quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Lembrando

Parece bom lembrar das coisas simples, até porque 2012 anuncia-se como o apocalipse (ainda preciso ler mais sobre a maldição que pesa sobre esse ano, só ouvi rumores). Comentei alguns itens.

1. A vida não é justa, mas ainda é boa (concordo plenamente).

2. Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno (atualmente, prefiro nem dar esse).

3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém (sábio, mas difícil, de todo modo cansa muito odiar, nem tenho tempo interno pra isso).

4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato (verdade relativa, estranhos cuidam bem também, desde que pagos)

5. Pague mensalmente seus cartões de crédito. (verdade irrefutável, embora inútil para quem não pode fazer isso)

6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar. (claro, não ganhar pavimenta qualquer estrada de sucesso)

7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.(meio apelativa, essa)

8. É bom ficar bravo com Deus. Ele pode suportar isso. (gostei de saber, mas minha relação com ele não permite esses destemperos)

9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário. (verdade, economizar é regra de ouro, sempre, mas claro que nem sempre dá, ou melhor, quase nunca dá)

10. Quanto a chocolate, é inútil resistir. (nem tanto, depende, de alguns nem quero mesmo saber, aliás, onde tem chocolate muuuuito bom por aqui?)

11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente. (verdade, sou absolutamente tranquila com o tanto que já aprontei)

12. É bom deixar suas crianças verem que você chora. (se tiver que chorar, faço na frente do papa)

13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que é a jornada deles. (não comparo nada, minha vida é só minha e ninguém tasca ::)

14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele. (concordo, muito trabalhoso esconder o que for)

15. Tudo pode mudar num piscar de olhos. Mas não se preocupe; Deus nunca pisca. (assim espero :)

16. Respire fundo. Isso acalma a mente. (projeto para 2012 - se existir esse ano - aprender a respirar, não sei fazer isso até hoje)

17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.(caracas, isso é obra para uma vida! mas tenho dado alguns bons passos nesse sentido)

18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte. (afinal, isso foi mesmo Nietzsche que escreveu, ou quem? certíssimo)

19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.(esse é muito boa, mas dificílima, precisa de muita análise pra conseguir)

20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta. (mais ou menos, já levei muitos nãos do que mais amava na ocasião, e não pude 'não aceitar', não foi colocado assim. Mas os nãos mais importantes impulsionaram minha vida para muito, muito adiante! Se for esse o espírito, estou plenamente de acordo)
 21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use roupa chic. Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial. (perfeito)

22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo. (isso mesmo!)

23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir roxo. (seja excêntrico quem gostar de excentricidade. Eu gosto do clássico)

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro. (viram?)

25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você.. ('eu e minhas circunstâncias'... sartre?)

26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?' (minha amiga eliana tem isso como mantra... acho boa a idéia, mas difícil na hora do vamos ver)

27. Sempre escolha a vida. (segundo um amigo, não há outra opção, não há instinto de morte, só de vida)

28. Perdoe tudo de todo mundo. (essa é boa, mas não perdoo assim não, só deixo pra lá, mas não gasto tempo pensando na coisa)

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta. (verdade, mas nem sempre se pode ser tão indiferente)

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo. (verdade, só custa lembrar quando doi)

31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará. (verdadíssima)

32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso. (depende, às vezes é preciso, outras não)

33. Acredite em milagres. (acredito)

34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez. (isso realmente me tira um peso das costas :)

35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.(tenta-se)

36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem. (é bom lembrar disso quando não se é mais jovem)

37. Suas crianças têm apenas uma infância. (difícil esquecer, sobretudo quando os pais cuidam delas quase sem ajuda)

38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou. (olha, isso é verdade, mas será que o 'tudo' aí vale isso tudo?...)

39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares. (isso parece inconteste)

40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos nossos mesmos problemas de volta. (nem tanto assim)

41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa. (primeira parte, certíssimo; segunda parte, depende...)

42. O melhor ainda está por vir. (não acho não, quero o melhor agora, hoje, já)

43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça. (menos...)

44. Produza! (tá certo!)

45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente. (e eu quero compreender isso a cada dia, inteiramente, mas ...)  
 
 
  **** 2012 - ANO MELHOR PARA TODOS NÓS! ****

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Os sinos...zzzzzz

A noite de Natal, por opção e escolha, passei sozinha. Mãe foi com sobrinho, sobrinha foi com marido e filho pra outra casa e eu pude enfim fazer o que mais gosto: nada, sem obrigações. Quando o nada é sem culpa é muito bom, e raro. Minhas companhias usuais (a boneca entrou aqui de gaiata):















O livro de capa vermelha já li, o de poesias quase; o  primeiro é... estranho, comprei pelo autor e pela beleza do objeto, mas não deu muito certo, acho - se falar sobre esse livro quero fazê-lo com vontade e com cuidado, porque o Bartolomeu é um autor que prezo muito; essa senhora Wislawa é uma enorme poeta, como tantas e tantas páginas na internet já o disseram; Azul corvo está na fila há meses, furei a fila pra ele e também preciso terminá-lo para falar com cuidado, porque quando conheço um pouco o autor e o respeito, prefiro não falar se não houver algum traço na obra que me tenha despertado de alguma forma.

O do Rubens Figueiredo nem comecei, mas esse livro tem sido bem elogiado e ganhou, entre outros, o Portugal Telecom deste ano, e eu tenho pelo autor o maior apreço: quando era jovem escrevi algumas resenhas para o Idéias do JB e houve uma época em que ele foi, por um tempo, o editor do caderno (acho que cobriu férias da Vivian Wyler) e sempre me tratou com a maior consideração. Dele, conheço apenas suas obras inicias - O mistério da samambaia bailarina (1986) e Esssa maldita farinha (1987), que devo ter indicado a alunos, não me lembro mais, nem dos livros, nem dos alunos. Tenho muita vontade de que sua obra recente alimente minha alma.
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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Nada a dizer

Alguns livros lidos ao longo do ano, com os quais dividi meu tempo, entre (poucas) viagens, palavras cruzadas e Angry Birds.

Nada a dizer, Elvira Vigna, nos oferece um verbo solto e uma frase precisa no acerto de contas de uma personagem com o companheiro de longa data, que a trai com uma amiga do casal. Autora de uma geração muito próxima a minha, os valores ensaiados no livro ecoam de modo natural em minha sensibilidade, de modo que reconheço facilmente os termos da longa DR que perpassam esse universo ficcional.

