sábado, 25 de janeiro de 2014

Flash words - e O lobo

Não entendi se O lobo de Wall Street é um filme sobre ganância, conforme se apregoa, ou um filme sobre, entre outras coisas, as infinitas possibilidades de um sujeito estressado com o frenético dia a dia da bolsa de valores se drogar de todas as maneiras, e trepar feito louco. De todo modo, Scorsese podia ter dado uma resumida básica e o DiCaprio continuaria a ter uma atuação brilhante, que eu torço para que leve um merecido Oscar. O que quer que eu venha a dizer de plus, foi dito em algum lugar, já que abundam na rede comentários, críticas, resenhas, análises - um vasto material, mais ou menos profundo, sobre esse e tantos outros filmes. A ressaltar, além do trabalho ótimo do Leo, a breve e excelente passagem de Matthew McConaughey no início do filme - o cara está mesmo numa fase muito boa, disse afinal que veio pra fincar seu nome na história desse métier (ia dizer indústria, mas).

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Parece que vou precisar descobrir em breve sobre o que escrever neste blog, se quiser continuar mantendo esse diálogo virtualmente hipotético por aqui, já que não tenho visto mais sentido em escrever sobre: a) filmes; b) livros. Fechar a bodega também é uma hipótese, mas se não o fiz até agora, acho que continua.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Conversa de domingo

Ontem finalmente encontrei a peça que conecta a TV à base, num saco esquecido onde havia elástico, um par de meias de dormir da AA, pastas de dente, enfim, onde eu jamais pensaria encontrar tal objeto, uma espécie de ferradura preta (não é esse da foto, mas tem a mesma função), com os respectivos parafusos num saquinho plástico. Olhei praquilo atentamente, e demorei pra entender do que se tratava, já que essa televisão nunca fora usada antes sem ser na parede. Foi tão boa a descoberta, ao acaso da sorte, que eu mesma fiz a montagem, com o maior cuidado pra não quebrar nada, nem carregar muito peso - essa TV é bem pesada. Ficou ótimo, deu tudo certo, já inaugurei revendo ontem Django livre no HBO, e mesmo sentada numa poltrona nem tão confortável vi até o fim e achei bom demais esse filme, tudo ali é feito para durar muitos anos de prazer, pensar e riso.

Uma das coisas boas de mudança, entre tantos bagaços cansativos, é a descoberta de objetos que a gente não sabia que tinha, ou não usava no cotidiano - eu redescobri, e nem sabia que era tão, mas tão bom, um conjunto de CDs do Oscar Peterson que estou ouvindo desde ontem e tem-me feito um bem enorme.

Outra coisa boa de mudar é que a nova casa impõe outros objetos, diferentes arranjos, e a criatividade desenferruja um pouco, a gente tem que usar impensadas antes disposições das coisas, que se adequem aos novos espaços, nesse caso, bem maiores. Duas compras inadiáveis (na verdade três, mas a terceira, um sofazão, ainda não chegou) gostei demais de ter feito, e por isso levei os objetos do mostruário, já que não havia outros em estoque, os preços estavam bons, e não me arrependo: uma cômoda com sete gavetões, em madeira ótima, e um rack para a televisão e o pequeno som, onde também guardei todos os DVD's e CD's, e ainda sobrou espaço.

A rua onde moro é calmíssima, mas no domingo passado, à tardinha, passou por ela um bloco bem animado, o que me deixou surpresa, mas não cheguei a ficar chateada com essa pretensa invasão carnavalesca em meus redutos de calmaria, até porque a coisa toda veio e foi bem rápido. Ah, e tocaram Olha a cabeleira do zezé, entre outros clássicos do carnaval.

