
De amanhã a sábado vou descansar no Art Suites & Gallery, na Recoleta, Bs As. A gente viaja porque precisa sair das mesmas vistas, da mema rua, dos mesmos conhecidos e, sobretudo, dos mesmos desconhecidos que cruzam por você no bairro, nas ruas, na cidade. Viajo para reabastecer meu imaginário, para lembrar de coisas que - em tese - ainda não vi, embora isso se torne cada dia mais difícil, ou seja, imaginar histórias diferentes das habituais e criar novas, com outros personagens. De todo modo, gosto demais dessa cidade para onde vou, apesar de uma certa acidez nos modos, em geral, dos habitantes, irritados com nossa invasão cotidiana a lojas, restaurantes, e fúria consumista. Dessa vez, vou levíssima, sem nenhuma reserva para compras quaisquer, o que está ótimo para mim, fico livre para só caminhar, olhar, me deixar ir pra onde as pernas e os pés levarem - olhando bem e, claro, tomando cuidado, porque a maré por lá também não está pra peixe.
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Ainda vou ver Vi hoje
O garoto da bicicleta, tudo a ver comigo e estou certa de que vou amar.
Tendo visto, posso dizer que é, sim, bonito, sensível, generoso, difícil e real o amor daquela moça pelo garoto, miseravelmente abandonado pelo pai. Ele - o garoto - parece inicialmente um osso duro de roer, mas ela não desiste, e isso é amor, e isso é bonito. Algumas lágrimas rolam.
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Vi
Se não nós, quem?, filme pesado e interessante, sobre épocas que deram estrutura a minha geração, em que ideias e ideais valiam os sonhos, os projetos, a vida, enfim, literalmente. Não se trata apenas de abordar o nascimento do grupo Baader-Meinhof, mas de como uma certa geração pós segunda guerra lidou com as contradições de sua época, os impasses políticos que começavam ali e deixaram seus rastros na hístória que vivemos hoje, de modo muito mais distanciado, indiferente, cínico, talvez.
Já
Late bloomers é divertido, sobretudo por conta da beleza e talento de Isabella Rossellini, e bastante menos na conta do
absolutamente-a-mesma-expressão-blasé William Hurt (percebo agora que não é mais possível ver atuações de Hurt, não há diferença alguma entre um serial killer que ele represente e esse cara aqui, tudo é o mesmo personagem, sem nuances, sem força. Ele ficou lá atrás, naquela história com a namorada cega, e não saiu mais de lá ). De todo modo, o filme vale o tempo, e é ótimo ver maduros personagens, como nós, encenando enredos de recomeço e aprendizagem.
Confesso: vi
Amanhecer e só posso dizer que é uma vergonha - não eu ter pago para assistir a ele, isso também, mas o filme em si - constrangedoramente esticado, para caber em dois megablusters. Nem o fato de algumas cenas se passarem aqui no Rio melhora a qualidade do embuste. E a mocinha, faça-me o favor, ninguém merece mais ver aquela coisa totalmente estapafúrdia. Enfim - e ainda falta mais um.
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Amanhã nunca mais fica prejudicado na minha avaliação, porque reconheço a ótima atuação de Lázaro Ramos, bem como dos excelentes coadjuvantes, sobretudo Milhem Cortaz e Maria Luísa Mendonça, impagáveis, mas o protagonista é um zé mané total, mas tão abestado, que fiquei irritadíssima com sua lerdeza, além de que os closes imensos, enormes, não funcionam para dar idéia de - de quê, mesmo?.
E porque ele é lerdo, fica parado muito tempo num trânsito caótico de São Paulo, a minha paciência com ele também foi-se esgotando à medida que ele se metia em mais e mais confusões. Diferente do clássico
After hours, comparação inevitável, aqui parece que o personagem está agrilhoado àquelas situações sem saída, e meu sentimento foi mais de irritação do que de empatia com ele. Quando, finalmente, chega-se a um desenlace, me pareceu tarde demais, já estava querendo que ele sumisse na tela. Enfim, uma pena, porque Lázaro faz sempre um trabalho de mestre.
A casa dos sonhos não chega a ser assustador, mas garante bons momentos de tensão, e ótima diversão para quem gosta de filmes de 'pequeno terror'.
Ah, li dois livros, um extraordinário,
A máquina de fazer espanhóis, valter hugo mãe; outro, bem bom,
Nada a dizer, de Elvira Vigna, que busquei porque minha amiga Eliana falou dele de modo que me interessou. Espero ter vontade de escrever sobre ambos, e outros que ando lendo, em algum momento.
Bye ghosts.