Ele é muito bom, e um dos melhores professores que eu conheci na UFG.
Noite de Natal, 2006 - Heleno Godoy
Quem se arriscaria, nesta noite,
a um novo palpite: encurtar asas
deste anjo rebelde, ampliar rotas
de pássaros migratórios? Mas de
que nos serviriam menos penas, rotas
outras, mais traiçoeiras, um sertão
e suas veredas revisitadas por um
olhar erroneamente cubista, pois
jamais fragmentada aquela linguagem,
tão grande em suas múltiplas veredas?
Que anjo não deixaria, nesta noite
e em todas as outras (pois temos de
aturá-lo), novas penas crescerem;
que pássaros (temos de admitir)
outras fáceis rotas não buscariam?
Reconheçamos também assim esta
noite: um encurtamento de toscas rotas,
um ampliar de duras penas, uma pluralidade
de visões integrativas, estas sim, cubistas,
no sertão e em todas as suas veredas.
Daqui: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/heleno_godoy.html
O poema - Heleno Godoy
não encontra seu próprio caminho
entre pedras, nem em estrada lisa,
regular, facilitada. O poema
pena um caminho errante, como estrela
que vai nascer no céu, certa, esperada,
mas a surpreender sempre, pois vem
naquele minuto em que se desvia
o olhar: antes não está lá, agora
brilha, vinda não se sabe de onde.
Uma estrela acusa um lugar, um sonho.
O poema não ousa um abismo
sozinho. Antes, joga pontes, cordas,
compõe uma passagem e um rito,
recupera um processo, estabelece
uma forma, funda-se com força
de haste de junco, asa de incerto
inseto; com a fragilidade e a
insegurança de um mamífero
abandonado: agressivo se
faminto, dócil se acariciado.
O poema assegura ao que é selvagem
uma técnica precisa e adestrada;
desnuda o homem já despido, asse-
gura ao homem vestido uma chama
de reverência, o silêncio de espelho
crédulo, o vazio de uma multidão
seguindo firme e compassadamente.
O poema sabe ser inexorável
como a duplicação de estrada reta:
segue inalterado, sem fim, ser vivo.
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