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05 janeiro, 2025

BRANDÃO, Mário -
O PROCESSO NA INQUISIÇÃO DE MESTRE JOÃO DA COSTA.
Publicado por... Vol. I. Coimbra, Publicações do Arquivo e Museu de Arte da Universidade de Coimbra, 1944. In-4.º (26x18 cm) de [8], 374, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Importante contributo para a História da Inquisição Portuguesa. Este volume I é tudo quanto foi publicado a este respeito.
João da Costa (1511?-?). Natural de  Vila Nova de Portimão, Algarve. Mestre, proprietário de uma livraria. Estatuto social: cristão-velho. Acusado e preso a mando da Inquisição por heresia. Data da prisão: 13/08/1550. Sentença: auto-da-fé de 29/07/1551. Abjuração de veemente, ir para um mosteiro onde terá cárcere a arbítrio dos inquisidores, instrução na fé católica, pagamento de custas. O réu foi morador em Paris onde estudou Artes, Grego e Teologia, de onde se ausentou para Hubernia, "com licença de mestre Diogo de Gouveia", e Bordéus, onde esteve em Leis, graduou-se mestre em Artes e bacharel em Leis, foi doutor regente na universidade de Bordéus em Filosofia e presidente do Colégio de Bordéus e doutor e regente perpétuo da Universidade, onde era reitor três meses por ano. O rei escreve-lhe em 1546, para que viesse para Coimbra com mestre André. Regressou em 1547 e trouxe consigo alguns franceses. Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, processo n.º 9510.
(Fonte: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2309656)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
25€

03 setembro, 2024

CASTRO, Augusto de & LUCIO, João - ATÉ QUE ENFIM!... Peça em 1 prologo e 8 quadros, escripta expressamente para ser representada na recita de despedida do Curso do 5.º anno theologico-juridico de 1901-1902. Coimbra, Typographia França Amado, Abril de 1902. In-8.º (21,5x14,5 cm) de 198, [6] p. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original da peça de fim de curso dos autores - Augusto de Castro, advogado e dramaturgo, e João Lúcio, advogado e poeta algarvio - obra não muito referenciada na sua bibliografia.
Exemplar muitíssimo valorizado pela dedicatória de Augusto de Castro, datada de 1902, a Aníbal Beleza (1876-1949), conhecido político e causídico travanquense, com autógrafo dos dois amigos.
"Esta peça foi escripta para viver apenas o espaço d'uma noite. Como arte, tem talvez todos os defeitos que fazem uma obra inferior: falta-lhe a unidade, a sobriedade, a forma. Mas os seus auctores vêm publical-a... Porque?
Em primeiro logar, pela recordação, pela suavissima saudade que estas paginas representam. N'ellas fica toda essa errante phantazia, toda essa vida dispersiva de troça e insubmissão que, durante cinco annos inolvidaveis, fez a mais viva parte da estreita camaradagem dos auctores. Vida passada a rir, entre a blague e o sonho, essa alegre e imprevidente musa da Troça a conduziu!...
Em segundo logar, têm ainda os auctores a vaidade de suppor que não será de todo inutil a publicação d'esta peça. Se muito lhe falta, como arte, algumas qualidades tem todavia, como obra de espirito que pretende ser: a expontaniedade, a mocidade, a irreverencia. E n'um paiz de submissos, de conselheiros e de tristes, talvez estas paginas de despreoccupação e de riso possam merecer a benevolencia d'um publico habituado a desalentos desde a cozinha até á litteratura."
(Excerto do preambulo)

Scenario: A Porta Ferrea, com a esquina á D. onde se pregam os cartazes.
O affixador de cartazes entra, trazendo uma escala e um cartaz da peça e, emquanto colloca a escada, vae dizendo no tom vago de quem falla para si proprio:

"A récita dos rapazes
Tem-me dado uma massado!...
Comecei a pôr cartazes
Ao romper da madrugada.

Hoje é dia de alegria
P'ra quem seja quintanista...
Estão por cá as familias:
Têm as noivas á vista...

Representam, gosam, riem,
Ou então vão namorar...
E dizem-se entristecidos
Por Coimbra irem deixar.

N'um tom levemente ironico:
Saudades e desgostos...
- Isto nunca foi verdade!...
Com convicção:
Uma terra como esta
Provoca lá saudade!...

De manhã teem as aulas,
De noite são as licções:
O pouco tempo que resta
É para as dissertações.

Vêm p'ra cá tão alegres,
Rindo, cheios de vigor;
Mas as capas e sebentas
Tiram-lhes risos e côr!

Depois, ao voltar a casa,
Vão fracos e incapazes
Com intenção:
O estudo e as serventes
Estragam muito os rapazes."

(Excerto do Prologo)

Augusto de Castro Sampaio Corte-Real GCC • GCSE • GCIH • GOB (Porto, 1883 - Lisboa, 1971). "Mais conhecido por Augusto de Castro, foi um advogado, jornalista, diplomata e político com uma carreira que se iniciou nos anos finais da Monarquia Constitucional Portuguesa e se estendeu até ao Estado Novo. Escritor, jornalista e diplomata, foi um dos mais destacados publicistas do Estado Novo, ganhando notoriedade como comissário da Exposição do Mundo Português, em 1940."
(Fonte: Wikipédia)
João Lúcio Pousão Pereira (Olhão, 1880-1918). "Foi um poeta português, sobrinho do pintor Henrique Pousão. Vulgarmente relegado para a categoria de poeta local (considerado o expoente maior da poesia olhanense) ou de poeta regional (nomeadamente devido à sua obra O Meu Algarve), João Lúcio esteve, porém, à altura dos grandes nomes da Renascença Portuguesa, embora o seu voluntário afastamento dos grandes centros culturais do país tenha contribuído para tais definições limitadoras. Figura prolífica, começou com apenas 12 anos a publicar os seus primeiros versos (no extinto periódico O Olhanense). Enquanto estudante no Liceu de Faro, fundou e dirigiu um jornal literário intitulado O Echo da Academia. Acabados os estudos em Faro, decidiu ir para Coimbra estudar Direito, em 1897, onde conhecerá e se tornará amigo de figuras brilhantes como Teixeira de Pascoaes, Augusto de Castro, Alfredo Pimenta, Afonso Lopes Vieira, Fausto Guedes Teixeira e Augusto Gil. Destacando-se no meio de tal plêiade, João Lúcio colabora com poesias suas em diversos jornais e revistas literárias nacionais (fundando inclusive, em 1899, um quinzenário intitulado O Reyno do Algarve), até conseguir finalmente, em 1901, publicar o seu primeiro livro, Descendo, aclamado com louvor pela crítica da época."
(Fonte: Wikipédia)
Preciosa encadernação meia de pele com cantos, e dourados gravados nas pastas e na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Capas algo manchadas.
Muito raro.
Peça de colecção.
85€

