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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Amy

Amy (Asif Kapadia, 2015).  Com Amy Winehouse, Tony Bennett, Peter Doherty. (Netflix)


Vi com tristeza e perplexidade como uma menina frágil, criada aparentemente sem grandes necessidades materiais, torna-se peça numa engrenagem brutal, inclusive para seu próprio pai, que me pareceu a pior pessoa para ela, até mais do que o namorado-veneno.

Quando ele a aconselha, a pedido dela, e pela primeira vez, que ela não precisa se internar para tratar-se do problema com álcool, ele assina ali a sentença de morte da filha. Nem ela mesma sabia que precisava tanto daquela figura, que se ausentou de sua vida cedo, retorna quando ela começa a fazer sucesso, e depois vai sugando sua energia, trocando-a por vinte dinheiros.

O momento mais cruel desse desamor ocorre quando ela está tentando pela enésima vez se organizar, ter paz, descansar, já muito famosa e rica, o pai vai visitá-la numa ilha linda, e a filma incansavelmente, pede selfies dela com fãs, a menina-mulher um fiapo de gente, e ele implacável, sugando tudo que podia dela, que lhe pede clemência, e ele ignora. Minha conclusão: pais a gente tem o direito de escolher, mas nem sempre consegue, e alguns são tóxicos para os filhos. 

De resto, o doc é um retrato realista e cruel do que a mídia pode fazer contra uma celebridade despreparada para o sucesso repentino, que se coloca à mercê dos comentários mais vis, mais baixos, como os que alguns apresentadores de programas de humor estadunidenses fazem com ela. Ninguém quis realmente ajudá-la, nem ela mesma, e depois que a engrenagem de shows e o espetáculo da mídia chegou ao ápice, ela mesma se encarregou de falecer publicamente, e dói vê-la num dos últimos shows, que ela não conseguiu fazer, de tão chapada. Muito tristes - vida, filme. 

Mas a voz e as canções persistem, e seguem conosco.  



terça-feira, 27 de outubro de 2015

série, filmes etc

Alguns filmes vistos ao longo da semana, e a primeira temporada toda de uma série ótima, "How to get away with murder", com uma Viola Davis acachapante, razão por que ganhou o Emmy de melhor atriz dramática deste ano - merecidíssimo. Uma cena antológica: ela se desfazendo das máscaras do dia (maquiagem, cílios, peruca) para confrontar o marido sobre a amante - boa demais.
Três ou quatro obras que merecem atenção: 
O filme "45 anos" (Andrew Haigh), um trabalho belíssimo em que Charlotte Rampling reina absoluta num duo com Tom Courtney, ambos no momento em que preparam uma festa, ela sobretudo, para comemorar esse tempo todo de casados. Uma carta chega, no entanto, e tudo começa a desandar, lentamente, como um bolo muito aguardado que, ao final, sola. Filme de silêncios, de vazios muito intensos, uma atuação de Rampling magistral, e cuja cena final vira tudo pelo avesso. Muito bom.
"Ponte dos espiões", em que Steven Spielberg volta às cartas marcadas da guerra fria, à década de 60, para filmar o homem comum, vivido com esmero por Tom Hanks, um agente de seguros que se torna peça fundamental num episódio de troca de espiões entre as duas potências de então. Personagens bem comuns, tanto o de Tom, quanto o espião feito por Mark Rylance, e ambos assemelham-se, de algum modo, ao Bartleby, de Melville, na simplicidade da postura que fura os bloqueios diplomáticos mais improváveis, pontuada por frase similar ao mote "Acho melhor não" da clássica novela. O filme vale, talvez, menos pela ideologia de bom mocismo, e mais pelo trabalho dos atores, e uma direção precisa.
"O clube", de Pablo Larraín, é uma porrada no meio da cabeça da Igreja, que ainda repercute na nossa, todo contido, feito de elipses e dizendo muito em todas as brechas, e nas escancaradas violências. Um filme necessário quanto às relações da instituição com seu passado e presente, com suas hipocrisias de todos os tempos, que leva a uma saída final profundamente ambígua - seria aquele novo hóspede um prêmio para o grupo, ou uma penitência?. 
"Circo voador - a nave" (Tainá Menezes) me deu menos da minha vida vivida no Circo e mais dos tempos roqueiros, mas a cultura do Circo está ali, e sua importância na nossa H/história também. Para minha geração, acho que o documentário repercute mais, talvez.

domingo, 22 de março de 2015

Dois filmes

Duas irmãs, uma paixão explora o triângulo amoroso entre duas irmãs e o poeta alemão Friedrich Schiller. O interesse fica em torno da ambiguidade sobre o que move as duas moças em direção a um pacto que claramente envolve fortes sentimentos entre elas - seriam apenas sentimentos fraternos, ou também amorosos?. Essa ambiguidade, e a entrega total ao amor de Schiller, bem como a paixão do poeta por temas profundos, ligados não apenas à poesia, mas à História do pensamento, ou um nascente pensamento histórico sistemático, tornam o filme necessário. Um pouco menos longo, talvez, em pelo menos um momento: o longo discurso da mãe pela reaproximação das filhas me pareceu uma das cenas dispensáveis. As duas atrizes são ótimas, mas o ator que faz Schiller cumpre o esperado, não mais que isso, me pareceu. 


Já em O amor é estranho temos uma comédia sobre as relações contemporâneas, nesse caso entre um casal homossexual de meia idade que se vê repentinamente sem um lugar para morar,e o modo como eles enfrentam essas adversidades, dividindo-se em casas de parentes, até que as coisas começam a desandar, como esperado, claro. Nunca morar em casa de alguém por necessidade será fácil ou agradável, para quem recebe aquele "intruso", ou para o que não tem outro lugar pra ficar. De todo modo, o filme enternece, faz rir, e faz pensar nas dificuldades atuais para achar um canto pra morar (por coincidência, estou no meio de um processo parecido, embora não tenha tido necessidade de pedir asilo a ninguém - eu mesma me exilei de minha casa e cidade por mais de um ano). Lá e cá também, a situação de moradia parece difícil - e ser um casal gay apenas nos faz ficar mais cúmplices de suas desventuras.