quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Tezza, Stein, Toklas etc...
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Primeiro, estou feliz com o prêmio Portugal Telecom deste ano para O filho eterno, do Cristóvão Tezza, merecidíssimo, o livro é muito bom e deve ser uma alegria muito especial para o pai-autor obter tantas vitórias com um livro que é um extraordinário mea culpa.
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Agora, sobre A autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein, o livro começa auspicioso mas vai ficando cansativo, e o que era audácia 'estilística' (escrever a autobiografia de outra pessoa para falar basicamente de si) vai ficando ralo e se tornando um tititi interminável, uma conversa meio de comadres, de certo nível, é verdade, porque os parceiros das comadres são gente da mais alta qualidade, o mais assíduo dos quais Picasso no início de sua carreira, com idas e vindas de brigas entre os dois. Gertrude comprava quadros deles todos, tinha fascinação por pintura moderna e acompanhou como amiga os trabalhos iniciais sobretudo de Juan Gris, Cézanne, Braque e Matisse, além de ter convivido, por algum tempo ao menos, com Hemingway, Tristan Tzara, Picabia, Ezra Pound e outros fundadores do cânone moderno. O tom do livro me parece um tanto megalômano, como, aliás, seria o projeto do portentoso The making of Americans, sobre o qual ela diz (lembrar que está falando dela mesma em terceira pessoa):
Foi durante esse verão que Gertrude Stein começou o seu grande livro The Making of Americans.
Começava com um velho tema cotidiano que escreveu ainda em Radcliffe:
"Uma vez um homem furioso arrastou o próprio pai pelo chão do quintal que pertencia ao velho. 'Pára!' Eu não arrastei meu pai além desta árvore." [...]
Devia ser a história de uma família, e era, mas quando cheguei a Paris já estava se transformando na história de toda a humanidade, de todos os seres humanos passados, presentes e futuros." (p. 60).
Isso mesmo, meus caros, simples assim, ela só tem essa pequena ambição, coisa simples, mas o problema é que ela acha mesmo que nas mil e tantas páginas de um livro que quase ninguém leu, segundo a Janet Malcolm, ela produziu a obra-prima da humanidade. Acho que Mallarmé, tendo o mesmo tipo de delírio (escrever a obra incomensurável), deixou saldo mais vital para a cultura. De todo modo, há uma certa sedução, algo que te chama para as incontáveis histórias que não têm fim, sobre um mundo de gente que 'importa, importou e/ou importará', contadas por essa narradora espevitada, um pouco metida, a quem ninguém ousava recusar nada, segundo ela. Sempre fora mimada, a caçula numa família de vários filhos e Alice Toklas acabou sendo a parceira perfeita numa relação de ascendência de uma sobre a outra, em que Stein era o gênio protegido, administrado e incensado por Toklas.
A visão que ela tem sobre o sentido de igualdade é singular, e diz bem de seu caráter forte, já que encontra uma justificativa quase 'filosófica' para o fato de todos se renderem a ela:
Essa faculdade de Gertrude Stein de conseguir que todo mundo fizesse tudo para ela deixava intrigados os outros motoristas da organização. Mrs. Lathrop, que costumava dirigir seu próprio carro, dizia que ninguém fazia essas coisas para ela. E não eram só os soldados. Um chofer largava o volante de um carro particular na Place Vendôme para acionar a manivela do fordeco de Gertrude Stein, se fosse preciso. [...] Agora, quanto a ela, só era bem disposta, democrática, uma pessoa valia tanto quanto outra, e sabia o que queria que fizessem. Segundo ela, quando a gente é assim, se consegue tudo que se quer. (p. 182).
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A autobiografia de Alice B. Toklas. Gertrude Stein. Tradução Milton Persson. Porto Alegre L&PM, 2006.
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terça-feira, 28 de outubro de 2008
adiando o blog
Lidos os livros sobre e de Gertrude Stein, e postos mais quatro na imensa fila dos "à espera", inclusive do meu eleito Auster e do tateante Roth, aguardo dia mais inspirado para escrever sobre. Vistos alguns filmes, idem.
Tilibra, ano novo etc
Exame feito, veias encontradas sem muitos furos, vamos seguindo e respirando bem até segunda feira. Enquanto isso, vive-se de pequenas alegrias, como as de encontrar já nas livrarias a minha querida agenda Tilibra, sem a qual minha vida desorganiza-se para sempre.
