quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um poema, ou dois - Heleno Godoy

À guisa de augúrios para um Natal feliz e um Ano sempre Novo, com mais alegrias, saúde e prosperidade, um poema de um amigo a quem eu devo ainda um comentário sobre seus ótimos textos: poesia, conto, romance, crítica. 
Ele é muito bom, e um dos melhores professores que eu conheci na UFG.

Noite de Natal, 2006 - Heleno Godoy

Quem se arriscaria, nesta noite,
a um novo palpite: encurtar asas
deste anjo rebelde, ampliar rotas
de pássaros migratórios? Mas de

que nos serviriam menos penas, rotas
outras, mais traiçoeiras, um sertão
e suas veredas revisitadas por um
olhar erroneamente cubista, pois

jamais fragmentada aquela linguagem,
tão grande em suas múltiplas veredas?
Que anjo não deixaria, nesta noite
e em todas as outras (pois temos de

aturá-lo), novas penas crescerem;
que pássaros (temos de admitir)
outras fáceis rotas não buscariam?
Reconheçamos também assim esta

noite: um encurtamento de toscas rotas,
um ampliar de duras penas, uma pluralidade
de visões integrativas, estas sim, cubistas,
no sertão e em todas as suas veredas.

Daqui:  http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/heleno_godoy.html

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O poema  - Heleno Godoy

não encontra seu próprio caminho
entre pedras, nem em estrada lisa,
regular, facilitada. O poema
pena um caminho errante, como estrela
que vai nascer no céu, certa, esperada,
mas a surpreender sempre, pois vem
naquele minuto em que se desvia
o olhar: antes não está lá, agora
brilha, vinda não se sabe de onde.
Uma estrela acusa um lugar, um sonho.
O poema não ousa um abismo
sozinho. Antes, joga pontes, cordas,
compõe uma passagem e um rito,
recupera um processo, estabelece
uma forma, funda-se com força
de haste de junco, asa de incerto
inseto; com a fragilidade e a
insegurança de um mamífero
abandonado: agressivo se
faminto, dócil se acariciado.

O poema assegura ao que é selvagem
uma técnica precisa e adestrada;
desnuda o homem já despido, asse-
gura ao homem vestido uma chama
de reverência, o silêncio de espelho
crédulo, o vazio de uma multidão
seguindo firme e compassadamente.
O poema sabe ser inexorável
como a duplicação de estrada reta:
segue inalterado, sem fim, ser vivo.

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In: Heleno Godoy. Trímeros. Goiânia, 1993

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Foi assim que aconteceu

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Em resumo, o que foi minha viagem, para ficar só com as coisas boas:

O restaurante de minha eleição foi o Le Petit Zinc, não apenas porque ficava quase ao lado de onde estava hospedada, mas porque me sentia bem lá, o ambiente era tranquilo, o atendimento bacana, os pratos sempre ótimos, e havia além de tudo um fundo musical que fazia bem à alma - jazz, blues, alguma bossa nova, como é bom ouvir música brasileira de qualidade fora do país, isso tudo baixinho, mas perfeitamente audível (lembrei de você, osvjor, você vai gostar desse lugar, com certeza, ao menos pela música).
Eu me sentia meio fora da realidade (e estava mesmo) quando lá entrava, por isso elegi o canto ideal do meu conto de fadas. 





























Passear a esmo, flanar, descobrir lojas, lugares, a simplicidade e a imponência da história, do passado, que está em todo canto, a cada esquina;

Uma loja só de bonecas russas impressionante, magníficas bonecas, uma série delas conta histórias de Pushkin, são lindíssimas;

















As lojas de chocolates, os chocolatiers; os queijos, de cuja variedade eu nem cheguei perto de conhecer um milionésimo;
















Os cafés, brasseries e restaurantes, uma quantidade incomensurável deles, lugares para se estar sempre aquecida e onde o prazer reside;

