quinta-feira, 29 de junho de 2017

Três filmes, mais um

Paris pode esperar. Dir. Eleanor Coppola, com Diane Lane, Alec Baldwin, Arnaud Viard.
Tudo a ver com Sob o sol da Toscana (2003), em que a mesma atriz protagoniza um filme romântico de semelhante extração - bonito, bem feito, em cenários de cidades onde quase qualquer pessoa pode desejar viver, bem como experimentar as aventuras leves, divertidas, sem culpas, tranquilas, superficiais e sensatas, com direito a paquera amorosa e tour gastronômico com o casal, nessa ótima história. Tudo corre lindo, leve e solto no filme, que foi feito para nos proporcionar prazer, alegria e bem estar, na medida certíssima do bom senso e da sobriedade. Eu agradeço todas as delicadezas, gostei demais de sentar às mesas todas dos restaurantes onde o casal esteve, amei os passeios todos e vi feliz esse filme que não me exigiu nada além da entrega - o que fiz com prazer.

Quero a sequência com os casal aos 70 anos, espero ainda estar viva até lá para continuar nossa aventura sob o signo da leveza. 

PS: Tomara que ela aceite o convite dele e vá aonde ele marcou. 

Na vertical. dir. Alain Guiraudie, com Damien Bonnard, India Hair, Raphaël Thiéry.
Se em Um estranho no lago, filme anterior do diretor, o sexo entre homens é o tema e leitmotiv, misturado a um certo clima de mortes e mistérios, aqui parece haver um escancaramento na proposta de abordar o sexo, agora como uma espécie de compulsão - o protagonista passa por várias situações um tanto confusas, até se tornar pai e, de certo modo, ficar paralisado naquele papel - ele não avança em seu caminho de vida, não sabe o que fazer daquele dom que descobriu em si, nem do bebê propriamente dito, já que não consegue cuidar dele, nem instalar-se em algum lugar que sirva de lar, abrigo, ou proteção para a criança. 

O filme fica banzando como o pai, de lá pra cá, e meio que se finca nas cenas fortes, três ao menos, que impressionam e impactam o espectador - um parto em amplo close; uma cena de cunnilingus também em close, e uma penetração entre homens que eu achei meio artificial (pelo tamanho que me pareceu exagerado, ou falso, do pênis), mas que ao cabo se mostrou extremamente erótica, sobretudo pela relação imediata com a morte e, na sequência, com o pós orgasmo, como o nomeiam os franceses, e está em nosso imaginário - la petite mort.  
De todo modo, a par dessas cenas contundentes, achei o filme meio sem destino, e talvez tenha sido essa sua proposta. 


Kiki - os segredos do desejo. Dir. Paco Léon, com Natalia de Molina, Álex García, Anna Katz.
Já esse Kiki, que prometia pelo trailer um filme bem centrado nas questões de sexo, fica mais no nível das brincadeiras eróticas, das taras bem leves e com alguma graça dos personagens. Um filme que se vê sem grandes arroubos, mas com algumas boas risadas.


Dégradé. Dir. Tarzan Nasser, Arab Nasser, com Hiam Abbas, Maisa Abd Elhadi, Manl Awad. 
Talvez pelo espaço de confinamento em que se transforma o salão de cabelereiro onde as mulheres se encontram, e terminam meio aprisionadas, o filme também acabou me cansando, mesmo sendo uma história necessária em seu empenho de retratar uma guerra infindável, ao mesmo tempo que encena o outro lado da vida: as necessidades do cotidiano e do universo femininos, representadas pela mulher que vai ter um filho; pela outra que vai casar e precisa estar maquiada e bem penteada para a cerimônia etc - situações que parecem nunca chegar ao fim, em razão dos transtornos trazidos por uma sequência de ataques violentos na rua em frente, de que só se ouvem os fortes ecos. 

Enfim, um filme que sufoca, menos pela questão da violência explícita da guerra, do que pelo confinamento das mulheres a tão restrito espaço - mental e físico.   

sexta-feira, 23 de junho de 2017

O círculo

O círculo tenta fazer o retrato um tanto aterrorizante dos tempos midiáticos, onde não há praticamente privacidade, nem quase individualidade, e a mocinha (bem mocinha mesmo, quase uma Hermione do mundo fictício-real mostrado na tela) se dispõe, por livre e espontânea vontade, a fazer de sua vida um personal reality, ou seja, nada do que faz deixa de ser visto e comentado por bilhões de pessoas all over the world - a coisa é mesmo massiva, como eles gostam - toda a humanidade olha, vê, comenta, palpita (tá, o exagero foi o filme que autorizou). A atriz Emma Watson se sai bem, mas nada que tenha me parecido novo no conjunto de seu trabalho.

Achei tudo meio - se não inverossímel - bobinho demais, excessivo, com furos de plot - afinal, ninguém mais sabia da existência do personagem Ty Kalden, criador do programa mais ambicioso da empresa? Não achei convincente que ele possa ser tão invisível quanto deseja, num universo mental e ambiente profissional onde expor-se é regra básica de qualquer iniciante. Enfim, achei que tem furos, me pareceu inconvincente, e o que de melhor vi ali foi a atuação de Tom Hanks, muito bom e muito à vontade no meio da garotada. Deu de dez.

sábado, 10 de junho de 2017

Neve negra

Neve negra. Martin Hodara. Com Ricardo Darín, Laia Costa, Dolores Fonzi, Leonardo Sbaraglia. 

Achei Neve negra uma obra prima. Obríssima mesmo, tudo perfeito para mim: síntese, direção, fotografia (na Patagônia gélida, mais que gélida, eu mesma senti frio ao longo do filme todo), roteiro, atuação magistral de Darín, e também dos outros dois atores que trabalham o tempo todo. 

Não achei furo na história, não vi as antecipações que menciona o Janot, fui entendendo à medida que os fatos iam sendo rememorados, junto com os flashbacks de Marcos, e só fui perceber o inteiro teor da coisa quando o diretor quis que eu soubesse. Amei, me assustei, me emocionei, fiquei com raiva, claro, e saí do cinema com o peso de ter entendido o nível de solidão daquele homem, a quem Darín incorporou tão bem: a expressão, o olhar, a dureza, a alma angustiada e o jeito simples dos homens inteiros, que sobreviveram a formas variadas de expiação. 

Um filme para não esquecer, para pensar em nossos limites, e nos limites das instituições que nos configuram; nos abandonados da terra, nos puros e nos que reconhecem pelo cheiro os que lhe são pares. Farejadores. Víboras cujas línguas se cruzam, se casam. Os que causam mal, e os que sobrevivem a quase tudo, contando com sua própria força - aquela que foi sendo gestada e tecida na solidão de um cenário inóspito, cruel, absoluto. Os absolutos. Os absolutamente sós. Enfim, um puta filme.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Mulher maravilha!

Filme blockbuster ótimo, com o charme extra de mostrar a força e a extrema qualidade da diretora e da protagonista, ambas excedendo em seu métier num universo-gênero cuja primazia tem sido solitariamente masculina desde que o cinema existe. Espero que seja uma franquia também de muito sucesso, e que mais mulheres ousem nesse nível de excelência!
Ah! @QueroMaisMulherMaravilha!
E todas as outras maravilhas de que somos capazes.