segunda-feira, 29 de outubro de 2012

007 - Operação Skyfall

O filme é estupendo! A cena de abertura já é ou será um clássico semelhante àquela da escadaria de Os intocáveis, que homenageia O encouraçado Potemkin. Aliás, o filme também faz homenagens à Sean Connery, à própria série, mas isso a Boscov já disse na ótima crítica que faz em Veja desta semana, com a qual concordo inteiramente, sendo ou não material de divulgação. A Adele cantando na abertura é de matar de lindo, tudo no filme é não menos que excelente.

Mas nunca é demais dizer da maestria, da perfeição, da coisa extraordinária que é a atuação  de Javier Bardem - fiquei magnetizada! Ele consegue fazer um ciberterrorista muito mau e consegue mesmo assim uma caracterização singular, diferente da que criou para aquele monstro intangível de Onde os fracos não têm vez. É até maldade com o Daniel Craig, essa luz excessiva em cima dele, porque também faz um trabalho absolutamente brilhante, é o filme em que ele está melhor, mais à vontade, como observa bem a Boscov. Enfim, filme para ver e rever, com muitas e fortes emoções. Até a M sai de seu casulo para viver emoções junto com o agente, muito boa essa saída dela.



o que houve com o sorriso do Sam Shepard? : Marido por acaso

Hoje ia fazer o canal de um dente complicadíssimo, que acabou não rolando - minha alegria foi enorme. Por isso entendo a bronca que o Sam Shepard deve ter de dentistas.

Isso porque vi ontem no Telecine o filme Marido por acaso, de 2009, com Uma Thurman, Collin Firth, Jeffrey Dean Morgan, uma comédia romântica bobinha que a gente vai vendo, vendo e quando percebe já terminou - bem e sem maiores problemas, tudo leve e ligeiro, sem pensares profundos ou elocubrações.

O que mais me impressionou, no entanto, foi o estado geral do (não) sorriso do Sam Shepard, que faz o pai da Uma, e os meio sorrisos que dá sempre que está em cena, quase de boca fechada, a gente percebe que ele não quer expor os dentes pouco cuidados. Fui ver nas fotos e fiquei muito espantada - como é que um homem tão talentoso, tão charmoso, que já participou de tantos filmes bons (portanto, usando a imagem, seu instrumento de trabalho) deixa as coisas chegaram nesse ponto? Não há hipótese de ser falta de dinheiro. Pra mim, pode ser pânico de dentista. Ou desleixo puro e simples. E o mais triste é que esses estragos têm fácil solução, o homem só precisa sentar na cadeira de um bom dentista e relaxar um pouco. Vamos, Sam, coragem.

domingo, 28 de outubro de 2012

onde há a força, e a necessidade

Quem estiver de bobeira, dá uma paradinha aqui, vale a pena conhecer esse blog, de uma mineira muito ativa, cheia de força e idéias miraculosas - Ieda Dias. Vejam as fotos dessa história, dessa 'viagem' tão especial, desse povo. E se puder ajudar, ajude! Abraço grande, fé e força para todos nós, que vivemos nesse tempo, nessas plagas, onde a necessidade impera.

http://oquevivipelomundo.blogspot.com.br/

E se você se perguntar, como eu fiz, por que ir tão longe para ajudar, quando aqui mesmo há tantos necessitados, leia antes aqui:

http://oquevivipelomundo.blogspot.com.br/2012/10/ta-no-blog-agora-nao-respondo-maisrs.html

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Impressionistas - Paris é aqui

Vi a exposição Impressionismo: Paris e a Modernidade hoje no CCBB e senti pela primeira vez o privilégio de ter mais de sessenta: fila enoooorme, eu quase já indo embora, um senhor me chama e me leva lá pra porta, outro me diz pra eu entrar pela esquerda, sou agora a terceira na fila do elevador - e o povo jovem esperando lá fora, como eu já fiz tanto. Aproveitando a deixa: amo quando me oferecem lugar no metrô, acho de uma delicadeza, e aceito sempre.

A mostra é bem organizadíssima, super profissional, com muita informação na mídia sobre os pintores, os quadros, os períodos, a importância para a pintura e a arte em geral, e como Paris é o centro de interesses para os artistas, como ela é a capital de um certo frenesi das artes naqueles fins de século XIX e início do vinte. Gostei de ter ido, não se pode perder uma oportunidade como essa, até porque nunca fui ao Museu d'Orsay e do Louvre só cheguei duas vezes a compor por algum tempo as filas, de onde voltei por incompatibilidade absoluta com elas.

