Não sei se por estar vivendo uma experiência nova em minha vida, numa fase não tão nova; ou se porque estou, nesse momento, meio em trânsito existencialmente, com as coisas que nos constituem em suspensão, em estado de espera, o fato é que achei A vida secreta de Walter Mitty (Ben Stiller, 2013) um filme sensacional - uma ode à imaginação, às transformações, à ousadia, ao cinema, sobretudo ao cinemão norte-americano, em seu melhor nível, aquele dos efeitos especiais, dos super poderes, mas também o cinema de invenção, de bons intérpretes e ótimas atuações; de mocinhos e causas nobres, valores altos e trabalhos dignamente realizados.
Além disso tudo, tem os atores perfeitos em seus papéis, do protagonista-diretor-produtor Ben Stiller, comovente em seu intento de fazer uma mega produção com alma, coragem e competência; à mãe, interessantíssima em sua cumplicidade com os filhos e seu bolo poderoso, vivida por Shirley MacLaine, uma lenda que se oferece ao espectador com generosidade e grandeza; à amada, eleita por Mitty, vivida com meiguice por Kristen Wiig.
E à homenagem ao cinema, ao grande cinemão de ação e sonhos, soma-se a homenagem à fotografia, ao jornalismo feito por gente grande, ética e profissional, representado pelo fotógrafo vivido - eu tenho que usar o adjetivo: magistralmente - por Sean Penn. Ele demora a aparecer, mas quando aparece (brevemente) sintetiza muito do que o filme pode significar, uma luz grande se abre em torno de tudo, ele mesmo está tão poderosamente belo, com suas rugas e sua sabedoria de intérprete, fazendo um personagem afeito a extremos, e a belezas extremas, que ficamos meio sem ar, com os dois lá no alto da montanha, tocaiando a beleza breve que passa em forma de tigre raro (e uma frase-anátema, algo como 'a beleza não tem pressa em mostrar-se'), e deixando-se viver o instante-aquele, no momento em que acontece: achei uma das cenas mais poderosas do filme, que condensa uma de suas fortes vertentes: a vida é aqui, e agora.
Um filme que nos faz querer mudar - o mundo, a vida, o destino, as vontades. Muito bom, e um prazer enorme de ver.
PS. Durante todo o filme, desejei ter feito parte da história do cinema deles, de ter estudado a sério o métier, de ter realizado alguma obra de peso e ter passado uma temporada aprendendo com os bons em boa Academia. Pensava em Sundance, talvez pela presença de MacLaine, ou seja, da própria história do cinema norte-americano, junto com seu irmão Warren Beatty. E em Robert Redford. Enfim, divagava.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
sábado, 21 de dezembro de 2013
It's raining cats and dogs
De qualquer modo, estou sentindo como se Iemanjá estivesse exageradamente me saudando, e me abençoando, e agradeço. Sei que as pessoas humildes e simples, que moram em áreas de risco, estão absolutamente desamparadas, perderam suas coisas e casas, precisam de ajuda, e o prefeito da cidade, o homem que deveria estar aqui para dar suporte e apoio e cumprir o dever para o qual foi eleito e ganha salário, viajou na quinta feira para Nova Iorque, para ver de perto a neve dos ricos.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Tá certo
Eu fico muito impressionada com o seguinte: sessenta e oito pessoas, até hoje, ou camundongos, ou dogs, ou frestas de janela ou porta entraram para ler ou passar os olhos ou sem querer esbarraram aqui na postagem sobre Azul é a cor mais quente. Nenhum ou nenhuma quis ou teve vontade ou se animou a dizer um simples: oi.
Tá certo.
Atualizando: cento e um fantasmas mudos em 28/12 - que coisa esquisita.
Tá certo.
Atualizando: cento e um fantasmas mudos em 28/12 - que coisa esquisita.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Indo e vindo
Indo para Vila Velha. Indo e vindo, parece que assim será. Outras plagas também estão nos planos. Planos andando.
sábado, 7 de dezembro de 2013
Azul é a cor mais quente (com spoilers)
Sem sombra de dúvida é um filme corajoso, e longo - e excessivo, esse de Abdellatif Kechiche (2013), com a dupla Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos, ambas fortemente empenhadas no projeto, como se verá nas telas. Uma história de amor, por um lado clássica, com direito a todos os capítulos que tais histórias comportam: paixão arrebatadora, sexo selvagem, enjoo momentâneo de uma das partes, traição por bobeira, abandono sem querer, abandono por escolha, choros e ranger de dentes. E, claro, cenas de sexo lésbico fortes, intensas, interessantes. Mas...