A ressaltar a frase seca, contundente, sem concessão ao melodrama em que se poderia resvalar, dada a natureza do projeto. Ao contrário, é possível falar em precisão cirúrgica no corte da frase, na escolha dos vocábulos, de modo a não deixar margem a qualquer ideia de sentimentalismo fácil, como se lê em :

Nessa segunda viagem ao Rio, já não havia muito mais coisas, além do iPod, que Paulo precisava por na lista de situações novas sobre as quais seria preciso inventar mentiras. A viagem era uma repetição da primeira, as mentiras da primeira serviam . A viagem, acho, foi uma consolidação do que, da primeira vez, havia sido um ir em frente para o desconhecido. E, na cabeça dele, já estabelecida, estava a ideia de que o que havia entre ele e N. era o exercício de um direito que ele tinha, o de gerir a vida dele e o pau dele do jeito que lhe aprouvesse. (p. 44-5).

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Elvira Vigna. Nada a dizer. São Paulo: Cia das Letras, 2010.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Na terra do (muito) sol

De uma visita rápida a médico em Fortaleza:


O prédio onde morei e, apesar de todos os contratempos vividos ali, fui bem feliz. Entrei, conversei com um morador, fui reconhecida por um funcionário como se tivesse saído ontem ::)














A pracinha em frente recebeu um parquinho pras crianças, que os marmanjos usam, claro.











Dos quiosques que vendem plantas na pracinha.











Shopping Del Paseo, pequeno, agradável, ótimo lugar para almoçar, onde ia a pé. Gosto muito.











O mobiliário dessa área é fofo.
















O bom desse lugar é que nunca está cheio, sempre dá pra relaxar e sair da canícula lá fora.


























Esse último ser do presépio, carregando um cabrito nos ombros, eu já fotografei há alguns anos no presépio da igreja que é a segunda casa de minha mãe, na rua onde ela mora. Quando o vi pensei: ah, você está por aqui também, meu senhor, deve estar cansado de carregar esse borrego vindo de tão longe...::)


Aí está, é ele mesmo, o senhor cabrito... conversei um pouco com ele porque, como se sabe, quem viaja só conversa com quem aparece à frente, e quando se conhece o ser então, lá vem papo... Ele é parecido com um amigo mineiro de infância.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Três filmes, e Lars: Um dia; Inquietos; A chave de Sarah

Um dia: Anne Hathaway está muito bem, apesar de ninguém do filme parecer vinte anos mais velho, nem mesmo Jim Sturgess com cabelos prateados ao final parece que envelheceu. Ah, o filme é bom, mas longo demais, o roteiro desanda a horas tantas, não tem mais história pra contar, até o final abrupto e realmente chocante - tive a impressão de que todo mundo levantou da cadeira um pouquinho ao mesmo tempo na mesma hora. Esse final me pareceu mais impactante do que o parto de Bella, que fez alguns espectadores desmaiar, dizem, por causa dos efeitos das luzes - nem percebi tais luzes, mas nesse filme, sim. Não é bem uma luz, é um som. Caracas. Não quero dizer mais nada sobre o final, mas o filme todo fica um pouco diferente por ele, pelo menos eu li com mais interesse a história daqueles dois, que leva vinte anos do encontro inicial até sua mais feliz realização. Esse final também me pareceu o indicador mais forte da teoria do caos aplicada à vida. E sua aleatoriedade.

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Inquietos: todo o tempo, mas todo o tempo mesmo em que Henry Hopper está na tela eu via dois-em-um, o filho e o pai, Dennis Hopper, um ator inquieto, cuja morte me parece ainda hoje estranhamente inusual, numa espécie de condensação do tema: a inclinação pela morte do personagem, sua semelhança com o pai real, mas re-editado com um semblante agora doce, meigo, jovem e lindo. A protagonista  cumpre seu destino com serenidade, e a excelente atriz Mia Wasikowska transmite uma aceitação de suas últimas semanas na vida de forma, eu diria, estóica, zen, mesmo alegre, fruindo o inesperado amor de modo vorazmente doce. Amei o filme, os dois, o modo de ser de ambos, os caminhos, o amor difícil e belo, o figurino (vintage?), sobretudo dela, a encenação toda, o enredo. Nunca a morte foi tão tranquila e leve no cinema.

PS. Outro dia revi na televisão um outro filme de Gus Van Sant de que não havia gostado no cinema, Paranoid Park, e desta vez gostei muito, achei delicado, forte, nada chato - outra pessoa assistira àquele filme, naquele tempo anterior. Que coisa, essa é uma das facetas da grande arte, acho - nos força a mudar, a vê-la.

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A chave de Sarah: Forte, tocante, imperioso ver novos ângulos mostrados para a eterna questão do holocausto, com atuação marcante de Kristin Scott Thomas e da atriz mirim francesa, Mélusine Mayance, que faz Sarah menina. Um lado pouco conhecido (para mim) da colaboração francesa com as forças de ocupação nazistas. Muito bom filme, história, reconstituição, e o final meio redentor toca intensamente o espectador.

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Li que Melancolia ganhou o prêmio de melhor filme do ano do European Film Awards. Merecidíssimo. Lars não compareceu, a irmã o representou. Acho uma pena tão grande esse enorme cineasta ter tido a infelicidade de falar uma bobagem numa entrevista, por ele mesmo reconhecida como uma espécie de tagarelice tola, daquelas que se fala para 'épater' num evento espetaculoso como o de Cannes, e passar a ser indigitado por todos a partir de então. Se ele pelo menos tivesse falado a sério, mas era pura mis-en-scène em palavras, eu acredito que foi mesmo uma tirada infeliz. Enfim, tomara que ele continue fazendo filmes ótimos e grandiosos, que enriquecem o cinema e quem ama essa arte.
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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Jardim Japonês

E no Jardim Japonês aconteceu uma cena pela qual eu não esperava. Estava sentada no banquinho, quieta, curtindo aquela paisagem bela e repousante, na sombra fresquinha, ouvindo a água escoar, que está por toda parte desse belo espaço, quando vejo um gatinho encolhido embaixo do banco em frente. Uma família com uma criança também o viu e o pai o mostrava pra criança, encantado com a soneca do bichano.

