sábado, 11 de outubro de 2014

OLHAR AS CAPAS

Memórias Para Após 2000

José-Augusto França
Capa: Estúdios Horizonte
(Imagem da capa: António Pedro, O Anjo Lírico, 1939, colecção privada)
Livros Horizonte, Lisboa, Outubro de 2013

As cidades vivem (e morrem, como Ninive…) e mudam de pele, com modas de circulação e ajuntamento, de comércios e habitações, ganhando e perdendo utentes, conforme hábitos e snobismos. Não há muito andei rua acima-rua-abaixo, com o Luís Santos Ferro, saídos do Grémio, de guia comercial de 1980 na mão, a ver o que falta (a Marques, o Ramiro Leão, o Eloy, ainda há pouco o Picadilly transformado em casa de comes e bebes de meio luxo!), e o que subsiste – até quando? O «Paris em Lisboa», os Davids, a Bénard, e quem sabe da Sá da Costa e da avoenga Bertrand?... à porta do Turf, filosofámos (queirozianamente!) com o Sebastião Pombal – e fomos lanchar de propósito à recente «Tartine» que o Bartolomeu Costa Cabral, seu arquitecto, me recomendara. Chiados, ainda…
A história que o Chiado tem, de dois séculos «modernos», aguenta-se como pode, ou nós podemos, com concorrência de outros bairros de consumos que, porém, concorrência não lhe podem fazer, que outra coisa são – que não Lisboa… O direi eu, historiador da Cidade?
Pela noite fora, esvaziado e, quando chove, a rua reluz, solitária, como sempre a vi e andei. Ou sentado numa mesa certa da esplanada da «Brasileira», na exacta enfiada da rua que foi da Lucta, vejo, entre cunhais ilustres, do Ramiro leão e do palácio Pinto Basto, com um naco de S. Carlos abaixo, e árvores defronte, uma nesga de Tejo no fundo, de prata luzidia, ao Sol que não se acerta. E uma mancha amarela do eléctrico (o meu «28»! que sobe e se aproxima, com vagares de outros tempos…

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