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22 agosto, 2024

AMORIM, Francisco Gomes de - AS DUAS FIANDEIRAS : romance de costumes populares
. Lisboa, David Corazzi - Editor: Empreza Horas Romanticas, 1881. In-8.º (16,5 cm) de 390, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Romance de costumes rurais. Trata-se de uma das mais apreciadas e invulgares obras do autor que escolheu a sua terra natal - Avelomar (A-Ver-o-Mar) - para epicentro da acção.
O presente exemplar terá pertencido ao próprio Gomes de Amorim, dado ostentar aquele que julgamos ser o seu carimbo pessoal na folha de ante-rosto, bem como correcções do texto a tinta ao longo do livro.
"Ha na formosa provincia do Minho uma freguezia rural denominada S. Thiago de Amorim, que se compõe de numerosas aldeias. Entre todas estas, avulta Avelomar, como a maior e mais bella pela sua posição. Está situada em planicie ampla, cortada por muitos riosinhos, semeada de fontes e arvoredos, que dão aos seus campos, sempre verdes e floridos, os aspecto de jardim vistosissimo.
Nada ha mais pittoresco e alegre do que essa povoação. De todos os lados se avista a fita azulada das aguas do oceano, orlando a terra, desde o sudoeste até ao norte."
(Excerto do Cap. I, Avelomar)
"N'um domingo, do anno de 1845, seriam apenas oito horas da manhã, estava já a capella de Nossa Senhora das Neves atulhada de gente. Fazia calor, e as portas achavam-se todas abertas de par em par. Sem embargo de respeito religioso, com que todos os habitantes, á excepção das beatas, se conservam sempre nas egrejas do Minho, e em Avelomar principalmente, notava-se ali não sei que vaga animação, n'aquelle dia; e todos cochichavam, mais ou menos. Como era cedo, e o padre não tinha vindo ainda para a sachristia, o sussurro da conversa ia crescendo de instante a instante. Unicamente os homens velhos fallavam pouco: todo o mulherio parecia agitado; esquecia-se completamente dos rosarios, e ficava longo tempo com as boccas colladas nos ouvidos das vizinhas; as raparigas casadas de pouco, olhavam com inquietação para os maridos; as solteiras, que não podiam córar mais, por serem naturalmente da côr das romans, mordiam os beiços de despeito, notando a impaciencia com que os rapazes olhavam para as portas.
Evidentemente, Avelomar estava commovida. A entrada de toda a população para a capella, uma hora antes da missa, era acontecimento que nunca se tinha dado desde que o mundo é mundo. Homens e mulheres haviam voltado as costas ao altar, o que era desacato estupendo; mas ninguem deu por elle. [...]
O padre Manuel entrou na sachristia e começou a revestir-se. Com a sua vinda cessou o borborinho; mas ninguem se virou para o altar; todos os olhos continuaram tenazmente a interrogar as portas.
Repentinamente, uma corrente electrica percorreu a multidão.
Duas mulheres, envoltas em grandes capas escuras, entraram pela porta da travessa. Apezar de estar tudo cheio, os homens esmagaram-se uns contra os outros, e abriu-se largo espaço, onde cabiam á vontade as recem-chegadas. Estas ajoelharam-se, com as costas para a porta, de modo que podiam ver e ser vistas de todos os lados."
(Excerto do Cap. II, Anna e Rosa Estella)
Francisco Gomes de Amorim (Avelomar, Póvoa de Varzim, 13 de agosto de 1827- Lisboa, 4 de novembro de 1891). "Poeta, jornalista e dramaturgo português, emigrou com dez anos para o Brasil, tendo sido caixeiro, em Belém do Pará. Vítima dos maus tratos de patrões portugueses, Gomes de Amorim fugiu para o sertão amazónico, onde por acaso encontrou, na cabana de uma família indígena, o poema Camões, de Almeida Garrett, episódio que dá início à sua vida de poeta, conforme relata no prefácio autobiográfico de Cantos Matutinos (1858). De volta ao Portugal, em 1844, depois de dez anos de ausência, estreita a relação de amizade que une Gomes de Amorim a Almeida Garrett, que tendo publicado o Romanceiro e Cancioneiro Geral, em 1843, irá influenciar o amigo e discípulo na valorização da cultura popular. A essa primeira influência soma-se a das Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, em 1871, que irão desembocar no movimento nacionalista de valorização do mundo rural, enquanto repositório das raízes da Nação. É nesse contexto impregnado de amor à Pátria e de preservação das tradições populares que desponta As Duas Fiandeiras, “romance de costumes populares”, publicado por Gomes de Amorim em 1881 (embora escrito em 1866), pela prestigiosa editora de David Corazzi de Lisboa, dentro do selo “Horas Românticas”. A dedicatória da obra, evocação da paisagem amazónica, e a geografia da narrativa, a Avelomar natal, configuram as duas pátrias às quais o autor dizia pertencer. Retratados com fidelidade e verosimilhança, os tipos humanos que povoam As Duas Fiandeiras vêm ao encontro da caracterização regionalista nos quadros do realismo-naturalismo, ao mesmo tempo em que respondem pela idealização de uma ruralidade mítico-simbólica, com a qual se inicia a narrativa: “Ainda lá não chegaram os esplendores e os vícios da civilização, que ilustra e corrompe tudo (...)”.
(Fonte: Biblioteca Digital)
Encadernação coeva em meia de pele com nervuras e ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado, com falhas de pele na lombada, sobretudo nas extremidades. Miolo sólido, com ocasionais manchas de acidez.
Raro.
Indisponível