Fiquei mais algum tempo por ali e voltei a caminhar, olhando as flores, o verde, ouvindo o silêncio e vendo a beleza. Dei a volta e cheguei de novo perto da entrada, onde as pessoas colocam os bilhetinhos para ter sorte, sentei no banco próximo e me preparava para ir embora quando de repente ouço o grito de três moças próximas a mim e o flash de um gato correndo feito um bólide em direção a... um passarinho, que ele agarrou nos dentes, fugiu veloz e em alguns minutos só restavam as peninhas, várias, espalhadas pela relva. Fiquei, como as moças, em estado de espanto absoluto, nem sabia que gatos eram carnívoros, nem que corriam tanto e ainda lambiam os beiços... esse lambeu, eu vi...::). Não sei se o gatinho que flagrei é o mesmo birds' killer, não deu pra fotografar o evento em si, mas a raça dos felinos está meio comprometida para mim agora.



O jardim é japonês, logo...











Água escorrendo por toda parte, muito repousante













O arquiteto que fez essa ponte deve ser o mesmo que fez a outra quase igual que fica em nosso Jardim Botânico, tenho uma foto quase idêntica tirada aqui.











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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

... cuando yo te vuelva a ver...

Tendo voltado, achei bom ter ido, e do que mais gostei é do que gosto (quase) sempre: conversar com o/as desconhecido/as na rua, sobretudo com os motoristas de táxi de Buenos Aires. Desta vez encontrei uns dois com quem tive ótimas conversas, e nenhum me aplicou ou quis aplicar golpes, como da última vez, em que dancei com a história da nota de cem falsa.

Fiz uma viagem low cost, achei ótimo não precisar comprar quase nada, dá uma enorme liberdade. Fiquei numa gracinha de hotel, banheira com hidromassagem (que nem me lembrei de usar), passeei a pé pelo bairro, tomei sorvete Freddo de doce de leite com amêndoas (só bom demais, e claro que engorda muuuito) no shopping Recoleta, pra onde fui a pé, vi um show de tango no Piazzolla Tango, uma casa de espetáculo menor mas onde me senti mais exposta, e conversei com as pessoas na volta do show bem animada.

Uma cena engraçada aconteceu na saída desse show. Fiquei acomodada numa mesa próxima à porta de entrada (como essa da foto), de onde se podia ver todo o salão um pouco abaixo, com duas mesas imensas, em que pelo menos cem pessoas em cada, a maioria  brasileiros, jantavam e bebiam animadamente. Pode ser impressão, mas acho houve alguns olhares em minha direção, porque eu era realmente a única pessoa, e mulher, sozinha naquele salão. Enquanto o show não começava, pra não ficar só olhando o povo jantando, comecei a jogar os pássaros maledetos, como chamo o vício em Angry Birds, e foi o que deu pra fazer. Depois o show começou, as luzes se apagaram e relaxei.

No final, minha preocupação era encontrar o motorista da van, e subi as escadas em direção à saída. Anda-se um bom trecho dentro do shopping até encontrar os rapazes que carregam as fichas com os nomes dos passageiros. Fui a primeira a chegar, perguntei a um deles onde estava a van que me levaria e ele perguntou: eres fulana de tal? Eu disse sim, mas como sabes? Ele respondeu que eu era a única sem acompanhante. Eu achei o máximo, ri com vontade, tive vontade de levantar o braço e dizer: 'eu tenho a força!' ::)



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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Passeando em palavras


De amanhã a sábado vou descansar no Art Suites & Gallery, na Recoleta, Bs As. A gente viaja porque precisa sair das mesmas vistas, da mema rua, dos mesmos conhecidos e, sobretudo, dos mesmos desconhecidos que cruzam por você no bairro, nas ruas, na cidade. Viajo para reabastecer meu imaginário, para lembrar de coisas que - em tese - ainda não vi, embora isso se torne cada dia mais difícil, ou seja, imaginar histórias diferentes das habituais e criar novas, com outros personagens. De todo modo, gosto demais dessa cidade para onde vou, apesar de uma certa acidez nos modos, em geral, dos habitantes, irritados com nossa invasão cotidiana a lojas, restaurantes, e fúria consumista. Dessa vez, vou levíssima, sem nenhuma reserva para compras quaisquer, o que está ótimo para mim, fico livre para só caminhar, olhar, me deixar ir pra onde as pernas e os pés levarem - olhando bem e, claro, tomando cuidado, porque a maré por lá também não está pra peixe.

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Ainda vou ver Vi hoje O garoto da bicicleta, tudo a ver comigo e estou certa de que vou amar.
Tendo visto, posso dizer que é, sim, bonito, sensível, generoso, difícil e real o amor daquela moça pelo garoto, miseravelmente abandonado pelo pai. Ele - o garoto - parece inicialmente um osso duro de roer, mas ela não desiste, e isso é amor, e isso é bonito. Algumas lágrimas rolam.

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Vi Se não nós, quem?, filme pesado e interessante, sobre épocas que deram estrutura a minha geração, em que ideias e ideais valiam os sonhos, os projetos, a vida, enfim, literalmente. Não se trata apenas de abordar o nascimento do grupo Baader-Meinhof, mas de como uma certa geração pós segunda guerra lidou com as contradições de sua época, os impasses políticos que começavam ali e deixaram seus rastros na hístória que vivemos hoje, de modo muito mais distanciado, indiferente, cínico, talvez.


Late bloomers é divertido, sobretudo por conta da beleza e talento de Isabella Rossellini, e bastante menos na conta do absolutamente-a-mesma-expressão-blasé William Hurt (percebo agora que não é mais possível ver atuações de Hurt, não há diferença alguma entre um serial killer que ele represente e esse cara aqui, tudo é o mesmo personagem, sem nuances, sem força. Ele ficou lá atrás, naquela história com a namorada cega, e não saiu mais de lá ). De todo modo, o filme vale o tempo, e é ótimo ver maduros personagens, como nós, encenando enredos de recomeço e aprendizagem.


Confesso: vi Amanhecer e só posso dizer que é uma vergonha - não eu ter pago para assistir a ele, isso também, mas o filme em si - constrangedoramente esticado, para caber em dois megablusters. Nem o fato de algumas cenas se passarem aqui no Rio melhora a qualidade do embuste. E a mocinha, faça-me o favor, ninguém merece mais ver aquela coisa totalmente estapafúrdia. Enfim - e ainda falta mais um.

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Amanhã nunca mais fica prejudicado na minha avaliação, porque reconheço a ótima atuação de Lázaro Ramos, bem como dos excelentes coadjuvantes, sobretudo Milhem Cortaz e Maria Luísa Mendonça, impagáveis, mas o protagonista é um zé mané total, mas tão abestado, que fiquei irritadíssima com sua lerdeza, além de que os closes imensos, enormes, não funcionam para dar idéia de - de quê, mesmo?.