Acho que tem um ninho de passarinho dentro do espaço onde fica o ar condicionado do meu quarto, pelo lado de fora, vou ver isso na próxima semana. Acordo de manhã com canto de passarinho, sim, mas também com uma algaravia de gritinhos variados bem dentro do meu ouvido, parece que os bebezinhos estão pedindo comida aos berros. Vou ficar num dilema se houver mesmo o tal ninho. Esse aí está sempre na varandinha do quarto, deve ser um parente próximo da prole.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Palermo shooting

Seguindo uma indicação de um amigo de amiga no facebook, fui dar num site excelente, que disponibiliza filmes inteiros, sem propaganda, sem material indesejado, só filmes em ótima transmissão. Espero ver vários, e o primeiro deles foi esse magnífico Palermo shooting, de Win Wenders (2008), com um ator interessantíssimo chamado Campino, que eu não conhecia mas que parece ser, ou ter sido, um artista meio cult; uma lindíssima atriz italiana, Giovanna Mezzogiorno; uma aparição rápida de Lou Reed; outra mais demorada da Milla Jovovich sendo ela mesma, e linda; e Dennis Hopper como a Morte, em momentos muito bons - de textos e interpretação.

Tudo no filme me interessou - a agilidade, quase feérica, em que vive imerso o fotógrafo, seu modo de trabalhar incansavelmente - acho que ele é obsessivo, no que somos aparentados; os deslocamentos pelos lugares, esse nomadismo, quando se exploram paisagens novas e sempre interessantes; o tema da morte, claro, em especial esse modo de personificá-la, que está também em Asas do desejo, o que faz com que ela, a morte, seja ao mesmo tempo intimidadora, por inescapável, e próxima a nós - tem a ver com uma visão aparentada com o mundo clássico, dos seres alados e mitológicos, mas ao mesmo tempo terrena, íntima, uma espécie de parente nosso, de que havíamos esquecido e reaparece inesperadamente - eu gosto muito do jeito como Wenders transita nesse mundo da morte, me sinto muito próxima de tudo.

E há o amor, a forma como esse homem vai-se deixando tocar pelo amor, pela vida em sua forma intensa, mas de outro modo - mais plena e comungante. Ele, que só conhecia o frenesi, passa a olhar e ver, não apenas fotografar, mas ver. O filme todo é bonito, tudo de que trata me interessa e gostei demais de ter visto.

Vale a pena conhecer o site onde fui encontrá-lo, onde há outros excelentes:  http://www.cineclubecinemateca.com

domingo, 5 de janeiro de 2014

Álbum de família

Uma lavagem de roupa suja clássica entre membros de uma família, que se odeiam visceralmente, esse o núcleo dramático de Álbum de família (John Wells, 2013), em que brilha lá no alto a atuação magistral de Meryl Streep, em que pese alguns exageros de vez em quando - embora todos caibam no personagem, uma mãe em conversa com a morte, em razão de um câncer na boca, mas nem por isso disposta a fazer mea culpa do que quer que seja, ao contrário, irascível, meio louca pela dependência às drogas, odiando todo mundo, aí incluídas as filhas, que, por seu turno, têm pouquíssima compaixão por essa mãe em seu momento doloroso, mas dificílima de ser amada.

Trata-se de um filme de texto, longos diálogos cruéis e duros, entre todos os personagens, mas sobretudo entre essa mãe enlouquecida e suas três filhas, com destaque para a mais velha, Barbara, vivida por Julia Roberts, em seu primeiro filme com a 'grande dama'. Há duas cenas, ao menos, impagáveis: uma briga em que todos se envolvem e caem no chão, se batendo e debatendo, e uma cena em que Violet, a mãe, se embrenha no mato, correndo trôpega, vindo do funeral do marido, que se matara. O modo como todo seu corpo treme, de raiva e pela doença, impressiona. Ao longo da história, vemos uma matriarca demente que quer imperiosamente manter-se no poder e impor seu poder aos que a visitam, e já a abandonaram, tratando todo mundo de forma cruel e irônica, sobretudo Barbara, que se afastou dali há anos, e por isso torna-se a mais visada.

Trata-se de um filme poderoso, onde se ri eventualmente, porque em toda grande tragédia sempre há do que achar graça, mas é da solidão de todos os personagens, mesmo daqueles que estão em pares, da absoluta solidão de cada um de nós, que nos enxergamos em pedaços na tela, que fica a mensagem forte final.