quarta-feira, 26 de julho de 2017

De canção em canção

Cansada para falar De canção em canção, Terrence Malick, com Natalie Portman, Michael Fassbender, Ryan Gosling, Rooney Mara, Cate Blanchett. Achei muito impressionante a coisa toda, e por vezes entediante o por onde ele nos leva naquele mundo delirante em busca de uma liberdade que não existe, jamais existirá para nenhum humano, não naquelas sendas trilhadas por seus personagens, todos artistas do meio musical, mais perdidos do que centrados, uns mais que outros, vão-se esbarrando - e a palavra é essa mesma, eles se esbarram, transam, procuram no outro o que falta no caminho de cada um, no sentimento, na vida, na história, no amor que não há, até que vão entendendo, e os que acham o amor, acham; os que não, se matam - acho justo, acho digno. Mas as mulheres sempre chorando mais que os homens, porque eles aprontam mais? Não, porque mulher chora mais mesmo, e eu detesto mulher chorosa, ou chorona. Enfim, sobram os pedaços de uns, os inteiros possíveis de outros, mas a fotografia é sempre belíssima, os cenários estranhos e mutáveis todo o tempo, um mundo mental entre o onírico e o simplesmente delirante, louco.

De todos os cacos que formam esse vitral fílmico, os cacos relacionados à performance musical dos astros mais me irritaram, por estereotipados, salvo as cenas quase lindas com a Patti Smith - terna figura, meio-bruxa, meio-sábia, sendo generosa com a personagem de Rooney Mara. 

E de tal colcha de retalhos, quase nada me deslumbrou, como parece ser o desejo do filme: - olhem, admirem o fim de tudo que é desejo, amor ou ilusão de afeto. A vida é estilhaço, apenas - foi o que as imagens cortantes e cortadas me disseram. Eu ouvi, vi, e me retirei, entre cabisbaixa e decepcionada. Há mais, Malick, e há outras formas mais bacanas desse mais. Ou desse menos. 

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Soundtrack

Soundtrack. Direção 300ml, com Selton Mello, Ralph Ineson, Seu Jorge. 

Há pouco tempo fui andar por São Paulo e acabei vendo (com duas amigas virtuais paulistas que se tornaram presenciais) a peça Constelações, com Marília Gabriela (a quem sigo no instagram) e Caco Ciocler. As duas amigas detestaram, mas eu simplesmente amei a peça. 

Gostei de tudo: das repetições, do trabalho de atriz de Marília, sobretudo o controle da voz que ela empreende, o esforço hercúleo que deve ter sido ela mudar seu tom de voz firme e contundente, que usa em seu trabalho de jornalista, e moldá-la para ser a voz hesitante e suave de Marianne, aquela que vai-se mostrando ao longo da história de modo mais intenso. A peça é difícil, repete-se infinitamente, e vai modulando nessas repetições uma história que vai ficando cada vez mais interessante, para mim, que fui ficando cada vez mais presa em tudo e em todos os pequenos detalhes, e amei cada momento. No final, aplaudi de pé. 

Tudo isso pra dizer que esse filme da dupla 300 ml (mais informações sobre eles aqui ) é diferentão, estranho, e belíssimo. Não importa que não tenha quase história, mas ter sido filmado sob (e sobre) o gelo mais gélido e numa paisagem quase toda branca todo santo dia - tudo isso me interessou muitíssimo, além do trabalho magnífico de Selton Mello, com seu inglês perfeito, e de seu colega Ralph Ineson, os que mais ativamente contracenam, e por onde a história circula melhor. 

Acho que o filme propõe uma discussão sobre os limites da arte e da vida, além de confrontar o valor da ciência frente à arte para o avanço da vida entre nós, terráqueos. Na primeira vertente, ele trabalha a ideia de até onde se pode ou deve ir para fazer o que parece necessário a fim de construir um objeto de arte conforme o desejo que se impõe ao artista, além de constituir-se como metáfora da solidão criativa - em sua concretude de cenário, de personagem, de projeto, e das relações hesitantes, difíceis mesmo, que eles intentam criar no exíguo espaço que lhes cabe compartilhar. 

Enfim, vi o filme como uma história sobre aproximações humanas, e sobre a inexorável fome do artista em face de sua arte.