E porque ele é lerdo, fica parado muito tempo num trânsito caótico de São Paulo, a minha paciência com ele também foi-se esgotando à medida que ele se metia em mais e mais confusões. Diferente do clássico After hours, comparação inevitável, aqui parece que o personagem está agrilhoado àquelas situações sem saída, e meu sentimento foi mais de irritação do que de empatia com ele. Quando, finalmente, chega-se a um desenlace, me pareceu tarde demais, já estava querendo que ele sumisse na tela. Enfim, uma pena, porque Lázaro faz sempre um trabalho de mestre.


A casa dos sonhos não chega a ser assustador, mas garante bons momentos de tensão, e ótima diversão para quem gosta de filmes de 'pequeno terror'.


Ah, li dois livros, um extraordinário, A máquina de fazer espanhóis, valter hugo mãe; outro, bem bom, Nada a dizer, de Elvira Vigna, que busquei porque minha amiga Eliana falou dele de modo que me interessou. Espero ter vontade de escrever sobre ambos, e outros que ando lendo, em algum momento.

Bye ghosts.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

zum zum zim

Todos nós já percebemos o óbvio - os blogs perderam o interesse para a maioria dos leitores, quase ninguém mais se dá ao trabalho de visitar e comentar algum post, porque quase nada interessa realmente, ou merece uma ou duas linhas de comentário. Eu confesso que lamento essa perda, tanto a de leitores, não porque ache que escrevo alguma coisa de maior importância, mas porque justamente esse espaço era melhor quando algumas pessoas vinham aqui jogar conversa fora; do mesmo modo, lamento que alguns não escrevam mais há tempos, como o meu querido fantasminha osvjor, dono de estilo matreiro e certeiramente irônico, que nunca mais apareceu, lá ou cá.

E isso tudo a propósito de Egídio ter vindo aqui e comentado alguns filmes junto comigo. Vejo que gosto disso, que gosto de conversar por aqui super subjetivamente sobre os filmes, e às vezes sobre os livros que li - aliás, hoje gosto mais de conversar sobre os filmes. Os livros acho que estão sendo menos lidos ainda, não sei. Eu estou há várias semanas atracada com um e não consigo terminar, uma das razões talvez seja o medo de ele me abandonar quando o terminar - ou seja, síndrome de abandono 'opuscular'? Não sei o nome, o fato é penso sempre nos meus velhinhos do Lar da Feliz Idade, eles são tudo de bom, pessoas de carne e osso (um tanto frágeis, é bem verdade) com quem converso algumas de minhas melhores conversas - e nem preciso fazer todas as frases, o valter hugo mãe m'as oferece quase de graça, é só abrir o livro e elas estão lá, todas e todos me esperando - a pura festa!
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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Cinema em contagotas

Amor a toda prova: muito boa diversão, vale o tempo e o ingresso. É mais que isso - comédia romântica das boas, daquelas em que você torce, se emociona e se identifica com cada um que fica ou que parte. E vamos combinar: Ryan Gosling é um gato, idem a Juliana, e os casais formados por ambos são belos;

Contágio: nada daquelas cenas mirabolantes de filmes-catástrofe, tudo low-profile, até meio decepcionante para quem foi ver achando que ia ficar paranóico - nada disso, tudo clean e leve, podem ir sem susto. Eu gostei, mas fiquei esperando todo o tempo a adrenalina, que não veio;

Copacabana: valeu a intenção de fazer uma delicadeza com nosso país, mas acho que a Isabelle Huppert não convence muito como balzaca-bicho-grilo. De todo modo, faz um personagem interessante, difícil não simpatizar com sua proposta de mandar a chatice às favas - e ela manda bem;

Entre segredos e mentiras: filme barra pesada sob a aparência de singeleza; serial killer brabo, visto por ângulos diferentes daqueles a que o cinemão nos acostumou, e por não explícita a violência parece maior; prende a atenção, e Ryan Gosling se revela bom ator em drama também, e desde Melancolia Kirsten Dunst fincou os pés na calçada das grandes interpretações, embora aqui faça a mocinha que já fez em outros filmes, mas bem;

Medianeras, Buenos Aires na era do amor virtual: meio bobinho, meio arrastado, mas vi até o final. Há quem goste da exploração da arquitetura da cidade, eu gostei mais da historinha propriamente dita, mas algo não flui no filme, não sei o que é;

O palhaço: tem força, sobretudo a força interpretativa de Selton e Paulo, tem lirismo, tem beleza e tem cenas de circo muito boas. O filme fica aquém do que eu esperava, mesmo assim muito bom, vale muito vê-lo;

Os 3 mosqueteiros: diversão apenas, sem muito mais, e a ponte no final para uma sequência é paupérrima, mas vale a ida ao cinema;

Riscado: bom roteiro, boa atuação da atriz principal, Karine Teles, mas poderia ter sido encurtado em no mínimo meia hora, ou seja, como média metragem estaria muito bem, acho;

Um sonho de amor: gostei muito, uma bela história de amor, em filme cuja força reside sobretudo no encanto e talento da sempre especial Tilda Swinton - a luz dessa mulher ilumina tudo a sua volta;

Uma doce mentira: diversão boa, com aquela Audrey Tautou meio sem expressão de alguns de seus filmes; o personagem masculino é uma graça de homem e de ator, Sami Bouajila;

Winter, o golfinho: fui ver pela resenha de não sei que jornal, que alertava para a diferença desse filme em relação a todos os outros de redenção-através-de-um-animal. Não há diferença alguma, é um filme sobre redenção-através-de-um-animal como todos os outros, a gente viu um, viu todos, mas dependendo do dia, pode trazer um pouco de relax e algumas lágrimas;

O mineiro e o queijo: fofíssimo documentário do Helvécio Ratton, que faz um trabalho de respeito, informação e divulgação desse aspecto da cultura de Minas, com todas as peculiaridades que essa atividade comporta, assim como o tratamento que dá aos queijeiros, gente simples, que fala simples mas sabe o que diz, com aquele humor peculiar do mineiro. Uma delícia de ver, saí com vontade de visitar todos aqueles sítios, e comer muito queijo do Serro e Canastra.

