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23 outubro, 2024

VIANA, Mário Gonçalves -
AS CAVALHADAS EM PORTUGAL E NO BRASIL.
Ensaio de história comparada. Lisboa, [s.n. - Composto e impresso nas Oficinas Gráficas de Ramos, Afonso & Moita, Lda. - Lisboa], 1973. In-4.º (26x19 cm) de 38 p. ; B.
1.ª edição independente.
Separata do «Boletim Cultural» da Junta Distrital de Lisboa : Série III - N.ºs 75-78 - 1971/72.
Curioso ensaio histórico sobre as "cavalhadas", manifestações teatrais, normalmente inseridas em festas populares, que recreavam justas e torneios medievais, com uma ou outra deriva, dependendo do tempo e local onde eram (são) realizadas.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao Prof. Vergílio Fernandes da Silva Lemos.
"A Cavalaria, pletórica de vitalidade, procurava adaptar-se às condições sociais que iam surgindo com os novos tempos.
Teve, entretanto, fases típicas, que importa revocar:
- Época heróica: Carlos Magno;
- Época galante: Távola Redonda;
- Época artificial: Quixote de la Mancha.
Chegou, porém, o tempo que a Cavalaria se tornou uma instituição sem missão específica a cumprir, e, portanto, anacrónica.
Tantas e tão gloriosas eram as suas tradições, nas altas e nas baixas esferas, que ela não aceitou desaparecer; procurou, desesperadamente, sobreviver às novas e, para ela, adversas circunstâncias. [...]
A Cavalaria, querendo sobreviver à hora própria, evoluiu no sentido da degeneração e da democratização. [...]
Nas sociedades sadias, são os indivíduos das classes populares que procuram imitar os indivíduos das classes privilegiadas; nas sociedades doentes e corrompidas, o fenómeno é inverso.
Por isso, à medida que o povo, mercê do trabalho e da economia, enriquecia, começou, naturalmente, a tentar imitar os jogos e as diversões dos nobres.
Mas com o nem sempre os novos-ricos sabem copiar fielmente os modelos que procuram reproduzir, surgiram como bem se compreenderá, várias versões mais ou menos afastadas dos antigos e admirados torneios de Cavalaria toda poderosa. Estas versões foram, essencialmente, o resultado de três tipos de imitação:
- Imitação séria;
- Imitação joco-séria;
- Imitação burlesca.
A imitação séria foi, sem dúvida, a menos frequente, e por motivos vários: falta de meios económicos, falta de tempo, falta de exercitação física, falta de agilidade, falta de coragem, falta de inteligência, falta de capacidade organizadora, etc.
Nenhuma actividade aristocrática, complexa, longamente preparada, pode improvisar-se ao mesmo nível da actividade originária.
Além disso, o povo tende, de modo instintivo, a diminuir ou ridicularizar (conscientemente ou inconscientemente) as acções das classes elevadas. E fá-lo por despeito ou por incapacidade para as compreender, isto é, por escassez de formação moral, social ou intelectual; por falta de intuição, de sensibilidade e de delicadeza."
(Excerto do Ensaio)
Mário Gonçalves Viana (Lisboa, 1900 - Esposende, 1977). "Pedagogo, escritor e crítico literário, atividade que exerceu no Jornal do Comércio e Colónias e no Polígrafo. Foi professor e formador de professores. Foi, igualmente, autor de uma obra vasta nas áreas da pedagogia, psicologia e biografia. Refletiu, abundantemente, sobre os valores da educação e sobre a deontologia docente. Fez os estudos secundários em Coimbra, tendo-se licenciado em Direito na Universidade de Lisboa em 1923. De 1927 a 1930, foi redactor principal do Jornal do Comércio e das Colónias, de que era também crítico literário. Entre 1934 e 1936, exerceu o cargo de conservador do Registo Civil de Manteigas, tendo depois seguido a carreira de professor do ensino secundário em vários estabelecimentos de Viana do Castelo, Esposende e Porto. Colaborou no jornal A Voz, de Lisboa, com uma secção regular de Sociologia Agrária, e foi cronista e crítico literário do Diário do Minho, de Braga. Tem ainda colaboração sobre educação física, pedagogia desportiva e psicologia, dispersa por jornais e revistas de Portugal, Brasil, Uruguai, Chile, Itália, França e Espanha."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa oxidada, manchada à cabeça.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e etnográfico.
25€

17 setembro, 2024

REGO, José Teixeira -
NOVA TEORIA DO SACRIFICIO
. Porto, Edição da «Renascença Portuguesa», 1918. In-8.º (19x12,5 cm) de VIII, 268, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Edição original deste conjunto de ensaios histórico-filosóficos sobre religião.
"Teixeira Rego (1881-1934) escreveu a sua Nova teoria do sacrifício em fascículos entre 1912-1915 publicados como artigos na revista Águia. Três anos depois foram editados em livro na Renascença Portuguesa [cujo registo a BNP não possui]. Este trabalho foi levado a cabo na condição de autodidata com todos os riscos que isso comporta."
(Fonte: http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/19008/1/A%20teoria%20do%20sacrif%C3%ADcio%20de%20Teixeira%20Rego%20revisitada.pdf)
"Teixeira Rego ensaiou uma explicação totalmente racional do mito do bem e do mal e do pecado original. Tentou explicar o seu surgimento no tempo, tentou datá-lo, tentou mostrar que isso aconteceu a partir do momento (e isto é significativo) em que o antropóide passou a comer carne em vez de frutos. [...]
A história do pecado original, assim vista, mais não é do que a repetição de uma narrativa que explica que a partir de uma certa altura passou-se a ter uma história inquinada, que até então não era. O pecado original estaria na carne e não no fruto da árvore do bem e do mal. Esta transição «volveu-se no mais horrível martírio»."
"O rito do sacrifício, já de si singularíssimo, ainda apresenta de estranho o ser praticado por todos os povos, desde os tempos mais remotos até hoje. A causa, pois, que o determina deve ser universal, impressionante, terrível, para produzir tal duração e generalidade. As hipóteses tendentes a explicá-lo, embora algumas engenhosíssimas, com indiscutíveis verosimilhanças, tais as de Tyler, Robertson Smith e escola de Durkheim, têm o direito comum de justificarem o sacrifício em alguns povos somente, pois que não é de crer que as mesmas aproximações, mais ou menos remotas, mais ou menos subtis, fossem feitas em toda a parte; e, se se recorre à irradiação dessas ideias do povo ou povos que as pensaram para os restantes povos, não se vê em tais ideias suficiente importância e evidência para serem universalmente adoptadas com um cerimonial rigoroso e complexo, e acatadas com o máximo respeito."
(Excerto do Cap. I, O problema do sacrifício)
José Augusto Ramalho Teixeira Rêgo (1881-1934). "Nascido em Matosinhos em 1881, conviveu desde jovem com algumas das mais importantes figuras do círculo intelectual portuense, tornando-se discípulo de Sampaio Bruno e aprofundando a sua predileção intelectual no âmbito das línguas orientais, da filosofia, da religião e dos temas da cultura geral em sentido lato. Diretor do jornal "O Debate" e membro da "Renascença Portuguesa", movimento cultural que despontara no Porto, estreitou laços de amizade com Leonardo Coimbra, de quem partiu o convite para exercer o magistério na recém-criada Faculdade de Letras do Porto. A sua entrada como Professor Contratado do 2.º Grupo (Filologia Românica), em 1919, rodeou-se de polémica nos meios académicos portugueses, uma vez que José Teixeira Rêgo apenas possuía os estudos liceais. Porém, essa questão foi facilmente resolvida com os argumentos de se tratar uma nomeação governamental e de se basear no critério legal do reconhecimento da idoneidade científica e cultural do candidato."
(Fonte: sigarra.up.pt)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação. Capa apresenta assinatura de posse.
Raro.
25€

