Sempre vou ficar nesse hotel, ele é meu Welcome por aqui, porque já me acostumei com o pessoal, eles me tratam super gentilmente, fazem o possível para atender tudo que peço, e o flat tem um tamanho bom, não me dá claustrofobia, mas há coisas chatas, para as quais me falta paciência, e a velhice vai tornando mania, hélas.
Por exemplo, cama - tem de ser confortável, colchão não mole, os lençóis têm de ficar esticados, mas aqui não tem jeito. Embora eles tenham trocado o colchão da minha cama e colocado um novo, ele não é de boa qualidade e vai fazendo aquele buraco com o tempo, daí vou me movendo pro outro lado mas ele também vai ficando flácido, além de que se desloca sozinho. E os lençóis não ficam esticados de jeito nenhum, porque não têm elástico, tentam amarrar com um nó nas pontas, e não funciona, claro.
São coisas simples de resolver, mas implicam investimentos, que não sei se querem, ou podem, fazer. De todo modo, penso que jamais fiquei em Buenos Aires, por exemplo, em quartos onde tudo não estivesse absolutamente correto, com produtos de ótima qualidade. Acho que o problema é mesmo de qualidade, a gente aqui tenta economizar no que não pode, de jeito nenhum, então dá nisso:
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Meryl, Mara
Vi pouca coisa do Oscar e ouvi menos ainda porque a TV do hotel estava com problemas no som. De todo modo, vi a Meryl Streep subir ao palco, mover a boca e não sei o que disse, mas vi claramenete a cara das pessoas, meio incrédulas talvez, e a da Rooney Mara estava impagável em sua gélida esfinge - nem um músculo se movia, o olhar me pareceu de pedra.
Acho que a Mara transmitiu no olhar, na reação, um pensamento que me passa sempre que a Meryl concorre ao Oscar: fica difícil competir com essa massa de entrega ao minucioso exercício da condição de atriz. Ela é um fenômeno semelhante ao de nossa Fernandona, uma pessoa que já extrapolou a simples condição de intérprete para tornar-se uma espécie de metonímia de sua profissão, a encarnação da entrega à arte em si, com sede de superar-se a cada novo desafio, a gente percebe - e nem sempre consegue, acho, mas estão lá a paixão, a seriedade, o trabalho feito com método e pertinácia. Agora vem pela frente uma outra modesta tarefa - representar Clarice Lispector, senhor desafio. Eh, Mara, ainda vai demorar pra você tirar essa sombra do seu rosto.
Acho que a Mara transmitiu no olhar, na reação, um pensamento que me passa sempre que a Meryl concorre ao Oscar: fica difícil competir com essa massa de entrega ao minucioso exercício da condição de atriz. Ela é um fenômeno semelhante ao de nossa Fernandona, uma pessoa que já extrapolou a simples condição de intérprete para tornar-se uma espécie de metonímia de sua profissão, a encarnação da entrega à arte em si, com sede de superar-se a cada novo desafio, a gente percebe - e nem sempre consegue, acho, mas estão lá a paixão, a seriedade, o trabalho feito com método e pertinácia. Agora vem pela frente uma outra modesta tarefa - representar Clarice Lispector, senhor desafio. Eh, Mara, ainda vai demorar pra você tirar essa sombra do seu rosto.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Tão forte e tão perto
Em Fortaleza, para consultas médicas e algum sofrimento, mas tudo bem agora, já fui ao cinema ontem e vi um filme absolutamente comovente, ainda explorando de modo novo a hecatombe do 11 de setembro, numa história visceralmente emocionante, dura, que fala sobre o amor incondicional entre pai e filho, e entre mãe e filho também. Nunca havia visto uma forma de amar-em-família ser explorada de modo tão visceral. O menino (Thomas Horn) está presente todo o tempo em cena, tarefa hercúlea que ele realiza com brilhantismo, não menos do que o Max von Sydow, que não fala uma palavra e faz a mágica de ser intenso e nos fazer compartilhar tudo que seus olhos e as expressões do rosto e corpo dizem, em atuação que merece o Oscar a que concorre. Sandra Bullock e Tom Hanks amarram o elenco afiado, que levam espectadores (acho que todos na sala) a precisar de lenços, porque não há como não chorar. Muito bom, mesmo com o possível excesso de sentimentos, de que, nesse momento, gostei.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
A invenção de Hugo Cabret

Um dos mais belos e emocionantes filmes sobre arte e criação, especificamente sobre a invenção da arte cinematográfica, estreitamente vinculada à capacidade de sonhar, de fazer um sonho se materializar no quadrado mágico da tela de cinema.
Terno, original, criativo, trágico, histórias que se interligam, mistérios que se imbricam em enredos às vezes singelos, às vezes intrigantes, sentimentais, tudo leva o espectador a não desgrudar sua atenção do menino que busca resolver o problema da máquina-robô, para conseguir entender o enigma do vazio afetivo, após a morte do pai.