PS. Tentei isso que digo aí no final: fui à feirinha da Senador Correia no domingo, comprei um pedaço de queijo canastra com um moço que sempre está lá, perto do grupo que toca chorinho, e me ferrei - agora que sou uma 'mulher-com-gastrite-crônica' comer um pedacinho dele foi mortal - dor, dor e dor. Arghhh!
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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

viajar é preciso




Quero viajar, urgente, pra onde não chova muito, nem faça sol de rachar. Difícil achar.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tiranossauro

Tiranossauro: filme porreta, porrete, porrada, com também muitos porres e todos os derivados e correlatos. Filme cheio de ira e fúria e dor e violência. Filme que trabalha escaneando a solidão, o emparedamento de todos os personagens, mas sobretudo dos dois protagonistas, um homem e uma mulher, vividos magistralmente por Peter Mullan e Olivia Colman, dignos de toda reverência que tiveram em Sundance pela atuação impecável.

Acho importante dizer que os protagonistas são um homem e uma mulher, porque ambos vivenciam experiências de violência específicas a cada um dos gêneros.

(Nesse sentido, por acaso sentei ao lado de um casal de jovens aparentemente apaixonados, pelas mãos nas mãos etc, e num certo momento na história há uma cena especialmente - como direi - escatológica, em que o marido comete uma violência contra a mulher dormindo. A maior parte dos espectadores ri - não me perguntem como sei que eram risos masculinos, pareciam e acho que eram. Mas disso tenho certeza, pois ocorreu a meu lado:  o namorado da moça riu com vontade, e ela deu-lhe uma bronca zangadíssima, largou a mão dele e ainda fez-lhe uma preleção sobre o que vimos - tudo isso percebi meio de banda, olhando a tela ao mesmo tempo, pois, como se sabe, podemos fazer muitas coisas ao mesmo tempo).

Então, há uma violência específica aos gêneros, mas ao fim e ao cabo restam expostas essencialmente vidas humanas dilaceradas por vicissitudes, reveses, situações desesperadoras, mas também que buscam uma saída para estar na vida, para usufruí-la pelo tempo que lhes/nos cabe, pelo tempo que lhes/nos resta. Um filmaço, absolutamente indispensável.

(Obrigada, caríssimo Egídio, esse filme eu vi por indicação sua).

Trailer aqui.

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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

FestRio - menos

Vi Dark horse e, de cara, aprendi que a expressão significa 'azarão'. Quanto ao filme, quer uma coisa, mas não chega lá. O que quer: mostrar a mesquinhez da classe média norte-americana, sua banalidade, sua pobreza de perspectivas, sua mediocridade, e um modo de fugir dela, através da imaginação. O que consegue (para mim): apresentar um personagem medíocre, super-over-zé-mané, com o qual o espectador não cria empatia, e filmar as mancadas que ele comete na vida, que são muitas e recorrentes. A secretária ainda tem mais força interpretativa do que ele, quando ela entra em cena e 'encena' suas fantasias, o filme ganha intensidade. A Mia Farrow está muito bem, figurando com perfeição a decadência física de uma mãe de família, e o botox exagerado nos lábios serve como paradigma dessa mesma decadência. Selma Blair, belíssima, apesar de estar o filme quase todo com ar de abestada, por conta de uma praticamente incurável depressão. Christopher Walken também faz jus ao título de capitão mor daquele time de perdedores e lascados, com seu jeito torto e sem expressão.

O diretor, Todd Solondz, bem que tentou, mas não (me) convenceu com seu retrato de uma decadência sem qualquer possibilidade de escape, tudo é amesquinhado demais, e aborrecido. Enfim, um filme que me irritou mais do que me fez pensar, ou gostar dele. Toda aquela fauna parece muito pouco construtiva, ou instrutiva, ou deleitável. E tenho pouco interesse por esse lado torto, tolo e decadente desse estrato social estadunidense, até porque revi há pouco na TV o belíssimo Beleza americana e me dou conta de que o estado da arte na compreensão e criação pela imagem dessa parcela da sociedade, ou pelo menos de seus  'perdidos', 'estranhos' e 'inadequados para quase tudo'  já está lá de maneira avassaladoramente bela, consistente e intensa. A faceta que me pareceu mais interessante em Dark horse foram os ataques imaginativos da secretária, quando ela aparece poderosa e sexy - isso sim, é sonhar pra cima.

E será necessário observar que o final teve uma edição um tanto confusa: afinal, seria sonho/fantasia da secretária tudo aquilo, ou é do rapaz azarão também? Seria sonho dela até a morte do rapaz, ou dele enquanto estava em coma? Enfim, uma edição que tornasse menos confuso aquele final ajudaria.
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

FestRio - tonto

Hoje aconteceu uma coisa estranha: saí para ver De mãos livres e me encontrei frente à tela onde passava Os três mosqueteiros, em 3D, no São Luiz - nem eu, nem a pessoa que recolhe os bilhetes percebemos que eu estava no cinema errado, e no filme errado. Conversei com a gerente e ela acabou me deixando ver Amador, na sala ao lado, já que não haveria tempo para ver o filme certo no Arteplex.

Lá fui eu ver algo que me pareceu por longo tempo chatíssimo, mas que ao final revelou-se muitíssimo interessante. Esse foi um dos únicos casos, que eu me lembre, de um filme que vi resmungando, mas que ao decidir ficar até o final esse final mostrou-se surpreendente - não apenas surpreendente, mas me impôs uma reflexão que importa (que me importa) sobre a vida e suas contingências, bem como sobre o valor da simplicidade. Fiquei, e estou ainda, com a personagem na cabeça, surpresa com o caminho que a vida foi tecendo para ela, e como ela pôde encontrar seu próprio caminho, com as enormes dificuldades que se lhe apresentaram. Tudo que vi antes fez um sentido interessante, e a moça, que me parecia meio acovardada ao longo do filme, brilhou por fim.
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sábado, 15 de outubro de 2011

Dançou

Hoje ia ver dois filmes que parecem ótimos: Inquietos e Sleeping beauty, mas uma crise aguda de gastrite - doença que me acometeu há pouco tempo, mas de forma violenta, não me está deixando sair de casa, muita dor, e como sou neófita no assunto, não sei o que comer sem machucar o estômago, então já viu, ou é fome ou dor medonha.