A proverbial elegância de todos que vão a Paris, não apenas dos parisienses. Não sei se porque fiquei no mesmo prédio do Cafe de Flore, reduto da vaidade desmedida, onde as pessoas sentam para ver e serem vistas; não sei se porque no inverno todos tendem naturalmente à elegância, mas como são bonitas as pessoas, como são interessantes. Nota: eu achava antes que ia ficar muito no de Flore, mas não aguentei aquele excesso de egos, aquelas pessoas que faziam questão de estar ali para se expor, pelo menos foi minha impressão, não me senti bem lá, fui apenas uma vez, até porque um chá custa em torno de 7 euros e minha tolerância para esse tipo de viagem egóica s'est finie;

Quanto aos museus, tentei subir as escadas do Eugène Delacroix, ao lado de onde eu estava, mas eram muitos degraus e nenhum elevador, não deu; tentei - de novo - ir ao Louvre, mas as filas e o frio não permitiram. Parece que há alguma coisa entre mim e o Louvre, pela segunda vez vou a Paris, chego até perto da pirâmide e não consigo entrar, porque não tenho paciência para multidões. Em breve irei a Paris de novo, claro (não no inverno) e vou comprar as entradas para o Louvre aqui no Brasil, assim não terei como não ir. Então, dentre outras magnificências, deixei de ver - ela:










Pude ir ao Centre Pompidou porque as imensas escadas rolantes são parte do cenário e de seu charme, mas também não vi tudo, deixei de ver muita coisa por cansaço, mas do que vi gostei muito da exposição de Nancy Spero, uma artista norte americana que morou e produziu em Paris, muito engajada, cujo vídeo sobre a vida e a obra (ela morreu em 2009) era visto com muita atenção por várias pessoas, eu inclusive, porque era uma figura interessantíssima, que acompanhou com sua arte um período conturbado da história dos Estados Unidos (guerra do Vietnã, sobretudo) e da histórica emancipação feminina - esses os temas mais candentes de seu trabalho e de sua energia criativa.














De todo modo, foi a viagem que quis fazer. Não me obriguei a nada, não tinha de cumprir nenhuma agenda de turista, apressado ou lento, até porque minhas condições físicas não permitiam. Andei o que pude pelos arredores de Saint Germain, o que já dá uma volta e tanto por Paris; fiz passeios de carro maravilhosos, quentinhos, fora do grande frio lá de fora (quando fui a Versailles agradeci muito estar de carro, não teria conseguido andar aquilo tudo em volta do castelo não fora assim), e a pessoa que me levou tinha ótimo senso de humor, ri muito e achei muito bom.

Também passeei à noite de carro por quase todos os bairros, andei de bateau mouche à noite também, tirei fotos dela - da torre Eiffel -, vi as luzes magníficas de Natal, com as quais eles não são absolutamente econômicos, e tudo isso foi e é uma aventura de beleza e encantamento.

Quando fui, fui querendo ter melhores lembranças na minha vida, que estava muito truncada por dissabores. Tenho-as agora para sempre, e agradeço sempre. Espero poder voltar, e estando viva há chances, pois não?

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Imprevistos sempre ocorrem

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Bom, eu já voltei de Paris há mais de uma semana, já fui ao cinema ver o último Woody Allen, de que gostei bastante, já reiniciei todas as terapias pro joelho e mais remédios, porque eu sou perseguida pelas escadas, e aconteceu que esse elevador do prédio onde eu estava hospedada, no prédio do Cafe de Flore, deu pane duas vezes, a primeira logo no domingo, e um dia depois da minha chegada já estava ligando para a administradora do condomínio, que me atendeu logo, mas conserto mesmo só na segunda feira, então subi e desci seis andares no domingo. 

No último fim de semana, nova pane, só que desta vez minha amiga Eliana,  que vinha me pegar para jantarmos juntas, em despedida, ficou presa no elevador por uns quarenta minutos, e eu só fui perceber depois de algum tempo, já que ela não chegava e eu ouvia uns barulhos estranhos e insistentes vindos lá de baixo.

A horas tantas gritei lá de cima - querida, é você aí embaixo? - Sim, estou presa dentro do elevador. Saí às pressas para ficar com ela, desci os seis lances o mais rápido que pude, e ainda voltei os seis andares para pegar a câmera fotográfica e clicar o acontecimento: a moça morena é a moradora do terceiro andar que primeiro ouviu Eliana; e o guapo rapaz é o técnico, que tirou minha amiga mas não consertou o elevador. Resultado: ficamos em casa comendo um sanduíche até razoável que eu preparei mas, como ela mesma observa, não era o jantar ótimo que estávamos planejando.