29 agosto, 2024

NUNES, Sousa - MOURAS E MOUROS E SUA EXPULSÃO DO ALGARVE : romance histórico. Lisboa, Depositária Livraria Popular de Francisco Franco, 1950. In-8.º (18,5x12 cm) de 189, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante romance histórico cuja acção reporta ao reinado de D. Afonso III e aos esforços do monarca para a conquista definitiva do Algarve, dando forma às fronteiras do país que prevalecem até hoje.
"Dom Sancho I, reunindo um grande exército, cujo comando entregou a seu cunhado, o conde Dom Gonçalo Mendes de Sousa, mais conhecido por Conde Sousão, marchou sobre a capital do Algarve a que pôs cerco, com o auxílio de uma armada de cruzados dinamarqueses, flamengos, holandeses e frígios, em 1189.
Silves ou Chelb capítulou, depois de uma resistência a todos os títulos heróica, perante um inimigo tão numeroso. A generosidade do rei lusitano quis conceder a um vencido tão pertinaz a regalia de retirar com  todos os seus haveres, mas não lho consentiram os aliados, a que Dom Sancho se viu obrigado a expulsar da cidade à força das armas, depois mesmo de a terem pilhado!
Assegurada a posse desta, o monarca retirou para o Alentejo, tomando na sua passagem várias povoações e castelos, enquanto seu filho, Dom Martim Sanches, deixado por governador, se apossava de quase todo o Algarve ocidental.
A perda de Silves não podia deixar de ferir o coração do Emir Almuad Iacub El-Mensor que, recebendo a notícia do desastre, constituiu um exército em África e caiu sobre o Algarve, sitiando a capital, que as forças de Dom Martim defenderam com denodo. Sem se obstinar diante dos seus muros, para que não houvesse tempo de ser socorrida, o emir internou-se no seio do país, pondo tudo a ferro e a fogo, na sua passagem."
José de Sousa Nunes. Pouco foi possível apurar a respeito do autor. Natural de Angra do Heroísmo(?)/Algarve(?), com bibliografia impressa nessa cidade insular. Escreveu também sobre assuntos algarvios.
(Excerto do Cap. I)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa apresenta sujidade marginal. Assinatura de posse datada na f. ante-rosto.
Raro.
50€

19 maio, 2024

GARCIA, Joaquim -
BARCA-VOLANTE : arte de pesca de lançamento circular.
Privilegiada por Alvará Regio. Tavira, Typ. Burocratica, 1885. In-8.º (20,5x13,5 cm) de 31, [1] p. ; [1] f. desdob. ; B.
1.ª edição.
Inovadora arte de cerco, ou de lançamento circular, desenvolvida no Algarve, que pretendia reunir o melhor de várias artes de pesca, incluindo os "galeões", técnica desenvolvida com bons resultados pelo país vizinho, mas dispendiosa e não totalmente adequada à faina portuguesa.
Esta curiosa monografia - muito rara - foi concebida e mandada imprimir por Joaquim Garcia, o proprietário do "privilégio régio" (detentor exclusivo deste empreendimento pesqueiro), na Tipografia Burocrática (1882-1912), inovador projecto tipográfico tavirense de João Gil Pessoa, primo direito do pai de Fernando Pessoa. É de realçar a consciência ambiental do autor, expressa na preocupação que o "varrimento" do fundo mar com artes de pesca desenvolvidas para o efeito causa ao ecossistema, e as graves consequências daí resultantes para o futuro das pescas.
Ilustrado no final com desenho esquemático de grande dimensões (58x55 cm) representando o funcionamento da Barca-volante.
"Quando se examina a carta da Europa, reconhece-se facilmente que Portugal é, em relação á sua população e á sua area, uma das nações d'esta parte do mundo que dispõe de maior extensão de costa maritima. [...]
Desde a Ponta de S.to Antonio, junto á foz do Guadiana, até Caminha, em todas as zonas departamentaes, ha numerosos pontos apropriados ao exercicio da pesca; aos quaes, ora n'uns ora n'outros, concorre todos os annos bastante pescaria; e mais concorrerá, de certo, se alguma vez se pozerem em pratica todos os meios preventivos, que se oppozerem á devastação dos prados submarinos, e á retenção e destruição da massa embryonaria proveniente da desova fecundada e dos numerosos cardumes de peixes pequenissimos, cuja extincção é uma das causas que mais poderosamente concorre, para o escasseamento da pesca domiciliaria e de arribação em alguns dos nossos districtos maritimos. Apezar, porém, do inestimavel valor d'essa riqueza que a provida mão da natureza tão generosamente nos proporciona, temos deixado jazer no mais deploravel estado de atrazo, a industria que tem por fim o emprego dos meios destinados ao aproveitamento de tão magnifica fonte de producção."
(Excerto de Duas palavras)
Indice:
I - Duas palavras. II - Artes de cêrco. III - Galeões. IV - Barca-volante. V - Armação do apparelho e seu lançamento ao mar.. VI - Barcascas ou artes de chavega. VII - Comparação entre a barca-volante e as barcas actuaes ou artes de chavega. VIII - Comparação entre a barca-volante e os galeões. IX - Differenças economicas entre a barca-volante e os galeões. X - Companhas. XI - Observações geraes.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Contracapa apresenta secção de papel que aí esteve colado.
Raro.
Com interesse histórico e regional.
45€