Além disso, chove e faz frio por aqui e o Sleeping só consegui para as 21h30min no São Luiz, deve acabar lá pras 23h30min. Com dor, nem pensar. Ao todo, já são quatro ingressos do festival jogados no lixo, razão por que não gosto de planejar coisas com muita antecedência, sempre pode dar uma zebra - no meu caso, sempre dá.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A pele que habito (com spoilers)


Marisa Paredes resume com perfeição o filme do amigo:

"A pele que habito" descreve a terrível vingança de Robert (Antonio Banderas), renomado e recluso cirurgião plástico espanhol, contra o suposto jovem que estuprou sua filha. Ele vive isolado em sua sofisticada mansão/laboratório nos arredores de Madri, onde mantém prisioneira uma cobaia de suas experiências com uma pele artificial, útil na recuperação de vítimas com queimaduras, como as que vitimou sua
mulher no passado. Neste cenário frio e desolador, Marilia (Marisa), sua mãe, funciona como administradora e defensora dos interesses do filho. "Desde o início, Pedro me avisou que ela não é uma governanta, como aquelas dos filmes de terror e suspense, como a de 'Rebecca, A Mulher Inesquecível' (1940), de Hitchcock. Ela não se veste como uma empregada, ele me avisou. As camisas de Marilia são desenhadas por (Jean Paul) Gaultier!. No final das contas, Marilia é a consciência da história que ele conta".
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Com essa sinopse, fica mais fácil compreender o filme que se vai ver, porque ele vai se fazendo compreender aos poucos, e não estou segura de tê-lo amado, acho que gostei, sim, gostei, mas é estranho, e fiquei pensando alguns dias sobre o porquê da estranheza, já que falar no autor é falar sempre em estranheza, em arte fora do comum, arte pessoalíssima, apoiada em algumas obsessões também presentes nesse A pele que habito. E chego à conclusão de que me incomodou um pouco a abordagem da transmutação do sexo masculino numa vagina que serve basicamente, ou ao longo de grande parte do filme, para a violação.

A filha, no início do filme, e a "mulher" aprisionada, são violadas, embora em intensidades diferentes. Na verdade, a filha não se sabe direito se era filha mesmo ou outra cobaia nas experiências com troca de sexo feitas pelo médico, já que não tendo havido penetração na cena do bosque, ela sangrou do mesmo jeito, e sentiu dores horrendas como a outra sentiu, a cobaia, no momento em que é violada pelo suposto irmão de Robert, vestido numa fantasia ridícula de tigre, em momento kitsch dispensável, acho.

De todo modo, custei a entender do que tratava, afinal, a história, por causa dos flashbacks e também porque há pelo menos três vertentes que desembocam no singular aprisionamento daquela personagem: há um desastre de carro onde morre a mulher de Robert, o que impulsiona suas pesquisas com peles humanas, necessárias para cicatrizar queimaduras; há essa estranha filha, que aparece rapidamente no início e funciona como motor da vertente mais importante no roteiro, ou seja, a vingança desse pai contra o rapaz que supostamente violou a moça. De todo modo, não importa muito ter havido ou não a violação, porque ela morre e o cientista vai então iniciar um processo muito louco de vingança, que consiste em aprisionar o rapaz, levá-lo à mesa de cirurgia, mudar seu pênis em vagina e aos poucos transformar todo seu corpo - toda sua pele - até o estágio final do "ser fêmea". É essa vingança o cerne da trama, me parece, e ela nos surge em sua plenitude na mulher encarcerada no quarto, observada através de uma parede de vidro pelo homem no outro quarto. Só que acontece o que já se anuncia aos olhos do espectador: ele se apaixona pela belíssima mulher que criou e tudo desanda, claro.

A cena final também me pareceu meio sem sentido, e a volta da "moça" para sua mãe, a frase que ela pronuncia é absolutamente inverossímel, é como se Almodóvar não soubesse bem como terminar aquela loucura e resumiu o drama numa frase que, face aos acontecimentos, soa como clichê: "soi Vicente". A platéia ri, aliás ri em vários momentos. Meu riso foi parco, e apesar de todos os senões e aberrações, acho que gostei do filme, continua sendo um Almodóvar. Mas é estranho.
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sábado, 8 de outubro de 2011

Retalhos do FestRio

Comprei alguns ingressos para o FestRio, dentre os quais já vi Gatos velhos, um filme triste e duro, mas ótimo. A velhinha é a minha cara quando eu for assim velhinha, é de uma crueza face ao campo dos afetos maternais que eu compreendo profundamente. Também o modo como o marido a protege, uma forma de amar absolutamente radical, sem quase nada receber: amor real, de longo tempo, talvez quase memória do que já terá sido uma paixão arrebatadora, hoje ecos nos gestos contidos mas protetores, mesmo quando ela tira de seu ombro o braço que tenta protegê-la. Velhinha dura. Sorte que ela o tem, ou seu fim seria tristíssimo.

Tentei ver Gatos de Paris, que comprei sem saber que era desenho animado, mas o que me fez desistir dele é que havia umas 300 criancinhas tentando entrar na sala, daí dei meia volta e entreguei o bilhete à bilheteira, que não pode devolver o dinheiro porque blá blá blá.  Hoje vi  Não me esqueça, Istambul, longo demais e de que gostei de uma ou duas histórias, a da velhinha apressada que se perde, sobretudo, e a dos amantes separados por séculos de brigas religiosas e políticas. Depois entrei em outra sala e vi grande parte de Todas as canções falam de mim, até um certo momento em que eu já sabia mais ou menos onde aquilo ia dar, ou seja, me falta hoje paciência para os imbroglios do amor na geração dos trinta, esse aprendizado que, embora comovente em alguns momentos, não me diz muita coisa. Me toca mais a velhinha crudela do que a mocinha que vai e vem nas ondas de seu coração instável.

Amanhã verei Sete atos de misericórdia, nada sei about, e na segunda vou ver o filme do Almodóvar, só espero que não esteja lotado, desejo meio vão, creio. Nos poucos dias a que fui já reconheci duas pessoas assíduas. Um deles, no primeiro dia, na primeira sessão, gritava saudando cada espectador que entrava, como se estivessem se reencontrando na colônia de férias. Ele literalmente gritava do meio da sala de exibição: E AÍ, FULANO, TUDO BEEEM? COMO VAI, PRAZER EM REVÊ-LO, assim mesmo em maiúscula, ou seja, aos berros, enquanto o fulano procurava, meio envergonhado, um lugar para sentar. Estranho isso, e me incomoda muito, tanto que já estou levando protetor de ouvidos para as sessões, sei lá quantos outros malucos não vão se cumprimentar ainda.