Mas, para ser bem franca, tive a sensação de já conhecer quase tudo, de tanto que a gente vê e viu em fotos, em livros de arte, na história da pintura. Enfim, acho que fiquei mais emocionada quando vi Van Gogh no Rijksmuseum Amsterdam, já lá se vão anos - minha única visita, extasiada, a um grande museu internacional, por ocasião da ida a um congresso, financiada pelo pai de todos que estudam e pesquisam - o Cnpq.

Mas claro que é um programa que ninguém deve perder, preparando-se para andar, porque são várias salas e não é pequena não, como eu havia pensado. Fiquei meio cansada ao final.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

o lado A do B

Perdi meu celular hoje, e enquanto eu cancelava na operadora o chip e o aparelho, quem o achou (provavelmente deixei no táxi) me ligou duas vezes no número onde eu xingava o portador, mas permaneceu mudo - o sujeito, ou a, brincou com ele por pouco tempo, mas esse dia parece que tinha de terminar assim.

Por outro lado - e esse é o lado que importa - encontrei uma amiga que não via há tempos (foi na ida para vê-la que o cel dançou, mas eu é que estava desplugada), fomos ao Moviola, é sempre tão bom vê-la, e sabermos que mesmo sem encontros assíduos seremos amigas forever. Muito bom. E o creme de alho poró, outra delícia.

Há dias

Dia deserto, triste, horário de verão detestável, tardes que não terminam nunca, pores de sol infindáveis, às sete ainda é dia, d.e.t.e.s.t.o! Dia é dia, noite é noite, não me venham com simulacros, engodos - pra quase nenhum ganho, aliás. Paisagens assim - vento sibilando no areal, cidades desertas, aquele lugar nenhum de Out of Resenheim, aquela visão inicial de perder-se, antes de tudo acontecer; esse pó aqui, ali, em todo canto, e ela apontando no horizonte - Regina Dourado, leio nos jornais, abre os olhos já sem luz, afastando-se aos poucos desse mundo, depois de ter lutado muito contra uma recidiva de câncer, desta vez no outro seio - desde 2003 na batalha, e está prestes a ir-se aos 59 anos. Tão linda, tanto ainda pra viver. Que repouse, que volte como desejar, se houver reencarnação - às vezes acredito, outras melhor nem pensar. Oh, dia.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

As vantagens de ser invisível

Tudo nesse filme é emocionante - para jovens sobretudo, talvez. Mas eu estou longe de ser jovem e achei tudo emocionante, então, recomeçando: tudo nesse filme emociona o espectador, seja pela presença do belíssimo e ótimo ator Ezra Miller (como Patrick), o inesquecível Kevin; seja pela excelente Emma Watson (vivendo Sam), que todos conhecemos desde menininha e aqui dá um show no papel da jovem meia irmã de um, e paixão do outro. O outro é Logan Lerman, o protagonista Charlie dessa aparente história de inadequação, de busca por seus pares, de superação de bullying numa escola de segundo grau.

O filme começa e nos preparamos para ver então a história da inserção difícil desse personagem no meio selvagem dos estudantes de secundário estadunidenses. Aos poucos, acompanhamos as tentativas corajosas de Charlie para fazer a passagem entre ser um calouro e o encontro com seus assemelhados, jovens também meio outsiders, cujos problemas vão-se delineando à medida que ele se aproxima, tocando a sensibilidade do espectador a cada nova descoberta feita no contato com o(s) outro(s), a cada conquista de si, do afeto, ou do amor. As camadas de novos sentidos para as situações que eles vivem vão figurando uma história complexa, muito além do que supúnhamos inicialmente, até o final arrebatador e surpreendente, que reconfigura numa clave muito mais dramática as dificuldades de Charlie, do mesmo modo que paulatinamente situa os traumas tanto de Sam, quanto de Patrick.

A música importa muitíssimo, perpassa o roteiro, e os personagens interagem a partir de algumas canções. Uma, sobretudo, é fundamental para os três personagens (não sei seu nome), porque marca uma das cenas mais bonitas e tocantes do filme - aquela em que a persongem de Emma, ao som dessa canção sem nome, levanta-se no carro e se expõe ao vento e à liberdade daquele momento. Essa cena será retomada mais uma vez, com Charlie agora, num final belíssimo, reconfortante e de certo modo catártico também para o espectador.

Marisa Monte - Pernambucobucolismo

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Sudoeste

Nem vou me atrever a comentar extensivamente esse filme, porque não conheço cinema nesse nível que ele propõe. Acho que é um trabalho que estudiosos da área vão reconhecer como obra de arte, certamente, até eu mesma reconheço esse traço nele.

Percebo também que o preto e branco é necessário para contar essa história, mas não sei a função do granulado na película, que surge com frequência, talvez para marcar um tempo mais remoto, o 'há muito tempo', mas não estou certa.