03 janeiro, 2024

CORDEIRO, Arsénio -
PESCA GROSSA EM PORTUGAL.
[Por]... Do Conselho Técnico do Clube dos Amadores de Pesca de Portugal e Federação Portuguesa de Pesca Desportiva. [S.l.], Junta de Turismo de Cascais, 1950. In-4.º (24,5x19 cm) de 31, [3] p. ; [3] f. il. ; B.
1.ª edição.
Importante contributo para a história da pesca grossa entre nós, publicado numa época em que o país dava os primeiros passos para a divulgação deste desporto, e de que este trabalho é exemplo. Inclui no final pequeno resumo em inglês.
"Até 1950 não há registo de capturas de espadartes por pescadores amadores em Portugal. Em 30 de Outubro de 1954, Manuel Frade pesca o primeiro exemplar desta espécie, com 153 quilos, nas águas de Sesimbra. Seguiram-se as grandes pescarias de Arsénio Cordeiro (1910-1982), médico e professor catedrático que foi o grande responsável pela divulgação da pesca desportiva de alto mar em Sesimbra e, particularmente, desta espécie que se tornou numa referência gastronómica da vila e deu, inclusive, nome a uma unidade hoteleira."
(Fonte: https://www.sesimbra.pt/noticia-72/ultimos-dias-da-quinzena-do-espadarte)
Livro ilustrado com 6 figuras a p.b.  - impressas sobre papel couché - distribuídas por 3 folhas intercaladas no texto.
"Ao abordar  este assunto não podemos deixar de pensar que vamos falar sobre uma modalidade actualmente quase inexistente, mas cujas condições potenciais são de tal modo favoráveis que bem se pode afirmar termos até aqui desprezado uma riqueza colocada pela Providência a nossos pés.
Nem todos os países podem aspirar a incluir no seu arsenal turístico aquilo a que os anglo-saxões chamam o Big-Game Fishing, pois que a captura de peixes gigantes com cana e carreto está naturalmente condicionada pela existência dos mesmos em local acessível. [...]
Dum modo geral pode dizer-se que sempre há possibilidades de big-game, elas são exploradas ao máximo, mesmo em locais, como a Inglaterra, em que as áreas de pesca ficam a 50 ou 70 milhas dos portos mais próximos. Em toda a parte se procura desenvolver a pesca grossa. Em toda a parte menos cá!
O objectivo deste trabalho é pois o de contribuir com a nossa magra experiência pessoal para pôr o problema em equação, procurando estabelecer como premissas iniciais:
1) O conhecimento das nossas possibilidades no que respeita a peixes de desporto;
2) A delimitação de zonas com características próprias e interesse turístico;
3) Os requisitos necessários para tornar possível o aproveitamento desportivo e turístico dessas zonas e desses peixes."
(Excerto do preâmbulo - Considerações prévias)
Índice:
Consideração prévias | I Parte - Peixes de desporto da costa portuguesa: 1.º ) Anequim; 2.º) Atum; 3.º) Espadim; 4.º) Espadarte. II Parte - Zonas de pesca grossa: 1.º - Zona de Peniche - Berlenga: a) Mar do Cerro ou Mar do Sudoeste da Berlenga; b) Baixa da Corredoura; c) Farilhões - Mar dos Farilhões - Mar da Belatina; 2.º - Zona de Cascais - Sesimbra; 3.º - Algarve - Zona de Faro - Tavira. III Parte . Futuras investigações: 1.º) Equipamento; 2.º) A equipa de pesca; 3.º) Forma prática de realização. | Resumo e Conclusões | Summary | Bibliografia.
Arsénio Luís Rebello Alves Cordeiro (Lisboa, 1910-1982). "O Prof. Arsénio Cordeiro é considerado uma das figuras mais proeminentes da Medicina Portuguesa da segunda metade do século XX, devido às suas qualidades como clinico, investigador, professor, pedagogo, pela sua personalidade e carácter impar e multifacetada, percorrendo diversas áreas, desde a medicina até às inúmeras práticas desportivas. Especializou-se ainda em Medicina Desportiva, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, visitando Roma, Bolonha, Berlim e Hamburgo.  Empenhou-se em várias especialidades da medicina como em Medicina Interna, Cardiologia, Medicina Desportiva, Medicina do Trabalho e Medicina Aeronáutica, tendo participado em inúmeros congressos internacionais nestas áreas.  Foi nomeado Professor Catedrático de Patologia Médica, em 1958 e de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1964.  Para além de ter sido desportista de enorme mérito, distinguiu-se como campeão nacional de esgrima e espada em 1939, obtendo o record europeu da pesca do espadim branco e nos anos de 1955 e 1958, na pesca do espadarte.  Foi pioneiro da prática de esqui na Serra da Estrela. Participou também em outras atividades como a caça, remo e hipismo, tendo sido sócio e representado várias associações venatórias e piscatórias."
(Fonte: https://www.medicina.ulisboa.pt/newsfmul-artigo/89/viagem-vida-do-prof-arsenio-cordeiro)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
Com interesse histórico e desportivo.
50€

29 setembro, 2023

MENDONÇA, Henrique de -
REINO DOS CÉOS : romance
. Porto, Empreza Litteraria e Typographica - Editora, 1904. In-8.º (18,5 cm) de 443, [5] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante romance provinciano cujo acção decorre no Algarve, entre Albufeira e Boliqueime, tendo início pouco tempo antes do casamento entre duas conhecidas figuras do meio local, -Amélia e Filipe, - noivos de longa data. Um terceiro elemento - João da Silveira -, aristocrata algarvio residente em Lisboa, vem "baralhar" os sentimentos da moça.
Dois capítulos do livro incluem descrição das festas da Senhora das Dores, em Boliqueime, com o seu "carro triumphante" (carro de mulas enfeitado a papel de cor, iluminado com balões venezianos, transportando um coro composto por um grupo de raparigas vestidas de branco), as loas e a procissão em honra da Virgem, configurando tudo um elevado interesse histórico, regional e etnográfico.
Quanto ao autor - Henrique de Mendonça (não confundir com Henrique Lopes de Mendonça), pouco (ou nada) foi possível apurar. A BNP dá conta de algumas obras de teor africanista de "um" Henrique José Monteiro de Mendonça (1864-1942), empresário e proprietário colonial, não sendo possível, no entanto, garantir que é a mesma pessoa. Será natural do Algarve? O conhecimento da região e suas tradições evidenciam, no mínimo, uma forte ligação ao sul do país.
"Como a manhã estivesse muito clara, d'uma transparencia lendaria, Amelia abriu as janellas de pár em pár. Debruçou-se; aspirou longamente o ar, com desejo, voltou-se para dentro exclamando:
- Que lindo dia, mamã!
Dentro ouviu-se um rumôr de saias sacudidas. E depois d'um curto silencio uma voz ergueu-se, num suspiro:
- é verdade! Está um céo lindo...
Amelia levantou os olhos sorrindo. No espaço claro, cendrado, nuvens dormiam. Cahia do alto, rijamente, um calôr abafado. Pela rua estreita, enodoada, batia um sol largo e vivo. A cal das paredes faiscava, cheia de cõr, derramando luz. Na fachada da casaria, rasgada de manchas brancas, os predios fronteiros, assomados a nascente, talhavam polygonos, sombras negras e esquadradas. [...]
Naquelle momento, encostada de leve ao parapeito, a palma da mão apoiando a face, os olhos em vão, a attitude de Amelia resplandecia e graça. Era com effeito muito linda. O rosto, ovalado, sonhador, evocando bellezas subtis, traduzia serenas recordações, illuminando sempre por um sorriso leve, que mais levemente lhe desatava os labios immateriaes. Era loura, e era magnifica. Os cabellos abundantes, soltos pelas espaduas áquella hora da manhã, humidos ainda do banho, emolduravam-lhe o rosto claro numa áuréola d'ouro, em fios d'ouro, em molhos d'ouro. Era d'essas mulheres louras de quem se diz que teem faces como rosas, de tal forma a sua côr é transparente, fresca e macia."
(Excerto do Cap. I)
"O dia da Senhora das Dores surgiu limpido, luminoso, d'um azul claro e firme, banhado de um sol macio que não ardia, e punha nos campos, nos arvoredos, extensas manchas doiradas.
E essa tarde, esperada com attenção por Elisa e por Amelia chegou finalmente. Tinham assentado para assistir á festa, em Boliqueime, reunirem-se á porta de Amelia, e d'ali partirem, gozando o ar doce e avelludado do cahir do dia. A entrada na aldeia, ao anoitecer, ao relampejar dos primeiros foguetes, seria assim deslumbrantemente agradavel. E por toda a noite, do terrasso do velho prior, assistiriam á festa, vendo o fogo, ouvindo a musica, o povo, a gritaria, emquanto que sobre as suas cabeças as estrellas tranquillamente brilhariam na pureza immaculada do céo azul do Algarve."
(Excerto do Cap. IV)
Encadernação recente em meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