31 maio, 2024

CARNEIRO, João Borges -
ESBOÇOS PALIDOS (contos).
Com um Prefacio de J. Pereira Sampaio (Bruno). Porto, Deposito : Livraria Magalhães & Moniz, 1908. In-8.º (16,5x12 cm) de [12], 151, [5] p. ; B.
1.ª edição.
Interessantíssimo conjunto da contos, rústicos na sua maioria, eivados de algum sensualismo, mas sobretudo tristeza, pessimismo e sofrimento.
Obra enriquecida pelo prefácio de Sampaio Bruno.
Exemplar valorizado pela dedicatória manuscrita do autor à conhecida actriz Adelina Abranches (1866-1945).
"Bertha era a mais formosa, a mais captivante das companheiras.
Os abundantes cabelos d'um negro aveludado, todo em naturaes ondulações suavissimas, esbatia-se docemente nas faces assetinadas, alvas como a neve, em macios sombreados d'um encanto infinito.
E que graça a do seu olhar voluptuoso e meigo, que irresistivel feitiço onde ele se fitava muito quebrado, demoradamente atrahindo como um iman, deliciando como um beijo, prendendo como uma algema.
As fórmas do seu corpo divino, como feito de setim e neve, eram modelares, lindamente roliças - a suprema ostentação dos encantos peregrinos d'uma  mulher.
Uma noite, uma noite calida e abafadiça d'agosto, entrou no lupanar onde exercia sua profissão impudica um grupo ruidoso e alegre d'alguns rapazes."
(Excerto de A Cortezã)
"A aldeia acordara em festa.
Logo aos primeiros alvores da madrugada, serena e deleitosa, os sinos repicaram festivos e uma salva estrondosa de morteiros echoou estranhamente de quebrada em quebrada, até morrer muito ao longe, na infinidade das serras altas, de aspecto taciturno e agreste.
Á porta do brazileiro do Eirado, rodeada de populaça, uma philarmonica das mais afamadas dos arredores com os seus barretes de largos listões vermelhos em que se erguiam muito aprumados pennachos azues e brancos, tocava com garbo, pomposamente, uma marcha animada e forte.
Em cima, n'uma estreita janela onde duas saliencias de pedra sustentavam velhas panelas de mangericões e cravos, o brazileiro, com o cotovêlo fixo no parapeito, apoiando com a mão papuda o carão disforme, d'uma vermelhidão de tomate maduro, olhava altivo, com desdem requintado a multidão andrajosa e pobre que o contemplava boquiaberta, n'um grande pasmo de imbecilidade rude.
Fôra ha annos para o Brazil. Era então um rapaz esbelto, desempenado, creado aos rigores do frio, ás ardencias do sol alegre, feliz na placidez monastica da sua pequenina aldeia. N'esse tempo, qualquer rapariga da freguezia sentia imenso orgulho em tel-o como conversado. Foi, comtudo a Maria do Prado a que mais profundamente se lhe afeiçoou. Formosa, com a simplicidade rustica dos campos onde vivia, tinha tambem tido muitos pretendentes, que invariavelmente regeitava, a quem nunca dava fala."
(Excerto de A Camponeza)
Indice:
Prefacio | A Mendiga | Na Alameda | A Cortezã | A Camponeza | A Noiva | Sonhando | O Condemnado | Placidez e Tormenta | A Missa do Abade Novo | No Baile.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e pequenas falhas de papel nos cantos. Com falha assinalável de parte do papel da lombada.
Raro.
Indisponível

07 maio, 2024

LIMA, Jayme de Magalhães -
SONHO DE PERFEIÇÃO
. Porto, Typographia Pereira, 1901. In-8.º (21,5x14,5 cm) de [6], 392 p. ; E.
1.ª edição.
Interessante romance rural cuja acção decorre na zona de Aveiro, em meados do século XIX.
"O dr. Mateus era um santo homem. A pé logo ao amanhecer, em singelo esmero, a face barbeada, cabellos brancos, poucos e desalinhados, conserva-se agora, aos cincoenta annos, como sempre fôra desde que saiu de Coimbra. Bondoso, d'uma inalteravel bondade, o olhar calmo, cheio d'indulgente sympathia, todo o tempo se lhe divide entre o escriptorio, onde trabalha e ouve os clientes, o tribunal da villa da Eirinha e o seu quintal, de que brotam com opulencia fructos, vegetações e flôres - unico, mas infinito prazer da sua vida. Conservára-se solteiro, vivendo sob a tutela benefica e doce da irmã, mais velha, que tudo mandava em casa, mandando bem, modesta e ordenadamente. Desprezando os regalos do matrimonio, nunca se resolvera a casar. Além d'isso, não faltavam herdeiros: tinha os sobrinhos, os filhos do irmão, juiz n'uma comarca do Minho. Demais, os clientes eram tantos!... coitados! não os podia desamparar. Renunciava a uma familia limitada, porque adoptára outra, incerta, vaga e extensa - a dos que precisam d'auxilio."
(Excerto do Cap. I)
Jaime de Magalhães Lima (1859-1936). Natural de Aveiro. Foi um pensador, poeta, ensaísta e crítico literário português, irmão do jornalista e político republicano Sebastião de Magalhães Lima. Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1888, onde conheceu Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e o seu grande amigo Antero de Quental. Era admirador de Tolstoi, que conheceu quando foi à Rússia, conforme relata no seu livro Cidades e paisagens (1889). Dirigiu a revista Galeria Republicana (1882-1883) e colaborou na Revista de Portugal de Eça de Queiroz. Colaborou ainda com regularidade no mensário O Vegetariano, dirigido por Amílcar de Sousa e em diversas publicações periódicas, nomeadamente nas revistas: A semana de Lisboa (1893-1895), Branco e negro (1896-1898), Atlântida (1915-1920), Pela Grei (1918-1919) e na revista Homens Livres (1923). A sua bibliografia é variada. Escreveu romances, ensaios e biografias.
(Fonte: Wikipédia)
Magnífica encadernação em meia de pele com cantos, com dourados e ferros gravados a ouro sobre rótulos carmim na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação. Ex-libris colado no verso da f. rosto. Ausência f. ante-rosto(?).
Raro.
Indisponível