De todo modo, não é um filme fácil, mas é uma experiência de intensidades, de fotografia belíssima, atuações fortes e precisas das atrizes: Simone Spoladore, Léa Garcia, Mariana Lima e Dira Paes estão todas plenas - pareceu-me um filme de mulheres fortes e trágicas. Os dois atores são coadjuvantes dessas mulheres, dessas histórias que elas representam de modo tão denso, veraz e voraz. Os olhares dizem muito (o de Léa Garcia, na cena de abertura, o de Dira Paes, mesmo o da menina em vários momentos). A tragédia nesse filme pertence ao universo feminino, faz parte de certos aspectos de sua condição, e de seu estar naquele mundo - no isolamento fundamental em que se encontram. Mais não conseguiria dizer.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

bric-à-brac

  • Revi ontem à tarde no Telecine o Melancolia - é melhor de ver na telona do cinema, mas continuo achando uma obra prima, me toca profundamente, me emociona muito - entendo inteiramente todos os personagens, e aquele universo me pertence.
  • Quase nunca ouço meus CDs, mas desde ontem escuto Marisa Monte. Paro e repito infinitamente duas músicas: O bonde do Dom (Universo ao meu redor) e Pernambucolismo (Infinito particular) - o que é isso? Algum tipo de sortilégio, de spelling? uma magia feita de sons e palavras e timbres? Choro sempre, meu coração se contrai de tanta beleza. Não sei explicar.
  • Tento terminar de ler há meses O filho de mil homens, do valter hugo mãe, mas não consigo me concentrar por muito tempo. Algo está mudando na minha relação com livros, eles perderam a primazia no meu tempo - eu só leio o que me emociona e me toca com furor. A frase do valter hugo é maravilha pura, eu é que estou num estado intermitente de dispersão, decidi que tão logo termine de lê-lo, vou ler de novo de uma assentada. Promise.
  • Perdi muitos ingressos no FestRio - sempre acontece. Ou compro antes e não tenho vontade de ir na hora; ou vou e não fico até o final por falta total de paciência. Um dos piores que não vi todo (menos da metade, acho) foi um mexicano (EUA, Mexico, Alemanha diretor: Omar Rodriguez Lopez, li no programa) chamado Los chidos - claro que não vou falar de um filme que eu mal vi, mas o espírito dele ainda me assombra. Há coisas que a gente não precisa ver, ou ter compartilhado um milionésimo de segundo.
  • A vida se abrevia - mas é boa e antes que o planeta exploda, há que viver o melhor possível.
  • Ainda não sei se consigo ajudar aquelas crianças, mas esse é o plano.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Moonrise Kingdom; E se vivêssemos todos juntos?


Moonrise Kingdom tem um bocado de gente boa, de ótimos atores, vivendo personagens meio apatetados em situações esdrúxulas, pra não dizer bizarras. Só mesmo nos EUA se pode produzir um filme com essa temática, com esse viés e com essa naturalidade para encarar o estranho.

Onde mais, igualmente, se poderia fazer uma 'comédia comedida', se se pode assim chamar esse trabalho de Wes Anderson, em que Edward Norton é um compenetrado chefe de escoteiros, cujo comandante é vivido por Harvey Keitel, e tem ainda no cast Bill Murray, Frances McDormand, Bruce Willis, Tilda Swinton e os dois jovens, Suzy e Sam, pivôs de toda a história, vividos por Kara Hayward e Jared Gilman, aliás, com muita competência e graça.

Tudo se passa com muita seriedade, humor fino e irônico, mas ao mesmo tempo se lê na história um movimento de deslocamento, de como quase todos estão meio fora do grupo a que pertencem (por laços de família, agregação, adoção), ou a que querem pertencer. Um dos aspectos interessantes, então, é essa inconstância sobre quem se é, o lugar que se ocupa num clã, num grupo, nos afetos. Eu gostei muito, achei divertido. Bizarro, mas engraçado. 


E se vivêssemos todos juntos?  - sempre que um grupo de velhinhos se reúne num filme as coisas tendem a ficar, em geral, morbidamente engraçadas.

É o que ocorre nesse filme, que tem duas 'velhinhas' bem 'distintas' - nos dois sentidos: ambas são damas respeitadas em sua arte, e ambas lidam com a poeira do tempo nos rostos de modos diferentes. E ambos os modos são belos.

Gosto das rugas (muitas rugas) da Geraldine Chaplin, e gosto do cuidado que a Jane Fonda dedica a manter sua aparência mais jovem, a despeito de mãos e braços etc. Enfim, são ótimas atrizes, que chamam mais para si as luzes das cenas, mas o filme é divertido, com todos eles fazendo o possível para usufruir as alegrias de viver até quando der.

