Coleção de
ensaios da Funarte discute gênero, cidade e música
Selo mostra como o gênero inaugurado
se manifesta no Brasil na virada do século XXI POR DANIEL
SALGADO 28/01/2017 12:00
ÚLTIMAS DE LIVROS
Como pensar a produção de algo que, por
natureza, se recusa a definir os seus conceitos? Com lançamento previsto para o
dia 7 de fevereiro, na Livraria da
Travessa do Leblon, a coleção Ensaios Brasileiros Contemporâneos, publicada
pela Funarte, encara o desafio e se propõe a entender como o gênero inaugurado
por Montaigne se manifesta no Brasil na virada do século XXI. Em nove volumes
(os quatro primeiros saem agora; os restantes, no segundo semestre), a
antologia chama a atenção pela pluralidade de vozes, temas e formas. A premissa
é que, ainda que “a gestação do ensaio seja permanente”, como disse o português
João Barrento, por aqui a forma alcançou um estágio importante.
— O ensaio, no Brasil, atingiu um nível
de maturidade. Parafraseando aquela expressão conhecida do Antonio Candido, em
que ele fala de um sistema literário plenamente maduro no romantismo, hoje
podemos falar de um sistema ensaístico maduro no país — diz Francisco Bosco,
que organizou um dos volumes e participou da criação do projeto enquanto foi
presidente da Funarte, entre fevereiro de 2015 e maio do ano passado. — Já se
tem uma tradição de ensaístas brasileiros a que esses autores podem se reportar.
A leva que chega agora às livrarias
traz os volumes “Cidades”, com organização de Raquel Rosnik e Ana Fernandes;
“Problemas de gênero”, sob os cuidados de Carla Rodrigues, Luciana Borges e
Tânia Regina Oliveira; “Música”, sob a batuta de Marcos Lacerda; e
“Indisciplinares”, coordenado pelo próprio Bosco, por Eduardo Socha e Josélia
Aguiar e recheado de textos que não se encaixam em debates específicos de
nenhum grande tema. Trata-se do volume com preocupações mais próximas do
ensaísmo puro, abrindo espaço para temas como a voz do ex-presidente Lula,
linguística, torcedores de futebol e até um elogio ao torresmo.
— O ensaio convida um leitor não
especializado a se familiarizar com interpretações teóricas muito inventivas e
sofisticadas — argumenta Bosco. — Por isso, haverá espaço para livros dedicados
a literatura, política, artes visuais, psicanálise e filosofia. Então essa
coleção também tem essa premissa de que se trata de um gênero com potencial
formativo enorme.
As primeiras antologias levaram quase
dois anos para ficar prontas. No prefácio do volume “Cidades”, Raquel e Ana
comentam a abrangência de sua temática: “é impossível falar sobre todas (as
cidades), mas é necessário falar sobre muitas, a partir de diversos
olhares, recortes e posições”.
Com nomes como Daniel Galera, Noemi
Jaffe, Alice Sant'Anna, Tales Ab’Saber e Carlos Vainer, a coleção traz, de
fato, diversos olhares, recortes e posições. Na coleção, ficcionistas,
acadêmicos e poetas encontram no ensaio, o gênero inquieto, um ponto de intersecção.
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