13 agosto, 2024

THOMAZ, Pedro Fernandes - CANÇÕES POPULARES DA BEIRA. Acompanhadas de 52 melodias recolhidas directamente da tradição oral, e arranjadas para piano. Com uma introducção por J. Leite de Vasconcellos. Figueira, Imprensa Lusitana, 1896. In-8.º (20,5x13,5 cm) de XXXIII, [3], 221, [7] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original deste importante repositório de canções da "pitoresca" província da Beira.
Obra de referência, publicada na Figueira da Foz, com interesse regional, histórico e etnográfico.
Ilustrada com inúmeras partituras no texto.
"Iniciamos com a publicação do presente volume o archivo da poesia e da musica do nosso povo, que de ha muito vimos recolhendo em differentes pontos do paiz. [...]
Começamos, na vasta colheita regional que temos feito, pela publicação das canções populares da pittoresca provincia da Beira, uma das mais originaes e caracteristicas do paiz, e onde se conservam ainda vivas e persistentes na memoria do povo innumeras lendas, canções e outros contos tradiccionaes, offerecendo ao explorador dedicado largo campo de investigação na litteratura e arte popular.
A facilidade de communicações que actualmente põe em contacto directo a população das aldeias com as cidades, a emigração crescente para os centros populosos, tem influido d'uma maneira desastrosa nas canções do nosso povo, que vae abandonando as formosas e singelas cantigas tradiccionaes, e as suas caracteristicas danças tão variadas e originaes, trocando-as pelas pretenciosas danças de sala, ou pelos «motivos» mais ou menos deturpados da «operetta» em voga, pelo «fado», transportado pelas vielas escuras das cidades para os campos e para as aldeias, com a substituição da antiga «viola d'arame» pela moderna guitarra...
Urge pois archivar o que ainda resta de verdadeiramente original nas ingenuas canções do nosso povo, e são esses os intuitos d'este livro."
(Excerto do preâmbulo)
Pedro Fernandes Tomás (1853-1927). "Era sobrinho-neto do jurisconsulto e político liberal Fernandes Tomás, tendo-se notabilizado por mérito próprio. Filho de João Pedro Fernandes Tomás e de Maria José Baptista Fernandes Tomás, nasceu no município português da Figueira da Foz a 30 de abril de 1852. Viria a falecer na sua terra natal, vítima de doença, a 4 de agosto de 1927. Passou pelo liceu e pelo seminário de Coimbra, não tendo seguido estudos superiores. Além de Coimbra, residiu alguns anos na Lousã. A partir de 1875 habitou e trabalhou regularmente na Figueira da Foz.
Foi professor do ensino particular, professor e diretor da Escola Industrial Bernardino Machado, da Figueira da Foz, jornalista, recoletor musical, estudioso e temas de arqueologia, epigrafia, história e etnografia. Foi sócio do Instituto de Coimbra e um dos fundadores da Sociedade Arqueológica da Figueira da Foz, a que também pertenceu o Dr. António dos Santos Rocha.
Como autor deixou vasta obra dispersa em páginas de jornais e escreveu monografias e memórias, algumas das quais ainda hoje trabalhos de referência que podem ser consultados através do catálogo da Biblioteca Pública Municipal da Figueira da Foz (BPMPFT). Teve ligações ao ideário republicano e maçon. Foi ainda conservador da Biblioteca Pública Municipal da Figueira da Foz, de que é patrono.
Interessado pela música popular, iniciou na década de 1890 a publicação de recolhas realizadas em diversas localidades de Portugal e de repertório que lhe foi sendo enviado por amigos e colaboradores. PFT procurou notar as melodias como eram interpretadas pelas comunidades de prática, sem recorrer à moda burguesa das harmonizações para piano. Deixou vasta obra no âmbito da música popular e foi um dos poucos musicólogos que não hesitou em incluir a Beira Litoral e Coimbra no mapa musical de Portugal. Pena é que nas suas viagens de campo não se tenha feito acompanhar de fonógrafos e gramofones de suporte ao registo sonoro."
(Fonte: https://guitarradecoimbra4.blogspot.com/2016/03/pedro-fernandes-tomas.html)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a negro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas apresentam desgaste, sobretudo nos cantos. Escrito coevo em verso na f. guarda. Com assinatura de posse - Pe. Antonio Vaz Barreiros - na f. rosto, e decalques a cores espalhados pelo livro, incluindo na folha antes referida.
Raro.
50€

23 julho, 2024

MOREIRAS, Francislei T. -
O CANDOMBLÉ.
A Herança Africana no Brasil, um Breve Estudo Sobre a Religião e a Dança dos Orixas. Almada, ISEIT : Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdiciplinares - Unidade de Investigação em Antropologia, 2002. In-fólio (30x21 cm) de [3], 27 f. ; il. ; B.
1.ª edição.
Curioso ensaio antropológico "sobre alguns aspectos da religião Afro-Brasileira conhecida como Candomblé, da autoria de Francislei T. Moreira, licenciado Cum Laude em Antropologia da Dança pela San Francisco State University, Califórnia, e Mestre em Antropologia da Dança pela New York University e pela Universidade Nova de Lisboa".
Trabalho académico raro e muito interessante. A BNP refere a obra com a indicação "sem informação exemplar".
Ilustrado no texto com desenho esquemático da "Estrutura do Terreiro", local onde se realizam as cerimónias de Candomblé.
"Quando fui morar nos Estados Unidos da América, o distanciamento cultural, e os cursos em Licenciatura e Mestrado em Antropologia Social e Cultural, o segundo, com a ênfase em dança, fizeram-me reflectir sobre vários aspectos da cultura brasileira, mas desta vez com a perspectiva de um investigador. Durante este tempo tive o privilégio de participar activamente nas cerimónias religiosas de origem africana na área metropolitana de Nova York, mais precisamente no condado de Brooklyn. Reforço o termo privilégio porque as religiões conhecidas como "Orixa Worship" (Culto ao Orixá) e "Santeria" ainda sofrem um certo preconceito devido aos factores de incorporação pelos espíritos e também por causa do ritual de sacrifício de animais. Este último aspecto, particularmente, é um facto de altas críticas e perseguição nos Estados Unidos devido aos movimentos de grupos de defesa dos animais. Mas, como Clifford Geertz diz, ao nosso ponto de vista, o que as pessoas fazem podem ser bastante estranhas. Fiquei exposto a situações de facto muito estranhas e curiosas, e por isso mesmo fascinante a nível de antropologia.
Como anotar tudo o que via, vivia e depois tentar descodificar para ser fiel à religião, em respeito à cena cultural? Havia também o factor de não poder revelar tudo o que era testemunha, já que há aspectos que devem ser mantidos em segredo por aqueles que passaram pela iniciação. Não foi o meu caso, o de passar por todo o processo de iniciação, mas houve uma confiança tácita por parte de Sacerdotes e Sacerdotisas tanto no Brasil como em Nova York, e, por uma questão ética, certas coisas não puderam ser incluídas neste texto.
A investigação sobre as danças dos orixás, os deuses e deusas do panteão Afro-brasileiro em Candomblé prossegue. Ainda há muito para conhecer sobre o que faz da dança um elemento de importância fundamental entre o mundo terreno e o sagrado."
(Excerto da Introdução)
"O tráfego de escravos para o Brasil começou no século dezasseis, e terminou com a abolição da escravatura em 1888. As culturas africanas principais, as quais forneceram escravos para o Brasil entre os séculos dezasseis e dezanove foram Bantu, Sudanesa, e a Islamica-Sudanesa. Pela perspectiva de Roger Bastide (1978), o tráfego escravo foi responsável pela quebra daquelas culturas e de suas religiões. Estas, asquais "estavam ligadas a certos tipos de organização familiar ou de clãs, assim como a ambientes biogeográficos específicos (florestas e savanas tropicais), também à estrutura de vila e comunidade", foram capazes de juntarem-se no Brasil. A maneira principal desta unidade religiosa foi o Candomblé.
As cerimónias de Candomblé são chamadas "giras" e acontecem em sítios chamados "terreiros". [...]
As cerimónias do Candomblé têm por objectivo estabelecer uma comunicação directa com os espíritos que governam as forças naturais como o vento, as tempestades ou fenómenos naturais como, por exemplo, o arco-íris. Estas forças naturais são chamadas "Orixás" e elas podem ser espíritos divinos que foram uma vez reis históricos e rainhas na África assim como figuras mitológicas."
(Excerto de O Candomblé: a herança africana ao Brasil)
Índice:
Apresentação | Introdução | O Candomblé: a herança africana ao Brasil | As Danças Rituais | Exu | Obatalá ou Oxalá (Oxalufã e Oxaguiã) | Iansã (Oyá) | Ogum | Oxum | Oxumaré | Yemanjá (Iemanjá) | Omolu (Obaluaiê) | Xangô | Oxossi | Obá | O Processo de Iniciação| O Calendário Cerimonial do Candomblé | Conclusão | Bibliografia.
Exemplar em brochura, presos por agrafes, em bom estado de conservação.
Raro.
45€

