruce Willis, Tilda Swinton e os dois jovens, Suzy e Sam, pivôs de toda a história, vividos por Kara Hayward e Jared Gilman, aliás, com muita competência e graça.
Tudo se passa com muita seriedade, humor fino e irônico, mas ao mesmo tempo se lê na história um movimento de deslocamento, de como quase todos estão meio fora do grupo a que pertencem (por laços de família, agregação, adoção), ou a que querem pertencer. Um dos aspectos interessantes, então, é essa inconstância sobre quem se é, o lugar que se ocupa num clã, num grupo, nos afetos. Eu gostei muito, achei divertido. Bizarro, mas engraçado.
E se vivêssemos todos juntos? - sempre que um grupo de velhinhos se reúne num filme as coisas tendem a ficar, em geral, morbidamente engraçadas.
É o que ocorre nesse filme, que tem duas 'velhinhas' bem 'distintas' - nos dois sentidos: ambas são damas respeitadas em sua arte, e ambas lidam com a poeira do tempo nos rostos de modos diferentes. E ambos os modos são belos.
Gosto das rugas (muitas rugas) da Geraldine Chaplin, e gosto do cuidado que a Jane Fonda dedica a manter sua aparência mais jovem, a despeito de mãos e braços etc. Enfim, são ótimas atrizes, que chamam mais para si as luzes das cenas, mas o filme é divertido, com todos eles fazendo o possível para usufruir as alegrias de viver até quando der.
Achei interessante que a cena final me tenha emocionado - chamar o nome da personagem que acabou de morrer, sair em grupo todos eles gritando por ela, acompanhando o marido que 'esqueceu' de sua morte: para mim, foi muito forte, muito tocante, foi a cena mais bonita de todo o filme, parecia Garcia Marques e os Buendia.