17 julho, 2023

CABRITA, António Alves - DIÁRIO DE UM PESCADOR NA PESCA DO BACALHAU. Corroios, Edição do autor, 2021. In-8.º (21 cm) de xiv, 120, [2] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Memórias do autor, pescador de dóri, na «Faina Maior». Trata-se do seu "diário" composto por inúmeros episódios - relatos fieis - das campanhas da pesca do bacalhau em que participou. Inclui no final glossário de termos utilizados na pesca do "fiel amigo".
Livro ilustrado no texto com fotografias a p.b. e a cores.
Tiragem limitada a 210 exemplares.
"O meu pai sempre nos contou episódios e experiências da sua passagem pela pesca do bacalhau, e este «diário» com essas memórias é um sonho que ele há muito acalentava, e que agora se realizou. É um sonho, mas também é um testemunho vivido e escrito na primeira pessoa. Há várias publicações sobre a pesca do bacalhau à linha em que esta é descrita como uma epopeia, como um feito heroico e sobre humano. E sem dúvida que o foi! Mas também é verdade que essas descrições foram feitas da ponte de comando por capitães, por oficiais e por médicos. Talvez poucos pescadores nos tenham deixado por escrito o relato das suas experiências. Este é um testemunho da pesca do bacalhau mas que nos é relatado de dentro do dóri, e que talvez tenha por isso algum valor histórico.
Este «diário» conta-nos algumas histórias, mas muitas outras que ouvimos ao longo dos anos ficarão guardadas apenas na nossa memória: como eram as idas dos portugueses a terra na Gronelândia e na Terra Nova, o choque de culturas, as "aldrabices" com que os portugueses enganavam os esquimós, etc."
(Excerto de Prólogo)
"Para a construção da cultura, da identidade, da imagética e da perceção que as comunidades piscatórias têm de si próprias, a pesca do bacalhau, designadamente no contexto da ditadura do Estado Novo, foi determinante.
Para os membros destas comunidades, os relatos que entremeavam a dor, o sofrimento e a gestão das ausências com os feitos heroicos das grandes pescarias, com os dóris "a um palmo fora de água" de tão carregados, eram uma constante nos serões, à mesa das refeições ou nas tabernas durante os períodos em que era possível habitar esse espaço estranho e de múltiplos perigos para os homens do mar - a terra firme. [...]
O pescador António Alves Cabrita, de Armação de Pera - Algarve, presenteou-nos com esta descrição minuciosa e crua de uma realidade que, em muitos aspetos, foi tremendamente desumana."
(Excerto de Prefácio - Administração da Mútua dos Pescadores)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Esgotado.
35€

25 junho, 2023

MACHADO. F. Falcão -
COIMBRA NA OBRA POÉTICA DE CÂNDIDO GUERREIRO. Separata do jornal «O Algarve». Lisboa, Depositária A Bôlsa do Livro, 1944. In-8.º (22 cm) de 10 p. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante ensaio sobre Cândido Guerreiro (1871-1953), conhecido advogado, poeta e dramaturgo algarvio, e a sua ligação a Coimbra.
Opúsculo valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao "S. Ex.mo amigo" Alfredo Mota.
"Cândido Guerreiro, ilustre Poeta algarvio, nascido em Alte a 3 de Dezembro de 1871, dedicou algumas composições suas a Coimbra, razão da presente e despretenciosa investigação da influência do ambiente coimbrão na sua obra.
A obra de Cândido Guerreiro, artista inimitável e inexcedível da forma poética trazida por Sá Miranda, já o sr. dr. Joaquim Magalhães, em artigo publicado - no jornal O Algarve, em 29 de Agosto de 1943, a caracterizou em termos tais que, por concordância, aqui transcrevo, no essencial:
«Cândido Guerreiro não foi e não é um renovador dentro da linha de evolução da poesia portuguesa. Não lhe deu novos rumos, não lhe abriu horizontes diferentes ou lhe indicou caminhos ignorados. O seu caso é bem pessoal e, por assim dizer, à parte»... e, na sua obra, «compreende-se a incompreensão do autor por grande parte de tôda a moderna poesia portuguesa, que segue, com as últimas três gerações, ideais estéticos e humanos estruturalmente diferentes dos seus».
«Cândido Guerreira ficará na nossa literatura como exemplo feliz e luminoso de perfeito sonetista»... «o joalheiro do soneto»... e, «atraído pelas dificuldades do soneto, adopta-o como expressão preferida das suas emoções»... «e é nos moldes mais perfeitos, nas formas mais bem acabadas, que extravasa as suas impressões transfiguradoras num anseio nunca traído da perfeição e serenidade clássicas»... «Cândido Guerreiro cristaliza no soneto, quási invariàvelmente, a sua emoção perante a beleza. Aceitou uma forma poética consagrada, adoptou-a com inalterável fidelidade e tem.na cultivado com esmerada e inesgotável persistência»."
(Excerto do ensaio)
Fernando Falcão Machado (Coimbra, 1904 - Porto, 1993). Nasceu em 28 de Maio de 1904 no Largo da Castelo, Coimbra. Professor e publicista. Casou com Maria Ana Cabedo Garcia, natural de Setúbal. Publicou trabalho de temática diversa - etnográfica, sociológica, geográfica, etc. - relacionada sobretudo com a zona de Coimbra, de onde era natural, e Setúbal, a sua cidade por adopção. Faleceu em 23 de novembro de 1993 na freguesia de Paranhos, Porto (89 anos de idade).
Exemplar em brochura, bem conservado. Capa apresenta tonalidades diferentes por acção da luz.
Invulgar.
10€