27 maio, 2024

BOURBON, Francisco Peixoto P. da S. e - A OLIVEIRA E SEUS PRODUTOS NO RIFONEIRO POPULAR (II).
Separata da Junta Nacional do Azeite N.º 78 Ano XXIV - 1969. [Lisboa], JN do Azeite, 1969. In-4.º (23x16 cm) de 24 p. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante trabalho sobre o azeite e a sua participação nos ditos populares, sendo este dedicado aos rifões menos usuais.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do autor a Alexandre de Almeida Santos.
Francisco de Paula Peixoto da Silva Bourbon (1908-1992) "Engenheiro agrónomo. Nasceu no seio de uma família da nobreza do Minho, sediada desde o século XIX na Casa de Melhorado, perto de Celorico de Basto. Concluiu os seus estudos em Lisboa, no Instituto Superior de Agronomia, tendo-se notabilizado principalmente na vida profissional como técnico de olivicultura. Foi funcionário superior do Ministério da Agricultura, exerceu cargos na Junta Nacional do Azeite e na Junta Nacional dos Lacticínios da Madeira e leccionou também em Agronomia. Deixou sobretudo obras de índole técnica, mas no ano da sua morte foi publicada uma edição bilingue do poema pessoano Inscriptions com uma introdução da sua lavra."
(Fonte: Wook)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Com interesse histórico e etnográfico.
15€

