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15 fevereiro, 2025

CARVALHO, João Vasco de -
MONOGRAPHIA DA FREGUEZIA RURAL DE OVAR, CONCELHO DE OVAR, NO DISTRICTO DE AVEIRO. Pelo agronomo... Boletim da Direcção Geral da Agricultura. Undecimo Anno : N.º 5 - Ministerio do Fomento. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1912. In-4.º (24x16 cm) de 72, [4] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Estudo monográfico sobre Ovar e o seu concelho, com interesse histórico, rural, social, geográfico, etimológico e etnográfico.
Curioso. Invulgar e muito importante.
Ilustrado com tabelas e quadros estatísticos no texto.
"Quem ha ahi, em Portugal, que não conheça Ovar, ao menos por tradição?
Quem ao invocar aquelle nome não se recordará do typo caracteristico, inconfundivel, da ovarina que, de saias engueifadas, pé descalço, grandes arrecadas de oiro, giga á cabeça, moireja pelas ruas de Lisboa, atroando os ares com os seus pregões?
Quando o seu andar lesto e sacudido contrasta com o passo indolente e incerto da lisboeta.
É que é gente robusta, de admiravel arcaboiço, como a inglêsa, que assenta o pé com ar senhoril, em attitude de desafio. Adivinha-se nella uma força invejavel - a força que provém de uma saude de ferro. Ovarinas lhes chamam uns, varinas outros. [...]
A composição ethnica da população não tem soffrido alterações dignas de nota.
Por decreto de 24 de outubro de 1855 os limites do termo da freguezia soffreram uma importante alteração: a Costa Nova do Prado, povoação importante e frequentada praia de banhos, e o sitio da Gafanha que faziam parte da freguezia de Ovar, por decreto de 31 d e dezembro de 1853, foram por desistencia do bispo de Porto incorporados na freguezia de Ilhavo.
A propriedade rustica de ha 30 annos a esta parte tem-se dividido muito e continua a manifestar accentuada tendencia para o retalhamento. [...]
As culturas teem soffrido notaveis variantes de então para cá: o trigo, o centeio, a cevada, a aveia e o arroz e ainda as pastagens e pinhaes occupavam quasi exclusivamente o solo aravel da freguezia, salpicado aqui e alli, nos sitios mais lenteiros e fundaveis, por nesgas de hortas e alguns linhares.
Hoje a feição é mui diversa."
(Excerto de I - Introducção)
Indice:
I. Introducção. II. Estado actual da freguezia: 1.º - Situação topographica. 2.º - Territorio e clima. 3.º - População. 4.º - Predios urbanos. 5.º - Predios agricolas. 6.º - Agricultura: Culturas hortenses: - do milho; - do arroz; - da junça, bajunça e caniço; da vinha. Mattas; Gados; Apicultura; Caça; Pesca. 7.º - Exploração agricola. 8.º - Industria. 9.º - Commercio. 10.º - Exploração conjuncta. 11.º - Capitaes. 12.º - Trabalho. 13.º - Hygiene. 14.º - Instrucção. 15.º - Previdencia. 16.º - Assistencial. 17.º - Estado moral e social. 18.º - Conclusões.
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado geral de conservação. Capas manchadas, com pequenos cortes.
Raro.
25€

09 dezembro, 2024

SOROMENHO, Augusto -
DIWAN. De... Porto, [Typ do Portugal], [1855]. In-8.º (17x11,5 cm) de [164] p. ; E.
1.ª edição.
Raríssima edição original deste livro de poemas "em que ecoam traços orientalistas". Primeira obra do autor, publicada quando contava apenas 22 anos de idade.
Em Notas, na parte final do livro, Soromenho "explica" alguns versos: "Depois de escriptos e impressos esses poucos versos que ahi ficam, intendi dever acompanhar varios d'elles com notas explicativas, porque, na verdade, em alguns ha um tanto de enigmatico e obscuro. Ahi vão, pois, as que julguei necessarias. O numero romano corresponde a uma poesia com egual numero."

Quem canta seu mal espanta;
Quem chora seu mal augmenta;
E eu canto para espalhar
Uma dôr que me-atormenta!

"Que horrivel noite! O vento, a chuva, tudo
Contra mim se-conspira!
Trevas no céu, e trevas sobre a terra;
Em volta de mim trevas!
Apenas vejo alem uma luzinha,
Signal mysterioso,
Que me-faz ir chuchar um aguaceiro
A troco d'um bilhete
Perfumado d'almiscar! – Triste coisa
É andar enamorado!
Eu quando penso no que tenho feito,
Por causa das mulheres,
Pasmo! E a luz? Sumiu-se! Era o correio
Que vae para a Amarante!
"

(XLV.)

"Eu estava, hontem de tarde, a ler o Fausto,
Deitado n'um sofá,
Quando senti abrir-se a porta e, rindo,
Entrar o diabo. "Olá!
"Por aqui, é milagre!" – Mal tu sabes
O que eu venho pedir. –
"Não; decerto. Vejamos." – É uma Biblia. –
E desatou a rir...
"Uma Biblia?!" disse eu. – E então, que pensas?
Não serei eu capaz
De a-lêr? Não póde haver um litterato
Chamado Satanaz? –
"Póde. Ahi tens... Mas que buscas"? – Eu t'o-digo:
Estive, ha pouco, a lêr
O Paraizo de Milton, e ha lá historias
Que eu não posso saber
Onde-as fosse buscar. Conta lá coisas
De mim, que nem eu sei;
E venho vêr então se n'esta Biblia
Acaso as-acharei. –
"Duvido” – E tu que lês? – "O Fausto." – O Goethe!
Esse foi mais ratão.
Ao menos, teve graça. O Mephistóphles
É um grande maganão.
O Fausto é que era um parvo. – "Assim ha muitos!"
– E tu também o-és. –
"Obrigado." – E assentou-se folheando
Os Livros de Moisés.

Passado tempo, volto-me, e, que vejo!
Deitado sobre o chão
O bom do Satanaz, que adormecêra
A lêr o Salomão!..."

(CVI.)