Acho o encontro com a agenda do próximo ano uma revelação, é como se eu tivesse na mão o mistério dos acontecimentos que virão, dia após dia, anotados diligentemente nela. E a primeira coisa que já anoto é a data dos aniversários, o meu primeiro, para saber que eu nasço todo ano e isso já dura bastante tempo, e pode durar ainda muitas outras tilibras, que bom.
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008
o nome do santo
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
patrimônio
Era a equipe de que trata a notícia abaixo que se esperava no convento por onde passei ontem.
Rio pode ser 1ª grande cidade a virar patrimônio da humanidade
Título normalmente é concedido a comunidades tradicionais ou a áreas rurais, mas não a uma metrópole - Roberta Pennafort - O Estado de S.Paulo - 23/10/08
RIO - Se passar pelo crivo da Unesco, o Rio de Janeiro poderá ser a primeira cidade grande do mundo contemplada com o título de patrimônio da humanidade. O Rio integra a lista indicativa brasileira desde 2001, mas, antes de a candidatura ser lançada oficialmente, será preciso delimitar qual área da cidade será incluída - uma vez que, se ela for aprovada, o município e o País deverão se comprometer a preservá-la.
A lista, que inclui candidatos como o Parque Nacional Pico da Neblina, no Amazonas, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, e os conventos franciscanos do Nordeste, é revista a cada dez anos. Segundo o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, a relação precisa mesmo ser atualizada.
Título normalmente é concedido a comunidades tradicionais ou a áreas rurais, mas não a uma metrópole - Roberta Pennafort - O Estado de S.Paulo - 23/10/08
RIO - Se passar pelo crivo da Unesco, o Rio de Janeiro poderá ser a primeira cidade grande do mundo contemplada com o título de patrimônio da humanidade. O Rio integra a lista indicativa brasileira desde 2001, mas, antes de a candidatura ser lançada oficialmente, será preciso delimitar qual área da cidade será incluída - uma vez que, se ela for aprovada, o município e o País deverão se comprometer a preservá-la.
A lista, que inclui candidatos como o Parque Nacional Pico da Neblina, no Amazonas, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, e os conventos franciscanos do Nordeste, é revista a cada dez anos. Segundo o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, a relação precisa mesmo ser atualizada.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Andando pelo centro
Vinha de um médico pela Carioca e, seguindo o conselho de Antonio, olhei em volta e vi uma igrejinha lá no alto, pertinho da estação do metrô. Pensei duas vezes antes de subir as escadas, subi, perguntei ao guarda por onde entrava para conhecer a igreja, ele explicou, subi o elevador e cheguei a um lugar lindíssimo, uma igreja pequena, cujas paredes são recobertas por pó de ouro, uma das coisas mais lindas que já vi - o Convento de Santo Antonio. Por sorte, já tinha tirado algumas fotos (mas várias ficaram muito tremidas) quando li o aviso de que não podia fotografar. Por sorte ainda, o responsável estava esperando uns avaliadores da Unesco para tornar o Convento patrimônio da humanidade, ou algo assim. Ele me disse que o lugar estivera em obras até 2004. Nossa, lindíssimo! E para completar, uma música soava, vinda de algum lugar e a gente só podia ficar quieta, em paz.
Na verdade, lendo depois o folheto do BNDES, que financiou o restauro, vejo que se trata (sintetizo a informação) da: Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, expressão máxima da arte dos séculos dezessete e dezoito, que se integra ao Convento e Igreja de Santo Antonio. Estavam em ruínas, ficaram fechados por doze anos e a Igreja da Ordem Terceira foi entregue ao público em 2002.
A Igreja de São Francisco da Penitência foi iniciada em 1657, e a maioria das obras em seu interior são assinadas pelo entalhador Manuel de Brito, pelo mestre-escultor Francisco Xavier de Brito, que influenciou Aleijadinho, e pelo pintor Caetano da Costa Coelho.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
à mercê
Não é apenas a vergonhosa incompetência da polícia que permitiu o assassinato de uma menina tão jovem. É tudo.
domingo, 19 de outubro de 2008
dois livros, duas vidas

Já estava quase no final de A autobiografia de Alice B. Toklas, o entusiasmo inicial vinha diminuindo quando me deparei há dois dias com Duas vidas, Gertrude e Alice, de Janet Malcolm, que comecei a ler na livraria e não pude deixar lá, de modos que agora leio os dois ao mesmo tempo e não há como falar do primeiro sem que a visão de uma outra história das duas moças, que a Janet conta de forma engraçada e impiedosa, interfira não apenas na leitura do primeiro, mas mude radicalmente o modo mesmo de lê-lo. Interessante isso, como um livro também é ele e suas circunstâncias receptivas.
ps. procurando a foto da capa, achei uma resenha ótima do Moacyr Scliar para a Veja, que eu não lembrava de ter lido, em
http://arquivoetc.blogspot.com/2008/05/duas-vidas-de-janet-malcolm.html
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selton, darlene etc.