02 junho, 2023

GRUTAS DO CERRO DA CABEÇA.
A «Gruta da Senhora», para possível aproveitamento turístico.
Por um grupo de Jovens Espeleólogos. [S.l.], [s.n. - Composto e impresso nas oficinas da Empresa Litográfica do Sul, S. A. R. L. - Vila Real de Santo António], 1985. In-8.º (22 cm) de 14 p. ; [1] f. il. ; [1] f. desdob. ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Monografia de propaganda à Gruta da Senhora, cavidade que integra o importante conjunto espeológico algarvio do Cerro da Cabeça, em Moncarapacho - Olhão.
Opúsculo ilustrado com duas fotografias da gruta em página inteira, e duas folhas separadas do texto: o desenho esquemático da gruta e, em folha desdobrável (21x30 cm), o "Esboço Topográfico" (1/1000) da mesma gruta.
"O Cerro da Cabeça (249 m) é a elevação mais oriental da Serra de Monte Figo. Localiza-se na freguesia de Moncarapacho, concelho de Olhão. Esta elevação calcária é considerada pelos geólogos um monumento natural, devido ao valor das suas formações cársicas. A sua superfície encontra-se ocupada pelo maior lapiás do sul do país, e as suas grutas têm um elevado valor ambiental, servindo de abrigo a diferentes espécies de morcegos. Para além disso, são muito procuradas pelos amantes da espeleologia. Do património etnográfico da região fazem parte várias lendas que associam as grutas deste cerro a mouros e a mouras encantadas e a passagens secretas. De destacar ainda o seu património botânico, encontrado-se revestido pelo maquis, típico do Barrocal algarvio. A sua vertente sul constitui um excelente miradouro do qual é possível vislumbrar a metade oriental do litoral algarvio."
(Fonte: Wikipédia)
"Trata-se de uma cavidade subterrânea, formada nos calcários do Jurássico, sita na base do Cerro da Cabeça, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Moncarapacho, freguesia de Moncarapacho, concelho de Olhão.
É uma gruta de médias dimensões, formada a partir de fissuras e fendas de plano vertical e horizontal, nos estratos calcários que compõem o solo desta região. A sua orientação é sensivelmente a Sudoeste-Nordeste, possuindo no entanto outras galerias com direcção diversa."
(Excerto de A «Gruta da Senhora», para possível aproveitamento turístico)
Índice:
Introdução. | A «Gruta da Senhora», para possível aproveitamento turístico |Condições a impor na cavidade, para um futuro aproveitamento turístico: 1. Iluminação; 2. Condições de visita; 3. Conservação do meio ambiente; 4. O percurso turístico.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas oxidadas.
Raro.
Sem registo na BNP.
Com interesse histórico e regional.
15€

16 maio, 2023

RECORDAÇÕES -
Á MEMORIA DO NOSSO QUERIDO FILHO ANTONIO CORRÊA MEXIA DE MATTOS
Nascido em Loulé no dia 5 de junho de 1891 e fallecido em Lisboa no dia 5 de novembro de 1911. Fallecido quasi á mesma hora em que tinha nascido com muito poucos minutos de differença. Dedicam Seus inconsolaveis paes. [S.l.], [s.n. - Typ. «A Editora Limitada» - Lisboa], [1912]. In-8.º (19,5 cm) de XIII, [1], 190, [2] p. ; [1] f. il. ; E.
1.ª edição.
In memoriam do jovem louletano António Correia Mexia de Matos patrocinado por seus pais, com a colaboração de amigos e admiradores do malogrado escritor.
Obra fora de mercado, para oferta, por certo com tiragem reduzidíssima, ilustrada em separado com um retrato de António de Matos. Trata-se do repositório de crónicas e artigos dispersos do jovem prosador sobre os mais diversos assuntos - sobretudo relacionados com o "seu" Algarve - com uma verve e desassombramento incomuns para a idade. Destaque para o "sentimento" posto no retrato do Fado - a canção nacional -, e na descrição da Coimbra estudantil.
Exemplar autografado pelo pai do escritor com dedicatória pungente a Carlos Cândido Pereira, condiscípulo de seu filho.
"Foi tão cruciante a dôr que sentimos ao ver evolar-se para sempre de ti o sopro da vida que te animava; foi tão rude o golpe vibrado ao nosso coração de paes, que tanto te idolatravam, que por algum tempo ficámos aturdidos e alheios a tudo o que que nos cercava... [...]
 Porque é que, contando apenas vinte annos, havias de desaparecer para sempre d'este  mundo d'enganos, sendo, como eras, um carinhoso filho, um irmão extremoso e um dedicado amigo?! [...]
Como piedosa homenagem á tua memoria, as produções litterarias que deixaste dispersas em varios jornaes e outras ineditas, colligimos neste livro, que não é destinado á venda publica, mas sim para ser offerecido aos teus e nossos amigos e, por isso, estes desculparão quaisquer incorrecções que nelle encontrem, porque têem que atender a que foram escritas, uma grande parte, em tenra edade e quando os teus conhecimentos litterarios oficiaes não iam alem do terceiro anno do lyceu e todas ellas dos quatorze aos vinte annos e do primeiro ao sexto anno do curso do lyceu.
Reunimos tambem a opinião da imprensa e de alguns amigos, a teu respeito. [...]
Nas regiões misteriosas para onde tão permaturamente partiste recebe esta singela homenagem e com ella as muitas lagrimas e saudades de teus desditosos paes."
(Excerto de Carta ao nosso filho)
"Se ha musicas que fazem vibrar na noss alma todos os sentimentos que possuimos, o fado é incontestavelmente uma d'ellas.
A italia com as suas affamadas operas; a Hespanha com as suas caracteristicas zarzuelas não interpretam melhor a psychologia dos seus povos, do que Portugal com o Fado.
Porque o fado, essa canção caracteristicamente portugueza, é acolhida com impetos de entusiasmo onde quer que se oiça e n'esses impetos parece que vae toda a alma dum portuguez, desfeita em pedaços, pelas vibrações mobidas do tanger duma guitarra. Sim, o fado é ouvido em toda a parte com os mesmos estuosos arrebatamentos, desde o mais sumptuoso palacio, onde, nas rumorosas abobadas, ecôam as suas notas, até á mais humilde mansarda, onde ellas se espalham, deixando no ar uma sonancia dolencia.
O fado tem o poder magico de interpretar os sentimentos da dôr, ou da alegria, que enlaceiam uma alma, pois que elle tangido languidamente numa guitarra faz percorrer no nosso corpo fremitos de estonteamento e produz-nos nevroses que, desaparecendo, deixam-nos emergidos numa doce e suave lethargia.
Elle, umas vezes, vem acompanhado d'alegria e vivacidade, outras vem envolvido em tristeza e melancolia; mas, quer venha duma maneira, quer doutra, o fado arranca-nos sempre expressões de enthusiasmo e sabe incutir-se na alma, ora arrebatadora, ora melancolicamente. [...]
Eu nunca me hei-de esquecer do conjuncto de linhas phisionomicas que apresentava o rosto dum misero cego que n uma feira tocava o fado numa guitarra velha. Cada desferimento dos seus dedos sobre as cordas, parecia vir acompanhado dum rajo de luz, soltos desses olhos, onde pairava para sempre o espesso nevoeiro da desgraça..."
(Excerto de O Fado)
Encadernação inteira de percalina com ferros gravados a seco e a ouro na pasta anterior e na lombada. Conserva a capa de brochura, que foi colocada depois da f. ante-rosto, precedendo a f. rosto.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Manuseado.
Raro.
35€

