segunda-feira, 31 de outubro de 2011

viajar é preciso




Quero viajar, urgente, pra onde não chova muito, nem faça sol de rachar. Difícil achar.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tiranossauro

Tiranossauro: filme porreta, porrete, porrada, com também muitos porres e todos os derivados e correlatos. Filme cheio de ira e fúria e dor e violência. Filme que trabalha escaneando a solidão, o emparedamento de todos os personagens, mas sobretudo dos dois protagonistas, um homem e uma mulher, vividos magistralmente por Peter Mullan e Olivia Colman, dignos de toda reverência que tiveram em Sundance pela atuação impecável.

Acho importante dizer que os protagonistas são um homem e uma mulher, porque ambos vivenciam experiências de violência específicas a cada um dos gêneros.

(Nesse sentido, por acaso sentei ao lado de um casal de jovens aparentemente apaixonados, pelas mãos nas mãos etc, e num certo momento na história há uma cena especialmente - como direi - escatológica, em que o marido comete uma violência contra a mulher dormindo. A maior parte dos espectadores ri - não me perguntem como sei que eram risos masculinos, pareciam e acho que eram. Mas disso tenho certeza, pois ocorreu a meu lado:  o namorado da moça riu com vontade, e ela deu-lhe uma bronca zangadíssima, largou a mão dele e ainda fez-lhe uma preleção sobre o que vimos - tudo isso percebi meio de banda, olhando a tela ao mesmo tempo, pois, como se sabe, podemos fazer muitas coisas ao mesmo tempo).

Então, há uma violência específica aos gêneros, mas ao fim e ao cabo restam expostas essencialmente vidas humanas dilaceradas por vicissitudes, reveses, situações desesperadoras, mas também que buscam uma saída para estar na vida, para usufruí-la pelo tempo que lhes/nos cabe, pelo tempo que lhes/nos resta. Um filmaço, absolutamente indispensável.

(Obrigada, caríssimo Egídio, esse filme eu vi por indicação sua).

Trailer aqui.

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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

FestRio - menos

Vi Dark horse e, de cara, aprendi que a expressão significa 'azarão'. Quanto ao filme, quer uma coisa, mas não chega lá. O que quer: mostrar a mesquinhez da classe média norte-americana, sua banalidade, sua pobreza de perspectivas, sua mediocridade, e um modo de fugir dela, através da imaginação. O que consegue (para mim): apresentar um personagem medíocre, super-over-zé-mané, com o qual o espectador não cria empatia, e filmar as mancadas que ele comete na vida, que são muitas e recorrentes. A secretária ainda tem mais força interpretativa do que ele, quando ela entra em cena e 'encena' suas fantasias, o filme ganha intensidade. A Mia Farrow está muito bem, figurando com perfeição a decadência física de uma mãe de família, e o botox exagerado nos lábios serve como paradigma dessa mesma decadência. Selma Blair, belíssima, apesar de estar o filme quase todo com ar de abestada, por conta de uma praticamente incurável depressão. Christopher Walken também faz jus ao título de capitão mor daquele time de perdedores e lascados, com seu jeito torto e sem expressão.

O diretor, Todd Solondz, bem que tentou, mas não (me) convenceu com seu retrato de uma decadência sem qualquer possibilidade de escape, tudo é amesquinhado demais, e aborrecido. Enfim, um filme que me irritou mais do que me fez pensar, ou gostar dele. Toda aquela fauna parece muito pouco construtiva, ou instrutiva, ou deleitável. E tenho pouco interesse por esse lado torto, tolo e decadente desse estrato social estadunidense, até porque revi há pouco na TV o belíssimo Beleza americana e me dou conta de que o estado da arte na compreensão e criação pela imagem dessa parcela da sociedade, ou pelo menos de seus  'perdidos', 'estranhos' e 'inadequados para quase tudo'  já está lá de maneira avassaladoramente bela, consistente e intensa. A faceta que me pareceu mais interessante em Dark horse foram os ataques imaginativos da secretária, quando ela aparece poderosa e sexy - isso sim, é sonhar pra cima.

E será necessário observar que o final teve uma edição um tanto confusa: afinal, seria sonho/fantasia da secretária tudo aquilo, ou é do rapaz azarão também? Seria sonho dela até a morte do rapaz, ou dele enquanto estava em coma? Enfim, uma edição que tornasse menos confuso aquele final ajudaria.
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

FestRio - tonto

Hoje aconteceu uma coisa estranha: saí para ver De mãos livres e me encontrei frente à tela onde passava Os três mosqueteiros, em 3D, no São Luiz - nem eu, nem a pessoa que recolhe os bilhetes percebemos que eu estava no cinema errado, e no filme errado. Conversei com a gerente e ela acabou me deixando ver Amador, na sala ao lado, já que não haveria tempo para ver o filme certo no Arteplex.