08 fevereiro, 2024

DIAS, Margot e DIAS, Jorge - A ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS.
[Por]... Centro de Estudos de Etnologia Peninsular : Universidade do Porto. Porto, Imprensa Portuguesa, 1953. In-4.º (24,5x17,5 cm) de 76, [4] p. ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Importante subsídio etnográfico sobre a «encomendação das almas», rito dedicado ao culto dos mortos praticado sobretudo nos meios rurais.
Trabalho de fôlego ilustrado com 20 ladainhas em forma de texto e partitura.
"A Encomendação das Almas é um ritual do culto dos mortos praticado no tempo da Quaresma, realizado por grupos de pessoas, em geral mulheres, que se reúnem, à noite, para cantar e rezar pelas/às almas dos mortos no Purgatório e pelas/dos que, ainda vivos, já se encontram em agonias de morte. No ritual, as encomendadoras apelam aos que as escutam para se recordarem das almas dos que já não são vivos."
(Fonte: https://run.unl.pt/handle/10362/16181)
Livro muito valorizado pela dedicatória manuscrita dos autores ao Prof. Artur Santos (1914-1987), conhecido etnomusicólogo e docente do Conservatório Nacional de Lisboa.
"A encomendação das almas é um dos aspectos mais curiosos do culto dos mortos existente no nosso país.
As almas dos entes queridos, sujeitas às penas do purgatório ou dos que estão em perigo de morrer em pecado, precisam que as preces dos vivos as ajudem a alcançar o Céu. É, indubitàvelmente, um costume cristão, a que o povo misturou alguns símbolos mágico-pagãos. Porém, a Igreja, na sua permanente ânsia de depuração, tem ùltimamente tentado combater todas estas costumeiras tradicionais, sempre que a pureza ortodoxa não seja respeitada.
Por essa razão, e pela própria tendência da época avessa a tradições, a «encomendação das almas» tende a desaparecer das nossas aldeias. Porém, pelas informações que temos colhido e por notícias bibliográficas foi este um costume bastante espalhado por todo o país o qual, por caso, conferia carácter diferenciador à nossa cultura popular em relação às outras culturas europeias, pois, nem a vizinha Espanha apresenta tal tradição. [...]
Nem sempre é fácil extirpar da crença popular os resíduos de crenças antigas, que ficam mais ou menos agarrados à nova religião, sob a forma de superstições. É certo que, muitas vezes, as práticas de sabor pagão não passam de meras usanças tradicionais, inteiramente vazias do antigo significado, mas que surgem ainda em vários lugares. Umas vezes, além do aspecto formal, existem também resíduos atávicos afectivos ainda poderosos e avassaladores, como são os terrores nocturnos, o medo dos fantasmas, das almas penadas e de todos os seres invisíveis ou visíveis que povoam as noites e as fantasias desvairadas de algumas pessoas.
O velho costume de dar de comer aos mortos, ou fazer refeições de comunhão com eles é extensivo a muitas regiões. No nosso país, podemos considerar como vestígios de tais crenças as refeições de castanhas com vinho, comidas à luz da fogueira, no adro da igreja, junto ao cemitério, ou o hábito de voltar a pôr a mesa de Natal, finda a ceia, para os defuntos virem comer durante a noite.
A «encomendação das almas» é uma prática piedosa, que, embora conserve muitos restos pagãos, se pode considerar inteiramente cristã na essência. O que se procura é infundir piedade nos vivos pela alma dos mortos, a fim de que estes se juntem em preces fervorosas, de maneira a alcançarem o perdão de Deus para os pecados dos parentes, amigos, ou conterrâneos falecidos. O encomendador ou encomendadores são levados pelo sentimento, ou em cumprimento duma promessa, ou penitência a incitar os seus vizinhos a rezar pelos mortos, para os aliviar das penas do Purgatório.
Em geral é pela Quaresma que se faz a encomendação da almas, mas há práticas parecidas realizadas nos Fiéis Defuntos. É costume escolherem um lugar alto, para serem ouvidos de bastante longe, a fim de haver mais gente a rezar. Também procuram dar à voz um tom lúgubre, ou falar através dum funil, para obterem um efeito emocional maior, de maneira a despertar em todos o temor pela morte e, portanto, maior fervor nas orações daqueles que os escutam.
É, de facto, impressionante ouvir essa cantilena estranha nas noites calmas da Quaresma. Nalguns lugares o encomendador chega a obter efeitos arrepiantes com a sua voz sinistra e lúgubre a que depois se segue o murmúrio das orações em todas as casas da aldeia."
(Excerto do preâmbulo)
Índice:
[Preâmbulo]. | Gatão, Amarante. | Portelo de Cambres, Lamego. | Carvalho, Celorico de Basto. | Minho: - Barcelos; - Braga; - Cabeceiras de Basto; - Celorico de Basto; - Guimarães; - Santo Tirso; - Terras de Bouro. | Douro Litoral: - Amarante; - Cete; - Lordelo, Paredes; - Penafiel; - Resende. | Trás-os-Montes-e-Alto-Douro: - Chaves; - Freixo de Espada à Cinta; - Lamego; - Miranda do Douro, Especiosa; - Sércio; - Vila Real de Trás-os-Montes; - Vinhais. | Beira Litoral: - Aveiro, Bom Sucesso; - Aveiro, Verdemilho; - Penacova; - Cernache; - Vale-de-Cântaro; - Coimbra (séc. XVI); - Ílhavo; - Leiria, Milagres; - Vale de Cambra. | Beira Alta: - S. Pedro do Sul. | Beira Baixa: - [Vários]; - Chão de Lopes, Amendoa; - Idanha-a-Nova; - Monforte da Beira; - Monsanto; - Monsanto (Castelo Branco). | Estremadura: - Lisboa; - Ourém. | Alentejo: - Elvas. | Algarve: - Alte; - Estombar; - Monchique. | Sem determinação de lugar. | Algumas considerações.
António Jorge Dias (Porto, 1907 – Lisboa, 1973). "Foi um etnólogo português. Nasce no Porto em 1907 e é aí que passa a maior parte da sua juventude. Os pais têm uma quinta perto de Guimarães, onde Dias tem a oportunidade de contactar com a vida e cultura rural portuguesas. Abandona os estudos e vai viver para a aldeia de Gralheira, perto de Cinfães; viaja pelo Minho e Trás-os-Montes, vende guarda-chuvas, e chega a acompanhar um circo itinerante; aos 22 anos decide voltar à vida académica, e estuda Filologia Germânica na Universidade de Coimbra. Faz o leitorado de Português na Universidade de Rostock de 1938 a 1939, e de na Universidade de Munique de 1939 a 1942. É aqui que se familiariza com Etnologia Regional (Volkskunde), disciplina ainda desconhecida nesta época em Portugal. Conhece Margot Schmidt em 1940 num concerto em Rostock, que se torna a sua segunda mulher em Novembro do ano seguinte. Entre 1942 e 1944 lidera o Instituto Português-Brasileiro em Berlim, e obtém em 1944 o doutoramento em etnologia na Universidade de Munique com uma tese na área da etnografia: Vilarinho da Furna - uma aldeia comunitária. Em Berlim assiste a palestras de Richard Thurnwald, de quem ficará amigo até à sua morte em 1954, e cuja obra o influencia. Entre 1944 e 1947 é também leitor de Português e Cultura em Santiago de Compostela e Madrid. É professor de Etnologia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra de 1952 a 1956, ano em que vai viver para Lisboa. Aí, é professor de Antropologia Cultural e Instituições Nativas e Antropologia Cultural e Instituições Regionais no Instituto Superior de Estudos Ultramarinos e regente de Etnologia e mais tarde de Etnologia Geral e Etnologia Regional no curso de Geografia da Faculdade de Letras de Lisboa. Em 1954 lecciona ainda um curso sobre Etnografia Portuguesa na Universidade do Estado do Paraná, na cidade de Curitiba, sob a alçada do Centro de Estudos Portugueses. Em 1959 lecciona Cultura Portuguesa enquanto professor convidado na Universidade de Witwatersrand, Joanesburgo. Em 1957, recebe do governo português uma comissão para investigar as civilizações indígenas das colónias portuguesas em África: a Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar Português (MEMEUP), cuja competência específica é a de "estudar as minorias étnicas do ultramar português e a sua repercussão na cultura portuguesa". A missão desloca-se a Angola, Moçambique e Guiné. Esta missão conta com o apoio de Margot Dias e Manuel Viegas Guerreiro. Entre 1957 e 1961 realizam campanhas de investigação sobre os Macondes do Norte de Moçambique, os Chopes do Sul de Moçambique e os Bosquímanos de Angola, entre outros. A missão regressa pela última vez em 1961 (desta vez só Margot Dias), não fazendo mais visitas devido à instabilidade política que se faz sentir no território e consequentes riscos. É dessas campanhas que resulta a publicação de quatro volumes monográficos intitulados Os Macondes de Moçambique."
(Fonte: Wikipédia)
Margot Schmidt Dias GOIH (Nuremberga, Alemanha, 1908 - Óbidos, Portugal, 2001)). "Foi uma pianista, etnomusicóloga e realizadora etnológica portuguesa de origem germânica. Nasce Margot Schmidt em Nuremberga em 1908; o pai é cervejeiro, e a mãe, oriunda de uma família de artesãos, trabalha em vendas numa joalharia antes de casar. Margot aprende inicialmente piano com a irmã mais velha, e aos 18 anos vai para Munique para continuar os estudos em música, sustentando-se através de aulas particulares de piano. Em 1940 está a terminar o curso de mestre de piano na Academia de Música de Munique, e conhece Jorge Dias num concerto em Rostock. É Margot que estimula em Jorge Dias o interesse em etnologia. Casam em Novembro do ano seguinte e regressam a Portugal em 1944, antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Durante a década de 40, Margot dedica-se ao cancioneiro de Vilarinho das Furnas, e apoia o trabalho que o marido faz nesta aldeia e que apresenta na Universidade de Munique em 1944, para obter o doutoramento em Etnologia. No ano seguinte procede ao recolhimento de um cancioneiro que acrescenta um novo capítulo à dissertação (Capítulo XIV, "O Homem, Fisionomia e Concepção de Vida", publicado na monografia de 1948). Jorge Dias é convidado a dirigir a secção de Etnografia do Centro de Estudos de Etnologia Peninsular (CEEP) em 1947 e Margot Dias é então admitida ao CEEP e torna-se oficialmente sua colaboradora. A equipa inclui ainda Fernando Galhano, Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Enes Pereira. Dá o seu último concerto de piano em 1956, dedicando-se desde então inteiramente à antropologia, campo em que iniciara o seu trabalho em 1947."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Texto sublinhado a tinta, certamente, pela mão do Prof. Artur Santos.
Raro.
Com interesse histórico, religioso e etnográfico.
75€