19 abril, 2023

NEMÉSIO, Elias -
GENTE DA SERRA.
Ensaio, sôbre o casamento, emmoldurado em quadros rústicos. Faro, Tipografia "União", 1931. In-8.º (21,5 cm) de [16], 270, [2] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Romance-ensaio em que o autor - "serrano" algarvio - se propõe analisar o casamento sob o ponto de vista dos valores tradicionais, da moral e dos bons costumes. Raro e muito interessante.
Livro ilustrado com bonitas gravuras assinalando o início e final de cada um dos 17 capítulos.
O assunto, que me propús estudar, o matrimónio, interessa a quasi todos, sobretudo à gente nova. Que rapaz ou rapariga não terá perguntado anciosamente:
- Devo ou não devo casar?
Estudando êste assunto, ao-de-leve, não tive só em vista proporcionar leitura interessante, mas também dar conselhos aos novos, que pensam em mudar de estado e falam do casamento, com a cabeça um pouco no ar, com muita fantasia, através dum céu límpido de noivado...
A matéria é vasta, desde o namôro, a parte poética, até aos deveres dos cônjuges e à grande e tremenda responsabilidade da criação e educação dos filhos - fim último do casamento, segundo o conceito cristão. No estudo do matrimónio encontram-se questões muito delicadas. Devia fingir que as ignorava? Não está muito no meu feitio fingir. Além disso, por êsse Algarve fóra, nos combóios e nas camionetas, onde quer que concorram rapazes e homens de poucos escrúpulos e até mesmo em reuniões de amigos defendem-se, eu sei, práticas opostas aos princípios da moral e aos interêsses da colectividade. E mesmo entre as raparigas, as raparigas que chegaram à idade de casar - diga-se a verdade! - quantas são as que não conhecem, teoricamente as questões melindrosas do casamento?
Embora dos rapazes nenhum ignore o que vai encontrar nas páginas da Gente da serra (não sou tão pessimista como um velhote que me dizia: Estes negregados, os moços de agora, ainda não andam e já andam com malícia...) e das raparigas sejam raríssimas as que não o tenham aprendido em conversas com amigas mais velhas ou já casadas."
(Excerto de Carta-prólogo)
"Nem viv'alma passava pelas ruas ladeirentas e mal calcetadas da vila. O quarto crescente da lua desaparecêra já por detraz do Castelo. As lindas moiras encantadas, no dizer de pessoas antigas, pelas horas mortas da noite, saíam da cisterna e do corredor subterraneo que a ligava com a Fonte das Mentiras e, enquanto penteavam os seus lindos cabelos de agarenas, iam cantando a sua desdita, em melodias repassadas de tristeza e de saudade. [...] A noite ia envolvendo toda a vila no seu manto que aumentava a negregura á medida que a lua ia desaparecendo por detraz das muralhas velhissimas e torres esboroadas. Em todo o anfiteatro, tinham-se apagado as ultimas luzes. Apenas da janela do quarto de Júlio Fernandes, uma claridade mortiça, irradiando de um candieiro de azeite, saía a medo para o escuro da noite e espreitava os misterios daquele silêncio de necrópole. [...]
Sobre a ponte, com um pé fincado no parapeito e o cotovelo apoiado no joelho, José Costa, ou Zé Gordo, como era mais conhecido, olhava para o pégo, demoradamente. 
Adivinhava-se com facilidade que estava sofrendo nalma a amargura de quem se vê abandonado e, mais que abandonado, desprezado.
Quando o coração sangra, o fantasma da morte surge e, passando pelos olhos dos infelizes numa vertigem, procura seduzi-los, arrastá-los, prometendo-lhes alivio ao duro sofrer..."
(Excerto do Cap. I)
Manuel Francisco Pardal (Aljezur, 1896-1979). "Foi um religioso, professor e escritor português, sendo considerada a mais importante figura no concelho de Aljezur na época contemporânea. Ocupou altos cargos na Igreja Católica, chegando a ser nomeado Monsenhor pelo Papa João XXIII. Notabilizou-se como orador, tendo pregado em várias freguesias no sul do país, mas também em Lisboa, Fátima e Lourdes. Foi professor em Faro, no Seminário de São José, no Liceu Nacional, e na Escola Tomás Cabreira. Distinguiu-se igualmente como jornalista, tendo dirigido o periódico diocesano Folha de Domingo, onde escreveu durante cerca de meio século, e como escritor, tendo publicado três livros: Razões da minha razão, Menina das Águas Frias, e o romance Gente da Serra. Este último foi editado em Faro (1931), com o pseudónimo Elias Nemésio, e é um testemunho da vida quotidiana das populações no concelho de Aljezur no início do século XX, sendo considerada a sua obra principal."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura anterior.
Exemplar em bom estado de conservação. Capa apresenta falha de papel no canto superior direito.
Raro.
Indisponível