11 novembro, 2023

AGUILAR, Eduardo de -
ALMAS GENTIS DE NAMORADOS : romance campestre
. Segunda edição. Lisboa, Livraria Popular de Francisco Franco, [192-]. In-8.º (19x12 cm) de 328 p. ; E.
Capa de Fonseca.
Romance "campestre" cuja acção decorre no Minho, na zona de Ponte de Lima.
"Quando em Coimbra, o Luís Cunha concluiu o curso de Direito, despediu-se, com saudades, das lindas margens do Mondego e, desejoso de abrir caminho na vida, de conquistar a independencia, para valer á mãe que, já velha e doente, cuidava do casal, dirigiu-se a Lisboa, no firme proposito de se consagrar a causas importantes, fazer nome, criar clientela. Tinha um sonho, um desejo supremo. Provar aos soberbos Menezes, da sua aldeia, a linda S. Pedro de Arcos, junta aos vergeis de Britiandos, em Ponte de Lima, que o trabalho e o talento eram superiores a todos os pergaminhos e brazões. Para chegar esse resultado meter-se-ia em todos os campos a exigirem energia e perseverança."
(Excerto do Cap. I)
Eduardo de Aguilar (1875-1942). "Nasceu no Porto a 5 de Março de 1875, falecendo em Lisboa no ano de 1942. Além da função de contabilista que exerceu mais tardiamente, é com ligação à área das letras, nomeadamente através da actividade jornalística, que Eduardo de Aguilar se estreia no plano profissional. Com uma obra literária de cariz popular que oscila entre a tendência neo-romântica e incursões no realismo, Eduardo de Aguilar foi autor do livro de versos Cantigas à Bandarra (1924), a única obra poética que se lhe conhece, tendo-se destacado, sobretudo, enquanto romancista e autor dramático. No âmbito do romance, género a partir do qual granjeou a simpatia da crítica jornalística, publicou, no ano de 1912, A morgadinha de Silvares, a edição a favor da Sociedade das Escolas Liberais intitulada De profundis e O mistério da ressurreição. No ano seguinte, foi autor do romance Tragédias de Roma, que atraiu a atenção e as melhores críticas da imprensa da época, e, em 1921, publicou Amores Trágicos e o romance realista A caminho das trevas. Seguiram-se-lhes Almas gentis de namorados e Os fidalgos do cruzeiro, ambos publicados em 1922, e posteriormente O ilustre Bernardo, Vida de miseráveis e Entre espadas e amores, tendo sido ainda autor do romance campestre Os sinos da minha aldeia (1941)."
(Fonte: http://vcp.ul.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=43&Itemid=122#porto_01)
Encadernação editorial em percalina com ferros gravados a seco e a ouro na pasta anterior e na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Indisponível