08 agosto, 2023

MACHADO, Carlos Alberto -
CUIDAR DOS MORTOS. Sintra, Instituto de Sintra, 1999. In-4.º (24 cm) de 64 p. ; B.
1.ª edição.
Ensaio sobre a morte, a forma como é encarada pela sociedade, sobretudo a rural, e "que sistema simbólico ergueu e manteve para assegurar a continuidade existencial das comunidades, apesar da morte e contra a morte".
Obra invulgar e muito interessante, por certo com tiragem reduzida.
"[As questões sobre a morte], advêm da interrogação primordial do homem sobre a sua própria morte. Não apenas sobre o acabamento físico, mas sobre o seu sentido, sobre tudo o que está para além e aquém desse momento. Tal como para o homem dos nossos dias, a «sensação básica de um mistério infinito na raiz de toda a vida terá existido para os nossos antepassados.» A morte é apercebida como uma alma fugidia que nos toca ao de leve e se evola, como um suspiro que vem e depois retorna ao que nunca mais será percebido, ao que de tanto se imaginar ganha substância - o incognoscível, simultaneamente tentador e temível.
A consciência da finitude e a percepção de outras realidades para além do imediatamente verificável, exige dos homens e das sociedades formas de lidar com a morte e de a vencer - de idealmente a anular. As grandes interrogações que a morte suscita e as respostas que para ela desde sempre se buscam são a substância primeira dos sistemas ontológicos que designamos como cultura."
(Excerto do Cap. I - Uma questão antiga)
"A morte, fisicamente, só atinge o outro, os outros. Mas o facto inexorável e iniludível, esse não sei quê que não tem nome em língua nenhuma, está carregado de significados sociais e culturais. A morte é, então, e antes de mais, um facto cultural, pelas representações que induz, quanto à sua natureza e origem, pelos fantasmas e imagens que suscita, pelos meios que mobiliza para se recusar ou para se ultrapassar. As sociedades querem reencontrar a paz e triunfar, idealmente, sobre a morte. Repousam, por isso, num desejo de imortalidade."
(Excerto do Cap. II - Uma ideia de morte)
"O fim próximo de cada um, quer a morte seja ou não temida, não se oculta aos moribundos que são advertidos de que é chegado o momento de serem sacramentados. Podem mesmo os vivos ajudar a decidir da morte dos que estão muito doentes: «Certas mulheres que vão às casas ajudar a morrer os doentes que estão na agonia, gritando-lhes à cabeceira, para afugentar o diabo: 'Ande, diga comigo do fundo do seu estômago: Ih, Jesus, que morro'»"
(Excerto do Cap. III - 2. Repertório do cadáver)
Índice:
I - Uma questão antiga. II - Uma ideia da morte. III - O jogo do morto: 1. O sagrado do morto; 2. Repertório do cadáver; 3. Os nós e os outros. IV - Doridos e enojados: 1. O sagrado dos sobreviventes; 2. Repertório do luto; 3. Tristes e impuros. V - Almas errantes: 1. O sagrado do além; 2. Repertório da alma; 3. Reencontros. VI - Últimas palavras. | Bibliografia.
Carlos Alberto Machado (n. 1954). "Escritor e ensaísta português. Natural de Lisboa, e radicado nos Açores desde 2005, tem uma obra reconhecida nas áreas do ensaio, (antropologia e sociologia da cultura), história do teatro português, teatro e poesia, com obras publicadas em editoras de prestígio. É Licenciado em Antropologia e Mestre em Sociologia da Comunicação e Cultura. Integrou Poetas sem Qualidades (Averno, 2002, direcção de Manuel de Freitas). Tem poesia traduzida em castelhano e francês. Criou a revista Magma (2005-2009, co-direcção com Sara Santos). Dirigiu, com Urbano Bettencourt, a Biblioteca Açoriana."
(Fonte: Wook)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa com vincos.
Muito invulgar.
Indisponível

25 julho, 2023

REGO, José Teixeira - NOVA TEORIA DO SACRIFÍCIO. Fixação do texto, prefácio e notas de Pinharanda Gomes. Lisboa, Assírio & Alvim, 1989. In-8.º (22 cm) de 203, [5] p. ; il. ; B.
Interessante conjunto de ensaios histórico-filosóficos sobre religião, muito valorizado pela análise e notas do pensador e ensaísta Jesué Pinharanda Gomes.
"Teixeira Rego (1881-1934) escreveu a sua Nova teoria do sacrifício em fascículos entre 1912-1915 publicados como artigos na revista Águia. Três anos depois foram editados em livro na Renascença Portuguesa [cujo registo a BNP não possui]. Este trabalho foi levado a cabo na condição de autodidata com todos os riscos que isso comporta."
(Fonte: http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/19008/1/A%20teoria%20do%20sacrif%C3%ADcio%20de%20Teixeira%20Rego%20revisitada.pdf)
"Teixeira Rego ensaiou uma explicação totalmente racional do mito do bem e do mal e do pecado original. Tentou explicar o seu surgimento no tempo, tentou datá-lo, tentou mostrar que isso aconteceu a partir do momento (e isto é significativo) em que o antropóide passou a comer carne em vez de frutos. [...]
A história do pecado original, assim vista, mais não é do que a repetição de uma narrativa que explica que a partir de uma certa altura passou-se a ter uma história inquinada, que até então não era. O pecado original estaria na carne e não no fruto da árvore do bem e do mal. Esta transição «volveu-se no mais horrível martírio»."
"O rito do sacrifício, já de si singularíssimo, ainda apresenta de estranho o ser praticado por todos os povos, desde os tempos mais remotos até hoje. A causa, pois, que o determina deve ser universal, impressionante, terrível, para produzir tal duração e generalidade. As hipóteses tendentes a explicá-lo, embora algumas engenhosíssimas, com indiscutíveis verosimilhanças, tais as de Tyler, Robertson Smith e escola de Durkheim, têm o direito comum de justificarem o sacrifício em alguns povos somente, pois que não é de crer que as mesmas aproximações, mais ou menos remotas, mais ou menos subtis, fossem feitas em toda a parte; e, se se recorre à irradiação dessas ideias do povo ou povos que as pensaram para os restantes povos, não se vê em tais ideias suficiente importância e evidência para serem universalmente adoptadas com um cerimonial rigoroso e complexo, e acatadas com o máximo respeito."
(excerto do Cap. I, O problema do sacrifício)
José Augusto Ramalho Teixeira Rêgo (1881-1934). "Nascido em Matosinhos em 1881, conviveu desde jovem com algumas das mais importantes figuras do círculo intelectual portuense, tornando-se discípulo de Sampaio Bruno e aprofundando a sua predileção intelectual no âmbito das línguas orientais, da filosofia, da religião e dos temas da cultura geral em sentido lato. Diretor do jornal "O Debate" e membro da "Renascença Portuguesa", movimento cultural que despontara no Porto, estreitou laços de amizade com Leonardo Coimbra, de quem partiu o convite para exercer o magistério na recém-criada Faculdade de Letras do Porto. A sua entrada como Professor Contratado do 2.º Grupo (Filologia Românica), em 1919, rodeou-se de polémica nos meios académicos portugueses, uma vez que José Teixeira Rêgo apenas possuía os estudos liceais. Porém, essa questão foi facilmente resolvida com os argumentos de se tratar uma nomeação governamental e de se basear no critério legal do reconhecimento da idoneidade científica e cultural do candidato."
(fonte: sigarra.up.pt)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
Indisponível