Achei interessante que a cena final me tenha emocionado - chamar o nome da personagem que acabou de morrer, sair em grupo todos eles gritando por ela, acompanhando o marido que 'esqueceu' de sua morte: para mim, foi muito forte, muito tocante, foi a cena mais bonita de todo o filme, parecia Garcia Marques e os Buendia.  

Rota irlandesa


Depois de Kathryn Bigelow e seu desarmador de bombas, em Guerra ao terror; depois do Robert Redford e Brad Pitt, em Jogo de espiões (Tony Scott), depois de outros que muito provavelmente deixei de ver, não pensei que ainda houvesse um ângulo novo ou inusitado para explorar, mais uma vez, a guerra, ainda ela, over and over.

Pois Rota Irlandesa mostra que há, sim - e mostra isso de modo visceral, pois o incômodo que inflige ao espectador o coloca num nível muito particular dos chamados 'filmes de guerra'. Não se trata mais de apenas denunciar, expor, explorar, catatonizar quem vê com cenas de violência mais ou menos explícitas - trata-se de construir um incômodo e uma tensão crescentes, sob todos os aspectos, de modo a fazer o espectador se mexer na cadeira e não se aquietar, mas se inquietar.

Trabalhando, como os outros filmes mencionados, com os entornos das cenas propriamente de batalhas, com os acontecimentos periféricos da guerra ela mesma, embora advindos todos de suas contingências e de sua exorbitância, sempre espúrias, o filme atinge o coração da desordem nesses tempos de trevas quando expõe as engrenagens que movem aliados a matar um companheiro.

Os nós que vão sendo desfeitos e desenrolados pelo amigo que sobreviveu mostram interesses os mais vis e mesquinhos, os negócios mais brutais que proliferam nas zonas conflagradas. Não se trata mais, então, de uma guerra, mas de um campo minado de interesses, quando o que está em jogo é como ganhar cada vez mais dinheiro, como lucrar mais e mais com o 'negócio da guerra'. Esse lado da mesma moeda mata qual uma bala que se abre e dilacera os corpos onde toca -  e todos a recebemos, da tela, em ricochete. Ken Loach faz um filme grandioso em sua inquietante dureza, apoiado sobretudo no primoroso trabalho de interpretação desse Mark Womack - um soldado que carrega na expressão do rosto as marcas das várias guerras que enfrenta. Filme implacável, e necessário.

domingo, 14 de outubro de 2012

Passar e lavar roupas etc

Há alguns filmes que parecem ótimos entrando em cartaz nos cinemas, mas nenhum prazer se compara a estar sozinha um fim de semana inteiro, sobretudo se os dias estão meio nublados e eu não tenho que ir a lugar algum, menos ainda a cinema cheio de gente comendo pipoca com cheiro de óleo (comum em fins de semana) - às vezes, basta isso para se estar bem.

Minha secretária para assuntos do lar sofreu um AVC, mas já está melhor, ou estava há alguns dias (espero que fique totalmente bem, gosto muito dela), mas o fato é que ainda não encontrei ninguém que faça as coisas aqui. Tenho varrido a casa, passado pano úmido no chão, lavo a louça, cozinho (gosto de cozinhar algumas coisas, e acho que tenho bom tempero), mas passar roupa nunca tinha feito antes, e fui adiando, adiando, a pilha já estava enorme.

Hoje, entre um espiada e outra no FB, e na polêmica sobre o fato de eu me dizer leitora e assinante de Veja - está difícil lidar com uma certa esquerda petista hoje, sobretudo no FB, e não sou afeita a polêmicas, não tenho nenhuma paciência - mas, enfim, hoje decidi passar a pilha de roupas e descobri que não é tão ruim assim a tarefa, dá pra pensar um bocado passando roupas. Só os lençóis com elástico me deram ganas de estraça-lhá-los, mas terminei quase tudo.

E aproveitando o tema candente, comprei esse cobre leito numa promoção da loja First class (só compro lá em promoções, porque cobra bem carinho) e resolvi lavar antes de usar (tudo que é made in qualquer lugar eu lavo antes de usar) e aconteceu uma coisa estranhíssima: a colcha saiu da máquina completamente coberta de uns fiapos brancos, como se toda a forração do matelassê tivesse sido dissolvida, o que não aconteceu, está toda lá, direita.

Eu passei a ferro o lençol (pesado à beça, meu braço doeu) e as fronhas imensas, ou porta travesseiros, não sei, coloquei tudo dobrado em cima da máquina de lavar, e ao lado estava o meu celular. Horas depois, quando fui pegar para guardar, o celular estava coberto de uma espécie de pó, uma nuvenzinha de poeira de algodão - fiquei meio assustada, será que isso não é tóxico? Nunca vi um algodão tão volátil assim, nem sei se vou usar isso. Se alguém tiver um parecido, tell me, please.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

FestRio 2012 - Enquanto estávamos aqui; Joshua Tree mais um

Enquanto estávamos aqui é o perfeito filme romântico, com tudo no lugar certo: um casal que viaja para Nápoles meio em crise - ela, a belíssima atriz Kate Bosworth, que virou um mulherão desde o filme em que era surfista, embora aqui apareça magérrima. O marido, um músico que toca violino e está viajando para apresentar-se na cidade, razão por que a bela fica o dia quase todo sozinha.