Primeiro, a personagem Adèle, a mais jovem, chora demais, e tem uma boca estranha, e um olhar excessivamente pedinte, e carente e... não dá, esse mundo dos excessos e intensidades das paixões, assim eviscerado ao olhar do espectador, não me pertence, minha sensibilidade enjoa daquele festim de intensidades desenfreadas, mesmo reconhecendo que está tudo certo, é assim mesmo, não se ama nesse tempo em tom menor. Já a personagem de Léa Seydoux, Emma, aparece mais contida, não apenas porque mais madura, mas porque é a parte que lhe toca na relação, e isso rende um personagem mais interessante a meu olhar - mais rico, mais bonito, mais forte, mais sabendo o que quer. Mas, não impede que - segundo -, algumas conversas soem datadas, figurando uma cultura tipicamente francesa no sentido mais artificial - citar Sartre, os papos sobre pintura, Klimt, Picasso etc, tudo meio solto, meio vago mas querendo engatar uma imagem ao mesmo tempo de palco um tanto ilustrado e de conversa-que-quer-impressionar-em-seus-começos, que meu olho captou como 'ai, que cansaço'.
De resto, achei mesmo cansativo todo o processo, e algumas falhas como o sumiço da família da jovem a partir da comemoração dos dezoito anos; ou a vocação irreprochável para o magistério que a atuação nega, no ar blasé com que a professora administra (mal) a aula e o ditado. Mas há cenas bonitas, claro, algumas excelentes mesmo - as de sexo, por exemplo, são, como direi - didáticas?; as de dança da moça que chora, mas que dança muito belamente; a cena no bar, ótima tentativa de retomada frustrada, embora o escorrido do nariz da jovem tenha me incomodado terrivelmente (aliás, o modo dela mastigar também); e a cena final, quando afinal ela sai da relação e engata outra marcha no passo de sua vida. Gostei muito que o rapaz não a tenha visto, que ela tenha seguido sozinha sem a companhia dele - de outro modo teria sido uma traição ao filme, acho.
****
E o texto me pareceu melhor.
Primeiro, a personagem Adèle, a mais jovem, chora demais, e tem uma boca estranha, e um olhar excessivamente pedinte, e carente e... não dá, esse mundo dos excessos e intensidades das paixões, assim eviscerado ao olhar do espectador, não me pertence, minha sensibilidade enjoa daquele festim de intensidades desenfreadas, mesmo reconhecendo que está tudo certo, é assim mesmo, não se ama nesse tempo em tom menor. Já a personagem de Léa Seydoux, Emma, aparece mais contida, não apenas porque mais madura, mas porque é a parte que lhe toca na relação, e isso rende um personagem mais interessante a meu olhar - mais rico, mais bonito, mais forte, mais sabendo o que quer. Mas, não impede que - segundo -, algumas conversas soem datadas, figurando uma cultura tipicamente francesa no sentido mais artificial - citar Sartre, os papos sobre pintura, Klimt, Picasso etc, tudo meio solto, meio vago mas querendo engatar uma imagem ao mesmo tempo de palco um tanto ilustrado e de conversa-que-quer-impressionar-em-seus-começos, que meu olho captou como 'ai, que cansaço'.
De resto, achei mesmo cansativo todo o processo, e algumas falhas como o sumiço da família da jovem a partir da comemoração dos dezoito anos; ou a vocação irreprochável para o magistério que a atuação nega, no ar blasé com que a professora administra (mal) a aula e o ditado. Mas há cenas bonitas, claro, algumas excelentes mesmo - as de sexo, por exemplo, são, como direi - didáticas?; as de dança da moça que chora, mas que dança muito belamente; a cena no bar, ótima tentativa de retomada frustrada, embora o escorrido do nariz da jovem tenha me incomodado terrivelmente (aliás, o modo dela mastigar também); e a cena final, quando afinal ela sai da relação e engata outra marcha no passo de sua vida. Gostei muito que o rapaz não a tenha visto, que ela tenha seguido sozinha sem a companhia dele - de outro modo teria sido uma traição ao filme, acho.
****
E o texto me pareceu melhor.
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