08 julho, 2023

PAIVA, José Pedro de Matos - FEITIÇARIAS, BRUXARIAS E CURAS SUPERSTICIOSAS.
As visitas pastorais como fonte para o estudo das práticas da magia. Os agentes da magia na Diocese de Coimbra na segunda metade do século XVII. Por... Coimbra, Publicações do Arquivo da Universidade de Coimbra, 1985. In-4.º (23,5 cm) de [2], 36, [2] p. ; (359-394 pp.) ; il. ; B. Separata do Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra - vol. VII
1.ª edição independente.
Interessante estudo histórico sobre a superstição popular no Distrito de Coimbra, e a repressão exercida pela Igreja sobre as práticas "esotéricas".
Livro ilustrado no texto com três gráficos: 1 - Frequência de acusados 1630-1700 : Mulheres/Homens; 2 - Tipo de acusações /Homens; 3 - Tipo de acusações / Mulheres.
Exemplar duplamente valorizado pela dedicatória e cartão - ambos autografados pelo autor - dirigido ao conhecido historiador Prof. Francisco Bethencourt.
"Como em todos os domínios da história, a busca afanosa de novas fontes que permitam conhecer melhor um certo fenómeno também tingiu o estudo da magia. Até há alguns anos, este problema era estudado na maioria das vezes tendo como base os processos da Inquisição, a poesia e prosa que se escreviam sobre o assunto, os processos judiciais. Foi também frequentemente utilizada, obviamente, legislação régia e eclesiástica. [...]
As visitas pastorais são uma fonte de inestimável valor e que se prestam a fornecer informações variadíssimas sobre vários aspectos da vida quotidiana das populações, do clero, da prática religiosa, etc.
Um dos motivos que explica o sucesso das visitas com o forma de inquirição dos pecados públicos (entre eles a feitiçaria, bruxaria e curas), radica no facto de que ao nível das pequenas comunidades pré-industriais o direito à privacidade é totalmente inexistente. Mais do que isso, os vizinhos, a comunidade, têm, o dever e o direito de conhecer as actividades de cada um. É deste conhecimento que a Igreja se vai apropriar ao realizar periodicamente a visita. E não se pense que só em casos devidamente provados a Igreja actuava. Em face da legislação eclesiástica, a má reputação é suficiente para que se proceda contra alguém. [...]
A informação que as «visitas» encerram para estudar o interessante fenómeno da magia encontra-se nos depoimentos das populações visitadas e nas «pronúncias», ou seja, as penas que eram aplicadas aos acusados de magia durante o processo visitacional. Além disto, existem os «exames», que eram interrogatórios feitos  alguns dos acusados. Toda esta informação está disponível num dos livros que eram produzidos durante uma visita: o «livro de devassas». Vejamos pois qual a aplicabilidade de tudo isto no estudo da magia.
O principal valor das visitas pastorais para o estudo da «magia negra» liga-se profundamente ao facto de que aquilo que era registado pelo visitador durante a «devassa» que efectuava, ser o depoimento as testemunhas. Os livros de devassas de visitas estão pois repletos de acusações de vários crimes entre eles os de feitiçaria e bruxaria. Através das «visitas» podem-se portanto estudar as acusações e, em grande parte dos casos, as relações entre o acusador e o acusado."
(Excerto de 1 - As visitas pastorais como fonte para o estudo das práticas de magia)
Índice:
Introdução. | 1 -  As visitas pastorais como fonte para o estudo das práticas da magia. 2 - «Os agentes da magia na Diocese de Coimbra na segunda metade do século XVII».
José Pedro de Matos Paiva (n. 1960). "É professor na Universidade de Coimbra, investigador no Centro de História da Sociedade e da Cultura e no Centro de Estudos de História Religiosa. A sua área de pesquisa central é a história religiosa e cultural em Portugal, séculos XVI-XVIII. Entre outros livros é autor de Bruxaria e superstição num país sem "caça às bruxas" (Lisboa, 1997), Os bispos de Portugal e do império (1495-1777) (Coimbra, 2006), Baluartes da fé e da disciplina (Coimbra, 2011)."
(Fonte: wook)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Com sublinhados e notas marginais, tudo a lápis.
Raro.
Sem registo na BNP.
Com interesse histórico.
25€

31 março, 2023

COSTA, Amadeu -
O CASO DO ANTONINHO. 
Coisas da Nossa Ribeira. Por... [S.l.], [s.n.], [1982]. In-4.º (23 cm) de 6, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
História do Antoninho, moço rústico, que terá sido injustamente condenado à morte por roubo.
Livrinho ilustrado com duas fotografias a p.b. no texto: Nicho do Senhor da Boa Memória...; Almas, da Igreja Velha (vulgo Capela ou Igreja das Almas)...
Valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao Dr. Álvaro Salema.
A propósito do Antoninho, e relacionado com este, o autor narra um episódio protagonizado por Camilo Castelo Branco no Cemitério das Almas, onde as ossadas do desventurado rapaz se encontravam depositadas.
"Vou falar de um acontecimento que apaixonou verdadeiramente as gentes do povo da Foz do Lima, em particular a do Bairro da Ribeira, o qual teve como epílogo o enforcamento, no Cais do Postigo, de António Manuel Barreto, de 25 anos de idade, moço de lavoura, natural e residente na freguesia de Capareiros, Barroselas.
Nos meus tempos de rapazinho - e ainda hoje tal acontece - naquele Bairro assim se descrevia o sucedido:
- Vindos de uma feira do norte, o ourives Joaquim Moninhas, de Nabais, e o seu compadre, contratador de gado, da Apúlia, ambos, portanto, do concelho de Esposende, entraram depois do sol posto, já com estrelas, numa estalagem de Viana para cear. [...]
Ali pernoitaram também esses dois feirantes, até que, de madrugada, atravessaram a «ponte de pau», nas suas montadas, com rumo aos seus destinos.
Cavalgando e cavaqueando, a viagem ia decorrendo, e atingido havia sido já o Faro de Anha quando os assaltantes os surpreendem.
Trocam-se tiros!
João Pereira Saraiva cai do cavalo, ferido de morte! O seu companheiro, metendo a galope, consegue escapar-se..."
(Excerto da narrativa)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
Sem registo na BNP.
Indisponível

26 agosto, 2022

ALMEIDA & OLIVEIRA, LDA : 1937
-
Fogos de Artifício; Balões de Iluminação; Aerostatos e Fantazia; Ornamentações; Grinaldas, etc., etc. Telefone 2 8566 : Lisboa
. [S.l.], Almeida & Oliveira, Lda], 1937. In-8.º (22,5 cm) de 32 p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Catálogo da firma Almeida & Oliveira, Lda, cuja fábrica laborou na Esplanada de Monsanto (Lisboa), dirigido aos revendedores, para vendas/compras referentes ao período dos santos populares - Santo António, S. João e S. Pedro - de 1937.
Contém descrição dos artigos do fabricante, com os preços e condições de venda, e o efeito produzido por cada um dos artefactos, tudo muito ilustrado com bonitos desenhos exemplificativos ao longo do livro.
"A nossa casa fundada em 1889, é a mais antiga e acreditada de todo o Paiz, possui o maior e o mais completo sortido de artigos para o Carnaval, Bailes à Americana, etc.; fornecendo os principais Casinos, Dancings, Sociedades de Recreio e Clubes Desportivos de todo o Paiz.
Em fogos de artificio nacionais e estrangeiros próprios para salas e jardins, temos tambem um colossal e variado sortido, fornecendo orçamentos grátis de fógos para arraiais e outras festas.
Balões de iluminação e aerostatos, festões em lindas côres, grinaldas, etc. Alguns destes artigos adquiridos nos principais fabricantes, Chinezes, Japonezes e Alemães, são de completa novidade, além doutros artigos proprios para iluminações, ornamentações de arraiais, marchas, etc."
(Excerto da apresentação)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, com defeitos.
Muito raro.
Com interesse histórico e popular.
Sem registo na BNP.
Peça de colecção.
35€