Para terminar com chave de ouro, houve um apagão na véspera de minha volta, toda a luz do apartamento acabou, o telefone emudeceu, a échauffage começou a definhar e eu comecei a entrar em pânico, porque o celular que havia comprado (com medo de ficar presa no elevador) estava com um risco apenas, sinal de que ia morrer também.

Liguei para o proprietário, que não atendeu, liguei para o sócio, que não atendeu, aí liguei para outra pessoa que me havia prestado serviços logo que eu cheguei, Adriana Meschede, que não só me acalmou, como se prontificou a ir até onde eu estava, mas antes ligou para o proprietário, ele me retornou a ligação e começou a explicar, muito rapidamente, porque a bateria já findava, onde ficava o disjuntor, eu não entendia nada, mesmo sendo em português, porque já estava estressadíssima e p da vida. Afinal quando achei, acionei e a luz voltou houve uma conversa mais que áspera entre nós dois e as coisas terminaram meio mal (porque depois de tudo aquilo me perguntar se estava tudo bem só podia ser piada da mau gosto). 

Então, minha observação quanto a ficar em hotel ou em apartamento, em Paris, sobretudo, onde os prédios são muito antigos, mas acho que em qualquer lugar, é a seguinte: certifique-se antes de que tudo funciona, sobretudo o elevador (sim, é meio irreal perguntar o óbvio, o sujeito vai dizer que está tudo ótimo, mas quando cheguei e vi aquele minúsculo espaço que eles chamam de elevador, não acreditei muito que não desse problemas, mas fazer o quê àquela altura?); pergunte se a luz cai caso vários equipamentos sejam ligados e, se cair, onde fica o disjuntor.

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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Os vários ângulos da Sistina

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Presentão de Natal, que eu vi aqui .
Dá para olhar e se encantar por vários dias - e percebam, claro, que a foto se move em todas as direções, é só usar o mouse:

http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pois é

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Já voltei, mas estou com tendinite aguda, só posso catar milho e o médico proibiu usar a mão esquerda por pelo menos uma semana, tomando anti-inflamatório deve melhorar, quando volto para comentar o fim da viagem.











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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Momento saudade

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Essa é uma das (menores) razões por que eles, os franceses, querem transformar o ritual gastronômico daqui em patrimônio imaterial da humanidade, e acho que entendo por quê.















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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

passeio noturno

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Ontem fiz um passeio noturno pela cidade, programa de turista (eu e mais um casal de espanhóis numa van), visitando os pontos mais conhecidos e andando de barco pelo Sena. Parece romântico, não é? E deve ser, se o frio, mesmo com o barco fechado por vidros, não estivesse ainda assim de rachar. Acho que estou ficando repetitiva quanto ao frio, mas que fazer, metade dos planos para a rua esmorecem face ao gelo térmico.

As fotos, claro, não fazem jus ao espetáculo de luzes que pelo menos três lugares oferecem aos olhos hiptonizados dos que lá vão: as galerias Lafayette, os Champs Elysées, a torre Eiffel e uma espécie de praça onde fica o hotel Ritz, o mesmo de onde Diana saiu pela última vez.

Levei a câmera portátil, menos poderosa para a noite, e todas as fotos foram tiradas de dentro de algum lugar - do carro ou do barco. De tudo que vi, o que mais impressionou pela beleza foram as galerias e a torre.

Eis o que é possível ver, mas saibam que é muito mais que isso. As luzes das galerias vão esmaecendo aos poucos, depois voltam com intensidade, é deslumbrante a visão. As luzes da torre também piscam aos poucos, vão acendendo e piscando, muito impressionante ver a bela assim tão de perto e tão cheia de vida. A foto dos Champs Elysées não diz quase nada do como essa avenida realmente está, aquele campo de luzes a perder de vista, e essas pequenas árvores da praça do hotel fazem parecer um bosque de luzes, num lugar que a gente percebe ser super requintado, não havia ninguém nas imediações, só o porteiro do hotel, a postos, claro.



Essa praça, onde fica o hotel, está muitíssimo melhor fotografada por aqui
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