Claro que ela vai sair e encontrar alguém - e esse alguém será um rapaz jovem e lindíssimo vivido pelo ator Jamie Blackley (uma aparição jovial e feliz) e eles combinam demais juntos e são felizes e jovens e belos e ele quer ir para o Tibete com ela e... está certo, é uma história meio clichê mas é ótima de ver, todas as cenas dão prazer e o filme não promete nada que não cumpre. Achei bom demais. Os que bebem dizem que uma cerveja desce redondo. Esse filme desceu-me redondo.

Joshua Tree, 1951 - um retrato de James Dean me pareceu uma obra prima, ou quase: um filme bonito, requintado tecnicamente no vaivém temporal, nas mudanças de cores para acompanhar as fases diversas do tempo, da carreira, da vida do ator; na fotografia em preto e branco no deserto, ou misturadas com cores; nas cenas do deserto de Joshua Tree (um lugar mágico); nas cenas de piscina, com alguns atores nus e belos; nas cenas de sexo, lindíssimas e sensuais; na incrível interpretação de James Preston, um Dean absolutamente convincente, que captura e transmite os traços de rebeldia e inconformismo do ídolo, bem como sua sensualidade exacerbada, e o ar meio blasé, claro. Tudo é bem feito, tudo seduz o espectador. James Dean está vivo aqui, e palpita.

Só mais uma observação: embora o filme seja basicamente centrado na relação entre homens, e entre homens que se desejam, que se gostam etc, não me senti excluída dele porque há, mesmo nas escolhas de Dean, um misto de rebeldia e uma postura de busca por encontrar-se, encontrar seu lugar no mundo da arte. Além disso, há também a exposição da nascente indústria cinematográfica hollywoodiana, em que o tráfico de influências se mistura ao comércio sexual, e Dean parecia estar no epicentro dos interesses de alguns produtores - não sei se o cinismo dele, ou sua sedução, de certo modo, funcionam como força centrípeta que atrai todos para si - mas eu, certamente, fui cooptada. Mais do que, talvez, o tenha sido no filme do Walter Salles sobre Kerouac, On the road, mas disso já falamos alhures.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

FestRio 2012 - Ferrugem e osso


Quando se tem muita expectativa em relação a um filme, sempre há alguma ponta de decepção, e com esse não foi diferente. Embora os dois atores principais - Matthias Schoenaerts e  Marion Cotillard - tenham atuações excelentes e, em alguns momentos, pungentes, o filme fica no limite do bom, sobretudo por conta de uma postura edificante que assoma no terço final da história, em que tudo vai se desenrolando até um desfecho um tanto piegas demais.

Acho que o projeto todo bebe nas fontes do cinema hollywoodiano - e a cena de abertura, com as orcas tomando toda a tela, em cena grandiosa e impactante, parece saída de um estúdio da Disney. A própria história me parece debitária dessa ideologia de superação individual a partir da família, do amor, da solidariedade, a despeito da dureza aparente da personagem de Cotillard. Aliás, além do trabalho impecável dos atores, um ponto forte do filme é a resolução técnica - as pernas cortadas de Marion impressionam pelo realismo, muito bem feito o trabalho, seja por computador, seja usando doublês; as cenas no aquário são igualmente impactantes, e as baleias aparecem em toda a sua imponência e beleza.

Se é verdade que o espectador não desgruda o olhar e a atenção da tela durante quase todo o filme (embora eu tenha optado por não ver as cenas de luta-vale-tudo), o desenlace em que todos os conflitos, de todos os personagens, redundam em sucesso me pareceu aquém do conjunto todo, e decepcionante. Só para constar - o tempo que o menino ficou embaixo do gelo, na água naquela temperatura, me pareceu longo demais para uma recuperação tão pronta e sem sequelas, do mesmo modo que os dedos quebrados do pugilista não poderiam ter resultado num cinturão de campeão - tudo forçado demais para um final feliz um tanto artificial. De todo modo, há qualidades que fazem dele um filme que merece ser visto.