Lá fui eu ver algo que me pareceu por longo tempo chatíssimo, mas que ao final revelou-se muitíssimo interessante. Esse foi um dos únicos casos, que eu me lembre, de um filme que vi resmungando, mas que ao decidir ficar até o final esse final mostrou-se surpreendente - não apenas surpreendente, mas me impôs uma reflexão que importa (que me importa) sobre a vida e suas contingências, bem como sobre o valor da simplicidade. Fiquei, e estou ainda, com a personagem na cabeça, surpresa com o caminho que a vida foi tecendo para ela, e como ela pôde encontrar seu próprio caminho, com as enormes dificuldades que se lhe apresentaram. Tudo que vi antes fez um sentido interessante, e a moça, que me parecia meio acovardada ao longo do filme, brilhou por fim.
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sábado, 15 de outubro de 2011

Dançou

Hoje ia ver dois filmes que parecem ótimos: Inquietos e Sleeping beauty, mas uma crise aguda de gastrite - doença que me acometeu há pouco tempo, mas de forma violenta, não me está deixando sair de casa, muita dor, e como sou neófita no assunto, não sei o que comer sem machucar o estômago, então já viu, ou é fome ou dor medonha.

Além disso, chove e faz frio por aqui e o Sleeping só consegui para as 21h30min no São Luiz, deve acabar lá pras 23h30min. Com dor, nem pensar. Ao todo, já são quatro ingressos do festival jogados no lixo, razão por que não gosto de planejar coisas com muita antecedência, sempre pode dar uma zebra - no meu caso, sempre dá.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A pele que habito (com spoilers)


Marisa Paredes resume com perfeição o filme do amigo:

"A pele que habito" descreve a terrível vingança de Robert (Antonio Banderas), renomado e recluso cirurgião plástico espanhol, contra o suposto jovem que estuprou sua filha. Ele vive isolado em sua sofisticada mansão/laboratório nos arredores de Madri, onde mantém prisioneira uma cobaia de suas experiências com uma pele artificial, útil na recuperação de vítimas com queimaduras, como as que vitimou sua
mulher no passado. Neste cenário frio e desolador, Marilia (Marisa), sua mãe, funciona como administradora e defensora dos interesses do filho. "Desde o início, Pedro me avisou que ela não é uma governanta, como aquelas dos filmes de terror e suspense, como a de 'Rebecca, A Mulher Inesquecível' (1940), de Hitchcock. Ela não se veste como uma empregada, ele me avisou. As camisas de Marilia são desenhadas por (Jean Paul) Gaultier!. No final das contas, Marilia é a consciência da história que ele conta".
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Com essa sinopse, fica mais fácil compreender o filme que se vai ver, porque ele vai se fazendo compreender aos poucos, e não estou segura de tê-lo amado, acho que gostei, sim, gostei, mas é estranho, e fiquei pensando alguns dias sobre o porquê da estranheza, já que falar no autor é falar sempre em estranheza, em arte fora do comum, arte pessoalíssima, apoiada em algumas obsessões também presentes nesse A pele que habito. E chego à conclusão de que me incomodou um pouco a abordagem da transmutação do sexo masculino numa vagina que serve basicamente, ou ao longo de grande parte do filme, para a violação.

A filha, no início do filme, e a "mulher" aprisionada, são violadas, embora em intensidades diferentes. Na verdade, a filha não se sabe direito se era filha mesmo ou outra cobaia nas experiências com troca de sexo feitas pelo médico, já que não tendo havido penetração na cena do bosque, ela sangrou do mesmo jeito, e sentiu dores horrendas como a outra sentiu, a cobaia, no momento em que é violada pelo suposto irmão de Robert, vestido numa fantasia ridícula de tigre, em momento kitsch dispensável, acho.

De todo modo, custei a entender do que tratava, afinal, a história, por causa dos flashbacks e também porque há pelo menos três vertentes que desembocam no singular aprisionamento daquela personagem: há um desastre de carro onde morre a mulher de Robert, o que impulsiona suas pesquisas com peles humanas, necessárias para cicatrizar queimaduras; há essa estranha filha, que aparece rapidamente no início e funciona como motor da vertente mais importante no roteiro, ou seja, a vingança desse pai contra o rapaz que supostamente violou a moça. De todo modo, não importa muito ter havido ou não a violação, porque ela morre e o cientista vai então iniciar um processo muito louco de vingança, que consiste em aprisionar o rapaz, levá-lo à mesa de cirurgia, mudar seu pênis em vagina e aos poucos transformar todo seu corpo - toda sua pele - até o estágio final do "ser fêmea". É essa vingança o cerne da trama, me parece, e ela nos surge em sua plenitude na mulher encarcerada no quarto, observada através de uma parede de vidro pelo homem no outro quarto. Só que acontece o que já se anuncia aos olhos do espectador: ele se apaixona pela belíssima mulher que criou e tudo desanda, claro.

A cena final também me pareceu meio sem sentido, e a volta da "moça" para sua mãe, a frase que ela pronuncia é absolutamente inverossímel, é como se Almodóvar não soubesse bem como terminar aquela loucura e resumiu o drama numa frase que, face aos acontecimentos, soa como clichê: "soi Vicente". A platéia ri, aliás ri em vários momentos. Meu riso foi parco, e apesar de todos os senões e aberrações, acho que gostei do filme, continua sendo um Almodóvar. Mas é estranho.
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sábado, 8 de outubro de 2011

Retalhos do FestRio

Comprei alguns ingressos para o FestRio, dentre os quais já vi Gatos velhos, um filme triste e duro, mas ótimo. A velhinha é a minha cara quando eu for assim velhinha, é de uma crueza face ao campo dos afetos maternais que eu compreendo profundamente. Também o modo como o marido a protege, uma forma de amar absolutamente radical, sem quase nada receber: amor real, de longo tempo, talvez quase memória do que já terá sido uma paixão arrebatadora, hoje ecos nos gestos contidos mas protetores, mesmo quando ela tira de seu ombro o braço que tenta protegê-la. Velhinha dura. Sorte que ela o tem, ou seu fim seria tristíssimo.

Tentei ver Gatos de Paris, que comprei sem saber que era desenho animado, mas o que me fez desistir dele é que havia umas 300 criancinhas tentando entrar na sala, daí dei meia volta e entreguei o bilhete à bilheteira, que não pode devolver o dinheiro porque blá blá blá.  Hoje vi  Não me esqueça, Istambul, longo demais e de que gostei de uma ou duas histórias, a da velhinha apressada que se perde, sobretudo, e a dos amantes separados por séculos de brigas religiosas e políticas. Depois entrei em outra sala e vi grande parte de Todas as canções falam de mim, até um certo momento em que eu já sabia mais ou menos onde aquilo ia dar, ou seja, me falta hoje paciência para os imbroglios do amor na geração dos trinta, esse aprendizado que, embora comovente em alguns momentos, não me diz muita coisa. Me toca mais a velhinha crudela do que a mocinha que vai e vem nas ondas de seu coração instável.

Amanhã verei Sete atos de misericórdia, nada sei about, e na segunda vou ver o filme do Almodóvar, só espero que não esteja lotado, desejo meio vão, creio. Nos poucos dias a que fui já reconheci duas pessoas assíduas. Um deles, no primeiro dia, na primeira sessão, gritava saudando cada espectador que entrava, como se estivessem se reencontrando na colônia de férias. Ele literalmente gritava do meio da sala de exibição: E AÍ, FULANO, TUDO BEEEM? COMO VAI, PRAZER EM REVÊ-LO, assim mesmo em maiúscula, ou seja, aos berros, enquanto o fulano procurava, meio envergonhado, um lugar para sentar. Estranho isso, e me incomoda muito, tanto que já estou levando protetor de ouvidos para as sessões, sei lá quantos outros malucos não vão se cumprimentar ainda.

Ainda tenho ingresso para Inquietos e De mãos livres, não sei se li sinopse, e se li não lembro, falo depois sobre.
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Em tempo: hoje é sexta, dia 14/10, não vi Sete atos de misericórdia porque era domingo e me deu uma preguiça louca de sair, então perdi o ingresso por laziness, fazer o quê. Mas vi ontem um filme português difícil de gostar, porque mal costurado, mas gostei afinal - Quinze pontos na alma. Parece coisa esotérica, e é mesmo, no sentido de hermético, pouco compreensível em vários momentos, e falho em outros, mas não saí da sala e vi o desenrolar das ações daquela mulher com atenção. Seria pura maldade dizer que o filme se salva pelas roupas impecáveis que ela usa, deslumbrantes de chiques (os personagens são ricos e entediados portugueses), mas não é verdade,  há interesse na história do homem que beija e se joga invisivelmente da ponte, e do périplo dessa desconhecida em busca de entender - numa viagem que será muito mais longa do que ela supunha. Enfim, o filme é difícil, tem buracos  no roteiro, mas se vê com interesse.
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sábado, 1 de outubro de 2011

Elvis & Madona

 
Elvis & Madona tem tudo pra virar um filme cult: é engraçado, tem ótimas atuações dos dois protagonistas, sobretudo, mas o elenco inteiro está ótimo, é super bem feito, com timing na medida, apresentando um casal pra lá de sui generis - aliás, touché para o diretor e para os atores, nenhum deles erra a mão, nada desanda: a Spoladore está perfeita, com aquela pele escandalosamente linda, sem um isso de excesso na composição de sua "moçoila"; o ator Igor Cotrim eu não conhecia, mas dá show de travestismo competente e sem caricaturar. Na verdade, o filme todo é cheio de competentes atores, de Maitê ao bandidão com jeito e cara de bandidão, um achado, Clint Eastwood não encontraria ator melhor para o papel.

Excelente filme, comédia pra rir com vontade, para se emocionar e para desmantelar preconceitos. Só achei um tiquinho politicamente correto e um tiquinho poliana: dá tudo tão certo que não tem como não ser comédia, até o vestidinho-boa-moça que a Spoladore usa no almoço de família, por tão completmente fora de (seu) esquadro, fica cômico.

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