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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Take this waltz

Take this waltz, Sarah Polley, 2012 

Às vezes, rever um filme faz-nos vê-lo melhor, redescobrindo suas qualidades, ou encontrando-as sob outro ângulo. Revi ontem Take this waltz (que título interessante no original) - traduzido como "Entre o amor e a paixão", e fiquei encantada. Não lembrava que a direção é da Sarah Polley, bem como o roteiro, e ele ficou de molho de 2009 até 2011, quando começou a ser produzido por ela também.

O que me fez grudar na tela são algumas qualidades que me parecem um certo modo Sarah Polley de trabalhar, que eu vejo como uma acentuada atenção ao universo psíquico e social da mulher, enxugada ao máximo das visões e versões estereotipadas que nos cercam. Por exemplo, o banho das mulheres depois da piscina, quando a personagem de Michelle Williams, adorabilíssima, faz xixi durante uma aula de hidroginástica, num frouxo de riso - existem três delas com corpos ótimos, em nus frontais e naturais, e algumas outras com corpos fora do padrão, em nus frontais e naturais. Nada ali é feito pra mostrar o corpo, mas pra mostrar o banho, numa cena de conversa entre mulheres muito boa.

E tem a paixão - e o amor. O filme explora os momentos do casamento em seu fluir, onde a insatisfação está presente claramente, mas um deles não vê, ou não pode ver. E também os vários momentos em que eles mostram sua parceria, os jogos de intimidade que, entre esses dois, ocorrem pela referência às várias formas de crueldade, de morte macabra, que se vê em filmes de terror ou de terrir, tipo 'vou esfolar sua pele com raspador de batata' - esses são momentos realmente sem graça para mim, não consigo achar humor nisso, e parece no filme que há uma espécie de "leitura" de algo que já rendeu aproximação entre eles, risos, e talvez não funcione mais.

E há a paixão entre Margot e Daniel (esse Luke Kirby, muita beleza e ternura na aura dele todo!). Um personagem homem muito parecido com o personagem mulher que a própria Sarah faz no filme onde eu a conheci - "A vida secreta das palavaas" (Isabel Coixet, 2005), ou seja, estranhos seres, introspectivos, com trabalhos inusuais, que dizem um pouco de seus modos particulares de estar na vida - no caso dele, carregador de riquixá para ganhar algum dinheiro, e também fotógrafo-pintor, e um amante sensível, que tem a cena mais deslumbrante sobre como fazer uma mulher feliz (ela, a Margot que está a sua frente, na mesa do bar) só quase murmurando e olhando pra ela e descrevendo todas as ações m.i.n.u.c.i.o.s.a.m.e.n.t.e - olhando-a com um jeito maroto, um tanto enigmático - melhor, impossível.

E tem também uma alcoólatra, em duas cenas onde o essencial da doença é dito, de modo claro, expressivo, perfeito. As falas do roteiro são uma marca de qualidade Polley, que não desperdiça palavras, nem ao vento, nem à tolice.

E o final perfeito: nada como voltar a uma roda gigante onde já se foi feliz com alguém para tentar achar a graça em si mesma, consigo mesma - Margot tem um longo percurso a sua frente, mas achará seu caminho, e sua escrita. 


terça-feira, 22 de abril de 2014

Histórias que contamos

Acabei de ver na TV, encantada, o documentário Histórias que contamos (Canadá, 2012), de Sarah Polley, que faz um percurso interessantíssimo sobre um tema aparentemente sem nenhuma importância para qualquer outra pessoa, além de sua própria família, mas que vai prendendo a atenção de quem vê pelo brilhantismo dos desdobramentos das histórias contadas e lembradas, sobretudo a de sua mãe, e dela própria, Sarah, já que o filme acaba se revelando também a história de seu nascimento, da paixão fora do casamento de que ela é o fruto,e de que só tomou conhecimento na idade adulta.

É fascinante a maneira como ela vai voltando no tempo e recolhendo depoimentos de amigos, conhecidos, parentes que conheceram os envolvidos, a mãe, sobretudo, e como ela junta os retalhos de uma colcha preciosa não apenas com depoimentos, mas igualmelnte com filmes de épocas passadas, de sua infância, da juventude dos pais, dos amigos, tudo encaixado de forma precisa, de modo que os eventos fluem como se feito para estar ali, nesse documentário que ela elabora agora, reconstruindo o que parece ter sido filmado para ele, tantos anos depois. É de uma delicadeza e de uma inteligência absolutas.

E para coroar a série de engenhosidades desse filme, o que se vê também é uma história escrita pelo pai que a criou como filha até a idade adulta, cujo choque com a revelação de que Sarah não é sua filha biológica o leva a escrever compulsivamete, para entender, para aceitar e perdoar a mulher a quem nunca deixou de amar. Um filme, definitivamente, apaixonante.