A chegada. Denis Villeneuve, 2016. Com Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg.
Para isso, recebe um dom, ativado por eles, os alienígenas - o dom da percepção, a habilidade de discernir aos poucos o que vai acontecer, a partir da leitura de sua própria história ainda não vivida, mas a que tem acesso. Uma fenda no tempo, ela se constitui; um sexto sentido, ela transpassa.
Em que momento ela recebe o dom, ou o aprimora? - quando coloca a mão pela primeira vez na barra que separa humanos/não humanos, e que permite ao mesmo tempo uma mediação entre as espécies? Ou quando, já no final, é levada para dentro de uma cápsula menor e lá 'se pare' - ou seja, imerge num espaço/tempo indiscernível, como num parto de-si, de onde sai molhada e sabendo o que fazer?
De todo modo, o filme ganha sempre, até nos momentos mais clichês - por causa dela, pela 'causa' dela, por sua intuição, por sua coragem, sua ousadia, e também (para nós) porque quando ela - a professora linguista - começa sua aula, na primeira cena do filme, e inicia uma explicação sobre uma tese a respeito de o Português ter sido uma língua indo-europeia que melhor expressaria a arte, a aula para, e nós queremos saber, eu quero saber.
Mas o diretor compensa a não resposta, ou melhor, vai além, e transforma a linguagem, uma forma muito especial de linguagem, em comunicação e arte. Palmas para ele, e para toda a equipe - todos excelentes, convincentes, competentes (não é um palíndromo, mas ecoa). Acho que verei de novo.
Por fim, quero muito estar presente daqui a três mil anos, porque: a) quero saber que problema eles enfrentarão; b) quero ajudar.