28 junho, 2023

COELHO, Trindade - OS MEUS AMORES. (Contos e Balladas). 3.ª edição, muito augmentada. Paris-Lisboa, Livraria Aillaud & Cia, 1901. In-8.º (19 cm) de 423, [1] p. ; [1] f. il. ; E.
Conjunto de pequenos contos de inspiração rural (23), distribuídos por três "categorias": Amores Velhos; Amores Novos; AmorinhosTrata-se talvez da obra mais apreciada do autor, a par de In Illo Tempore (recordações dos seus tempos de estudante, em Coimbra).
Título traduzido para castelhano e francês, e multiplamente reeditado entre nós. Inclui no final do livro a apreciação literária de Os meus amores pela crítica espanhola.
Livro ilustrado com o retrato de Trindade Coelho impresso em heliogravura, por Dujardin (Paris).
Edição substancialmente aumentada relativamente às duas que a precederam (o dobro), composta por textos rústicos, muito belos - a prosa cuidada e castiça - a fazer lembrar outro mestre contista português - Teixeira de Queiroz.
Exemplar muitíssimo valorizado pela dedicatória autógrafa do autor.
"Quando atravessou a povoação, rua abaixo, com o rebanho atraz d'elle, era ainda muito cedo. Ao longo das ruas tortuosas, as portas conservavam-se fechadas, e não vinha das habitações o mais insignificante ruido. Dormia-se a somno solto por todas aquellas casas. Apenas algum cão, subitamente acordado em sobresalto pelo chocalhar do rebanho, ladrava do alto dos escadorios de pedra onde ficára de sentinella, ou de dentro das curraladas, onde levára a noite fazendo companhia aos novilhos. D'onde em onde, gallos madrugadores entoavam matinas sonoras, que eram como risadas vibrantes de bohemios, n'alguma esturdia, a deshoras...
Mas passadas as ultimas casas, o silencio condensava-se para toda a banda, núma grande pacificação de templo adormecido. Nem viv'alma pela ladeira que levava ao rio, por um caminho em zig-zags. [...] Nem um balido de ovelha em todo o rebanho que se ia submissamente á mercê do pequeno pastor, parando se elle parava a colher as amoras frescas dos silvados, recomeçando a marcha se de novo elle se punha a caminhar.
Quando passou rente ao meloal da fidalga, ouviu-se o ruido de um tiro, que o echo levou para longe."
(Excerto de Idyllio Rustico)
"Noite velha, sahia o Antonio Fraldão de casa da Alonsa, quando viu, a curta distancia, escoar-se um vulto que parecia de gente.
O Fraldão sahia á esconsa e por isso não se affirmou: - mas ainda que se affirmasse, provavelmente não conhecia quem era, pois já não havia luar áquella hora, e as estrellas, ao alto, esmoreciam. Demais, os dois seguiram em sentido contrário; elle a metter-se em casa, e o outro, se era gente, direito á cóva dos castanheiros, onde se internaria na treva densa.
Aquillo, a principio, não deu que pensar ao Fraldão; - mas ao chegar a casa pouco depois, no extremo opposto da pequena aldeia, já com a mão da aldraba da porta suspeitou:
- Ora quem seria o melro?! Se teremos historia?!..."
(Excerto de Antonio Fraldão)
Indice:
Amores Velhos: Idyllio Rustico; Sultão; Ultima Dadiva; Preludios de Festa; Typos da Terra; Vae Victoribus; Maricas; Para a Escola; Abyssus Abyssum; Mãe.
Amores Novos: Terra-Mater; Luzia; A Choca; Á Lareira; Vae Victis; Antonio Fraldão; Manhã Bemdita; Mater Dolorosa; Manoel Maçores.
Amorinhos: O conto das três maçãsinhas d'oiro; O conto da infeliz desgraçada; O conto das artes diabolicas; Parabola dos sete vimes.
«Mis Amores» e a Critica.
José Francisco Trindade Coelho (1861-1908). "Escritor. Natural de Mogadouro, a sua obra reflete a infância passada em Trás-os-Montes, num ambiente tradicionalista que ele fielmente retrata, embora sem intuitos moralizantes. O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus personagens, fazem de Trindade Coelho um dos mestres do conto rústico português. Fiel a um ideário republicano, dedicou-se a uma intensa atividade pedagógica, na senda de João de Deus, tentando elucidar democraticamente o cidadão português. Era um homem inconformado. Nem a fama de magistrado, nem o prestígio de escritor, nem a felicidade conjugal conseguiam fazer de Trindade Coelho um cidadão feliz. À medida em que avançava no tempo mais se desgostava com a vida, pelo que o desespero o levou ao suicídio em 1908. Deixou uma obra variada e profunda, distribuída por quatro vertentes. Jornalismo, carácter jurídico, intervenção cívica e literária. Algumas obras: «Manual Político do Cidadão Português», o «ABC do Povo», o «Livro de Leitura». A série «Folhetos para o Povo», onde se incluem, entre outros: Parábola dos Sete Vimes, Rimas à Nossa Terra, Remédio contra a Usura, Loas à Cidade de Bragança, e Cartilha do Povo, A Minha candidatura por Mogadouro. Como obras literárias deixou: «Os Meus Amores» (1891) e já inúmeras reedições de «In Illo Tempore» (livro de memórias de Coimbra-1902)."
(Fonte: Wook)
Belíssima encadernação em meia de pele com cantos, e com ferros gravados a ouro nas pastas e na lombada. Conserva as capas de brochura, ainda que a capa frontal tenha sido alvo de restauro.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Aparado e carminado à cabeça. A pasta anterior apresenta falha de revestimento junto à lombada.
Raro.
60€