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PS. Não sou frequentadora assídua dos FestRio, vejo alguns filmes e esse ano acho que tenho ido mais do que nos outros, talvez por isso tenha notado uma certa desorganização nas atividades. Ontem, por exemplo, no cine Odeon, fui pedir informações sobre a previsão de horário do início e do fim da sessão, por causa do metrô que fecha à meia noite, mas as meninas do suporte me pareceram muito perdidas, ninguém sabia informar nada com clareza, e uma delas chegou a sugerir que eu não contasse com a volta de metrô porque tudo era imprevisível. Como, imprevisível? Por sorte, o filme começou na hora aprazada, a sala estava bem vazia e pudemos - os poucos que lá estávamos - pegar o último metrô. Mas há outros sinais de desorganização, não sei, deve haver alguém mais abalizado do que eu para dar esses toques, mas acho que o Festival é importante demais e merece um pouco mais de profissionalismo.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

FestRio 2012 - Nós e eu; Dentro de casa;

Dois filmes que lidam com alunos, de maneiras totalmente distintas. Em Nós e eu temos aquele tipo de filme que já vimos inúmeras vezes e o que quer que se diga a respeito dele parecerá politicamente incorreto.

Por exemplo: é ruim, não tem estrutura dramática, é chato de ver, sobretudo porque confinar um grupo de adolescentes de escola pública estadunidense num ônibus escolar, em seu último dia de aula, praticando entre si durante quase todo o filme o bullying mais sem graça e grotesco - eu diria que não traz material novo absolutamente para se pensar a realidade social dos negros, dos pobres ou do sistema educacional do Bronx ou wherever.

Achei o filme insuficiente como denúncia e sem atrativos como obra de arte, engajada ou não, porque os problemas são tratados de modo banal, não há nada de novo nesse front, e se não há nada a acrescentar por que fazer o que outros já fizeram, e melhor?.

Dentro de casa traz uma filmografia originalíssima, lidando com um professor de literatura (Fabrice Luchini, ótimo) e um aluno (Ernst Umhauer, excelente) que começa a escrever sobre seu fim de semana e vai narrando seu desejo de conhecer a família de um colega de classe, mais especificamente a mãe dele.

O filme entrelaça de forma eficientíssima e divertida a criação literária, a vida real e o pensar sobre a escrita literária, sobre o que seria escrever boa literatura. De quebra, ainda tem a Kristin Scott Thomas como dona de uma galeria de arte, o que propicia cenas também muito divertidas e opiniões pouco, digamos, ortodoxas sobre a estado atual da pintura contemporânea, e da arte em geral.

O diretor, François Ozon, brinca de forma muito inteligente com a literatura e o cinema, sem por um segundo posar de 'instrutor' de uma ou outra forma de expressão e de arte. Um filme obrigatório no melhor sentido: o que se aprende e o deleite que proporciona ao espectador dizem tratar-se de uma obra indispensável. E a cena final é mais uma brincadeira otima, agora com a história do cinema. Eu achei bom demais.

sábado, 6 de outubro de 2012

FestRio 2012 - Turistas; Lay the favorite; Looper, assassinos do futuro

Turistas: raiva de sair de casa para ver isso, muito ruim de ver (não necessariamente filme ruim, mas não acrescenta um isso a ninguém, acho). A coisa, pra ninguém perder tempo se porventura entrar em circuito (ou perder, se quiser): um casal de serial killers sai numa viagem turística no trailler dele, mata um monte de gente que vai encontrando pelos acampamentos a sangue frio e no final 'ela' descobre que não apenas está gostando dessa nova faceta de sua personalidade, como se revela muito pior que ele. Não dá pra pensar: "quando uma mulher é má, é muito má" - essa seria uma frase nobre para a dita em questão, que é apenas uma assassina louca. Detestei ter visto.

Lay the favorite: nesse dia vi dois filmes seguidos com Bruce Willis, e gostei de ambos. Esse do Stephen Frears é uma comédia amalucada envolvendo jogadores, apostadores e uma garçonete que se descobre na nova profissão de anotadora de apostas profissional - acho que é esse o nome da função. O ritmo é rapidíssimo, Bruce está ótimo, e Rebecca Hall, atriz que faz essa moça que seria a coprotagonista convence inteiramente e faz tudo muito bem (e é muita coisa que ela faz, está em cena o tempo todo), só a Zeta-Jones estranhei um pouco naquele personagem sem glamour, meio acabado. O Vince Vaughn parece que faz um tipo já conhecido - enrolão e enrolado, meio bandido num mau momento de mala suerte. Enfim, o filme diverte.

O outro filme que vi no mesmo dia com Bruce Willis não faz parte do Festival mas é uma história doidíssima - Looper, assassinos do futuro. A ação lida com o mesmo personagem, que é um matador, no passado e no futuro, com passagens de tempo bruscas e muita adrenalina. Gostei de ver, mas o final é meio edificante e diz respeito à necessidade do afeto materno para transformar um ser do mal (no futuro) em algo que nunca saberemos bem o que foi. De todo modo, o filme vale a confusão toda e no final tudo fica mais claro.