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Numa pequena entrevista publicada na Veja Rio dessa semana (22/10/08), de que participam Selton Mello e Matheus Nachtergaele (eh, nome impronunciável), o Selton me diz porque eu gosto tanto dele. A propósito da pergunta do Matheus sobre a relação do diretor com o elenco de Feliz Natal, ele responde:
"Darlene Glória é o farol de Feliz Natal. Sua presença luminosa na tela é decisiva para o filme. Darlene nos brinda com uma das atuações femininas mais virulentas do cinema brasileiro. Musa, animal cinematográfico de volta ao seu lugar de direito: o centro de uma tela de cinema. Quantas dores e cicatrizes são necessárias para tecer uma vida? Assistindo ao trabalho de Darlene, essa resposta se materializa."
Não é apenas a generosidade de um rapaz jovem ao reconhecer a luz e o talento de uma atriz brasileira meio 'maldita', mas o modo como ele faz isso, o tapete todo que joga para a Darlene, eu acho bonito isso. Além da pergunta tocante e irrespondível que ele se faz, não importanto se ela é teatral ou não, se o trabalho da Darlene responde ou não a ela, se há jogo e encenação no arranjo da frase, o fato é que eu me identifico com a pergunta e acho que, sendo irrespondível, é feita para mim também.
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sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Busca implacável
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Eu nunca me acho naquelas estrelas que os críticos dão aos filmes, às vezes a discordância é total. Por exemplo, a Veja Rio fala malíssimo de Busca implacável, um blockbuster eletrizante com o Liam Neeson de vingador implacável. O filme tem cenas dignas do mais temerário James Bond, mas como é francês e não tem os distribuidores poderosos do cinema estadunidense, ficam dando nota zero pra ele. Não merece. Tirando uma cena de tortura, que eu não gosto de ver nem leve nem pesada, o filme é ótimo, do tipo muita corrida maluca e muito tiro. Eu daria pelo menos duas honestas estrelas.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Algumas descobertas e um filme
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Outro dia estava meio dormindo quando dei com o filme Asas do desejo, do Win Wenders, em um desses telecines. O sono não me deixava ficar totalmente atenta, mas lembro que ia achando o que via um deslumbre só e me perguntava quando, em que momento de minha vida, eu havia visto aquela maravilha. Decidi que ia comprar o DVD e procurei pelas redondezas por algum tempo, em vão, até que ontem, caminhando pelo centro, dei com uma loja chamada Arlequim, pura perdição colocar os pezinhos lá dentro. Não só encontrei o Asas, como também O amigo americano e O céu de Lisboa, além de Jules e Jim, do Truffaut, e teria feito um estrago maior se não tivesse parado imediatamente de olhar tudo de interessante que havia ali.
Depois vi que a loja fica num lugar especial, no prédio do Paço Imperial, e a loja existe há 10 (dez!) anos, e eu nunca, nunca tinha ido lá. Caramba, fico besta de ver minha ignorância com relação aos lugares bacanas dessa cidade, e moro aqui há mais de meio século! Fico pensando que enquanto eu dei aulas eu só lia, lia, lia e trabalhava, trabalhava, e não sei se sou apenas eu ou se a vida acadêmica torna as pessoas muito alienadas do entorno. Acho que sou eu mesma, não vejo nenhum de meus amigos nessa situação precária quanto ao Rio. Antonio, você tem razão, preciso andar por aí e me atualizar ...:)
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Bom, quanto aos filmes, ontem vi O céu de Lisboa (1994), lembrei vagamente de que já o conhecia, e achei no geral bom, mas não ótimo. O que é ótimo, sem par, é a música do Madredeus, o conjunto que dá o tom dos sons de Lisboa, e que emociona quando Teresa Salgueiro canta qualquer coisa. De resto, uma Lisboa que não é cartão postal, alguns bons momentos, que procuram o que está no coração da cidade, em imagens inquietas mas nem sempre bem sucedidas.
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sábado, 11 de outubro de 2008
sobre o festival de cinema do rio
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Uma observação sobre o Festival do Rio: não sabia que era esse acontecimento na cidade. Fiquei espantada (e um pouco aflita também) de ver tanta gente, mas tanta, nas sessões da tarde do Espaço de cinema, inclusive crianças e adolescentes, aos montes, com mochilas e lanches à mostra sugerindo que eles estavam dispostos e ficar o dia todo na maratona. Também a terceira idade estava eufórica, conversei com um casal de "idosos" bem jovens e ambos já tinham visto quase tudo, ainda iam para o Cine Gávea e esperavam ver o que não puderam na repescagem. Isso é que é juventude e pique! Se ainda estiver por aqui, prometo no ano que vem me empenhar para ver mais coisas.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Três filmes: Burn after reading; Paris; Desafinados
Por um desses acasos da vida, acabei assistindo a dois filmes seguidos no último dia do Festival de cinema do Rio: Burn after reading e Paris, dois filmes excelentes e exemplares em suas diferenças.
O primeiro é um típico filme dos irmãos Coen, no sentido de que é uma comédia de erros cheia de graça, humor, ironia, e uma contundente, porque engraçada, crítica aos confusos procedimentos do serviço secreto americano. Essa é certamente uma das grandes qualidades do bom filme americano: poder rir com classe e competência de suas instituições, de seus personagens e dos micos de suas grandes personalidades. O filme é impagável, a gente ri do começo ao fim, e os atores estão afiadíssimos, em especial o Brad Pitt, que desde Babel eu venho considerando um ótimo ator, e não apenas o marido da Angelina ou uma mera celebridade. Ele está ótimo, assim como a Frances McDormand, que faz sua parceira na academia de ginástica. Os outros três que dão show: George Clooney, John Malkovich e Tilda Swinton. O filme é para rir com vontade, e para sair feliz da sala por ter visto uma ótima comédia.
Já Paris tem uma história mais elaborada, e sua sinopse no site do Festival diz o seguinte:[ http://www.festivaldorio.com.br/site2008/filmes/ ]
O parisiense Pierre está doente e se pergunta se irá morrer em breve. O fato de contemplar a morte lhe faz dar mais valor à vida, seja a sua, a dos outros ou a da própria cidade. E seu estado faz com que olhe de forma diferente para as pessoas com quem cruza. Um dançarino, um arquiteto, uma agente social, um sem-teto, um imigrante africano, vendedores de frutas e legumes... todos parecem pessoas comuns, mas todos são, cada um à sua maneira, seres singulares. E, para cada um, seus próprios problemas são o que há de mais importante no mundo.
É isso, mas é sobretudo o trabalho da Juliette Binoche, cuja beleza deslumbrante cede aqui a um descuido que a aproxima da vida comum, dos seres banais que somos todos em nosso cotidiano. Ela empresta vida a essa irmã do rapaz que tem um grave problema no coração, e cuja esperança em um transplante só lhe dá poucas chances de sobrevivência. O filme caminha por esse viés do fio de vida desse homem em contraste com a exuberância de uma Paris belíssima, múltipla, heterogênea, com vários personagens sugerindo caminhos para os encontros e os desencontros que compõem isso de que ninguém quer abrir mão: estar vivo. Acho que é um dos filmes que falam sobre a iminência da morte - dessa nossa morte inarredável, de que não queremos tomar conhecimento ou olhar mais detidamente -, da forma mais viva, pulsante e sem sombra de melodrama que já vi. Tudo é convincente, tudo nos pertence, e saímos comovidos e dispostos a olhar não apenas Paris de baixo para cima, como faz o personagem, mas as infindáveis possibilidades que v.i.v.e.r propicia a qualquer um que olhe a sua volta - e um pouco mais além. Não vi nenhum outro filme desse diretor, Cédric Klapisch, mas já ouvi falar em Albergue espanhol e Bonecas russas, dele também.
Por fim, Desafinados é um ótimo filme brasileiro. Estou para dizer que amei tê-lo visto há algum tempo: ele é singelo, tocante, bem feito, convincente, tem atores ótimos fazendo excelentes trabalhos, sobretudo o Rodrigo Santoro, que dá show e arrasa no inglês, pois consegue falar mal quando tem que e falar otimamente no final, quando se passa por americano de nascimento. Eu sei que muitos devem ter achado o Selton Mello meio excessivo, ou talvez meio parecido com ele mesmo, mas não tem jeito, eu amo o Selton sendo ele mesmo também, só tenho de reconhecer que o Santoro está fazendo uma composição mais afiada, assim como Claudia Abreu, o Angelo Paes Leme e até o Jair Oliveira convence. Menos convence a Alessandra Negrini, que ainda não descobri a que veio, mas acho que dirá em algum trabalho futuro, torço por ela. De todo modo, em dois momentos fiquei emocionada e nossa história política vergonhosa invade a tela de forma bruta: quando o personagem do Santoro é abduzido pelos tiranos da ditadura argentina e quando os amigos fazem um show para denunciar o fato. As cenas são fortes, rápidas, mas num segundo tudo veio a minha memória como se não houvessem passado décadas. Muito bom.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
em meio aos afazeres
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Abricó de macaco
sábado, 4 de outubro de 2008
O corpo humano

Esse blog anda num silêncio abissal, não sei por quê... mas vamos lá.
Vi a exposição dos cadáveres siliconados, ou melhor, O corpo humano - real e fascinante, no Museu Histórico Nacional. Minhas impressões:
1. Muito interessante pelos motivos óbvios - corpos reais dissecados e expostos seus órgãos internos, mas senti menos impacto do que esperava porque os corpos são menores do que eu supunha;
2. Podem-se ver com clareza os órgãos maiores, mas os menores ficam um pouco encolhidos e meio perdidos pela técnica de polimerização. Há também uma sutil admoestação contra os males do cigarro, com pulmões nicotinados e corações ferrados por causa do alcatrão et caterva. Há também, claro, sobretudo a mulher dizendo pro marido "está vendo o seu pulmão, deve estar assim", e ele respondendo com a piada de sempre "pena que não posso fumar aqui" etc... Mas acho que os fumantes vão pensar no que viram, sim;
3. Quase todos os 16 corpos são de homens, apenas um inteiro de mulher foi visto, o que significa que o corpo da mulher não se presta muito bem à dissecação científica, suponho. O que tem do órgão reprodutor feminino aparece em lâminas, um útero pequenino, as trompas menores ainda, enfim, e a vagina fica embaixo desses órgãos, não dá para ver. Será que o corpo da mulher é mais... o quê? pornográfico? erótico? invisível? Sei lá, mas achei esquisita essa discriminação. Falei, pronto;
4. Em compensação, os corpos masculinos aparecem em todo o seu esplendor de nudez interna e externa: há veias, há quase todos os órgãos, há ossos, há peles cortadas para que vejamos o que há por baixo de quase tudo, há o que faz bem e o que faz mal. E também pudemos comprovar cientificamente que alguns homens de mãos enormes têm pênis grandes também, estão lá;
5. Concedeu-se à mulher uma sala especial. Não a ela, ou a seu corpo inteiro, mas 'ao fruto de seu ventre': há uma pequena saleta com um aviso de que o que se vai ver pode ser impactante etc, etc... trata-se de uma série de fetos, de 2 até 14 semanas, não lembro a última data. São lindinhos, eu achei, não impacta nada (no mau sentido), ao contrário, emociona;
6. Surgiu uma polêmica entre os adolescentes que estavam conosco (eram quatro) se os olhos dos corpos eram reais ou não. Uns diziam que sim, outros que não, a moça que recolhe assinaturas ao final da exposição dizia que sim. Eu acho que não, são todos de vidro, mas não tenho certeza. E não importa muito;
7. A exposição vale a pena. Vi alguns médicos explicando coisas que fazem muito sentido para eles, acho que os estudantes de medicina ganharam um presentão, e nós também, claro;
8. Eu gostei de ter visto, é um trabalho da maior relevância. Tomara que as crianças das escolas públicas tenham abatimento no preço e acesso a tudo isso.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Stein
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Não sei onde estava que não tinha lido ainda A autobiografia de Alice B. Toklas. A tradução é ruim, a edição pocket da L&PM também é péssima, mas mesmo assim trata-se de um livro imprescindível. Estou ainda na página 60 e já conheci quase intimamente Picasso, Matisse, Cézanne, Gauguin, Apollinaire, além de ficar besta com a audácia desta mulher, Gertrude Stein, que escreve fazendo-se passar pela própria amante, falando de si mesma em terceira pessoa, descrevendo e narrando tudo de importante que rolava no começo do século vinte, na Paris de Montparnasse et caterva.
Ainda não sei o que há de excessivamente vaidoso no gesto dela, ou se se trata de uma afirmação necessária à mulher que se queria independente de sua época, mas saberei ao final da leitura. Também é muito interessante pensar na efervescência desse e do outro grupo, o de Bloomsbury, de Virginia Woolf, como são diferentes mas como são ambos tão ricos, com mulheres fortes e interessantíssimas, pensando e atuando no mesmo nível dos melhores intelectuais da época. Bons tempos, aqueles, pelo menos para o pensamento.
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