19 abril, 2023

NEMÉSIO, Elias -
GENTE DA SERRA.
Ensaio, sôbre o casamento, emmoldurado em quadros rústicos. Faro, Tipografia "União", 1931. In-8.º (21,5 cm) de [16], 270, [2] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Romance-ensaio em que o autor - "serrano" algarvio - se propõe analisar o casamento sob o ponto de vista dos valores tradicionais, da moral e dos bons costumes. Raro e muito interessante.
Livro ilustrado com bonitas gravuras assinalando o início e final de cada um dos 17 capítulos.
O assunto, que me propús estudar, o matrimónio, interessa a quasi todos, sobretudo à gente nova. Que rapaz ou rapariga não terá perguntado anciosamente:
- Devo ou não devo casar?
Estudando êste assunto, ao-de-leve, não tive só em vista proporcionar leitura interessante, mas também dar conselhos aos novos, que pensam em mudar de estado e falam do casamento, com a cabeça um pouco no ar, com muita fantasia, através dum céu límpido de noivado...
A matéria é vasta, desde o namôro, a parte poética, até aos deveres dos cônjuges e à grande e tremenda responsabilidade da criação e educação dos filhos - fim último do casamento, segundo o conceito cristão. No estudo do matrimónio encontram-se questões muito delicadas. Devia fingir que as ignorava? Não está muito no meu feitio fingir. Além disso, por êsse Algarve fóra, nos combóios e nas camionetas, onde quer que concorram rapazes e homens de poucos escrúpulos e até mesmo em reuniões de amigos defendem-se, eu sei, práticas opostas aos princípios da moral e aos interêsses da colectividade. E mesmo entre as raparigas, as raparigas que chegaram à idade de casar - diga-se a verdade! - quantas são as que não conhecem, teoricamente as questões melindrosas do casamento?
Embora dos rapazes nenhum ignore o que vai encontrar nas páginas da Gente da serra (não sou tão pessimista como um velhote que me dizia: Estes negregados, os moços de agora, ainda não andam e já andam com malícia...) e das raparigas sejam raríssimas as que não o tenham aprendido em conversas com amigas mais velhas ou já casadas."
(Excerto de Carta-prólogo)
"Nem viv'alma passava pelas ruas ladeirentas e mal calcetadas da vila. O quarto crescente da lua desaparecêra já por detraz do Castelo. As lindas moiras encantadas, no dizer de pessoas antigas, pelas horas mortas da noite, saíam da cisterna e do corredor subterraneo que a ligava com a Fonte das Mentiras e, enquanto penteavam os seus lindos cabelos de agarenas, iam cantando a sua desdita, em melodias repassadas de tristeza e de saudade. [...] A noite ia envolvendo toda a vila no seu manto que aumentava a negregura á medida que a lua ia desaparecendo por detraz das muralhas velhissimas e torres esboroadas. Em todo o anfiteatro, tinham-se apagado as ultimas luzes. Apenas da janela do quarto de Júlio Fernandes, uma claridade mortiça, irradiando de um candieiro de azeite, saía a medo para o escuro da noite e espreitava os misterios daquele silêncio de necrópole. [...]
Sobre a ponte, com um pé fincado no parapeito e o cotovelo apoiado no joelho, José Costa, ou Zé Gordo, como era mais conhecido, olhava para o pégo, demoradamente. 
Adivinhava-se com facilidade que estava sofrendo nalma a amargura de quem se vê abandonado e, mais que abandonado, desprezado.
Quando o coração sangra, o fantasma da morte surge e, passando pelos olhos dos infelizes numa vertigem, procura seduzi-los, arrastá-los, prometendo-lhes alivio ao duro sofrer..."
(Excerto do Cap. I)
Manuel Francisco Pardal (Aljezur, 1896-1979). "Foi um religioso, professor e escritor português, sendo considerada a mais importante figura no concelho de Aljezur na época contemporânea. Ocupou altos cargos na Igreja Católica, chegando a ser nomeado Monsenhor pelo Papa João XXIII. Notabilizou-se como orador, tendo pregado em várias freguesias no sul do país, mas também em Lisboa, Fátima e Lourdes. Foi professor em Faro, no Seminário de São José, no Liceu Nacional, e na Escola Tomás Cabreira. Distinguiu-se igualmente como jornalista, tendo dirigido o periódico diocesano Folha de Domingo, onde escreveu durante cerca de meio século, e como escritor, tendo publicado três livros: Razões da minha razão, Menina das Águas Frias, e o romance Gente da Serra. Este último foi editado em Faro (1931), com o pseudónimo Elias Nemésio, e é um testemunho da vida quotidiana das populações no concelho de Aljezur no início do século XX, sendo considerada a sua obra principal."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura anterior.
Exemplar em bom estado de conservação. Capa apresenta falha de papel no canto superior direito.
Raro.
Indisponível

01 novembro, 2022

LEAL, Augusto Ribeiro - AS VITIMAS DO CASAMENTO.
(Romances Históricos)
. Porto, Tipografia Mendonça (a vapor) : Laura Couto & Pinto, 1927. In-8.º (21 cm) de 217, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Conjunto de pequenos contos (verídicos?) cujo tema comum é o "Casamento". Nada foi possível apurar acerca do autor, a não que, além da presente obra (1 exemplar na BNP), possui um outro título cadastrado na mesma base de dados - O Infinito (1906).
Raro, interessante e muito bem redigido. Capa bonita, não assinada.
"Ao escrevermos As vitimas do casamento, não tivemos em mira censurar ninguem. A descrição das vitimas só se pode fazer por meio de narrativas de casos tristes que o leitor prudente não aplicará senão aos nomes que lhe fornecemos, e que, provavelmente, não conhece. Se se desviar disto, pode errar o alvo, levantar uma calúnia, fazer estrondear um escandalo. Aplique, portanto, os factos aos nomes dos romances, e deixe-se de curiosidades vãs, em cujas descobertas nada se lucra.
Todos pertencemos á humanidade, e não devemos censurar os actos de qualquer membro, mas sim lembrar-los, para tirarmos disso lição, e aproveitamento, e é com esse fim que se publica este livro.
Os factos a que nos vamos referir, são do século passado, mas podem-nos esclarecer o presente. Os casos passaram-se quási todos ha mais de cincoenta anos, e os personagens podem considerar-se todos mortos; e dêstes, só devemos colher a experiência que sua história nos dá, e toma-la por mestra de nossa vida, por nosso ensinamento.
As vitimas do casamento não serão as mesmas que as vitimas do amor? É o que nêste livro vamos vêr.
As vitimas do amor são aos milhões, e assim as do casamento..."
(Excerto do Prólogo)
Indice:
Prólogo. | 1.ª Parte: I - Opiniões e afectos encontrados. II - Namoro ao serão. III - Digressões. IV - Confidências. V - Expediente de namorada. VI - Lastimas e dôres. VII - Um casamento na aldeia. VIII - A animação. IX - Incidente amoroso. X - A surpresa. XI - A revelação. XII - Um murro. XIII - O que tem de ser pode muito. XIV - O viver no engano. XV - Não sabem ser gente. XVI - O desengano. XVII - Vidas sem futuro. XVIII - A confissão do engano. 2.ª Parte: O amor firme e constante. | Guerra ao Planeta. | A ruina. | A mulher. | O casamento indissoluvel. | O que diz Gustave Le-Bon, relativamente ao amor. | Conclusão.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
Indisponível