FestRio 2012 - Mais um ano

 
Mais um ano : Um filme de 2010 que só agora pudemos ver, onde Mike Leigh faz um trabalho de mestre, num filme belíssimo, tocante, transparente em sua leitura da solidão e da natureza humanas.
É generosa sua forma de lidar com as carências de afeto, de calor e de amizade de alguns personagens, sobretudo quando retrata uma mulher madura que ainda não se deu conta inteiramente de quem é, e não consegue aceitar completamente o nível de suas reais necessidades afetivas.

Ela pertence àquele rol de seres muito perdidos, cujos anos vividos parecem não ter ensinado o suficiente sobre esse dado estrutural e fundante de nossa humanidade: somos e estamos sós, embora alguns de nós consigam fazer-se acompanhar durante um percurso da vida, longo ou breve, pelo ente amado, pelo amigo, pela família possível, com quem se tecem histórias, compartilham-se vivências - ao final, na velhice a que hopefully se chega, essa tessitura de afetos será uma espécie de norte, cada vez mais necessário, para melhor caminhar em direção ao que nos aguarda a todos.

O que Leigh constrói é uma narrativa fílmica de como cada um enfrenta basicamente a solidão. O casal maduro, magnificamente interpretado por Jim Broadbent e Ruth Sheen, que se mantém unido e amoroso, que tem no manuseio da terra uma fonte de alegrias e vitalização - será  o ponto de convergência onde aportam os vários personagens a sua volta. Ali eles conversam, desabafam, choram, riem, bebem (bastante, aliás - lembrei de HH: a vida é líquida), contam histórias - tecem os fios de suas existências e os entrelaçam uns aos outros, como se dá com amigos, com os que cruzam nossos caminhos.

Mas ficou no ar (para mim) um certo travo e custei a encontrar a motivo: acho que é esse núcleo indestrutível que o casal idoso constrói em torno de si, de afeto e cumplicidade - penso que está mais no campo da utopia, de uma idealização que não encontra eco em minha memória. Fiquei pensando que havia um tanto de bom mocismo ali e isso, confesso, me incomodou um pouco. Mas nada que impeça o real prazer de fazer parte, por alguns instantes, daquele universo de afetos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

FestRio 2012 - Viola; Odete; Inori; Vestígios; Electric children; Magic Mike;


Ontem, tentei ver Viola, um cinema-falado em que atrizes dizem textos longuíssimos de peças de Shakespeare, embaralhando um pouco a noção de real e fantasia, sobretudo nas relações entre elas, moças. Tentei também ir até o final, mas não deu, saí talvez no último terço, por achar muuuito chato.

Odete achei uma maluquice só - um filme querendo muito ser parente (primo, talvez), estilisticamente, do jeito Almodóvar de fazer cinema, inclusive na temática gay, mas não tendo a mão nem a maestria dele, ficou mais pra confuso e bastante amalucado, sem convicção alguma. As tragédias são excessivas sem convencer, nem comover (o que não querem mesmo, acho), e aquela moça, a Odete do título, tinha condições melhores e mais eficazes de ter um filho, e a encenação da coisa toda ficou muito forçada - eu não achei graça, mas as pessoas riam bem na platéia. Enfim, há quem tenha gostado.

Inori e Vestígio: no primeiro cochilei bastante -, aquela vila abandonada, com duas pessoas e uma paisagem sem ninguém, tudo leeento - muito bom pra cochilar. Mas me lembro de ter olhado com gosto e quase deslumbre uma cena nos minutos finais, quando uma espécie de tela sob forma de fotografia mostra a paisagem de árvores muito belas, numa atmosfera de sonho, cena forte final.

Vestígio vi com interesse todo o tempo, embora não seja mesmo para grandes platéias, acho. Morte e velhice sempre me põem alerta, e aquela tomada que abre o filme com um hiper close no rosto completamente enrugado da tia-avó, bem velhinha, já quase morrendo - isso eu queria muito ter feito. Um dia vou fazer um filme, ou vou tirar fotos muito boas, da v.e.l.h.i.c.e. Só lamentei no final, o filme parece que ficou pelo meio, não foi terminado, ficou meio solto, não é bem uma história, seria talvez uma homenagem da diretora a quem a criou, no lugar de seus pais.

Electric Children: Estranhíssimo filme, com uma atuação muito boa da jovem atriz (Julia Garner), na pele de uma menina mórmon de 15 anos, muito séria e muito ingênua, que engravida depois de ouvir uma canção de rock antiga, que fala de abandono do amada, que ocorre por telefone ou algo assim. Ela ouve a música no gravador (também antigo) de seu irmão - na verdade, todo o universo do filme é muito antigo, há valores muito arcaicos, paisagens morais muito arcaicas também.

