Também gostei muito do olhar renovado do jovem, que não embarca no discurso realista mas já retrógrado dos -istas do momento (comunistas, socialistas) quanto ao modo de fazer a campanha: mais denúncias, mais depoimentos, ou mais olhar pro futuro, mais o que se quer - a alegria, por supuesto. Me lembrou a volta de nossos exilados, a tanguinha do Gabeira, os baianos, toda uma efervescência que a pós ditadura trouxe para o país. O que não quer dizer que tenha esquecido, mesmo não tendo sofrido na pele nenhuma violência: vinte anos da minha vida foram vividos sob um regime de exceção. Mas também muitas histórias de cumplicidade, sobretudo com Maritza Portela, minha guru das esquerdas, que iluminou nossa imensa ignorância sobre a miscelânea de tendências em que se desdobrava a esquerda de então, que ainda vigora nas várias e confusas vertentes que compõem o que sobrou do PT. Maritza já está em outra dimensão, mas às vezes a vejo sorrindo pra mim, aqui e ali, o que me deixa muito feliz.
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Indo para Vitória amanhã passar o final de ano longe - de tudo, e principalmente do Rio, cada vez mais irritante. Ficar em hotel com ar direto, se eu quiser, sem problemas pra pagar a conta de luz depois, como fico aqui (pago contas de três casas - claro que vou falir esse mês). De todo modo, cada vez mais me convenço de que não quero ficar aqui, quero morar numa cidade menor, mais provinciana, embora com atendimento médico decente, e perto daqui, porque aqui ainda estão todos os (poucos) amigos e o que resta da família.
Acho que o Rio já deu para mim, e essa coisa de cidade-maravilha tem um tanto de propaganda enganosa - esse sol escaldante, os serviços (quaisquer serviços) péssimos e caríssimos, o atendimento à saúde no lixo (público, claro, mas o privado também, a não ser que se tenha um plano em nível de alto executivo), as escolas idem, salvo as muito caras. Acho que a cidade é boa pra visitar, pras celebridades e pseudo-celebridades, pra cultura em geral e quem pode pagar por ela, e pra torrar ao sol nas praias, onde um coco custa cinco reais, fora cadeira, guarda-sol etc. Então, até a praia ficou cara nessas plagas. Talvez Vitória pudesse ser uma alternativa, curto muito seu jeito simples de cidade pequena. O único e forte senão: as salas de cinema são poucas, e ficam em shoppings, argh. Mas eu quero a província, sim.
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Gostei muito de ter lido e terminado - o que está se tornando um tour de force atualmente - o livro do Amós Oz, O mesmo mar. Minha impressão é que ele não conseguia parar de escrever porque estava praticando um tipo de escrita muito livre, fazendo exercícios de liberdade, com maestria e talento. Alguns núcleos narrativos expandidos, que se encontravam aqui e ali, num regime imagético e formal de poema, longos poemas em prosa - e poemas porque ele trabalhou todo o tempo em versos - livres, mas versos, poucos trechos em prosa corrida. Difícil não gostar do universo que ele cria, difícil não sublinhar quase tudo. Muito talento esse homem tem para inventar e para organizar sua invenção em frases tão belas e questões tão próprias e ao mesmo tão nossas.

Da minha imensa pilha dos 'a ler', levarei o Vila-Matas (Ar de Dylan ou Suicídios exemplares) e/ou A visita cruel do tempo, da Jennifer Egan, que eu tentei ler ainda na forma de posts em inglês, mas levei uma surra do idioma. Vamos ver se em português eu consigo achar as razões por que ela ganhou o Pullitzer de ficção do ano passado.
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Que 2013 nos abençoe a todos - que possamos ser melhores, mais úteis a quem necessita, e mais alegres.