06 agosto, 2021

ABREU, Solano de - MULHER PURIFICADA.
[De como esta novela aconteceu em nossos dias]
. Lisboa, Parceria Antonio Maria Pereira, 1926. In-8.º (19 cm) de 190, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Romance naturalista de ambiência rural. Alberto Doirado - o Doiradinho -, oficial dos correios, tudo faz para subir na escala social (e material) pelo casamento.
Obra interessante e muito bem redigida, rica em vocabulário e expressões patuscas, como é apanágio do escritor abrantino. Trata-se de uma história que o autor reputa de verídica, conforme inscrição na capa do livro: "De como esta novela aconteceu em nossos dias".
"O Alberto Doirado, ou o Doiradinho, como familiarmente o tratavam as damas, a quem com freqúência e multiplicidade fazia a côrte, era dos primeiros oficiais dos correios e telegrafos e fazia serviço nas ambulancias postais. Tinha figura, gestos, maneiras para alinhar com distinção na sociedade, que freqúentava. Podia até ser árbitro de elegancias, se as condições dos Petronios atuais fossem compativeis com os ordenados dos correios. Alto, talhado em esguio, escanhoado como um leitão em toilete de forno, a espinha levemente curvada anunciando marreca precoce, os braços caídos ao longo do corpo, o olho direito envidraçado com monoculo constante. Sempre enluvado fora do mister profissional, embora muitas vezes os dedos protestassem contra a prisão da pelica e da camurça, deitando a cabeça de fóra num esfôrço libertador. [...]
Economico, até quási à avareza, amealhava todo o ano para no verão gastar nas estancias de águas e termas e mais freqúentemente em Vizela, campo de preferencia escolhido para a ambicionada conquista de noiva rica entre afamadas herdeiras, com quem era facil o conhecimento e o trato nos piqueniques, nas ceias americanas, nos chás dançantes de cada hotel, e no baile do casino, onde ele todas as noite tomava de empreitada as javas, os foxtrots, os one stép, os tangos e os maxixes. [...]
A realisação dum bom casamento era o seu sonho constante, de todas as horas, porque mesmo acordado trazia sempre a imaginação cheia de fantasia, que era um ideal absorvente de todos os pensamentos e acções. De procedimento correto, maneiras educadas, facilmente conquistava simpatias, cercando-se duma atmosfera benígna, acolhedora mesmo, num meio social em que lhe era facil entrar e manter-se dignamente na posição vertical, que o Creador lhe dera e ele aperfeiçoára."
(Excerto do Cap. I)
Francisco Eduardo Solano de Abreu (1858-1941). "Nasceu a 19 de Julho de 1858 em Abrantes, tendo-se formado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1885. Embora tenha exercido advocacia e a magistratura, foi noutras áreas que se tornou conhecido na sociedade abrantina, nomeadamente como empresário agrícola e sobretudo na área de assistência social, onde a sua filantropia o tornou estimado de muita gente a quem ajudou a minorar múltiplas carências socio-económicas. A título de exemplo refira-se a fundação em 1921 da Sopa dos Pobres ligada ao Montepio Abrantino a cujos corpos sociais pertenceu. Pelas suas atividades humanitárias recebeu o grau de Comendador da Ordem de Benemerência e a medalha de Mérito, Filantropia e Generosidade.
Homem de cultura e amante das atividades cénicas, foi diretor do jornal "Correio de Abrantes e escreveu romances e peças de teatro, como a revista "No País da Aletria" que foi representada no desaparecido Teatro Ator Taborda. Solano de Abreu faleceu em 1941."
(Fonte: ae1abrantes.esdrsolanoabreu.pt)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequenos defeitos.
Raro.
Indisponível

08 março, 2021

BOTELHO, Affonso - O SENHOR REITÔR
. Lisboa, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 1899. In-8.º (19 cm) de 264 p. ; B.

1.ª edição.
Romance rural. Narrativa da vida do padre Ruy, o senhor reitor, um engeitado entregue ainda recém-nascido aos cuidados dos fidalgos da Casa grande. Obra dedicada pelo autor a Lourenço Cayolla, conhecido militar e jornalista natural de Campo Maior.
"Pelo estreito caminho, que tortuosamente cortava a meio a encosta, seguia o rancho, que andava no peditorio do folar; era domingo de Paschoa. Na frente claudicava em contratempo o Zacharias, (o sacristão, que era côxo), com a caldeirinha de agua benta e o hyssope; atraz, o senhor reitôr, seguia de sobrepelliz, branca como as azas das pombas nevadas, que n'aquella occasião se espalhavam na altura pela limpidez azul, espelhante de sol bom; logo após, dois rapazólas levavam um grande cesto, onde se recolhiam as offertas, os folares; no couce ia o rapazio das aldeias, ávido sempre da nota alegre e festival, de tudo quanto o venha despertar da vida monotona dos campos. [...]
De repente o Zacharias quebrou o silencio:
- Sôr reitor, já se avista Villarinho, d'aqui lá é um pulo. Olhe, no meio do arvorêdo como branquêja a Casa grande...
E, como se o reitor continuasse silencioso, elle tornou:
Em casa do snr. seu padrinho sempre a gente bebe um golásio, e do bom!... Vem mêsmo a calhar com esta calorina; .. safa!... parece que estamos já no mez do S. João!...
O reitor, sem responder ao Zacharias, fixava pensativo o solar do fidalgo, que, no tôpo d'um pequeno cabêço, se ostentava em baixo por entre as grandes arvores do quintal, cercado pelas casitas pardacentas da aldeia: a Casa grande, como o pôvo lhe chamava."
(Excerto do Cap. I)
Afonso Botelho (1849-1901). Natural de Elvas(?). Não existem referências acerca do autor, a não ser a informação retirada da BNP sobre as obras que publicou: para além d'O Senhor Reitôr, dois livros de contos: Contos (1894) e Azul e Negro (1897), e a participação num jornal/revista(?) O Imparcial (1888).
Encadernação inteira de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura
.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação.
Muito invulgar.
25€