03 janeiro, 2023

A RIR : Album de anecdotas e bons ditos colleccionado por Agostinho Ferreira Chaves, Director-proprietario. Publicar-se-hão em cada mez duas cadernetas de 8 paginas. Faro, [s.l.], 1893-1894. In-8.º (21cm) de 384 p. (48 folhetos x 8 p.) ; il. ; E.
1.ª edição.
Curiosa revista quinzenal algarvia do género humorista; para além das anedotas e dichotes, oferece ainda aos leitores charadas, utilidades, romancetes e poesias. Publicada entre 15 de Junho de 1891 (n.º 1) e 1 de Setembro de 1895 (n.º 102).
O presente volume contém dois anos completos (1893-1894), do n.º 38 - 1 de Janeiro, 1893 ao n.º 85 - 15 de Dezembro, 1894.
Encadernação da época em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado. Páginas amarelecidas por acção do tempo. Mancha de humidade no canto inferior dto, transversal a toda a obra, sem no entanto prejudicar o texto. A 1.ª página do 1.º número foi recortada em cerca de 1/3.
Raro.
20€

22 dezembro, 2022

NORONHA, Eduardo de - O REMEXIDO.
Volume I [Volume II]
. Porto, Companhia Portugueza Editora, [1922]. 2 vols in-8.º (18 cm) de 201, [3] p. ; [1] f. il. (I) e 192 p. ; [2] f. il. ; [1] fac-sim. desdob. ; E. num único tomo
1.ª edição.
Biografia romanceada do Remexido (1796-1838), guerrilheiro algarvio leal a D. Miguel que manteve acesa a resistência absolutista no sul do país, mesmo após a Convenção de Évora-Monte, assinada a 26 de maio de 1834, acto que formalizou o termo da guerra civil (1832-1834).
Obra em dois volumes (completa) ilustrada em separado: No 1.º volume: uma estampa de D. Maria II. No 2.º volume: três estampas e um documento fac-símile, respectivamente, Marquez de Sá da Bandeira - Uma das suas ultimas photographias (repetida); O Remexido no momento da prisão - Copia de uma gravura da epocha; Fac-símile desdobrável: Proclamação dirigida aos portugueses pelo próprio Remexido no seu quartel “em as Serras” do Algarve, a 3-5-1837, em que se intitulava Governador do Algarve, Comandante em Chefe Interino do Exército do Sul e Brigadeiro dos seus Reais Exércitos.
"- Com que então alcunharam-te de Remexido por tanto teres trabalhado para demover a minha tyrannia, para alcançar o meu consentimento - dizia n'um tom entre ironico e maguado o prior de Alcantarilha para o sobrinho no dia do casamento d'este.
A responsabilidade da antonomazia pertence a Maria, a minha querida Maria - explicou com uma expressão de ineffavel felicidade Sousa Reis, abraçando n'um duplo amplexo a mulher e o tio.
- O peor - continuou o sacerdote - é que os amigos acharam graça á alcunha  já ninguem te chama Sousa Reis, é só Remexido para aqui, Remexido para alli.
Assim succedeu na realidade O sobrenome de tal modo se espalhou e popularizou que adquiriu vinculos de appelido. Mais tarde, quando uma abundante prole abençoou o enlace, os filhos accrescentaram á designação patronimica aquella que um dia tão tragica notoriedade havia de adquirir. [...]
Uma semana após o casamento, o prior de Alcantarilha chamou o sobrinho ao seu escriptorio, e disse-lhe: - Como te prometti, e ficou assente com o virtuoso prelado, bispo d'esta diocese, tratarás dos dizímos de S. Marcos e de parte dos e S. Bartholomeu pertencentes á mitra e ao cabido.
- Já sei, meu querido tio, vou eu pessoalmente proceder á cobrança junto com os creados.
- Esse negocio e outros  devem produzir o suficiente para viveres remediado..."
(Excerto do Cap. IX - O desembarque de D. João VI)
Encadernações recentes inteiras de percalina com ferros gravados a ouro nas lomabadas. Conservam as capas de brochura.
Exemplares em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
35€