Ainda tenho ingresso para Inquietos e De mãos livres, não sei se li sinopse, e se li não lembro, falo depois sobre.
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Em tempo: hoje é sexta, dia 14/10, não vi Sete atos de misericórdia porque era domingo e me deu uma preguiça louca de sair, então perdi o ingresso por laziness, fazer o quê. Mas vi ontem um filme português difícil de gostar, porque mal costurado, mas gostei afinal - Quinze pontos na alma. Parece coisa esotérica, e é mesmo, no sentido de hermético, pouco compreensível em vários momentos, e falho em outros, mas não saí da sala e vi o desenrolar das ações daquela mulher com atenção. Seria pura maldade dizer que o filme se salva pelas roupas impecáveis que ela usa, deslumbrantes de chiques (os personagens são ricos e entediados portugueses), mas não é verdade,  há interesse na história do homem que beija e se joga invisivelmente da ponte, e do périplo dessa desconhecida em busca de entender - numa viagem que será muito mais longa do que ela supunha. Enfim, o filme é difícil, tem buracos  no roteiro, mas se vê com interesse.
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sábado, 1 de outubro de 2011

Elvis & Madona

 
Elvis & Madona tem tudo pra virar um filme cult: é engraçado, tem ótimas atuações dos dois protagonistas, sobretudo, mas o elenco inteiro está ótimo, é super bem feito, com timing na medida, apresentando um casal pra lá de sui generis - aliás, touché para o diretor e para os atores, nenhum deles erra a mão, nada desanda: a Spoladore está perfeita, com aquela pele escandalosamente linda, sem um isso de excesso na composição de sua "moçoila"; o ator Igor Cotrim eu não conhecia, mas dá show de travestismo competente e sem caricaturar. Na verdade, o filme todo é cheio de competentes atores, de Maitê ao bandidão com jeito e cara de bandidão, um achado, Clint Eastwood não encontraria ator melhor para o papel.

Excelente filme, comédia pra rir com vontade, para se emocionar e para desmantelar preconceitos. Só achei um tiquinho politicamente correto e um tiquinho poliana: dá tudo tão certo que não tem como não ser comédia, até o vestidinho-boa-moça que a Spoladore usa no almoço de família, por tão completmente fora de (seu) esquadro, fica cômico.

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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ainda a luz

Ainda a luz maravilhosa desses dias. Lindos.













































































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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

na falta de

Na falta da vontade de escrever o que quer que seja, flores, de várias cores e odores, e luzes da primavera em forma de casinhas.


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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

a morte dos sapatos

Plagiando anna v, e considerando que blog também é informação, sugiro que não usem essa coisa aí embaixo contra mofo próximo a sapatos porque o desastre é certo. O pior é que está em letras bem pequenas que pode causar ressecamento no couro - a palavra exata, no entanto, é outra: ele destroi o couro, encolhe e enverga o sapato. Perdi dois que eu amava demais, por isso o aviso. Vejam a tristeza: a botinha binne já comprei outra, porque não viajo sem. O sapatinho preto morreu mesmo.





















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domingo, 11 de setembro de 2011

Três livros, ou dois

Nos intervalos das viagens que as milhas Smiles têm-me permitido fazer (e espero continuar em breve), tenho lido alguns livros que compõem aquilo que vou chamar de 'literatura groupie', no sentido de um texto que se escreve às expensas da obra de outro, sua memorabilia particular, histórias e casos que circundam um nome autoral, uma obra, e que fazem dele algo mais do que um autor. O espanhol Enrique Vila-Matas seria, nesse sentido, paradigmático. Pelo menos dois livros recentemente publicados aqui envolvem o nome do espanhol, prestam-lhe tributo, dialogam explicitamente com sua obra e existem basicamente à sombra de seu mundo ficcional: A máquina de fazer espanhóis, de Valter Hugo Mãe; e Se um de nós dois morrer, de Paulo Roberto Pires.

Começando pelo começo, a História abreviada da literatura portátil, do Vila-Matas, e referência para ambos os autores mencionados, é uma obra que não se enquadra em quase nada do que chamamos 'literatura', em seu modo convencional de existir - vários mundos reais e inventados caminham numa narrativa que seduz pela apropriação desatinada e desbragada de nomes reais do cânone literário e artístico da modernidade, em meio a acontecimentos nada convencionais, ou melhor, louquíssimos e muitas vezes engraçadíssimos. Lê-se com prazer aquele mundo meio Alice no país das maravilhas, em que também os personagens do último filme de Woody Allen, Meia noite em Paris, passeiam fantasmagoricamente e ludicamente por suas páginas. Numa lógica muito particular, transitam pelas histórias mirabolantes "odradeks, golens, bucarestes e todo tipo de criaturas que povoam a solidão daqueles que, em tensa convivência com o duplo, se isolam para trabalhar." (p. 101). Walter Benjamin é uma figura incorporada à narrativa, de modo sistemático, e está presente igualmente no livro de Paulo Roberto Pires. Em outro momento, volto a comentar mais detidamente o livro impagável do Vila.

A primeira referência que tive de Se um de nós dois morrer foi no site da Cora Rónai, que veio lendo o livro no dia do lançamento e adorando. Curiosa, fiquei um tempo procurando por ele, achei por fim na Blooks do Unibanco Arteplex, onde não gosto de comprar porque não dão desconto algum. Li finalmente todo o livro do Pires e o começo é mesmo muito estimulante, o que vai mudando da metade para o final. O livro começa muito bem, prometendo uma história interessantíssima (e bem escrita, no estilo quase coloquial do personagem-escritor-defunto), sobre um homem, Théo, autor de um único livro de sucesso, e eventual amante que, ao morrer, deixa para a amiga-ex-amante um testamento e dinheiro para realizar suas últimas vontades, uma delas a de que suas cinzas sejam enterradas em vários locais do cemitério de Montparnasse, em Paris, claro.

Nessa, digamos, primeira parte, o livro é uma delícia de ler, em sua homenagem a Paris (de novo o filme de Allen passeia na memória do leitor), descrições de passeios, lugares, hotéis, referências a pessoas reais e mesmo próximas a certo tipo de leitor. Por exemplo, a referência a Silviano Santiago e seu Keith Jarrett no Blue Note (1996) me remete a um período muito intenso da minha relação pessoal com o livro (mas sobretudo com Stella ManhattanEm liberdade), com esse autor e também ex-professor no mestrado, relação cheia de complicações e admirações tensas. De todo modo, há uma tela de nomes, referências e acontecimentos que, no caso do autor brasileiro, aproximam muito o mundo literário criado ao universo de um certo tipo de intelectual brasileiro, que viajou a Paris, ama essa cidade e leu alguns livros de referência citados - Benjamin em especial.