Todo o tempo trata-se de afeto, ou sua ausência, ou como sobreviver a sua perda, como adquirir novas referências, ou seja, como continuar vivendo sem o amor real e verdadeiro, o apoio, o suporte. Encontrar saídas através das pegadas do pai, continuar escavando o mesmo objeto do desejo paterno, e também criar outros vínculos através dessa herança criativa, fazer dos sonhos a matéria de um lugar especial, de um tempo outro, e melhor - por e no cinema.
Scorcese (que faz uma pequeníssima ponta) consegue nos convencer, inteiramente, de que o cinema é uma saída feliz para o que na vida não cabe, o que nela é chato, pouco, insatisfatório, precário. E com essa magnífica invenção - seu filme, esse filme - ele faz uma das odes mais perfeitas à arte que ajudou a se tornar, sempre mais, uma prodigiosa máquina contra as limitações da realidade, um artifício capaz de superar a morte, fazendo ressurgir das cinzas o que aparentemente findara - calor, vivacidade, eloquência, beleza, vida, enfim. Há muito não via uma realização tão completa, e tão tocante.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Visto assim do alto...
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Foto vencedora do World Press 2011
O espanhol Samuel Aranda foi o grande vencedor do prêmio World Press Photo 2011 com a imagem de uma mulher segurando um parente ferido durante protestos contra o presidente Saleh, do Iêmen, em Sanaa, no dia 15 de outubro de 2011.
Quis copiar aqui o registro, publicado em várias sites, porque achei a foto deslumbrante.
Quis copiar aqui o registro, publicado em várias sites, porque achei a foto deslumbrante.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Esboço de leitura - poemas de uma polonesa

Certa gente
Certa gente fugindo de outra gente.
Em certo país sob o sol
e algumas nuvens.
Deixam para trás certo tudo o que é seu,
campos semeados, umas galinhas, cães,
espelhos nos quais agora se fita o fogo.
Trazem às costas trouxas e potes
quanto mais vazios tanto mais pesados a cada dia.
No silêncio alguém cai de exaustão,
na algazarra alguém rouba de alguém o pão
e o filho morto de alguém é sacudido.
À sua frente uma estrada sempre errada,
uma ponte, mas não a de que precisam,
sobre um rio curiosamente rosado.
Ao redor uns disparos, ora mais perto, ora mais longe,
no alto um avião meio rodopiante.
Viria a calhar certa invisibilidade,
uma parda rochosidade
ou melhor ainda a inexistência
por um tempo breve ou mesmo longo.
Algo ainda vai acontecer, mas onde e o quê.
Alguém vai lhes barrar o caminho, mas quando, quem,
em quantas formas e com que intenções.
Se tiver escolha,
talvez não queira ser inimigo,
e os deixe com alguma vida. [p. 105-6]
Com certa nostalgia de uma nova função, que ainda não encontrei, peguei esse poema da senhora Szymborska, poeta polonesa cuja obra vem recebendo calorosa acolhida, em vários espaços, e tentei entender por que a gente diz que a poesia dela é muito boa, de tal modo a levá-la ao Nobel em 1996, e cuja morte recente aumenta o interesse por seu trabalho.
Diria que esse poema é muito bom sobretudo por causa do tom - uma certa neutralidade utilizada para falar de um tema candente: os flagelados pelas guerras. E isso começa pelo título: 'certa' gente não é um povo específico, uma gente específica - é indefinida, pode ser qualquer gente - eles, nós, talvez. E nessa dúvida - nós? - já estamos dentro do poema.
Ao longo de sua leitura, esse processo será recorrente ("certa gente fugindo de outra gente"), reforçado não apenas semanticamente, pelo uso dos indefinidos, mas na construção formal das estrofes, em sua aparente 'desarrumação', quase aleatoriamente distribuídas em: 3 versos; 3 vs; 2 vs; 3 vs; 5 vs; 4 vs; 6 vs.
O tom sugestivo, utilizado na captação de um cenáro nebuloso, turvo, conturbado, cria a atmosfera de desalento, pinta um quadro impressionista sobre um tema que seria - digamos - expressionista: por exemplo, em "uma ponte, mas não a de que precisam, / sobre um rio curiosamente rosado." O fato de água estar tingida de sangue, de ter havido sangue ("there will be blood" me surgiu à mente, frase de filme, certamente), luta, é dito de um modo aparentemente displicente, como se o sujeito que escreve não quisesse imprimir força, ou potência, àquilo que já em si parece dramático. Há quase uma esquiva, ao mesmo tempo em que esse olhar de relance enfatiza a crueza da situação, porque nos faz pensar ser tão intenso o drama que não se pode nele deter o olhar, não se deve mirá-lo por longo tempo, ou haverá muito sofrimento.
As imagens são inusitadas, e belas, e em sua aparente leveza encenam a força da dissolução que constitui o evento trágico, como se lê em: "Viria a calhar certa invisibilidade, / uma parda rochosidade / ou melhor ainda a inexistência / por um tempo breve ou mesmo longo". Acho que esses versos são precisos quanto a um dos modos de construir sua dicção poética: há leveza, e também um certo humor corrosivo, e ironia nessas imagens, como se ao grupo humano sob tal flagelo fosse desejável (e quem sabe possível) o dom da escolha e, ainda melhor, o dom da invisibilidade.
Por isso sua poesia (nos) importa: com um aparente quase nada, pintam-se cenas de extrema dureza, com palavras de extrema leveza. Isso - só para mestres.
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Wislawa Szymborska. Poemas. Tradução Regina Przybycien. São Paulo: Cia das Letras, 2011.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Millenium forever
Revendo hoje Millenium - Os homens que não amavam as mulheres acabei gostando ainda mais, porque da primeira vez não havia entendido direito a relação entre o patriarca, vivido por Christopher Plummer, e a menina desaparecida, Harriet.
Desta vez, achei a Rooney Mara, a hacker que ajuda o personagem do Daniel Craig, maravilhosa. Aliás, ambos têm uma química muito boa no filme, são duas estranhezas que funcionam muito bem durante todo o tempo. Ela é demais - saí da sala com nostalgia de ser uma marginal completa, de ser hacker, de dominar totalmente os segredos da computação, ser uma vingadora implacável contra estupradores e serial killers. Enfim, ela me lembrou a Nikita francesa, aquela do primeiro filme, que depois foi vilipendiado pelos imitação barata norte-americana. Desta vez, porém, parece essa indústria fez melhor do que a primeira versão do filme, sueca, mas não vi essa versão, nem li nenhum dos livros da trilogia.
De todo modo, filme ótimo, em que as duas horas e meia quase não são sentidas. Gostei de tudo: dos atores - todos estão bem, todos, desde a Robin Wright (sem Penn, hélas), passando pelo Plummer, sempre excelente, até os dois protagonistas, que investigam o desaparecimento da menina. Daniel Craig me impressionou, mesmo com alguns biquinhos ele convence e demonstra segurança até o final. Gosto de um certo ar de desdém que ele sugere e que combina com o personagem e com sua parceira; gosto do jeito meio duro com que ela, Lisbeth Salander - minha nova "ídala" - pisa, do jeito duro com que fala (com seu estuprador, por exemplo), ao mesmo tempo em que os olhos são meiguíssimos, suaves, doces. Gosto do jeito punk dela (embora não curta punks, nem a cultura punk, na vida real), das tatuagens, da calça lá embaixo, da camiseta impossível de tão rasgada com a qual ela conhece seu futuro companheiro de investigação - gosto desse ser todo torto que ela construiu: é perfeito, e a atriz é perfeita em sua caracterização. Até ficar loira e bonita no final lhe cai bem.
Enfim, acho que vou ver de novo, ao menos pra ficar no ar condicionado enquanto a canícula de 40 graus não passa. E também pra ter certeza de que é a letra M que ela usa pra assinar, no final, o pacote com o presente que daria àquele impossível amor. Por que M?
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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Havaí por aí
Revi hoje Os descendentes porque Lucia Malla falou aqui umas coisas tão legais sobre o modo como o filme trata o Havaí, sobre sua relação com aquele lugar e como ele se tornou uma possibilidade de felicidade para ela. Não resisti e fui especialmente para reolhar o paraíso, porque também busco um lugar pra chamar de meu e ainda não encontrei - além de conferir again a beleza do Clooney - ele é mesmo um homem muito bonito e interessante. Mas sua atuação me pareceu como da primeira vez: nada que mereça o Oscar, só mediana. Gostei muito mais de outros trabalhos seus.
E o lugar - bem, não seria meu lugar para viver até o fim dos dias. É lindo, paradisíaco, praias belíssimas, mas sou muito urbana, preciso de tudo por perto, não apenas mar onde me perder ou me afogar. Aliás, acho que não gostaria de morar colada ao mar, teria muita angústia com aquela imensidão que só propõe perguntas sem respostas, além do bater constante das ondas que me deixaria louca em poucos meses. Amo o mar, mas como visitas, que são adoráveis na chegada e melhor ainda na partida; gosto de visitá-lo, vê-lo, estar nele, mas ele lá e eu cá, no meu apartamento - não casa, apartamento.
De resto, o que me ficou do filme dessa vez - além do Clooney, claro - foi sobretudo o rapaz que faz companhia à filha mais velha durante todo o filme. Da primeira vez, achei-o um mané total; agora, fiquei com a imagem dele gravada, seu jeito displicentíssimo de ser e de se comportar, o ar meio abobado, uma figura muito interessante. Ah, e que papel o da mulher em coma - caramba, precisa gostar muito da profissão (ou de estar com o Clooney) para submeter-se àquilo: closes imensos de um rosto tornado tristemente feio. Enfim, ossos do ofício - e nem uma chance de estatueta pra ela, triste.
PS para Egídio: Eu gostei do filme, sim, é uma crônica delicada sobre as dificuldades inerentes às relações familiares e afetivas, em que o personagem do Clooney se vê forçado a enfrentar várias situações de impasse, em diferentes níveis. O final no sofá tomando sorvete, bem... é um filme americano, não é possível não haver nenhum clichê.
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