02 dezembro, 2022

CAVACO, Faustino - VIDA E MORTES DE FAUSTINO CAVACO. Organização de: Rogério Rodrigues. Lisboa, Euroclube, 1988. In-8.º (21,5 cm) de 516, [4] p. ; C.
1.ª edição.
Memórias de Faustino Cavaco, conhecido assassino, assaltante de bancos, que na sua fuga da cadeia de alta segurança de Pinheiro da Cruz (Grândola), em 1986, deixou atrás de si um rasto de mortos e feridos.
"A 29 de Julho de 1986 [...] seis perigosos reclusos tinham conseguido fugir da cadeia de Pinheiro da Cruz, a vinte quilómetros de Grândola, deixando para trás três guardas prisionais mortos e outros dois feridos com alguma gravidade. [...] No interior do edifício, destruíram o rádio para impedir comunicações com o exterior e arrombaram o armeiro de onde tiraram quatro G3 e cinco pistolas. Três guardas que tentaram travar a fuga foram abatidos a sangue-frio e outro ficou ferido. Outros três foram feitos reféns e usados como escudo pelos cadastrados para chegarem ao exterior. [...] Pinheiro da Cruz demorou meia hora a alertar o posto da GNR mais próximo, situado a 25 quilómetros, por só haver uma linha telefónica. [...] No final do dia, havia uma certeza: aquela era a fuga mais sangrenta na história das prisões portuguesas."
(Fonte: https://observador.pt/especiais/faustino-cavaco-a-fuga-da-prisao-que-parou-o-pais/)
Inclui no final um glossário dos termos utilizados pela banditagem entre si.
"José Faustino Cavaco é o anti-herói. Ninguém que mereça a nossa piedade nem o nosso respeito. É o que foi um jovem que matou seis pessoas, por revolta, por medo, por vezes, gratuitamente.
Condenado à pena máxima pelos tribunais portugueses, marcado por humilhações, vexames e mesmo violências insuportáveis por parte do sistema prisional português, um universo contraditório e, com frequência, arbitrário, José Faustino Cavaco, encerrado, durante meses, na solitária de Coimbra, começou a escrever as suas memórias (curtas mas intensas), um morrer diário com vidas de ontem.
Com uma grande capacidade narrativa, capas de criar situações e desenvolver instantes e gestos com uma intuição e facilidade que não deixam de nos surpreender, este livro, a que eu tive acesso em primeira mão, num original de letra esguia, azul, angustiada, é um ajuste de contas com a vida, uma certa predisposição para não-viver.
Os seus protagonistas são crápulas e vulgares, volúveis e venais, sem gestos de honra nem actos de coragem, sem códigos nem organização, agindo sob as necessidades de momento.
Faustino Cavaco fez parte e um bando comummente conhecido por FP-27 que realizou mais assaltos a bancos, em Portugal, que qualquer outra quadrilha.
Mas não se pode dizer que pertencia a uma organização complexa, com núcleos estanques e apurados estudos de alvos a atingir.
Faustino Cavaco era um operacional de caçadeira de canos serrados. Fazia parte de um pequeno grupo que quatro ou cinco elementos, expressões nocturnas e excepcionais, de jovens perdidos na comunidade portuguesa, emigrada em França.
Foi por casualidade que o original me veio parar às mãos. Mais tarde encontrámo-nos na cadeia de Coimbra. E falámos sobe o livro. Faustino Cavaco parecia desejar muito pouco a vida. Era sua  obsessão que, dia mais dia menos, pode ser abatido. A sua única referência futura é o futuro da sua filha, a sua paixão,o único elo que o liga à vida. [...]
Não me compete emitir juízos de valor. Que cada um faça os seus. Penso, isso sim, que este desfilar de misérias, de sofrimento e grandes carências de toda a ordem, é um apelo à sensibilidade do leitor, à descoberta de um tempo quase único - de brusquidão, de ternura mortal, de infância às tiras, num universo onde só cabem os sobreviventes.
Mas as palavras de Faustino Cavaco falam por si.
Este é o seu último assalto, com tiros que não matam, mas doem."
(Excerto de Nota explicativa)
Índice:
Introdução. | A minha infância. | A minha ida para França. | A morte da minha mãe. | Um carrasco na pele da madrasta. | O «irmão» da minha ruína. | Regresso ao Algarve. | Regresso do meu pai. |! A morte do meu filho. | O princípio do meu fim. | O Pires chega de França. | Assalto ao banco de Beja. | A morte do Laginha e dos guardas-fiscais. | A GNR sem pistolas. | Assalto nas barbas da PJ. | Prisão do Michel. | Os últimos assaltos. | Dois de Janeiro de 1985 - O dia em que morri. | Pela primeira vez na prisão. | Entrada na Penitenciária. | O inferno de Pinheiro a Cruz. | A fuga para a morte. | Perseguição e captura. | As últimas horas. | Glossário.
Encadernação cartonada do editor.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e criminal.
Indisponível

06 julho, 2022

PARREIRA, José - CANTOS, MUSICAS E DANÇAS (escorço).
Por... Congresso Regional Algarvio
. Lisboa, Composto e impresso da Typographia da «Gazeta dos Caminhos de Ferro», [1915]. In-8.º (20,5x13,5 cm) de 16 p. ; B.
1.ª edição.
Tese apresentada ao Congresso Regional Algarvio.
Encontro histórico. "Além dos principais órgãos de imprensa nacional e regional, no congresso estiveram presentes alguns dos mais ilustres representantes da elite algarvia, habitando ou não no distrito, nomeadamente ministros, deputados, senadores, altos funcionários, académicos, cientistas, médicos, advogados, professores, engenheiros, agrónomos, militares, etc. [...]
As teses apresentadas [em número de 25] focaram especialmente o turismo, a indústria, o crédito bancário, a pesca e o ensino da pesca, as vias de comunicação, o ensino, a cultura, a tradição oral, o comércio, o clima, etc., confirmando ao mesmo tempo a intenção de servirem de base a futura legislação para enquadramento do que se viesse a projectar. [...]
Na ocasião foi anunciado um novo congresso, que teria lugar na cidade de Faro, durante o ano de 1918. Todavia, por razões que desconhecemos este nunca se chegaria a realizar."
(Fonte: https://www.jornaldemonchique.pt/o-congresso-regional-algarvio-de-1915-e-os-seus-reflexos-no-concelho-de-monchique-iii/)
Opúsculo raro, com o maior interesse histórico, etnográfico e regional, por certo, com tiragem reduzida.
"A paizagem falla á alma e falla ao espirito, creando n'elle como que um instrumento, que alheiadamente desferirá as notas tristes ou alegres, melancholicas ou joviaes: cahidas do céo, vindas das almas que em nossa alma fallam.
Que bellos cantos que nos campos algarvios se ouvem! Que toadas! A musica simples, cheia de singella e de despreoccupada arte, mas dizendo muito mais que, ás vezes, as preoccupadas lucubrações dos amaneirados compositores. É a ternura do céo passando para a ternura da voz; é a tepidez do ar temperando o coração; é o mar infinitamente azul alongando o sonho, n'um rasto de tristeza que até á vista se esfuma...
O canto no sul é como esse sul. Descamisando o milho, encaixando o figo, colhendo as uvas ou apanhando a alfarroba, a rapariga do campo canta, não para espantar seus males, mas porque refecte nas cambiantes do seu sentimento o que n'elle incute o mundo exterior. Fazei por as ouvir! A phantasia e o poetico! [...]

Quem não quizer ver mulher
Em outros braços rendida
Não a deixe um só momento,
Por toda a parte a persiga.

Mas coitadinha d'aquella
Que cae em boccas do mundo,
Que é como uma barca sem leme,
Que se anaga, e vae ao fundo!

Fazei por que o Algarve não se desregionalize. Em tudo, elle tem um caracter proprio e que merece ser apreciado e mantido.
Conserva a tua toada que te vem da Natureza; vella pela tua musica, que corda é dos instrumentos variados que em teu redor artistas naturaes te fabricam; não desprezes mesmo as tuas danças, mais quentes, mas d'um fino erotismo, que todas as lubricas, banaes e landanescas mornas..."
 
(Excertos da Tese)

Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Falha de papel na capa frontal, visível na foto publicada.
Raro.
25€