Vi com tristeza e perplexidade como uma menina frágil, criada aparentemente sem grandes necessidades materiais, torna-se peça numa engrenagem brutal, inclusive para seu próprio pai, que me pareceu a pior pessoa para ela, até mais do que o namorado-veneno.
Quando ele a aconselha, a pedido dela, e pela primeira vez, que ela não precisa se internar para tratar-se do problema com álcool, ele assina ali a sentença de morte da filha. Nem ela mesma sabia que precisava tanto daquela figura, que se ausentou de sua vida cedo, retorna quando ela começa a fazer sucesso, e depois vai sugando sua energia, trocando-a por vinte dinheiros.
O momento mais cruel desse desamor ocorre quando ela está tentando pela enésima vez se organizar, ter paz, descansar, já muito famosa e rica, o pai vai visitá-la numa ilha linda, e a filma incansavelmente, pede selfies dela com fãs, a menina-mulher um fiapo de gente, e ele implacável, sugando tudo que podia dela, que lhe pede clemência, e ele ignora. Minha conclusão: pais a gente tem o direito de escolher, mas nem sempre consegue, e alguns são tóxicos para os filhos.
De resto, o doc é um retrato realista e cruel do que a mídia pode fazer contra uma celebridade despreparada para o sucesso repentino, que se coloca à mercê dos comentários mais vis, mais baixos, como os que alguns apresentadores de programas de humor estadunidenses fazem com ela. Ninguém quis realmente ajudá-la, nem ela mesma, e depois que a engrenagem de shows e o espetáculo da mídia chegou ao ápice, ela mesma se encarregou de falecer publicamente, e dói vê-la num dos últimos shows, que ela não conseguiu fazer, de tão chapada. Muito tristes - vida, filme.
Mas a voz e as canções persistem, e seguem conosco.