Dir. Luca Gadagnino, com Armie Hammer (Oliver), Timothée Chalamet (Elio), Michael Stulbach (Mr. Perlman), Amira Casar (Annella), Esther Garrel (Marzia).
Sim, é longo, às vezes fica meio paradão, e a gente se pergunta - o que querem esses seres? Mas, aos poucos, o ritmo lento se deixa ver como aquele requerido pela leitura de um bom livro, atividade à que todos naquela paradisíaca ilha/casa/recanto se dedicam como forma corriqueira e banal de existir, estar e compreender o mundo.
E assim, unem-se natureza e cultura, em sua melhor aspiração; estar sendo como aprendizado de como se-virá-a-ser; homem interagindo com doçura e naturalidade aos sentidos mais íntimos da aproximação, sedução, amorosidade, fraternidade, amor e desejo. Por isso, pela naturalização das formas de aproximação entre dois seres humanos de idades diferentes - o mais velho não sabe tão mais do que o mais jovem, a cronologia é apenas isso, uma invenção - pela impactante maneira simples e singela como se dão os instantes de amor.
Por isso também, pela forma como ele, o amor, deveria se dar sempre, idealmente, o filme impacta nossos sentimentos, tanto quanto nossa inteligência. Tudo é tão bonito, tão alvissareiro - as conversas que eles entretêm, o valor que se dá à (alta) cultura, a naturalidade com que eles se comunicam em idiomas diferentes, passando de um para outro sem mediação, o modo absolutamente natural como se dão os encontros daquele jovem com sua própria sexualidade - tudo é bonito, tudo tem tônus, força, suavidade e beleza.
Mas o filme atinge seu estado de arte na conversa que o pai mantém com o filho, quando este retorna da breve viagem com o rapaz, cujo estágio ali findara.
Essa conversa é de uma grandeza, de uma generosidade, de uma cumplicidade tão profundas com os sentimentos do filho que se torna, para mim, tudo que se vê, que se viu, e agora num espaço/tempo utópico, belíssimo - melhor, um lugar existencial onde todos deveríamos ter estado, ou desejaríamos estar, em algum momento de nossa existência: essa compreensão, a aceitação inarredável e, ainda, a explicação amorosa daquilo que houve, de que aquela estrela vai brilhar vida afora do jovem: o pai sabe, porque deixou um momento semelhante passar, e acovardou-se; o pai ama o filho, e lhe diz onde está o ouro, e por que há ouro naquela possível dor - quem de nós jamais teve ou terá um momento próximo a isso em sua inteira existência?.
Um filme que faz bem do começo ao fim, e nos deixa pessoas melhores, ou querendo muito ser. E fruir com aquele grupo os momentos todos de bliss.
PS: Tem uma revisada nos dias atuais, novembro de 2020, depois de outras vistas nessa mesma história, e com nossa história de país bem distinta, com muita dor e vírus, e presidente fajuto e fascista, e tantas dores privadas e públicas. Mas enfim, o filme mudou um pouco, mas continuo gostando dele. Volto depois para comentar sob esse novo viés, talvez.