22 agosto, 2022

CRISTÃOS E BRUXAS.
Reflexão Pastoral sobre Bruxaria e Práticas Supersticiosas. [2.ª edição]
. Esposende, Conselho Pastoral Paroquial de S. Paio de Antas, 1991. In-8.º (19,5 cm) de 45, [3] p. ; B.
Curiosa exposição sobre práticas idólatras e rituais demoníacos assentes na crendice e superstição popular, com raízes profundas na nossa cultura ancestral.
Obra interessantíssima. Trata-se do olhar da Igreja "sobre esta questão particularmente preocupante", publicada por uma paróquia do norte do país - S. Paio de Antas -, localizada no concelho de Esposende. A Biblioteca Nacional não menciona o livro.
"Objectivo fundamental deste livrinho é lançar luz sobre uma questão particularmente preocupante para a Igreja e, em particular, para os sacerdotes e demais responsáveis pela vida das nossas comunidades cristãs.
Não é nossa pretensão apresentar novidades nem dar respostas a todas as questões que estas práticas suscitam. Estamos conscientes das suas profundas raízes na cultura popular e no imaginário das gentes. No entanto, é nosso dever insistir no esclarecimento, tão profundo quanto o permitem as dimensões e as intenções desta pequena obra, de tais práticas pretensamente religiosas."
(Excerto da Introdução)
Índice:
Introdução. | 1 - Magia e Religião. 2 - Alguns Casos: - Iván e os Caixões; - S. João Bosco e as artes do demónio; - "De noite...". 3 - "Ir à Bruxa...": - No Antigo Testamento; - História da Igreja; - As(os) bruxas(os) e os Cristão hoje. 4 - Possessões Demoníacas e outras superstições: - Ensinamentos a Igreja sobre o demónio; - Os espíritos dos mortos regressam à terra? - Algumas superstições: 1. Correntes de Orações; 2. Medalhas/Amuletos da Sorte; 3. Usar uma ferradura para dar sorte; 4. Consultar "mediuns"; 5. "Maus Olhados". | Conclusão: "Escolhe a vida". | Índice.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Com interesse histórico, religioso e etnográfico.
Raro.
Sem registo na BNP.
35€

01 agosto, 2022

SOUSA, D. Maria Peregrina de - TRADIÇÕES POPULARES DO MINHO.
Cartas de... De novo publicadas por J. L. de V.
[S.l.], [s.n.], 1900. In-4.º (25,5 cm) de 23, [1] p. ; B.
1.ª edição independente.
Publicação póstuma. Tradições minhotas recolhidas pela autora, onde se incluem os costumes, cultos, superstições e crendices populares, com o religioso e o pagão cruzando-se e completando-se.
Opúsculo raro, com indubitável interesse histórico, etnográfico e antropológico.
"A fallecida escriptora D. Maria Peregrina de Sousa, que viveu no Porto a maior parte da sua vida, e lá morreu ha annos, inseriu em vários numeros da Revista Universal Lisbonense, vol. IV (1844-1845), uma série de doze curiosas cartas dirigidas a Antonio Feliciano de Castilho, sobre tradições populares minhotas.
Estas cartas, embora escritas ao correr da penna, singelamente, sem prtensões  scientificas, foram dos primeiros trabalhos que entre nós se publicaram sobre o assunto, epois que Almeida Garrett mostrou o valor ethnologico das tradições populares. Por isso aqui as coordeno e reproduzo, sem alterações, nem modificações, apenas numerando-as, pondo-lhes summarios no principio de cada uma, para maior commodidade do leitor, e harmonizando a orthographia."
(Excerto do preâmbulo)
Matérias:
[Preâmbulo] - Tradições Populares do Minho (Cartas). | Carta 1.ª - Simplicidade aldeã. - Corpo de afogado. - Santas mulheres. Carta 2.ª - Superstições varias. - Dadas. - Signo-Saimão. - Figas. Carta 3.ª - Bruxas. - Horas abertas. - Sêres sobrenaturaes: Bruxas, Cousa ruim, Diabo, Almas penadas, Corredor, Moiras, etc. - Superstições varias: figa, ave negra, bafo do boi, mar sagrado. - Benzedeiras. - Ponte de Alliviada. Carta 4.ª - Costumes do Natal. - Corrida do gallo. - Loas e entremeses nas festas. - Dança moirisca. Carta 5.ª Conversados. - Bodas. - Morte. - Saudações. - Bailes. - Desafios poeticos. - Festa da «vista» em Landim. Carta 6.ª - Procissão das fogaças. - Outras procissões. - O ouro do povo do Minho. - Sermões. Carta 7.ª - Corpo aberto. - Degredo das almas. Carta 8.ª - Superstições varias: talhar, ensalmos. - Culto da lua-nova. - Pedras de raio. - A cobra. Carta 9.ª - Conversados (appendice á carta 5.ª). - Domingo do «bradar». - Crendices. - Usos do cozer do pão. - Sementeiras. - Culto do mar. Carta 10.ª - Festa de S. Gonçalo em Amarante. - Corpus Christi em Penafiel. Carta 11.ª - Meios de talhar várias doenças: sezões, dada, ar ruim, tesorelho, ingoa. - Crendices várias. Carta 12.ª (e ultima) - Costumes a respeito dos ninhos. - Crenças várias: voz do cuco, som do sino.
Maria Peregrina de Sousa (1809-1894). "Escritora, romancista e poetisa. Nasceu no Porto a 13 de fevereiro de 1809, sendo filha do comerciante António Ventura de Azevedo e Sousa, e de D. Maria Margarida de Sousa Neves.
Foi muito conhecida e considerada romancista e poetisa, mas as suas numerosas composições, que lhe granjearam repetidas aplausos e louvores de juizes autorizados, existem disseminadas em vários jornais literários e políticos, que desde 1842 começaram a tê-la a por colaboradora, tais como o Arquivo popular, Restauração da Carta, Revista Universal Lisbonense, Íris, do Rio de Janeiro; Aurora, Pirata, Braz Tisana, Lidador, Pobres do Porto, etc. Alguns dos romances publicados nessas folhas, têm a assinatura de Uma obscura portuense, outros a de Mariposa, muitos com o nome completo, ou com as iniciais D. M. P.
Em publicação separada, em 1859: Retalho do mundo, romance dedicado a António Feliciano de Castilho, o qual se compõe de 58 capítulos, que são os desenvolvimentos de outros tantos rifões, adágios e anexins populares, que lhe servem de títulos. Na Revista Universal saiu as Superstições do Minho, de que se tentou fazer uma colecção separada, com uma introdução ou advertência preliminar pelo referido poeta Castilho, mas ficou interrompida logo na 1.ª folha, por causa das lutas políticas de 1846, e nunca mais continuou. Publicou em 1863, em Lisboa, o romance Rhadamanto ou a mana do conde; seguido do Roberto ou a força da sympathia; esta edição foi feita a expensas da sociedade Madrépora, do Rio de Janeiro, que estava então florescente e se destinava a proteger as publicações literárias e os escritores portugueses. Escreveu também algumas notas para a versão dos Fastos de Ovídio por A. F. de Castilho, nos tomos I, II e III. Na Gazeta de Portugal, de 1843, uma narrativa sob o título Um romance de Tomas da Gandara.
Na Revista Contemporânea de Portugal e Brasil, tomo III, Setembro, de pág. 273 a 312, vem publicada uma biografia desta ilustre escritora e poetisa, escrita pelo já citado escritor e poeta António Feliciano de Castilho."
(Fonte: https://www.arqnet.pt/dicionario/sousamariap.html)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação.Capas frágeis, apresentando pequena falha de papel no canto superior direito da capa frontal.
Raro.
Indisponível

