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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Cosmópolis

Irritação, tédio, inquietação - jamais consigo ver um filme, qualquer filme, sem me mexer, ou bocejar (problemas de falta de ar, quase sempre) muuuito, por isso não é desejável ter companhia de amigos ou whatever no cinema. Eu mesma fico sem paciência comigo, imagino que quem está sentado a meu lado ache um porre completo. 

Vendo esse Cosmópolis, dirigido por David Cronenberg e com um Pattinson em muito bom  momento, fiquei três vezes mais inquieta e bocejante, porque achei irritantíssimo. Melhor fez Proust que, achando a vida um tédio e seu tempo de uma platitude quase sempre enervante, considerou de bom alvitre registrar as vidas que lhe concerniam em suas pequenas e cotidianas experiências, discrepâncias e distinções, e não tendo um painel geográfico tão vasto como o do filme em questão (em tese, a Nova Iorque por onde a limousine de Pattinson circula seria metonímica do mundo ocidental pós-quase-tudo), ainda assim ele adentrou o salão de seus pensamentos e conversou obsessiva e infinitamente conosco, seus leitores, sobre valores, sobre a vida, sobre o tempo - aquele tempo e o mais vasto ainda de suas rememorações, trazendo-o (esse tempo) em sua horizontalidade para que pudéssemos vivenciá-lo, ao lê-lo, no encontro com nossa percepção. 

O que Cronenberg parece fazer - assim minha sensibilidade o percebe, é detonar o tempo, estilhaçá-lo em mil pedacinhos do enorme sem sentido que percorre essas vidas, soltas como bolhas sem direção, sem propósito, sem conexão com o que quer que seja - nem amor, nem afetos, nem mesmo a arte, na forma de um quadro que o personagem quer porque quer possuir. Ele não quer a arte, ele quer o objeto que teima em escapar-lhe. Tampouco o dinheiro parece importar aqui, embora seja o móvel de várias ações - fora da limo e dentro dela. Aliás, se parece cristalino que o dinheiro é uma matéria tão densa quanto volátil nesse universo, ela (a vida) também não faz qualquer sentido. Niilismo parece uma palavra antiga para nomear esse estado de alheamento e desconexão com as forças da vida (pelo menos aquelas que nos acostumamos a reconhecer). Esse não é mais o tempo dos 'homens partidos', de que nos falou um dia Drummond. Será talvez o tempo dos homens ilhados em bolhas, imersos no vácuo, para quem viver e morrer se mostram indiscerníveis. Se se pode forçar um paralelo, ao menos em Dogville a personagem de Nicole Kidman detona tudo e todos ao final, numa cena de bestificação e vingança absolutas. Aqui, nem matar nem morrer fazem sentido para os personagens, e quanto à experiência estética - meu gosto não anda assim tão eclético.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Procura-se um amigo para o fim do mundo

Eu sabia, pela sinopse de Procura-se um amigo para o fim do mundo, que não poderia ser grande coisa, mas queria me distrair e achei que dava ao menos pra isso - não deu. Fizeram uma coisa que talvez tenha querido ser um pastiche de Melancolia, a obra prima de Lars von Trier (fim do mundo, o que fazer nos últimos dias de sua enfim finda vida, desolação etc, etc?), mas ficou mais para paródia, uma coisa horrivelmente piegas - chato estar ali, muita pena da Keira Knightley, tão boa em vários filmes (deslumbrante em Desejo e reparação, ótima em vários outros), mais ainda do que do Steve Carell, que já cometeu outros micos. Enfim, Melancolia virou um milk shake bem enjoado, açúcar em excesso. E eles planejam fazer a versão deles de Intouchables, assim como transformaram o Nikita francês, aquela coisa linda de décadas atrás, numa franquia para TV medíocre. Enfim, de novo, que fazer, é a indústria do rodo, passa o esfregão onde antes havia arte para dali fazer nascer alguns (ou muitos, qui sait) pés de notas verdes.