O problema maior do livro acontece quando se abre a segunda carta, com o segundo pedido feito pelo morto a sua amiga: entregar a Enrique Vila-Matas uma pasta contendo um conjunto de textos inacabados do que seria uma possível segunda obra desse autor de obra única. O conteúdo dessa pasta será então a matéria dessa parte do livro, copiado tal qual Sofia a encontrou. E aqui existem alguns problemas, de que vou comentar alguns a seguir. Antes, alguns trechos da prosa de Pires:

"(Lembra que eu pensava em escrever um livro em que cada conto fosse batizado de acordo com um standard americano? Como você sabe, o mestre Silviano Santiago fez primeiro - e muito melhor do que eu poderia sonhar em conseguir. Agora, só me resta esta patética e pouco concreta obra póstuma: Keith Jarrett em Montparnasse. O que é por definição muito melhor do que, admita, um Liberace no Caju ou Bené Nunes no Irajá.)"  (p. 16).

"Tinha um projeto, que vivia adiando, de fotografar todos os dias de sua vida e, depois de selecionar o mais irrelevante dos momentos, escrever um texto que deveria acompanhar a imagem. Mas a convivência com Théo parecia ter esterilizado de alguma forma sua capacidade de expressar-se. Fotografava todos os dias, selecionava as melhores imagens numa pasta, mas, diante delas, não lhe vinha uma única linha." (p. 19)

Aqui, como em tantos outros momentos, não há como não ter à memória a obra de Sophie Calle, também mencionada em algum  momento da narrativa, bem como não receber com empatia o penchant para esse tipo de trabalho com a 'fotografia das coisas mínimas', com que essa leitora também muito se compraz.
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Enrique Vila-Matas. História abreviada da literatura portátil. Tradução Júlio Pimentel Pinto. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

Paulo Roberto Pires. Se um de nós dois morrer. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.


sábado, 10 de setembro de 2011

dois filmes

Um conto chinês: obra prima obra prima obra prima. E além de tudo, ri-se bastante. O Darin é mesmo um enorme ator, ele se reinventa, mantendo os mesmos belíssimos olhos. Mas a graça maior do filme está no roteiro, no modo como esses dois se acham e não conseguem se livrar um do outro, por honestidade atávica, em um, e necessidade mórbida, em outro. A mistura de acaso e necessidade gera um tempo de puro deleite diante da tela, com o surplus de uma personagem feminina cujos anseios são quase o de todas nós - ficar pertinho do Darin ::))
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O Wagner Moura está impagável n'O homem do futuro, um dos grandes trabalhos em cinema do moço, além do capitão Nascimento, claro. O filme diverte à beça, é bem feito, as atrizes estão ótimas: Alinne me surpreendeu e a Maria Luisa nem parece aquela atriz sem graça que de vez em quando aparece na TV (eu só a vejo raramente na TV). Acho que nossos melhores atores gostam da tela grande, fazem muito bom cinema, e nossos três maiores atores quase sempre acertam na telona, acho que estão cada vez mais maduros artisticamente: Wagner, Selton (aliás, vi o trailer de Palhaço e acho que vai ser um grande filme) e Lazaro dão show.

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sábado, 3 de setembro de 2011

João Pessoa

Em face da catastrófica perda de sono hoje, vamos a algumas fotos de João Pessoa, que acabei de conhecer e achei muito fofa, com gente acolhedora, praias bonitas - acho que para quem mora no Rio as praias do Nordeste são quase sempre 'reconhecidas, ou seja, nós em algum lugar por aqui já vimos algo semelhante, salvo quanto ao morninho, talvez. De todo modo, fiquei pouco, só o suficiente para gostar, querer voltar, e ter conhecido uma igreja de São Francisco que me emocionou deveras - é pequena, mal conservada, mas tem um trabalho tão forte de barroco, embora as fotos não façam jus, porque não havia luz suficiente e eles pedem que não usemos flash. Todo o tempo em que mirava aquelas maravilhas, Mario de Andrade me acompanhava, e seu Padre Jesuíno do Monte Carmelo, um dos livros-mantra de Mario para mim, em que ele analisa a obsessão do traço barroco nas igrejas brasileiras e percorre o caminho desse pintor e escultor desconhecido até então, Padre Jesuíno - e uma das imagens que perduram em minha lembrança de leitura é Mario atônito diante de pedaços de dedos, unhas, nervuras, coisas mínimas em que ele via a presença da arte do autor. É muito belo esse amor à pesquisa em Mario, essa paixão obsessiva pela descoberta de algo.

Enfim, eu e Mario percorremos aquela igreja emocionados, e em sintonia profunda.

Outro momento alto foi um passeio de barco que fiz, com pouca gente e pouca música sertaneja, em que acabaram me achando muito divertida, vejam só - pra eu ser divertida era porque estava muito bem. E a cena do senhor lá tocando o bolero de Ravel é de uma breguice tão maravilhosa, amei aquilo tudo - mas tenho de confessar que essa situação só foi possível porque o pessoal do meu barco era super gente fina e a música que eles tocavam era decente (eu sempre levo protetor de ouvidos para esse tipo de passeio porque a música alta e sertaneja me dá dor de cabeça na hora, mas nem precisei usar).

De todo modo, again, o grande personagem dessa coisa toda do bolero, para mim, é o remador do barco. Que coisa, o homem fica lá remando, chegou a tirar água do barco com uma lata - nós vimos lá de longe, dá um duro danado e o outro ganha todos os louros, tão injusto isso :)). No fim, tive a honra de tirar uma foto com ele, conversei um pouco e inflamei seu orgulho, incitando-o a pedir um aumento de salário (ganha um salário mínimo para carregar aquele homem por meia hora no barco, enquanto o homem que toca ganha uns 10 mil dos quatro restaurantes que bancam o show. Achei injusta a medida, mas deve ser vantagem ainda para o remador).

Ah, e JP foi a única cidade brasileira em que meus pés pisaram que tem um traço de civilidade ímpar: quando o transeunte chega à calçada para atravessar a rua, o carro - qualquer carro - para para ele. Que tal? Mais primeiro mundo, impossível. E as ruas são limpíssimas, como em Aracaju. Isso é muito reconfortante.

Detalhes da Igreja


















O tocador do bolero e seu ajudante
Casa dos franceses, onde tudo começou, abandonada mas linda no por do sol
Feirinha no Jacaré, onde ficam os grandes restaurantes e de onde sai o barco para ver o bolero














Um homem limpando seu barco


Obra de artista local no Museu do Artista Popular

































Almoço no badalado Mangai, muito sem graça, aliás














Vista do hotel














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