06 julho, 2022

PARREIRA, José - CANTOS, MUSICAS E DANÇAS (escorço).
Por... Congresso Regional Algarvio
. Lisboa, Composto e impresso da Typographia da «Gazeta dos Caminhos de Ferro», [1915]. In-8.º (20,5x13,5 cm) de 16 p. ; B.
1.ª edição.
Tese apresentada ao Congresso Regional Algarvio.
Encontro histórico. "Além dos principais órgãos de imprensa nacional e regional, no congresso estiveram presentes alguns dos mais ilustres representantes da elite algarvia, habitando ou não no distrito, nomeadamente ministros, deputados, senadores, altos funcionários, académicos, cientistas, médicos, advogados, professores, engenheiros, agrónomos, militares, etc. [...]
As teses apresentadas [em número de 25] focaram especialmente o turismo, a indústria, o crédito bancário, a pesca e o ensino da pesca, as vias de comunicação, o ensino, a cultura, a tradição oral, o comércio, o clima, etc., confirmando ao mesmo tempo a intenção de servirem de base a futura legislação para enquadramento do que se viesse a projectar. [...]
Na ocasião foi anunciado um novo congresso, que teria lugar na cidade de Faro, durante o ano de 1918. Todavia, por razões que desconhecemos este nunca se chegaria a realizar."
(Fonte: https://www.jornaldemonchique.pt/o-congresso-regional-algarvio-de-1915-e-os-seus-reflexos-no-concelho-de-monchique-iii/)
Opúsculo raro, com o maior interesse histórico, etnográfico e regional, por certo, com tiragem reduzida.
"A paizagem falla á alma e falla ao espirito, creando n'elle como que um instrumento, que alheiadamente desferirá as notas tristes ou alegres, melancholicas ou joviaes: cahidas do céo, vindas das almas que em nossa alma fallam.
Que bellos cantos que nos campos algarvios se ouvem! Que toadas! A musica simples, cheia de singella e de despreoccupada arte, mas dizendo muito mais que, ás vezes, as preoccupadas lucubrações dos amaneirados compositores. É a ternura do céo passando para a ternura da voz; é a tepidez do ar temperando o coração; é o mar infinitamente azul alongando o sonho, n'um rasto de tristeza que até á vista se esfuma...
O canto no sul é como esse sul. Descamisando o milho, encaixando o figo, colhendo as uvas ou apanhando a alfarroba, a rapariga do campo canta, não para espantar seus males, mas porque refecte nas cambiantes do seu sentimento o que n'elle incute o mundo exterior. Fazei por as ouvir! A phantasia e o poetico! [...]

Quem não quizer ver mulher
Em outros braços rendida
Não a deixe um só momento,
Por toda a parte a persiga.

Mas coitadinha d'aquella
Que cae em boccas do mundo,
Que é como uma barca sem leme,
Que se anaga, e vae ao fundo!

Fazei por que o Algarve não se desregionalize. Em tudo, elle tem um caracter proprio e que merece ser apreciado e mantido.
Conserva a tua toada que te vem da Natureza; vella pela tua musica, que corda é dos instrumentos variados que em teu redor artistas naturaes te fabricam; não desprezes mesmo as tuas danças, mais quentes, mas d'um fino erotismo, que todas as lubricas, banaes e landanescas mornas..."
 
(Excertos da Tese)

Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Falha de papel na capa frontal, visível na foto publicada.
Raro.
25€

04 julho, 2022

CARDOSO, Pedro - FOLCLORE CABOVERDEANO.
[Prefácio de J. B. Amâncio Gracias]
. Pôrto, Edição Maranus, 1933. In-8.º (17 cm) de 120 p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Trabalho pioneiro sobre o folclore cabo-verdiano. Importante ensaio com interesse histórico e etnográfico sobre a cultura popular da antiga ex-colónia portuguesa.
Livro ilustrado com diversas fotogravuras dispersas pelo texto, e em página inteira, com um mapa de Cabo Verde, e noutra, a reprodução de um autógrafo de Gago Coutinho com a sua explicação para a localização estratégica do arquipélago para a aviação.
"Li dum fôlego o seu magnífico manuscrito sôbre o Folclore Caboverdeano e devolvo-o com agradecimentos. É um valioso subsídio para uma obra mais vasta e completa sôbre a etnografia do Arquipélago, da qual o assunto, sôbre que V. produziu tam belas páginas, constitui um capítulo importante.
Cabo-Verde presta-se a grandes estudos. A sua história, pròpriamente dita, está mais ou menos feita, mas, quanto à sua etnografia, nos seus diversos aspectos e modalidades, pouco ou nada vejo escrito.
E, no entretanto, a história hoje adquire mais valor, fixa-se melhor, quando as ciências antropológicas a iluminam com os lampejos das suas investigações acêrca da raça, dos usos e costumes, lendas, mitos, superstições, cantares e folclore dos países a que respeita.
Muitos factos históricos, que às vezes nos parecem inexplicáveis, têm a sua origem nos caracteres étnicos, nos fenómenos sociais do respectivo povo.
Que eu saiba, o trabalho, o trabalho de V. é o primeiro no género em relação à etnografia desta Colónia, e por isso mesmo merece V. os mais entusiásticos aplausos por se ter dedicado a semelhantes estudos."
(Excerto do Prefácio)
"Folclore é vocábulo aportuguesado do inglês «Folk» (povo), «Lore» (saber), não sabemos se inventado mas proposto, em 1846, por W. J. Thoms, para representar o conjunto dos factos correlativos, conhecidos sob várias denominações, tais como lendas, ritos, jogos e danças, romances e cantigas, etc.
Englobando e versando semelhantes temas, constitui-se, sem dúvida, parte integrante da ciência etnográfica, se a sistematização dos conhecimentos por esta ministrados nos autoriza tal classificação.
O estudo do nosso «Folclore» implica conhecimento perfeito do dialecto e, conseqüentemente, convivência de espaço e íntima como o povo, assistindo às suas festas, jogos e trabalhos, e ouvindo os seus cantares e adágios, suas lendas e superstições."
(Excerto da I Parte - Folclore caboverdeano)
Índice:
Prefácio. | 1460. | I Parte: Folclore caboverdeano; Cabo-Verde e Brasil; Noções elementares de gramática. II Parte (Cancioneiro): A Morna; Morna; Crioulo do Fogo; Crioulo de Santiago: - Palavras prévias; - Batuque; - Cimbó; - Batuque; - Finaçon; - Declaração de amor; - Glossário. | Apêndice: Mornas - Canções crioulas. | In-memoriam: António Cortez: - Sol de Bedjiça; - Morna. Eugénio Tavares: - Já m'crê-bo! - Amo-te!
Pedro Monteiro Cardoso (190-1942). "Escritor cabo-verdiano nascido em 1890, na Ilha do Fogo, e falecido em 1942, na cidade da Praia. Professor do ensino primário, salientou-se no jornalismo ao defender os interesses sociais, políticos e económicos de Cabo Verde. Publicou Folclore Cabo-Verdiano (1933), Pelos Direitos do Crioulo (1933) e Profissão de Fé (1934), uma série de sonetos e redondilhas. Dirigiu o jornal Manduco e colaborou na Voz de Cabo Verde."
(Fonte: Infopédia)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
Peça de colecção.
45€