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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

TEMA SEM VARIAÇÔES

              

                              para o Manuel de Freitas, mon semblable

 

Sempre soubeste: a morte.
Sempre sentiste: a morte.
As tabernas, fechadas, eram
apenas uma espécie de refrão.

 

Mas isso, terás de convir,
não desculpa o facto
de andares há vinte anos
a escrever o mesmo.

 

Faz como as tabernas: cala-te.

 

Manuel de Freitas em Resumo: a poesia em 2010

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

2009, PINA BAUCH


 “As eleições de domingo no Benfica

estão comprometidas; morreu

Pina Bausch, a coreógrafa alemã”. – foi assim,

de rajada, numa frase única a colar-se

ao vidro do táxi, que fiquei a saber de sua morte.

 

E tive pena, recordei enquanto não pedia troco

a tristeza feliz de a ver dançar Café Müller

 

Mas já não tenho poemas.

Nem mesmo para si, Pina Bausch.

 

Manuel de Freitas

 

Legenda: Pina Bauch

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

CASA DE BONECAS

Viam-se do quarto n.º 405

e pareciam,

à primeira vista, gente.

Mas não; eram apenas bonecas

a tomar diariamente chá

numa mesa colorida pelo desespero.

 

A única pessoa, já velha, era

a que veio pôr a secar

umas largas cuecas brancas,

em perfeito contraste

com o tule rosado das bonecas.

Manuel de Freitas

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

POSTAIS SEM SELO


É tão difícil escrever um poema que não fale da morte.

Manuel de Freitas

segunda-feira, 5 de abril de 2021

POSTAIS SEM SELO


Há barcos que gostamos de perder, que partem devagar para outras mortes e nos deixam juntos, sem palavras.

Manuel de Freitas

Legenda: pintura de PierreBonnard

terça-feira, 30 de março de 2021

POSTAIS SEM SELO


 E vou precisar de mais um whisky para tentar esquecer o peso demasiado simples das evidências.

Manuel de Freitas

terça-feira, 23 de março de 2021

LEAVIN'TOWN


Ao fazer a mala reparou que pouco

levava daquela lúgubre cidade.

Alguns vestidos, as primeiras frésias

que tivera de presente, agora murchas,

uma dezena de exemplares de Moody

que lhe serviam para amortalhar o resto.

 

Se é que alguma coisa restava, pensou

junto ao aparador, enquanto no espelho

se perdia o fogo ruivo dos cabelos,

sublinhado pelo negrume do olhar.

Ao ajoelhar-se sobre a mala, escreveu,

em vez do seu nome, «Goodbye to love».

 

Era também a sua única morada,

até que a morte ou a chuva a apagassem.

 

Manuel de Freitas em resumo: a poesia em 2011

 

Legenda: fotografia Shorpy

domingo, 3 de janeiro de 2021

JARDIM DA SEREIA


Nem Bach, o pai, foi capaz

de eternizar esta cadência.

Em Byrd, por vezes, reencontro-a.  

 

Junta as folhas uma a uma,

com um pequeno ancinho,

e sorri, distante, aos que se

namoram – furtivos artesãos da

morte.

 

Um cigarro pende-lhe

da boca, todas as manhãs.

Talvez ouça, como nenhum

de nós, o canto da sereia

e estejam livres, afinal,

as mãos presas que nos salvam.

 

Manuel de Freitas

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

AMY WINEHOUSE 2011


 Ficou hoje a saber-se (e ouvi-o,

uma vez mais, num táxi)

que Amy morreu por excesso de álcool.

 

Apenas isso, Lady Night.

Este século, no fundo,

Era-te estranhamente indócil.

 

E nenhuma voz sobrevive.

 

Manuel de Freitas em resumo: a poesia em 2012

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

ERRATA

Onde se lê Deus deve ler-se morte.
Onde se lê poesia deve ler-se nada.
Onde se lê literatura deve ler-se o quê?
Onde se lê eu deve ler-se morte.

Onde se lê amor deve ler-se Inês.
Onde se lê gato deve ler-se Barnabé.
Onde se lê amizade deve ler-se amizade.

Onde se lê taberna deve ler-se salvação.
Onde se lê taberna deve ler-se perdição.
Onde se lê mundo deve ler-se tirem-me daqui.

Onde se lê Manuel de Freitas deve ser
com certeza um sítio muito triste.

 Manuel de Freitas em Os Cem Melhores Poemas Portugueses

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

OLHAR AS CAPAS


Thais

Anatole France
Tradução: Manuel de Freitas
Capa: Tadeu Barros
Edições Antígona, Lisboa, Setembro de 2003

Naquele tempo, o deserto encontrava-se povoado por anacoretas.