E a coisa mais importante é isso mesmo: a menina acha que teve uma revelação ao ouvir a canção e que essa revelação a engravidou, semelhante à mãe de Jesus, que concebeu sem pecado. O filme, então, acompanha a jovem por Las Vegas, onde ela vai em busca da canção originária de sua gravidez, e encontra um conjunto onde jovens tocam hard music; ela e o irmão (que a seguiu escondido) seguem com os músicos e várias peripécias acontecem até seu retorno à comunidade mórmon de onde saiu. Mas só o irmão fica lá, ela acaba indo com o 'marido' que arrumou na peregrinação por Vegas viver sua vida e ter seu filho.

De todo modo, é meio confuso de entender até onde vai a representação da repressão constituída seja pela religião, seja pelos valores familiares, sobretudo paterno-patriarcais. É muito dúbia a relação dela com o tal pai-pastor (que parece não ser o verdadeiro pai) e que pode ter engravidado a jovem, pode tê-la violado - os sinais estão na violência com o que o irmão bate a porta do carro nele, no fato de o jovem voltar à comunidade e meio que apoderar-se da cadeira que era do pai, agora ausente da casa. Mas nada é certo, tudo é deliberadamente dúbio nesse terreno. Menos, é claro, a crescente barriga de um filho real que ela carrega.


Magic Mike: Divertidíssimo! Esse Channing Tatum é belíssimo, e dança muito bem, claro. Além dele, o Matthew McConaughey faz um esforço de leão (a gente percebe) para estar à altura do deus grego e faz um número de dança bom. Comédia para homens e mulheres se divertirem, mas acho que as mulheres e os homens que gostam de homens vão aproveitar mais as belezas naturais de tudo ali.



FestRio 2012 - As sessões; Indomável sonhadora;

Hoje vi três filmes, mas achei cansativa a meia maratona, salvo pelo fato de ter encontrado uma grande amiga de juventude, foi ótimo conversar com ela e amanhã talvez nos vejamos de novo, estamos na mesma sessão de Mais um ano, do Mike Leigh.

De todo modo, um dos filmes interessantes que vi até agora (indicado pelo cinéfilo Egídio La Pasta Jr) foi As sessões, que mostra um fiapo de vida sendo vivido intensamente por um personagem imobilizado numa cadeira de rodas (e dormindo numa cama-balão-de- oxigênio), mas que tem um vida mental intensa e um órgão sexual igualmente intenso.

Esse ser será virgem até os trinta e seis anos, quando nós, espectadores, o encontramos vivenciando suas primeiras experiências com uma terapeuta sexual, interpretada pela ótima Helen Hunt (ele eu não conhecia, o ator John Hawkes). Tudo no filme é interessante, mas a intensidade que esses dois atores emprestam a seus personagens será um dos suportes para o filme segurar o interesse até o fim. Além disso, tem um padre super cúmplice, eu diria quase voyeur, de todas as maluquices que passam pela cabeça do personagem - e quando ele se confessa ao padre (sim, ele é católico), viramos também confidentes de seus mais íntimos desejos. Gostei de ver como a Hunt tem se poupado pouco das rugas, mas acho que em breve seus lábios sofrerão uma pequena (espero que pequena mesmo) intervenção. Filme ótimo, divertido e parece que baseado em fatos reais, o que me parece muito alentador.

Outro filme forte, por tudo que mostra e pela forma como aborda os limites da miséria absoluta, é Beasts of the Southern Wild (penso que a tradução para Indomável sonhadora não é muito eloquente para o que se vê), primo daquele universo de Slumdog millionaire, o filme britânico de 2008, mas sem o humor e a quase irreverência com que a pobreza é tratada ali, embora trabalhe todo o tempo com a energia, a força e a imaginação desmedida de uma criança, uma menina paupérrima, vivendo com seu pai (ótimo ator, por sinal) numa região à beira de todas a inundações, de onde ela retira os personagens imaginários com os quais conversa e que a fortalecem para a diária conquista da vida.

Ela é a grande xamã do filme: pequena, louca, forte, feroz, assustada, terrivelmente convincente - a atriz com nome estranhíssimo - Quvenzhane Wallis -, premiada em Sundance e Cannes, carrega a magia da história em sua interpretação, e também sua dureza. Alguém escreveu que é difícil falar sobre interpretação de crianças, porque ela ainda não tem o domínio das nuances dos inúmeros sentimentos e vivências acumulados pelo adulto. Mas Wallis nos convence de que é possível sobreviver àquilo - logo, a tudo, talvez pelo contraste entre sua imaginação fértil (de onde vem uma certa inocência) e a dureza das condições que o ambiente em que vive lhe oferece. Filme duro, exigente - como Hushpuppy, sua personagem.