E como havia prometido a mim mesma, voltei lá para ver e ler a exposição de poesia Últmas notas sobre o grande vidro, de Roberto Corrêa, no Oi Futuro de Ipanema (o metrô deixa ao lado). Tirei fotos, claro, mas quando fui ver na tela eu estava em quase todas, porque o vidro refletiu a fotógrafa.
Enfim, achei bacana a proposta, e me emocionei com algumas frases, ou melhor, versos de poemas em pedaços, contidos na caixa mas que estilhaçam no espaço que os contém, e reverberam na cabeça do leitor, ao som áspero de vidros estilhaçados, que nos açoitam quase (vidros e versos), como falas de uma beleza que exacerba os sentidos, sugerem (os versos, ainda) a violência que nos habita e expoem os cacos que nos concernem a todos.
Em alguns momentos me peguei emocionada com frases que ecoaram em mim algum texto lido, alguma conversa antiga, um pensamento próximo, como se o grito sussurrasse, ou gritasse com suavidade o que eu reconhecia meu.
Trata-se de um trabalho personalíssimo, cheio de força e contundência, uma exposição de palavras-motrizes, onde cada leitor/espectador construirá seu próprio poema com os versos, as imagens, os retratos de sua história que, não cabendo na caixa, espalham-se pelo chão e fazem-se tapete voador
para os pés e as mentes atentas - e ativas.
Conforme se lê na apresentação feita pelo curador Alberto Saraiva, o trabalho dialoga com essa coisa inimaginável que constitui a obra de Marcel Duchamp, "A noiva despida pelos seus celibatários, mesmo ou O grande vidro", ela mesma sujeita a tantas e tão diversas leituras.
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