24 setembro, 2020

GUERRA, Miguel - A CULPA
. Lisboa, [Livraria Central, Editora], 1932. In-8.º (19 cm) de 55, [1] p. ; B. Col. As Nossas Novelas, I
1.ª edição.
Novela rural publicada pela Livraria Central de Lisboa. Julgamos que não saiu mais nenhum número desta colecção, apesar do editor dar notícia de uma outra "em preparação para sair brevemente" do mesmo autor, de quem não foi possível apurar quaisquer informações bio-bibliográficas.
"A lua, no horisonte, a poente, lentamente ia desaparecendo, levando a claridade do luar, apagando-se assim os reflexos vivos de luz em candências esfumadas sôbre o mar.
Ondas maneiras e medrosas, vinham lânguidas e lentas; e, sempre continuadas por outras que, umas após outras se formavam, partindo-se e desfazendo-se, vindo sob a fria fervura da pratiáda escuma, desfazer-se por fim, na enorme praia deserta, levemente manchada por caprichosas nuvens, que a fraca aragem, lentamente arrastava para as bandas do sul.
Para leste, um continuádo de montes e vales, onde predominavam altaneiros e frondosos, grandes pinhais - manchas nítidas de verde escuro e frio.
Nalguns declives e clareiras havia velhos casais ainda adormecidos."
(Excerto do início da obra)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Manuseado. Sem f. anterrosto.
Raro.
Sem registo na BNP.
15€

12 fevereiro, 2020

ABREU, Solano de - MALTRAPILHOS. Lisboa, Parceria Antonio Maria Pereira : Livraria, 1918. In-8.º (19,5 cm) de 261, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Romance naturalista de ambiência rural, dedicado pelo autor a Teixeira de Queiroz. História de um moço de dezassseis anos, conhecido por "Corvaxo", nascido "na Cova da Onça, num barracão de malteses, annexo á taberna da Josefa Zanaga".
"A feira formigava de gente alastrada em manchas largas, variegadas, na vasta explanada onde os gados se expunham e os arruamentos branquejavam em renques de lona. Nas barracas das farturas a massa esguichava de seringas de lata, ficando a nadar no azeite fumegante em crepitações de fervura. Doutras vinham cheiros engulhosos do fartum das caldeiradas e cantigas lamuriantes ao som de guitarras, que gemiam fados no mesmo queixume. Seguiam-se as dos sapatos, tresandando a sola fresca, moldada em formas de grosseiros feitios e o rasto cravejado de grossa pregaria, porque as não havia finas, sem resistencia para o contacto com a terra pedregosa na lida do trabalho, ou na aspereza da caminhada. [...]
Os ciganos tisnados, olhos vivos de avelludada negrura, no meio das mulheres de saias garridas, numerosas, ou em farta roda, os lenços largos de ramagens berrantes, os cabêlos cahidos em caracoes azeitados, barafustavam, berravam em côro, no encarecimento das nobres qualidades do gado para a troquilha, tentadora dos freguezes inexperientes.
E então o burro avelhado, farto de trabalho e fome, as orelhas pendentes, o beiço cahido, tinha de trotar ligeiro á custa do aguilhão, cruelmente aguçado, solidamente cravado no anel do cigano, voltado para a palma da mão, prompto a espetar-se na anca da victima, com a simulação traiçoeira duma bondosa caricia ou dum innocente estimulo. E, se a troca estava por pouco, a cigana, em altos gritos, lamentava-se, accusando o marido de desgraçar a familia com desastrosos negocios, para mais tentar, para melhor illudir o outro, que se convencia com o astucioso protesto, com a enganosa lamuria.
Mais lá, onde o pó se erguia em nuvem densa, volteavam os pares na dança e as raparigas iam nos braços delles agarradas como novilhas em pegas de ferra. Pairava por toda a feira a poeira nevoenta, que o sol pulverisava em vibrações de oiro."
(Excerto do Cap. I)
Francisco Eduardo Solano de Abreu (1858-1941). "Nasceu a 19 de Julho de 1858 em Abrantes, tendo-se formado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1885. Embora tenha exercido advocacia e a magistratura, foi noutras áreas que se tornou conhecido na sociedade abrantina, nomeadamente como empresário agrícola e sobretudo na área de assistência social, onde a sua filantropia o tornou estimado de muita gente a quem ajudou a minorar múltiplas carências socio-económicas. A título de exemplo refira-se a fundação em 1921 da Sopa dos Pobres ligada ao Montepio Abrantino a cujos corpos sociais pertenceu. Pelas suas atividades humanitárias recebeu o grau de Comendador da Ordem de Benemerência e a medalha de Mérito, Filantropia e Generosidade.
Homem de cultura e amante das atividades cénicas, foi diretor do jornal "Correio de Abrantes e escreveu romances e peças de teatro, como a revista "No País da Aletria" que foi representada no desaparecido Teatro Ator Taborda. Solano de Abreu faleceu em 1941."
(Fonte: ae1abrantes.esdrsolanoabreu.pt)
Encadernação editorial inteira de percalina com ferros gravados a seco e a ouro na pasta frontal e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.