Augusto Pereira Soromenho (Apresentação, Aveiro, 1833 - Lisboa, 1878). "Mais conhecido por Augusto Soromenho, foi um professor, filólogo e escritor português. Adotou também o pseudónimo Abd-Allah e usou os nomes Augusto Pereira do Vabo e Anhaya Gallego Soromenho e os de Castro e Pedegache, afirmando que descendia de famílias nobres de Castela e do Algarve. Inocêncio Francisco da Silva lista o nome como Seromenho, grafia que o próprio não terá usado. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e seu bibliotecário.
Considerado de génio volúvel e altivo, Camilo Castelo Branco, no 2.º volume do seu Cancioneiro Alegre, afirma que nunca viu ninguém com tantas artes para ganhar inimigos e que sacrificava os seus benfeitores àquilo a que a sua consciência chamava Justiça. O mesmo escritor afirma que o conhecera ainda muito novo e infeliz, ao que parece, sem protecção nem meios para se vestir e sustentar.
A incapacidade de manter relacionamentos dificultou-lhe sobremaneira a vida, por tinha poucos recursos, não os podendo obter da família, já que o pais, ao tempo director da alfândega de Vila do Conde, pouco o podia ajudar já que o emprego não seria muito rendoso.
Em 1855, com 22 anos de idade, publicou no Porto a sua primeira monografia, o volume de poesia intitulado Diwan, obra presentemente rara dada a escassa tiragem da edição.
Também por volta de 1855 obteve um modesto emprego na Biblioteca do Porto, onde durante os anos imediatos se dedicou ao estudo da história de Portugal e de arqueologia. Dos seus estudo resultou a publicação de numerosos artigos avulsos em diversos periódicos, que complementava com artigos de crítica literária. Entre estes últimos artigo dedicou alguns a acusações de plagiato, de que resultaram azedas polémicas.
Em inícios de 1858 conheceu Alexandre Herculano, que ao visitar a cidade do Porto o encontrou e ficou impressionado com os seus conhecimentos dos clássicos e da língua portuguesa, reconhecendo nele um mancebo de muito talento, muito estudioso e já então muito erudito. Desse encontro resultou ser convidado por Herculano para se transferir para Lisboa e passar a colaborar nos seus trabalhos de história de Portugal. Aceitou e a partir de meados de 1858 passou a trabalhar na biblioteca da Academia Real das Ciências de Lisboa.
Augusto Soromenho foi um dos conferencistas das Conferências do Casino, nas quais a 6 de Junho de 1871 dissertou sobre A Literatura Portuguesa Contemporânea. Antes dele falara Antero de Quental e depois Eça de Queirós e Adolfo Coelho.
Foi feito sócio correspondente da Academia Real de Ciências e bibliotecário da mesma Academia, tendo nestas funções sucedido a Alexandre Herculano na coordenação da obra Portugaliæ Monumenta Historica. Apesar disso, e seguindo o seu padrão de relacionamento difícil, acabou por cortar relações com o seu antigo protector Alexandre Herculano, que em retaliação lhe cortou o acesso ao acervo da Torre do Tombo. Também no que respeita à Academia das Ciências, após múltiplas disputas, especialmente depois de uma grave pendência com o matemático Daniel Augusto da Silva, foi obrigado a demitir-se de sócio para evitar a expulsão.
Augusto Soromenho faleceu em 9 de Janeiro de 1878, vítima de tuberculose pulmonar. A revista literária O Ocidente publicou uma pequena biografia e o seu retrato. Deixou uma vasta obra em prosa e verso dispersas por múltiplos periódicos e inéditos muitos manuscritos."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Cansado. Capas frágeis, com defeitos.
Raro.
Indisponível

17 agosto, 2024

CABRAL, Cezar Amadeu da Costa -
A ACÇÃO REPUBLICANA MILITAR NA PROVINCIA (Região central do paiz).
[Por]... Tenente d'Infanteria. Apontamentos para a Historia da Republica Portugueza. [Prefácio de Álvaro de Castro]. Coimbra, F. França Amado, Editor, 1911. In-8.º (19 cm) de 66, [2] p. ; [1] f. desdob. ; B.
1.ª edição.
Relatório sobre o movimento conspirativo militar que desencadeou a revolução republicana no centro do país, com epicentro em Coimbra. Trata-se de um raro e importante subsídio para a história da implantação da República em Portugal.
Prefácio de Álvaro de Castro, "jovem turco" da República.
Ilustrado em separado com folha desdobrável do autógrafo cifrado de J. A. Pereira de Vasconcelos "relativo á detenção dos militares manifestamente adverso à Republica no movimento revolucionario de 28 de janeiro". É muito interessante esta cifra, onde "os numeros que estám a seguir aos «sinais» indicam os individuos encarregados das respetivas detenções e outros trabalhos ali marcados", seguindo-se a exposição alfanumérica dos estudantes insurgentes, bem como outros revolucionários "estranhos á academia" - artistas, comerciantes, caixeiros e empregados públicos.
Inclui correspondência entre Costa Cabral e alguns dos insignes revolucionários republicanos.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa - curiosa - do autor ao conhecido professor e arqueólogo viseense Dr. José Coelho (1877-1977).
"O teu livro ficará sendo um precioso documento para a futura historia do movimento revolucionario.
E aqui tens o que necessitava dizer-te com toda a franqueza de amigo. [...]
Se procuras simplesmente o camarada que comtigo teve as mesmas decepções, as mesmas dores e eguaes esperanças isso é outra cousa, mas então este prefacio não é mais do que uma pagina de recordações.
O escrevel-a seria roubar-te uma parte dum futuro livro, onde descreverás os meios principaes da perseguição monarchica, a atmosphera politica de Coimbra antes da morte do rei Carlos e ainda as figuras comicas que constituiam os elementos de defeza do throno."
(Excerto do Prefacio)
Ao começar a escrever estas linhas, varias difficuldades se nos deparam.
Que nome deveremos pôr ao conjuncto destes apontamentos?
Relatorio! - não será fatuoso este nome, quando nelle se não descreve nenhum feito ostensivo, quando não tomámos parte, nem assistimos a nenhum dos combates, que tiveram por fim proclamar a Republica no paiz?
A Republica na Provincia! - Não será alargar demais a esphera d'acção que praticamente desconhecemos?
Não será abusar um pouco d'um vão personalismo, quando são exclusivamente collectivos os esforços empregados num mesmo trabalho?
A acção republicana militar na provincia (Região central do paiz).
Parece-me ser este o nome mais adequado, porquanto, se vão demonstrar os esforços praticados por um punhado de militares republicanos, e embora o seu campo de acção seja principalmente em Coimbra, elles irradiaram, como conhecemos, por outros pontos, taes como Figueitra da Foz, Thomar, Aveiro, e, portanto, podemos dizer região central do paiz. [...]
Com estes apontamentos, podemos ainda dar elementos a quem quizer fazer a historia completa do movimento republicano em Portugal. [...]
Estes apontamentos, que tenho a certeza, serão acolhidos com interesse no meio republicano, sê-lo-hão tambem no exercito, quer entre os camaradas que, tendo sido sempre liberaes (e essa era a maioria do exercito), só por uma noção mal comprehendida não collaboraram com os republicanos, mas que depois contribuiram para a completa consolidação da Republica, e pelos nossos camaradas revolucionarios de Lisboa e Porto."
(Excerto do Cap. I)
César Amadeu da Costa Cabral. Pouco se sabe acerca do autor deste relatório. A BNP dá notícia de, para além da presente obra, uma outra - Aleluia Portuguêsa! Alocução proferida... em homenagem aos Herois Desconhecidos da Grande Guerra (1921) e o jornal publicado em Aveiro A Portugueza : jornal republicano independente (1912-1913), de que foi director.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Ex-libris do Dr. José Coelho na f. ante-rosto.
Raro.
Com interesse histórico.
Indisponível

07 maio, 2024

LIMA, Jayme de Magalhães -
SONHO DE PERFEIÇÃO
. Porto, Typographia Pereira, 1901. In-8.º (21,5x14,5 cm) de [6], 392 p. ; E.
1.ª edição.
Interessante romance rural cuja acção decorre na zona de Aveiro, em meados do século XIX.
"O dr. Mateus era um santo homem. A pé logo ao amanhecer, em singelo esmero, a face barbeada, cabellos brancos, poucos e desalinhados, conserva-se agora, aos cincoenta annos, como sempre fôra desde que saiu de Coimbra. Bondoso, d'uma inalteravel bondade, o olhar calmo, cheio d'indulgente sympathia, todo o tempo se lhe divide entre o escriptorio, onde trabalha e ouve os clientes, o tribunal da villa da Eirinha e o seu quintal, de que brotam com opulencia fructos, vegetações e flôres - unico, mas infinito prazer da sua vida. Conservára-se solteiro, vivendo sob a tutela benefica e doce da irmã, mais velha, que tudo mandava em casa, mandando bem, modesta e ordenadamente. Desprezando os regalos do matrimonio, nunca se resolvera a casar. Além d'isso, não faltavam herdeiros: tinha os sobrinhos, os filhos do irmão, juiz n'uma comarca do Minho. Demais, os clientes eram tantos!... coitados! não os podia desamparar. Renunciava a uma familia limitada, porque adoptára outra, incerta, vaga e extensa - a dos que precisam d'auxilio."
(Excerto do Cap. I)
Jaime de Magalhães Lima (1859-1936). Natural de Aveiro. Foi um pensador, poeta, ensaísta e crítico literário português, irmão do jornalista e político republicano Sebastião de Magalhães Lima. Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1888, onde conheceu Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e o seu grande amigo Antero de Quental. Era admirador de Tolstoi, que conheceu quando foi à Rússia, conforme relata no seu livro Cidades e paisagens (1889). Dirigiu a revista Galeria Republicana (1882-1883) e colaborou na Revista de Portugal de Eça de Queiroz. Colaborou ainda com regularidade no mensário O Vegetariano, dirigido por Amílcar de Sousa e em diversas publicações periódicas, nomeadamente nas revistas: A semana de Lisboa (1893-1895), Branco e negro (1896-1898), Atlântida (1915-1920), Pela Grei (1918-1919) e na revista Homens Livres (1923). A sua bibliografia é variada. Escreveu romances, ensaios e biografias.
(Fonte: Wikipédia)
Magnífica encadernação em meia de pele com cantos, com dourados e ferros gravados a ouro sobre rótulos carmim na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação. Ex-libris colado no verso da f. rosto. Ausência f. ante-rosto(?).
Raro.
Indisponível

20 março, 2024

DUARTE, Mario - OVOS MOLLES E MEXILHÕES. Besbelhotice mensal d'Aveiro. Com quatro palavras de Fialho d'Almeida. N.º 1 - Março de 1893. Aveiro, Imprensa Aveirense, 1893. In-8.º (18x12,5 cm) de 32 p. ; E.
1.ª edição.
Conjunto de curiosíssimas crónicas satíricas relacionadas com Aveiro e os aveirenses. De acordo com a BNP, terá saído um 2.º número desta interessante publicação (Abril de 1893).
Obra abrilhantada pela apresentação de Fialho de Almeida à laia de prefácio intitulada Quatro palavras.
"A maledicencia foi dada ao homem não só como estimulo mas tambem como como distracção; porque é commentando os ridiculos dos outros que o homem aprende a corrigir os seus, e é deformando a monotonia da vida pela troça que elle consegue fugir á tristeza da realidade agreste que o rodeia. N'esta conformidade, e sem por forma alguma pensarem em crear para a ironia formas imprevistas, vão os redactores d'este jornal tentar um esforçosinho de má lingua que os ajuda a romper a atomia sentimental das terras pequenas, a sorrir á mocidade o seu riso sceptico e vermelho, e a espicaçar o bicho proximo com a garrocha do escarneo, unica que hillaria a trincheira e resigna a saude pela explosão d'uma franca carcachada.
Quando se diz que os Mexilhões e Ovos molles são um jornal de maledicencia, bom será presupôr que os redactores não abdicam, pelo facto de caricaturistas, do seu papel de cavalheiros, nem tam pouco estão dispostos a tomar maledicencia no sentido peor de diffamação. Alli esta por exemplo aquelle proprietario obeso, com a barba e a bossalidade em passa-piolho sob o queixo, legitimo filho da rotina soez do burgo que o aviscondalhou nas ultimas eleições.
Alli está aquella langorosa menina, educada a pão com manteiga e a folhetins francezes, e affeita a decipar á familia a charada pornographica do Pimpão..."
(Excerto de Quatro palavras)
"A medida policial prohibindo a permanencia do sexo forte juncto ao chafariz dos Balcões, veio tirar ás sopeiras uma garantia, que embora não prevista na Carta, tinha já fóros tão tradiccionaes e tão antigos, que só uma injusta lei poderia revogar.
E quando ellas ainda no comprimento de um dever vêm procurar allivio ás suas magoas, tentando distrahir-se na conversa geral da fonte, ponto obrigado de bisbilhotice, encontram-se privadas d'um dos seus mais divertidos passatempos!!"
(Excerto de Outra vez a policia e as sopeiras)
Summario:
Simphonia da Primavera | A Policia e os cães | A serração da Velha | A eleição da Commissão districtal | Socorros a Naufragos | Exportação de laranjas | Tres livros novos: o Piano, Ensaios e Tristia | Outra vez a policia e as sopeiras | Algumas palavras a proposito de uma moldura | A Feira de Março.
Mário Ferreira Duarte (Anadia, Arcos, 1869 - Aveiro, 1939). "Nasceu em Anadia. Radicou-se em Aveiro onde exerceu as funções de funcionário público, como director de Finanças. Foi casado com a Baronesa da Recosta, D. Maria Teresa de Melo que, para a época, era uma notável desportista. Foi praticante de hipismo, automobilismo, ciclismo, ténis e golfe. Mário Duarte foi um apaixonado pelo desporto em geral praticando com grande mestria o futebol, o golfe, o ciclismo, a ginástica, o ténis, o remo, a vela, a natação, a esgrima, a luta greco-romana, a halterofilia e o tiro. Era o que se poderia considerar um verdadeiro “sportsman”. Em 1898, no Campo Pequeno até brilhou como toureiro. Tal polivalência desportiva conferiu-lhe reconhecimento público. Em 1905, num plebiscito organizado pelo jornal “ Os Sports” foi eleito o “desportista mais completo de Portugal”. Foi fundador da Associação de Futebol de Aveiro e presidente, por diversas vezes, do Congresso da Federação Portuguesa de Futebol. [Deu o seu nome ao antigo Estádio Municipal de Aveiro do Sport Clube Beira Mar de Aveiro]. Obra bibliográfica: Em 1893 editou a publicação Ovos-Moles e Mexilhões que se subintitulava Bisbilhotice Mensal de Aveiro. Um dia, um dos seus filhos, Francisco Duarte, dele escreveu que o pai “o tinha ensinado, assim como aos seus irmãos, a perder sem azedume ou a ganhar sem ofender o vencido”."
(Fonte: Silva, Carlos Alberto T. Soares da - A História da Natação Portuguesa. Os percursores da natação em Portugal : dos seus inícios até à implantação da República - 1910, FPN, 2017)
Encadernação inteira de pele com ferros gravados a seco e a ouro na pasta anterior. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Capas de brochura frágeis, com manchas e pequenos defeitos.
Raro.
Peça de colecção.
35€

07 janeiro, 2024

SOROMENHO, Augusto - DIWAN. De... Porto, [Typ do Portugal], [1855]. In-8.º (17x11,5 cm) de [164] p. ; E.
1.ª edição.
Raríssima edição original deste livro de poemas "em que ecoam traços orientalistas". Primeira obra do autor, publicada quando contava apenas 22 anos de idade.
Em Notas, na parte final do livro, Soromenho "explica" alguns versos: "Depois de escriptos e impressos esses poucos versos que ahi ficam, intendi dever acompanhar varios d'elles com notas explicativas, porque, na verdade, em alguns ha um tanto de enigmatico e obscuro. Ahi vão, pois, as que julguei necessarias. O numero romano corresponde a uma poesia com egual numero."

Quem canta seu mal espanta;
Quem chora seu mal augmenta;
E eu canto para espalhar
Uma dôr que me-atormenta!

"Que horrivel noite! O vento, a chuva, tudo
Contra mim se-conspira!
Trevas no céu, e trevas sobre a terra;
Em volta de mim trevas!
Apenas vejo alem uma luzinha,
Signal mysterioso,
Que me-faz ir chuchar um aguaceiro
A troco d'um bilhete
Perfumado d'almiscar! – Triste coisa
É andar enamorado!
Eu quando penso no que tenho feito,
Por causa das mulheres,
Pasmo! E a luz? Sumiu-se! Era o correio
Que vae para a Amarante!
"

(XLV.)

"Eu estava, hontem de tarde, a ler o Fausto,
Deitado n'um sofá,
Quando senti abrir-se a porta e, rindo,
Entrar o diabo. "Olá!
"Por aqui, é milagre!" – Mal tu sabes
O que eu venho pedir. –
"Não; decerto. Vejamos." – É uma Biblia. –
E desatou a rir...
"Uma Biblia?!" disse eu. – E então, que pensas?
Não serei eu capaz
De a-lêr? Não póde haver um litterato
Chamado Satanaz? –
"Póde. Ahi tens... Mas que buscas"? – Eu t'o-digo:
Estive, ha pouco, a lêr
O Paraizo de Milton, e ha lá historias
Que eu não posso saber
Onde-as fosse buscar. Conta lá coisas
De mim, que nem eu sei;
E venho vêr então se n'esta Biblia
Acaso as-acharei. –
"Duvido” – E tu que lês? – "O Fausto." – O Goethe!
Esse foi mais ratão.
Ao menos, teve graça. O Mephistóphles
É um grande maganão.
O Fausto é que era um parvo. – "Assim ha muitos!"
– E tu também o-és. –
"Obrigado." – E assentou-se folheando
Os Livros de Moisés.

Passado tempo, volto-me, e, que vejo!
Deitado sobre o chão
O bom do Satanaz, que adormecêra
A lêr o Salomão!..."

(CVI.)

Augusto Pereira Soromenho (Apresentação, Aveiro, 1833 - Lisboa, 1878). "Mais conhecido por Augusto Soromenho, foi um professor, filólogo e escritor português. Adotou também o pseudónimo Abd-Allah e usou os nomes Augusto Pereira do Vabo e Anhaya Gallego Soromenho e os de Castro e Pedegache, afirmando que descendia de famílias nobres de Castela e do Algarve. Inocêncio Francisco da Silva lista o nome como Seromenho, grafia que o próprio não terá usado. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e seu bibliotecário.
Considerado de génio volúvel e altivo, Camilo Castelo Branco, no 2.º volume do seu Cancioneiro Alegre, afirma que nunca viu ninguém com tantas artes para ganhar inimigos e que sacrificava os seus benfeitores àquilo a que a sua consciência chamava Justiça. O mesmo escritor afirma que o conhecera ainda muito novo e infeliz, ao que parece, sem protecção nem meios para se vestir e sustentar.
A incapacidade de manter relacionamentos dificultou-lhe sobremaneira a vida, por tinha poucos recursos, não os podendo obter da família, já que o pais, ao tempo director da alfândega de Vila do Conde, pouco o podia ajudar já que o emprego não seria muito rendoso.
Em 1855, com 22 anos de idade, publicou no Porto a sua primeira monografia, o volume de poesia intitulado Diwan, obra presentemente rara dada a escassa tiragem da edição.
Também por volta de 1855 obteve um modesto emprego na Biblioteca do Porto, onde durante os anos imediatos se dedicou ao estudo da história de Portugal e de arqueologia. Dos seus estudo resultou a publicação de numerosos artigos avulsos em diversos periódicos, que complementava com artigos de crítica literária. Entre estes últimos artigo dedicou alguns a acusações de plagiato, de que resultaram azedas polémicas.
Em inícios de 1858 conheceu Alexandre Herculano, que ao visitar a cidade do Porto o encontrou e ficou impressionado com os seus conhecimentos dos clássicos e da língua portuguesa, reconhecendo nele um mancebo de muito talento, muito estudioso e já então muito erudito. Desse encontro resultou ser convidado por Herculano para se transferir para Lisboa e passar a colaborar nos seus trabalhos de história de Portugal. Aceitou e a partir de meados de 1858 passou a trabalhar na biblioteca da Academia Real das Ciências de Lisboa.
Augusto Soromenho foi um dos conferencistas das Conferências do Casino, nas quais a 6 de Junho de 1871 dissertou sobre A Literatura Portuguesa Contemporânea. Antes dele falara Antero de Quental e depois Eça de Queirós e Adolfo Coelho.
Foi feito sócio correspondente da Academia Real de Ciências e bibliotecário da mesma Academia, tendo nestas funções sucedido a Alexandre Herculano na coordenação da obra Portugaliæ Monumenta Historica. Apesar disso, e seguindo o seu padrão de relacionamento difícil, acabou por cortar relações com o seu antigo protector Alexandre Herculano, que em retaliação lhe cortou o acesso ao acervo da Torre do Tombo. Também no que respeita à Academia das Ciências, após múltiplas disputas, especialmente depois de uma grave pendência com o matemático Daniel Augusto da Silva, foi obrigado a demitir-se de sócio para evitar a expulsão.
Augusto Soromenho faleceu em 9 de Janeiro de 1878, vítima de tuberculose pulmonar. A revista literária O Ocidente publicou uma pequena biografia e o seu retrato. Deixou uma vasta obra em prosa e verso dispersas por múltiplos periódicos e inéditos muitos manuscritos."
(Fonte: Wikipédia)
Belíssima encadernação meia de pele com rótulos, nervuras e dourados na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Corte superior carminado. Dedicatória (não do autor), no verso da f. ante-rosto, ao distinto médico e bibliófilo aveirense Manuel Lavrador.
Muito raro.
Peça de colecção.
85€

02 novembro, 2023

NOGUEIRA, R. de Sá -
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA LINGUAGEM DAS SALINAS.
Por... (Separata de "A Língua Portuguesa", Vol IV). Lisboa, [s.n.], 1935. In-4.º (23,5 cm) de 70, [2] p. (75-144 pp.) : [8] p. il. ; B.
1.ª edição independente.
Importante subsídio filológico e etnográfico sobre a "linguagem" dos salineiros. Trata-se do glossário de termos, parte de um plano mais vasto que o autor nunca viria a concretizar.
Livro ilustrado em 4 páginas com:
- Mapa de Portugal, em página inteira, com a indicação por meio de setas, das regiões onde há salinas.
- Plantas de localidades salineiras distribuídas por 3 páginas:
• Aveiro, Figueira da Foz e Buarcos;
• [Vila Franca de Xira] - marinhas localizadas a norte e sul de Ponta d'Erva, Póvoa de Santa Iria e Unhos;
• Setúbal, Álcacer do Sal e Montalvo.
Ilustrado ainda no final, em separado, com 12 fotogravuras de momentos da faina espalhadas por 8 páginas.
"«O Dicionário da Língua», completo e seguro, é das obras mais urgentes e meritórias que podem ocupar o espírito dos nossos investigadores da matéria filológica. Êsse dicionário, porém, completo e seguro, é inexqüível, enquanto não forem publicados trabalhos parciais, que sirvam de base ao lexicógrafo. [...]
É necessário, pois, que trabalhos subsidiários apareçam. Dêstes, os mais preciosos e urgentes são glossários parciais, como o do presente estudo, sobretudo se forem feitos com escrúpulo e minuciosidade.
Calcule-se o que será a tarefa do lexicógrafo no dia em que houver um glossário perfeito da linguagem das salinas, outro da linguagem da pesca, outro a das cortiças, outro da dos lacticínios, etc., etc.
Quanto não vale mais publicar um trabalho dêsses, completo e substancioso, do que artigos dispersos e superficiais sôbre muitos e variados assuntos.
Foi com esta convicção que me levou a empreender o estudo da linguagem das salinas."
(Excerto da Introdução)
Rodrigo de Sá Nogueira (1892-1979). "Licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi 1.º oficial da Academia das Ciências de Lisboa. Doutor de Capelo e Borla pela Universidade de Coimbra, foi autor de várias publicações sobre filologia: Contribuição para o estudo das onomatopeias (1948), Elementos para um tratado de fonética portuguesa (1989), Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem (1995), Guia Alfabética de Pontuação: acompanhada com os termos gramaticais conexos com a pontuação (1989), Estudos sobre as onomatopeias (1950), Dicionário Ronga-Português (1960), entre outras obras."
(Fonte: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/autores/rodrigo-de-sa-nogueira/169/pagina/1 [consultado em 18-08-2023])
Exemplar brochado em bom estado de geral conservação. Ligeiramente oxidado.
Raro.
45€

02 setembro, 2023

FARIA, Carlos -
O PIANO.
Desenhos de A. C. Sobral. Lisboa, Deposito na Livraria de Antonio Maria Pereira, 1893. In-4.º (23 cm) de 188, [4] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Romance passado em Lisboa, remete para a vida de Olímpio, um pianista - professor e compositor - que se apaixona por Ema, filha do capitalista Gomes, que desagradado com esse amor correspondido, faz a vida negra ao músico.
Livro ilustrado com belíssimos desenhos de Sobral, que também assina a capa.
Obra interessante, muito bem redigida, sendo o vocabulário cuidado. Inclui expressões de certos tipos de Lisboa, muito engraçadas, - do burguês ao guarda-portão -, que por norma traduzem desprezo. A BNP refere a obra com a indicação "sem informação exemplar".
"Estamos a 30 de Novembro. São 7 horas e meia da manhã. O ceu como um caldeirão velho cujo fundo começa a descoser-se, vae largando cada vez maiores e mais frequentes os pingos de um negro aguaceiro.
O pobre pianista fecha o seu

«Quarto independente para homem só com porta para a escada e sem comida, na rua dos Corrieiros n.º...»

como textualmente annunciara o Diario de Noticias.
Desceu vagarosamente levando na mão uma pequena mala de coiro. Vae começar a sua tarefa quotidiana.
A corda d'agua como fina vergasta metalica chicoteava as pedras da rua. A chuva produzia o ruido estrelante da agua caindo sobre lume. Era o caldeirão que se arrombava.
No portão da escada, em defeza da tremenda batega, entrara uma roliça creada e logo após um policia.
- Jesus do ceu! Que carga d'agua! - dizia ella sacudindo o chale depois de largar o cabaz das compras.
- Quem dera que durasse para ter a Luisinha ao pé de mim, retorquiu galante o defensor da propriedade, vida e honra das familias de Lisboa. E ajudava a creada a enxugar-se com tanta dedicação que o pianista iria jurar que vira os ardentes beiços milicianos chuparem uns pingos de chuva que Luisinha tinha na cara."
(Excerto do Cap. I)
Carlos de Faria e Melo (1849-1917). "Escritor, jornalista, político e diplomata. Natural de Lisboa, Carlos de Faria e Melo fixou residência em Aveiro, cidade onde se notabilizou como jornalista e escritor, tendo sido agraciado pelo Rei D. Carlos com o título de 1.º Barão de Cadoro. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Carlos de Faria iniciou, ainda muito novo, a sua carreira jornalística, tendo fundado e dirigido diversos jornais, alguns de cariz literário. Como escritor, publicou vários livros. Para além disso, desempenhou cargos políticos, designadamente o de Administrador do Concelho de Aveiro e o de Governador Civil do Distrito de Aveiro, tendo sido também Cônsul de Espanha em Aveiro. Carlos Faria foi redator efetivo do jornal O Povo de Aveiro. Fundou e dirigiu o jornal A Locomotiva (que se auto-intitulava Periódico dos Caminhos de Ferro). Com Gervásio Lobato, fundou o periódico Comédia Portuguesa, tendo ainda integrado a redação do Jornal do Norte, de António Augusto Teixeira de Vasconcelos. Como escritor, Carlos de Faria publicou várias obras de ficção, nomeadamente os livros intitulados 1:000$000 reis, [189-], O Piano (1893), Portugueses Cosmopolitas (?) e Diniz (1898). Em colaboração com Joaquim de Melo Freitas, publicou a obra Homenagem ao distinto explorador de África Serpa Pinto. Para além disso, cooperou em diversas iniciativas de relevo na vida social e cultural aveirense."
(Fonte: http://sites.ecclesia.pt/cv/carlos-de-faria-jornalista-e-escritor/)
Encadernação em tela com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Páginas apresentam acidez.
Raro.
Indisponível

19 julho, 2023

A REGIÃO DO VOUGA.
Aveiro, Agueda, S. Pedro do Sul, Vizeu. Indicações geraes para uso dos viajantes - Sociedade Propaganda de Portugal. Lisboa, Composto e impresso na Typ. da «Gazeta dos Caminhos de Ferro», 1917. In-8.º (15,5 cm) de 63, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante roteiro turístico.
Assinala os locais e monumentos emblemáticos dos concelhos situados na região de Lafões, tudo devidamente acompanhado de apontamentos históricos e geográficos sobre as vilas e cidades mais relevantes.
"Esta linha que tem o seu inicio em Espinho e o seu terminus em Vizeu, desenvolve-se na mais pictoresca a accidentada directriz, na extensão de 141 kilometros, atravessando uma região verdadeiramente encantadora, bordejando precipicios, contornando montanhas e apresentando aos olhares extasiados do turista as mais diversas e variadas paisagens, os mais surprehendentes pontos de vista, os mais risonhos e alegres panoramas. [...]
A concepção do traçado e a sua execução rapida e feliz, constituem uma gloria da engenharia portugueza, incluindo as suas obras de arte pontes arrojadas e viaductos importantes, todos de alvenaria, e, alguns, de vãos muito superiores aos maiores até agora admitidos entre nós, o que representa, na phrase, concisa mas sobremodo justa, do illustre engenheiro Sr. J. Fernando de Sousa, «licção e exemplo valioso»."
(Excerto de A linha do Valle do Vouga)
Índice:
A linha do Valle do Vouga. | Aveiro. | Agueda. | S. Pedro do Sul. | Vizeu.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico.
25€
Reservado

14 abril, 2023

BAPTISTA, Augusto Soares de Sousa -
SÔZA.
[Por]... Do Instituto de Coimbra. Aveiro, [s.n. - Oficinas Gráficas da Coimbra Editora, L.da - Coimbra], 1955. In-4.º (24,5 cm) de 11, [1] p. ; B. Separata do vol. XXI do Arquivo do Distrito de Aveiro
1.ª edição independente.
Curiosa monografia histórica sobre Soza, castiça vila do concelho de Vagos - Aveiro.
"Entende cada um que a sua vila ou aldeia não é digna nem honrada e tiver as raízes à flor do tempo e, por isso, lhas mergulha nas mais distantes camadas, onde à luz titubeante da verdade nasce a História humana. Assim sucede a Sôza, assim acontece com todas. E. todavia, foi só a partir de 1088 que tivemos conhecimento da existência desta terra linda, que, no dizer errado de alguns de seus filhos, só dá mulheres feias. Já lá vão mais de oito séculos, mas o que é isso para quem foi buscar as suas origens para além dos Romanos?
Será assim? É o que vamos ver.
Em 1015 ou 1016 Afonso V de Leão decidiu-se  recuperar as terras dentre Douro e Mondego que desde 987 andavam em mãos de mouros governados pelo renegado Froila Gonçalves. O seu exército vitorioso entrou em Montemor e o Rei, pondo ali a Mendo Luz como governador fiel, voltou a Leão. Os mouros, porém, não se acomodaram com a derrota; reagiram e em consequência retirou-se Mendo Luz para as terras de Santa Maria; de novo recuaram as fronteiras dos estados cristãos, agora para uma linha que ia da foz do Vouga ao Caramulo, por entre as actuais Mealhada e Anadia, que naquele tempo ainda não existiam. Também o Vouga levava as águas directamente ao mar por ainda não estar formada aquela faixa de areia que o separa da ria. E foi assim que as terras da margem esquerda do Vouga, junto à sua foz, ficaram novamente sob a jurisdição mourisca, enquanto as da direita formavam, com as que ficavam a norte da linha acima referida, as Terras do Julgado de Vouga, sob domínio cristão."
(Excerto do texto)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e regional.
15€

01 abril, 2023

CHRISTO, António -
CANCIONEIRO DE SANTA JOANA PRINCESA
. Porto, [s.n.], 1956. In-8.º (19,5 cm) de 26, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Trabalho pioneiro de recolha de composições poéticas alusivas a Santa Joana Princesa.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao Dr. Alberto Soares Machado, ilustre médico aveirense.
"São pouco numerosas, e nem sempre felizes, as composições dramáticas e poéticas sobre a «excelente Infante e singular Princesa», filha excelsa de El-Rei D. Afonso V e padroeira celeste dos aveirenses.
Não atino com explicação cabal para esta desoladora penúria, em flagrante contraste com uma abundantíssima e muito valiosa produção de outros géneros literários, em que sobressaem os cronistas, os historiadores, os biógrafo, os panegiristas e os críticos.
Merece, todavia, ser estudado o que se conhece de dramaturgos e poetas sobre a esbelta e virtuosa Princesa-Infanta.
Se é certo que em literatura só permanece o que atinge expressão perfeita e que não podem dizer-se impecáveis todos os autos e versos inspirados na vida luminosa de Santa Joana, não é menos verdade que alguns conseguiram alcançar notável beleza e despertar fundas emoções."
(Excerto da introdução)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas algo oxidadas.
Raro.
15€

21 junho, 2022

LIMA, Jayme de Magalhães - TRANSVIADO. Romance illustrado com magnificas gravuras. Lisboa, Empreza Editora, 1899. In-8.º (17 cm) de 293, [3] p. ; [6] f. il. ; B.
1.ª edição.
Romance rural de índole realista. Vida e morte de Cláudio - os seus amores e desamores, ilusões, desilusões e opressões de uma alma inquieta e atormentada. A acção decorre entre 'Vilalva', Albergaria e Coimbra.
Livro ilustrado com 6 desenhos fora do texto de autor não identificado, sendo as chapas abertas por Pastor (Francisco Pastor, 1850-1922).
"Nos campos do Mondego, abaixo de Coimbra, a primavera é frequentemente agreste e fria. Quando o vento do mar sopra rijo sobre os brancos lençoes de malmequeres a surgir da terra humida e paludosa, ainda farta das aguas do inverno, as tardes são inclementes para o corpo ávido de repouso e doçura da natureza.
Este rapaz que além se apeou d'uma carruagem, em frente da estação de S. Braz, na estrada que vem dos lados de Albergaria, atravessou a linha conchegando o gabão que o vento desconcerta, e, mal entrado na gare, em que só destaca uma carreta abandonada com poucos fardos, procura onde se abrigue. Estamos todavia n'uma tarde d'abril.
O rapaz seguiu vagarosamente, ao longo da gare; na porta em que leu «sala d'espera» abriu e entrou. A uma canto, sobre um duro banco de madeira, dormitava um homem gordo, de lunetas, mãos nos bolsos e chapéu derrubado para os olhos; ao lado uma mulher esbelta e franzina, um olhar brilhante sob o véo que lhe cobria o rosto.
- Eu agora... contra a luz... não distinguia bem. Pedoe v. ex.ª! disse dirigindo-se ao recem-chegado.
- Eu tambem, como vinha de fóra e a sala estava um pouco escura, não o conheci á primeira vista. Foi necessario reparar um pouco...
- Então como tem passado v. ex.ª depois da sua jornada ao estrangeiro?... Será melhor sentar-nos, acrescentou apressadamente o homem das lunetas sem esperar resposta... V. ex.ª tem aqui logar... dizia affastando um cesto de morangos d'um sofá que parecia mais commodo.
- Muito obrigado, muito obrigado... Não se incommode... Em qualquer sitio...
E o rapas ia a sentar-se quando o outro, abruptamente, o obriga a aprumar-se apontando-lhe a mulher.
- Minha mulher... o sr. Claudio de Souza Portugal, um cavalheiro muito illustrado e do meu maior respeito!"
(Excerto do Cap. I)
Jaime de Magalhães Lima (1859-1936). Natural de Aveiro. Foi um pensador, poeta, ensaísta e crítico literário português, irmão do jornalista e político republicano Sebastião de Magalhães Lima. Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1888, onde conheceu Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e o seu grande amigo Antero de Quental. Era admirador de Tolstoi, que conheceu quando foi à Rússia, conforme relata no seu livro Cidades e paisagens (1889). Dirigiu a revista Galeria Republicana (1882-1883) e colaborou na Revista de Portugal de Eça de Queiroz. Colaborou ainda com regularidade no mensário O Vegetariano, dirigido por Amílcar de Sousa e em diversas publicações periódicas, nomeadamente nas revistas: A semana de Lisboa (1893-1895), Branco e negro (1896-1898), Atlântida (1915-1920), Pela Grei (1918-1919) e na revista Homens Livres (1923). A sua bibliografia é variada. Escreveu romances, ensaios e biografias.
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e pequenas falhas de papel, com especial relevância no canto superior direito onde falta um pedaço. Lombada restaurada. Deve ser encadernado.
Raro.
25€

05 junho, 2022

GONÇALVES, João - PÓVOA DO CARREIRO - Roteiro pelo século XX.
[Prefácio de Alberto Cravo]
. Aveiro, Fuaco, 2018. In-4.º (24 cm) de 470, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Obra de fôlego. Interessante monografia sobre a Póvoa do Carreiro, lugar pertencente à freguesia do Troviscal, concelho de Oliveira do Bairro.
Livro profusamente ilustrado com tabelas e fotografias a p.b., algumas delas em página inteira. 
Edição limitada a 500 exemplares.
"Ao redigir este impensável e extenso livro, fi-lo com a intenção de narrar, o mais fielmente possível, factos e ocorrências da vida real que outrora constítuiram a existência quotidiana do povo da Póvoa do Carreiro que se dedicava totalmente à prática da agricultura. Ao descrever a vida dura da aldeia, através de factos e ocorrências com décadas de distância temporal, tive que fazer um tremendo esforço para recorer à memória registada dos meus primeiros tempos de existência que me conduziram aos retrógados meados do século vinte, uma época onde as carências e a miséria que atingia grande parte da população não impedia que pelos campos, no decurso da execução das tarefas rurais, ela exprimisse a sua alegria evocando cantigas de outros tempos que são hoje, na sua maioria, interpretadas pelos grupos folclóricos."
(Excerto da Introdução)
"Manuel de Jesus Mota, da Póvoa do Carreiro, foi Sargento enfermeiro a bordo de navios da Marinha de Guerra Portuguesa.
O mar e a pesca do bacalhau estão ligados à nossa gente e à região por mais de 600 anos sendo essa a razão da prologada descrição onde se relatam das labutas e sacrifícios sofridos pelos lavradores transformados, durante um breve período de alguns meses, em bravos lobos-do-mar. Muitas vezes pagaram com a vida a temeridade que os acompanhava durante a safra, miseravelmante remunerada e sem horários, sofrida pelas tempestades e mar alteroso, com desfechos trágicos devido aos naufrágios ou sabotagens praticadas pelos capitães para que as empresas lesadas fossem indemnizadas em dinheiro ou com novas embarcações. O testemunho verbal, proferido por um enfermeiro, que havia feito uma primeira safra em Fevereiro de 1957 a bordo do veleiro de pesca à linha, o "Avé Maria", para anos depois, em Fevereiro de 1960, embarcar a bordo do veleiro "Santa Joana" transformado em arrastão e que, temendo a reedição da escravidão observada no decurso da primeira viagem, decidiu escrever sobre uma pequena agenda, uma espécie de diário, cujo conteúdo é aqui transcrito."
(Excerto A Pesca do Bacalhau)
Índice:
Prefácio. | 1 - Introdução. 2 - Freguesia do Troviscal. 3 - Póvoa do Carreiro. 4 - As Famílias. 5 - O médico-lavrador. 6 - A agricultura de subsistência. 7 - A Primeira Grande Guerra. 8 - Trabalho e servidão. 9 - Natal dos meninos. 10 - A brincadeira das crianças. 11 - Lavradores. 12 - Memórias dos antigos. 13 - Artes, ofícios e profissões. 14 - Usos e costumes. 15 - Cultura musical. 16 - Religião. 17 - O sonho americano após a Iª Guerra Mundial. 18 - Emigração após a IIª Guerra Mundial. 19 - Retornados e IARNE. 20 - A Pesca do Bacalhau. 21 - Educação. 22 - Personagens carismáticas. 23 - Cargos de relevo. 24 - Agradecimentos.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
25€

14 maio, 2022

LIMA, Jaime de Magalhães - OS POVOS DO BAIXO VOUGA.
[Prefácio de Fernando Magano]
. [S.l.], Edição das Câmaras Municipais de Ílhavo e Murtosa e da Comissão de Turismo da Torreira, 1968. In-8.º (18 cm) de 94, [2] p. ; [10] f. il ; B.
1.ª edição independente.
Capa de David Cristo.
Interessante estudo etnográfico, antes publicado em «Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia», Porto, 1926.
Livro muito valorizado pelas belíssimas estampas - impressas sobre papel couché - intercaladas no texto.
"Ao norte de Portugal, sobre o Atlântico, a linha de costa afrouxa e decai para o lado da terra, fechando pelo poente uma extensa meia-lua de planuras vastas, cortadas de canais e lagos, e na linha interior demarcada pelas primeiras elevações dos contrafortes das serras de Arouca, Talhadas, Caramulo e Buçaco.
Descendo do Caramulo para o litoral em um dia tempestuoso e negro, cerrado de nuvens rasteiras, impedindo a difusão vertical da luz, tive ensejo de ver na sua maior extensão aquelas terras, iluminadas de modo que todos os acidentes de relevo se confundiam e nivelavam, formando de lés-a-lés como um mar profundo e negro, do qual o Cabo Mondego, ao sul, e os montes da margem esquerda do Douro, ao norte, seriam os redentes da entrada de uma baía. [...] Ainda agora, sem maior esforço de imaginação se suspeitam e ressurgem os dias em que as águas do Cértima, do Águeda, do Vouga e do Caima viriam directamente àquela baía e de lá ao mar, pouco a pouco minguando para dar lugar à elevação gradual do chão arável, formado pelos assoreamentos fustigados pelo vento e pelas ondas do mar... [...]
Assim se teria traçado e efectuado o actual e complicadíssimo sistema de ilhas, canais, baixios, restingas e cales, enredado já pela vastidão de superfície em que estes movimentos se cruzavam... [...]
Foi com estes elementos que se formou a região do Baixo Vouga, tal qual hoje a vemos, toda cortada de lagos e canais em suas formas tentaculares, tão depressa deixando erguer a terra como logo lhe abrindo uma tortuosa estrada fluida. E digo região do Baixo Vouga do que outros usam chamar a ria de Aveiro. [...]
Que gente mora nestas terras? Donde veio e que caracteres as distinguem? Que condição etnográfica foi sua no passado, o que é no presente, e que probabilidades tem de ser no futuro?"
(Excerto do texto)
Índice:
Nota explicativa. | Prefácio. | A região do Baixo Vouga. | Origem dos povos do Baixo Vouga. | Tipos étnicos. | A gente de Ílhavo. | A gente da Murtosa. | Diferenças na voz. | Distinção de profissões.| As feiras. | A cultura. | Conclusões.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Indisponível

30 novembro, 2021

CADORO
(Carlos Faria), Barão de - DINIZ
. Coimbra, Typographia França Amado, 1898. In-8.º (18 cm) de 370, [2] p. ; E.

1.ª edição.
Romance do final do século XIX, cuja personagem central é Diniz, moço vaidoso e mimado, que encara as inimizades e contrariedades como insultos à memória de seu pai, antigo combatente e liberal de cepa.
A presente obra, retrata a fútil sociedade cosmopolita da época, com os seus vícios, "favores" e convenções. Muito interessante.
"Eram de uma vez dois nobres à volta de uma herança pingue, e que vinha de uma parente longiquo, avaro e desestimado. Esse dinheiro não tinha o travo da saudade, a pena do morto; caía-lhes em casa como premio grande da loteria.
A liquidação da herança seria facil, se o testamento, qua a regulava, não tivesse deixado certas migalhas a um orfão e a uma Irmandade. Assim tinha de haver inventario orfanologico e a Boa Hora, logo que tal soube, qual alcoviteira dos ricos, começou a esfregar as gigantescas e aduncas mãos. Escrivão, procuradores, advogados e louvados deixaram de aparar as unhas sem temer a porcaria nem o padre Antonio Vieira que tanto se ocupou d'esses apendices corneos.
A Justiça, essa divinisada figurita de marmora armada de balança para pesar as faltas, e de espada para cortar as demasias, era vendada como Cupido por não querer conhecer a quem feria. Agora perdeu essas classicas caracteristicas, e apresenta-se grosseiramente de tamancos, de saia de serguilha, colete de pano cru cingindo a aspera camisa de estopa contra o seco peito esteril, na figura antipatica das cardadeiras.. Em logar de pesar certo e de cortar direito como a symbolica figurita de marmore, carda e guarda para si a estriga limpa, deixando aos outros a estopa, arestas, etc. Não usa espada nem balança, mas carda. Se traz venda é para velhacamente espreitar por baixo. [...]
Eram dois fidalgos mas havia tambem um plebeu, e todos trez deviam herdar com egualdade. A principio muito amigos, muito condescendentes, muito - essa é boa! o que tu quizeres! - depois em grupos de dois contra um que mudava segundo o interesse mais vivo de dum d'aquelles, em guerra dissimulada, em intrigas, em cambapés, qté que os fidalgos por maior communidade de ambições e maior audacia de meios se conluiaram contra o plebeu, e o despojaram, o mais que puderam, e tudo isto se fez ao abrigo da lei, sob a protecção da... cardadeira."
(Excerto do Cap. I, Son Altesse, Ma Vanité)
Carlos de Faria e Melo (1849-1917). "Escritor, jornalista, político e diplomata. Natural de Lisboa, Carlos de Faria e Melo fixou residência em Aveiro, cidade onde se notabilizou como jornalista e escritor, tendo sido agraciado pelo Rei D. Carlos com o título de 1.º Barão de Cadoro. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Carlos de Faria iniciou, ainda muito novo, a sua carreira jornalística, tendo fundado e dirigido diversos jornais, alguns de cariz literário. Como escritor, publicou vários livros. Para além disso, desempenhou cargos políticos, designadamente o de Administrador do Concelho de Aveiro e o de Governador Civil do Distrito de Aveiro, tendo sido também Cônsul de Espanha em Aveiro. Carlos Faria foi redator efetivo do jornal O Povo de Aveiro. Fundou e dirigiu o jornal A Locomotiva (que se auto-intitulava Periódico dos Caminhos de Ferro). Com Gervásio Lobato, fundou o periódico Comédia Portuguesa, tendo ainda integrado a redação do Jornal do Norte, de António Augusto Teixeira de Vasconcelos. Como escritor, Carlos de Faria publicou várias obras de ficção, nomeadamente os livros intitulados Um Conto de Reis, O Piano, Portugueses Cosmopolitas e Diniz. Em colaboração com Joaquim de Melo Freitas, publicou a obra Homenagem ao distinto explorador de África Serpa Pinto. Para além disso, cooperou em diversas iniciativas de relevo na vida social e cultural aveirense."
(Fonte: http://sites.ecclesia.pt/cv/carlos-de-faria-jornalista-e-escritor/)
Encadernação da época em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado; apresenta pequenos defeitos nas pastas e na lombada. Com algumas folhas soltas.
Raro.
A BNP tem registo de apenas um exemplar.
Indisponível