Antônio Francisco de Jesus (foto).
Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 20/05/2011.
A Memória e a História (O exemplo de Itabaiana)
Por Luíz Antônio Barreto.
Itabaiana guarda rica memória, capitaneada pelo mito da
riqueza que havia em sua grande serra, alimentada pelos currais que estão na
base da pecuária sergipana, e por outras singularidades, ainda hoje notáveis,
como o fabrico e a comercialização de jóias e bijuterias, sem falar da vocação
do povo para atividades econômicas, como são exemplo empresários vitoriosos em
seus negócios, enriquecidos pelo trabalho. A idéia, circulante no Brasil e em
parte do mundo, levou a criação do Regimento Geral das Minas do Brasil,
confiado ao experiente Dom Rodrigo Castelo Branco, que morou cerca de quatro
anos em Itabaiana. Os currais de gado fascinaram os holandeses, como a notícia
das minas. A comercialização, a partir das feiras nos diversos povoamentos da
região, responde pelo sucesso de homens como Oviêdo Teixeira, os irmãos Paes
Mendonça – Pedro, Mamede e Euclides – Albino Silva da Fonseca, José Silva, José
Cunha, e outros.
Vez por outra, no contraponto do cotidiano político, surgem
movimentos que põem Itabaiana em destaque. A força eleitoral dos itabaianenses
tem garantido assentos no Senado – Passos Porto, Albino Silva – na Câmara
Federal – Airton Teles, Euclides Paes Mendonça, José Carlos Teixeira, José
Carlos Machado, José Queiroz, José Teles – na Assembléia Legislativa – Sílvio
Teixeira, Oviêdo Teixeira, os irmãos José, Antonio e Maria Mendonça, Arnaldo
Bispo -, dentre outros que cumpriram mandatos, representando, nos diversos
partidos e pleitos eleitorais, a massa de votantes, radicalizada em disputas
que marcaram a história política do Estado. A fundação do jornal O Serrano, por
exemplo, serviu à organização de um movimento em defesa de Itabaiana,
politizando a população mais jovem, legando ao município uma corrente nova de
pensamento e de prática, de grande efeito.
Sob o ponto de vista cultural, convém registrar os nomes de
Francisco Carvalho Lima Júnior, Sebrão, sobrinho, Alberto Carvalho, Antonio
Oliveira, Vladimir Souza Carvalho, dentre outros, que lançaram obras
importantes, que projetaram a terra e a sociedade itabaianense. Evidente é que
era, então, e assim permaneceu por décadas, muito lenta a discussão cultural,
em decorrência, certamente, da distribuição da população, que mantinha dois
terços dela no campo e apenas um terço na zona urbana. Ainda assim, ampliou-se
em muito a presença de jovens de Itabaiana nas salas de aulas da Universidade e
das escolas superiores. O Colégio Murilo Braga, criado no final dos anos 1940
pelo governador José Rollemberg Leite, manteve-se responsável pela preparação
dos jovens, prestando relevantes serviços.
É nesse ambiente acadêmico, que surge uma geração de
pesquisadores, seguindo as picadas abertas por Vladimir Souza Carvalho, historiador
por excelência, com obra de ficção que aumenta seu prestígio e reconhecimento.
Nomes como os de Almeida, talvez o mais velho do grupo, José Augusto Machado,
autor de um livro de “causos”, Vanderley, Robério, Riva, revolvem a poeira dos
documentos e organizam uma base de dados da maior e melhor qualidade, para
servir à compreensão dos fatos da história local. A eles se soma, o mesmo
Vladimir Souza Carvalho, guia e mestre, cuja obra publicada é de porte
essencial para Itabaiana e para Sergipe. Pelo menos mais dois nomes, de
professores da UFS, Lindivaldo e Giliard, elevam o nível do fazer cultural
serrano, que conta, ainda, com a interlocução de Antonio Samarone, também da
terra, doublé de pesquisador e de político, cuja alma itabaianense exalta a cidadania.
Outro nome, do mesmo naipe, chama a atenção dos leitores
para a sua obra, representada hoje por dois títulos bem recebidos pelos
leitores: Os tabaréus do sítio Saracura e Meninos que não queriam ser padres,
dois livros maduros, bem estruturados, em linguagem correta, que surpreende aos
que têm oportunidade de leitura. Antonio Francisco de Jesus, economista de
formação, jornalista experiente, crítico de cinema, revela-se ficcionista,
tomando lembranças simples, recolhidas do dia a dia das casas de sua família e
de seus amigos, e erguendo monumentos memoriais, que, no mínimo, são fontes da
história. Os livros de Antonio Francisco dão dimensão de relevo ao esforço dos
escritores itabaianenses, comprometidos com o viver local, seu humor, suas
lembranças, guardadas ou anotadas por cada um, como se estivesse em curso um
grande Anais, como espelho onde cada pessoa de Itabaiana pudesse buscar mais do
que sua imagem, sua identidade.
Como ocorre com a literatura, a memória contribui para que a
história faça a exegese dos fatos e das circunstâncias que explicam o
comportamento humano. As literaturas dos povos guardam explicações preciosas,
das quais os escritores se valem como verdadeiras fontes, inesgotáveis.
Itabaiana, assim, sai na frente e toma a dianteira de um movimento revelador, a
partir de pesquisas, documentos, ficção, que mais do que merecer a atenção do
Estado e dos sergipanos, fixa uma atitude, que agrega pelo que oferece de
compromisso em busca da identidade.