BARBAS, Alexandre - OS CRIMES DE SACHRISTIA. [Prólogo de Pedro do Amaral Botto Machado]. Lisboa, Proprietario e Editor - O Auctor : Composto e impresso na Typographia Bayard, agosto de 1910, [1910]. In-8.º (20,5 cm) de 158, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Violento manifesto anticlerical. O autor, conhecido extremista republicano, refuta a doutrina cristã e as práticas religiosas.
"Prefaciar um livro não é coisa que possa pedir-se a quem, como eu, nas escolas, não foi além da instrucção primaria. [...]
Demais, o seu livro não precisa de prefacio. Crimes, não se prefaciam. Crimes, descobrem-se, denumciam-se, stygmatisam-se, punem-se. E, quando são «Crimes Religiosos», levam-se ao tribunal da consciencia popular, tão rude e claramente como elles se comettem.
Crimes Religiosos são crimes sociaes porque são praticados, conscientemente, contra todos os cidadãos; torna-los conhecidos é trabalhar em favor d'estes, porque é expo-los á sua condemnação. A sociedade, pois, que leia e que condemne.
O seu livro apresenta á sociedade crimes da religião catholica, apostholica, romana e dos seus sectarios. Todos, desde o bispo ao mais humilde cura d'aldeia, commettem esses crimes em nome do deus, que os tornou senhores da verdade revelada, ensinada pela Biblia e imposta pelas ordens de Roma.
Commettem-nos, ainda, porque são homens de ganhar, estomagos que inventaram deus para comer. Sem esse deus morreriam de fome."
(Excerto do Prologo)
"Comecei de estudar em Gouveia. Alli fiz quasi todos os «preparatorios» sob a direcção santa de alguns padres que, embora não tivessem sido destinados para professores pela alta vontade do Deus biblico, foram meus amigos, sempre promptos a attender-me, pelo que me confesso ainda reconhecido, apezar de por elles ser já divinamente excommungado."
(Excerto do Cap. I, Auto-biographia)
"O padre é dos elementos que só se pode conhecer apoz algumas tentativas, e depois de termos com elle um simulacro de familiaridade, pois só então ouvimos affirmações que traduzem o estado da sua alma.
Acompanhei-o em muitos actos da igreja, segui-o de perto, e, em todas as conversações, reconheci que essa familia solerte de ociosos era a hypocrisia personificada, que, sem consciencia, considerava a religião, como um officio de engorda, como um meio seguro e forte de especular com a crença popular."
(Excerto do Cap. II, Psychologia do padre)
"As divindades brotam quasi sempre do Terror e o Deus das sachristias, filho legitimo da maldade humana, o mais sanguinario e despotico, querendo impôr-se aos devotos com as baterias da sua colera, tem na vida um largo cadastro de crimes, ameaças, e vinganças.
Confirman-no os «livros santos», a boa imprensa, e piedade inconsciente dos seus servidores.
O estado mystico e mataphysico d'um povo está na razão directa da sua ignorancia.
Quanto mais escravisado estiver a preconceitos, tanto melhor para o padre que consegue verga-lo a todas as mentiras, incutir-lhe todos os terrores do sobrenatural."
(Excerto do Cap. VIII, O Deus de Roma)
Matérias:
Prologo. | I - Auto-biographia. II - Psychologia do padre. III - Bullas. IV - Indulgencias. V - Egreja e Estado. VI - Bens d'alma. VII - Politica e Religião. VIII - O Deus de Roma. IX - Socialismo catholico. X - Pelo confessionario. XI - Baptismo. XII - Eucharistia. XIII - Culto dos santos.
Alexandre Lopes Barbas (1884-1958). Republicano radical. Jornalista, professor e escritor. Natural de Rio Torto, Gouveia. Por vontade materna passou três anos no seminário. Em 1909 vem para Lisboa onde fez o curso liceal num ano. No ano seguinte inscreve-se no Curso Superior de Letras que concluiu, tendo lecionado no Colégio Universal para fazer face às despesas. Colaborou clandestinamente n'O Combate desde 1904, ainda enquanto seminarista. Foi chefe de redacção duma revista - A Tutoria - com a colaboração de Magalhães Lima, João de Barros e Trindade Coelho, entre outros.
Exemplar brochado, impresso sobre papel encorpado, em bom estado de conservação.
Muito raro.
Com registo na BNP, mas sem informação técnica.
Indisponível