Indisponível

17 janeiro, 2020

ABREU, Solano d' - UM ANJO SEM AZAS. Texto de... Illustrações de José Motta. Lisboa, Officinas Typographica e de Encadernação Movidas a electricidade Da Parceria Antonio Maria Pereira, 1907. In-8.º (18,5 cm) de 371, [5] p. ; il. ; E. Col. Galeria Provinciana, II
1.ª edição.
Romance de inspiração rural. Trata-se de uma crítica às elites provincianas, escrita com humor e veia satírica. Livro ilustrado nas páginas de texto com bonitos desenhos a p.b.
"Dissolvida a camara legislativa os deputados provincianos regressaram á terra.
O doutor Marcos Brandão tinha chegado a casa no comboio da madrugada.
O Brandão, depois de ter casado com a velha Mauricia, irman e rica herdeira do prior, pediu a demissão de delegado do procurador regio, fez-se candidato a deputado, e não lhe custou muito entrar em S. Bento com o auxilio do dinheiro da mulher e o favor do governo, que assim explorou a vaidade do doutor e compartilhou a herança do padre."
(Excerto do Cap. I, Nos braços dos eleitores)
Francisco Eduardo Solano de Abreu (1858-1941). "Nasceu a 19 de Julho de 1858 em Abrantes, tendo-se formado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1885. Embora tenha exercido advocacia e a magistratura, foi noutras áreas que se tornou conhecido na sociedade abrantina, nomeadamente como empresário agrícola e sobretudo na área de assistência social, onde a sua filantropia o tornou estimado de muita gente a quem ajudou a minorar múltiplas carências socio-económicas. A título de exemplo refira-se a fundação em 1921 da Sopa dos Pobres ligada ao Montepio Abrantino a cujos corpos sociais pertenceu. Pelas suas atividades humanitárias recebeu o grau de Comendador da Ordem de Benemerência e a medalha de Mérito, Filantropia e Generosidade.
Homem de cultura e amante das atividades cénicas, foi diretor do jornal "Correio de Abrantes e escreveu romances e peças de teatro, como a revista "No País da Aletria" que foi representada no desaparecido Teatro Ator Taborda. Solano de Abreu faleceu em 1941."
(Fonte: ae1abrantes.esdrsolanoabreu.pt)
Encadernação editorial inteira de percalina com ferros gravados a seco e a negro e ouro na pasta frontal e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
Indisponível

20 agosto, 2019

PINTO, Fortunato Correia - O MILAGRE. (Scenas da Beira). Lisboa, Parceria Antonio Maria Pereira : Livraria Editora, 1909. In-8.º (18,5 cm) de [8], 158, [2] p. ; C.
1.ª edição.
Romance rural realista de cunho profundamente anticlerical. Obra dedicada pelo autor a Miguel Bombarda, conhecido médico alienista, professor e político republicano, que em 6 páginas faz o elogio das suas qualidades morais e humanas, vituperando a classe política e a influência jesuítica.
"- Não, lá que um homem poupe aquillo que tem, não andando para ahi, a estraga-lo em coisas inuteis, é justo; mas que leve a sua sovinice a não dar uma de X para uma solemnidade religiosa, isso é que não tem justificação possivel! - dizia o José da Loja, dando palmadas rijas sobre o balcão, contrariando os argumentos apresentados por um dos frequentadores do estabelecimento para justificar o «brazileiro», como é de uso chamar aos nossos compatriotas que vão ao Brazil, o unico dos habitantes da aldeia que não quisera concorrer para a festa do Coração de Jesus, que d'ali a dias devia realizar-se.
 O sr. José por certo não ligou sentido ás palavras que empregou - volveu o seu oppositor, que era um rapaz novo e d'aspecto delicado, mas agradavel - porque chamar sovina a quem, como o brazileiro, ahi gasta dinheiro a rodo, ha de concordar que é um contrasenso.
- Sim, eu quando disse sovina queria dizer... queria dizer... gaguejava o José da Loja, sem que lhe accudisse o termo salvador.
- Póde dizer que é sovina para coisas de religião - disse outro dos presentes, vindo em seu auxilio.
- É claro, é claro - confirmou o respeitavel commerciante empertigando-se e apresentando em toda a sua magestade o seu notabilissimo abdomen, ao mesmo tempo que ia sacudindo as moscas que n'um enxame numeroso teimavam em lhe não largar as grandes e polpudas orelhas e o tumido e oleoso pescoço, que a suja camisa, desabotoada, deixava completamente á vontade."
(Excerto do Cap. I)
Fortunato Correia Pinto (18??-19??). "Professor primário, republicano, conhece-se apenas uma obra de ficção, hoje ignorada quer enquanto texto literário quer enquanto documento: O Agitador."
(Fonte: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8814.pdf)
Encadernação cartonada do editor. O desenho da capa é de P. Guedes, sendo Dumas o gravador.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Capas apresentam manchas e pequenos defeitos.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível