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O turista é uma bobagem de filme, e a Isabela Boscov tem razão quanto ao papel rebaixado de Johnny Depp, mesmo ele sendo tão protagonista quanto ela, a bela, a indescritivelmente bela Angelina Jolie. Nunca tinha visto uma coisa assim: um filme que filma basicamente uma mulher belíssima sendo isso apenas: uma mulher belíssima.
Tudo gira em torno do encanto e da sedução que ela possa ativar por onde passa. E me deu na verdade um sentimento muito grande de nostalgia: ver aquele rosto perfeito em grandes closes - nenhuma ruga, nenhum dano à pele, cabelo sedoso, dentes um pouco proeminentes mas naquela boca de poder incontornável, enfim, todos os signos da beleza expressos de forma contundente - e pensar que aquilo também fenecerá, a pele murchará, a beleza mudará para algo menos do que expressa nesse momento em seu estado de arte. Então, o que ficou do filme, para mim, foi isso: Angelina bela como a beleza pode ser, e Depp tentando segui-la por todo canto, sem alcançar-lhe a estatura. Acho que até ele ficou meio cego para todo o resto - representar, por exemplo.
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Tio Boonmee foi uma das coisas mais chatas que já tentei ver nos últimos tempos. Não achei poético, nem vi interesse naquela forma de vida simplória do personagem, e em alguns momentos me pareceu até mesmo patético - quando o filho se transmuta em macaco, a fantasia dele é ridícula, o filme é chato, mas aguentei quase até o fim, com bravura. Muito ruim.
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Além da vida é um digno representante da filmografia de Clint Eastwood. Delicado, bem feito, forte, com todos os atores empenhados em fazer um trabalho de excelente qualidade. Sem abrir mão da imersão nos valores da cultura estadunidense (na forma ambiciosa com que o irmão do personagem de Matt Damon quer ganhar dinheiro às custas de seu dom), Clint mergulha num universo - a vida além da morte - que poderia se tornar piegas ou redundar numa bobagem, mas ele segura com mãos firmes as histórias e caminha com seus personagens de modo absolutamente convincente até o final, de algum modo redentor.
Já se falou bastante na cena inicial do tsunami, e também quero observar: é mesmo magistral e me trouxe de volta os mesmos sentimentos de estar presenciando uma hecatombe sem precedentes naquele dezembro de 2004, ano em que cheguei a Fortaleza. Haveria algum prenúncio para mim naquela tragédia?
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Quanto a Biutiful, de todos os filmes atuais pareceu-me o mais significativo, o mais intenso, o mais complexo, o mais extraordinário Javier Bardem em atuação. Nele, o ator vive com paixão, em grandes e convincentes closes, o papel de um homem atravessado por questões duríssimas da vida contemporânea: compaixão pelos que sofrem, sobretudo pelos imigrantes ilegais que são enxame hoje em qualquer país que ofereça trabalho-quase-escravo e sobrevivência. Ao mesmo tempo, ele também precisa fazer pactos com os diabos todos que o circundam, para ganhar algum e sustentar os dois filhos, cuja mãe muito louca só lhes acrescenta problemas.
Não penso em redenção quando vejo o incansável trabalho de Sísifo desse personagem, Uxbal – nome que ecoa antigos deuses de antigas civilizações maias, astecas, ou estou delirando -, mas um homem fincado com os dois pés e todo o corpo na vida, mergulhado até os ossos em tudo que ela oferece: toda a dor do mundo, e também a necessidade de fazer o que precisa ser feito, de viver o que se apresenta a ele sem hesitações ou rodeios.
Uxbal é um herói trágico, sim, de coragem e fragilidade exasperantes, que vive, vive, vai tecendo o dia, mesmo quando a morte lhe é anunciada para breve. Não aquela ‘indesejada’ que todos enfrentaremos um dia, mortais que somos, mas a próxima, iminente e irrecorrível – a morte em dois meses, de câncer irreversível. Uxbal urina sangue mas continua a trabalhar, a agir, a fazer tudo que pode por todos, por si, pelos filhos, pela mulher enlouquecida – até que vai findando numa cama, sem muito alarde, seu prazo termina e ele morre silenciosamente. Sentimos, na platéia, ecoar os passos dele nas vidas que continuam ali fora, no burburinho de que ele fez parte, sempre – e, em certa medida, nos passos que nos levam para fora da tela, e do cinema.
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PS. Não faz a menor diferença para meus leitores fantasmas, mas voltarei a ficar de molho por pelo menos um mês. Eu só é que sinto falta de escrever, ou de querer escrever e não poder. Enfim, tendinite é uma chatice, só espero que tenha cura.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Até
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Um mês depois, ainda com problemas, agora nos dois pulsos... como não quero cortá-los (ainda), estarei out por um longo tempo ainda desse blog - mas o filme do Clint Eastwood, Além da vida, é m.a.r.a.v.i.l.h.o.s.o. Amei.
O concerto também é arrebatador - muito a dizer sobre ele, que diverte, emociona e informa horrores sobre essa nova Rússia de que sabemos tão pouco.
Um mês depois, ainda com problemas, agora nos dois pulsos... como não quero cortá-los (ainda), estarei out por um longo tempo ainda desse blog - mas o filme do Clint Eastwood, Além da vida, é m.a.r.a.v.i.l.h.o.s.o. Amei.
O concerto também é arrebatador - muito a dizer sobre ele, que diverte, emociona e informa horrores sobre essa nova Rússia de que sabemos tão pouco.
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